Capítulo 331
O Falso Deus (6)
Gabriel já teve um poder como o de Deus, mas cometeu o erro de transformar El e Gi Gyu em inimigos. Isso resultou na morte dele por Gi Gyu. O mesmo cara agora estava diante deles no corpo de Michael.
Gi Gyu aceitou a situação com uma atitude indiferente e esperava que El fizesse o mesmo, mas estava errado. Ele a viu estremecer, mas ela não fez nenhum movimento, provavelmente porque estava com seu mestre e decidiu controlar suas emoções.
‘Acho que o ressentimento dela existiria mesmo se ela o matasse dezenas de vezes’. Isso foi o que Gi Gyu deduziu do que ele podia sentir através da conexão deles. Ficou claro que El ficou furiosa.
‘É compreensível.’
Afinal, aquele que arruinou tudo em sua vida estava bem na sua frente. El mal conseguia controlar sua fúria fervente.
— Acho que você é Michael — Gabriel deve ter sentido a raiva dela também, porque abriu os lábios e disse: — Não é que eu não sinta arrependimento…
El estremeceu. Em vez de pedir desculpas e implorar perdão, Gabriel manteve sua atitude arrogante. Ele estava esfregando sal propositalmente na ferida de El.
Gabriel continuou: — É que acredito que o que fiz foi a coisa certa para todos.
Finalmente, El parou de tremer. A razão era exatamente porque eles queriam falar com Gabriel.
Gi Gyu exigiu: — O que você sabe e por que fez todas essas coisas?
***
— Não tenho muito tempo. — Gabriel parecia ansioso. — Rafael não me deu muito tempo.
Ele apareceu com a permissão de Rafael. Em troca, tinha que cumprir a condição que Rafael havia apresentado.
‘Aniquilação completa da existência de Gabriel.’
Rafael se ressentia tanto de Gabriel quanto de El, então essa era a única maneira de Gabriel aparecer. Reviver a alma de Gabriel para usá-lo teria sido muito útil, mas Gi Gyu não se arrependeu de ter feito essa promessa. Ele sabia que perdoar Gabriel pioraria a situação. Então Gabriel e Rafael fizeram um acordo, e Gabriel foi assim acordado. No momento em que esta conversa terminasse, Gabriel desapareceria como os dois anjos que Castro matou.
Gabriel desapareceria do mundo.
— Direi tudo o que você quiser ouvir. — Gabriel foi muito atencioso. Parecia que ele queria contar tudo a eles. — Por onde devo começar…
Ele dobrou as asas negras e olhou para baixo. Era como se ele estivesse relembrando.
— Já que Michael está aqui, acho que você pode querer saber por que fiz o que fiz durante o ritual da espada sagrada — Gabriel perguntou arrogantemente, mas sua voz soava genuína.
El assentiu. Ela ordenou com raiva: — Tudo o que você disser será uma desculpa esfarrapada, mas vá em frente.
— Os governantes mataram Deus e a Torre começou a reinar sobre o mundo — começou Gabriel. Gi Gyu já tinha visto essa parte nas memórias que a Torre forneceu.
Cronos e os governantes de diferentes dimensões criaram a Torre, chamada Babel, e a usaram como lança para matar Deus. A Torre absorveu o imenso poder de Deus.
‘E esse poder então fluiu para Gaia.’ Gi Gyu lembrou. Depois disso, Gaia ressuscitou os governantes que haviam sido traídos e assassinados por Cronos para ajudá-la a manter a Torre.
‘E os governantes estão agora nos andares superiores da Torre’, pensou Gi Gyu. Era por isso que a Torre ainda não havia sido conquistada pelos jogadores.
— Os humanos que mataram nosso Deus ganharam um poder maior que os anjos e começaram a governar o mundo. As muitas dimensões foram absorvidas e desapareceram, governando efetivamente o mundo que Deus havia criado. E Michael, você queria obedecer ao decreto de um deus morto e realizar o ritual da espada sagrada. Você tolamente acreditou que isso mudaria tudo. Estava forçando todos os anjos a se sacrificarem por um deus morto. Se o ritual tivesse continuado e você tivesse realizado seu desejo, isso teria aniquilado a raça dos anjos.
De repente, Gabriel ficou quieto.
— Hahaha… — El riu fracamente. — Isto é ridículo. Você está dizendo que não é o culpado?
— …
— Você não é responsável pela morte de Deus, que levou a essa situação em primeiro lugar? Não trabalhou com Cronos e o ajudou a construir Babel?! Não foi você?! — El gritou.
Esta era a verdade. Como Gi Gyu viu nas memórias da Torre, Cronos foi o maior perpetrador. Foi por causa dele que El não teve escolha a não ser realizar o ritual da espada sagrada, mas Gabriel foi quem, principalmente, ajudou Cronos. Então, fazia sentido que El estivesse furiosa.
— Você tem razão. — Gabriel não deu desculpas. Ele aceitou a culpa de bom grado. — Eu o ajudei a matar Deus. Eu a forcei a realizar o ritual.
— Então, como se atreve… — El queria gritar ainda mais, mas Gabriel a interrompeu.
— Eu não tive escolha. — Gabriel parecia tão sincero que El parou de gritar. — Porque era a única maneira de salvar nossa espécie e…
Gabriel olhou nos olhos de El e acrescentou: — Você. Foi por você.
— … — Gi Gyu franziu a testa.
***
— Me chamou…? — Botis perguntou sombriamente. Sua posição dentro do Éden não era baixa. Na verdade, ele estava entre as dez figuras mais importantes do portal. Mas naquele momento, Botis se curvou profundamente.
— Sim. Aí está você. — Paimon gesticulou para ele rudemente. Infelizmente para Botis, Paimon era uma figura muito mais importante antes e depois da sincronização com Gi Gyu.
— Sim, senhor Paimon. — Botis se curvou novamente. No inferno, Paimon ocupava uma posição de poder muito mais elevada do que Botis; mesmo aqui, ele era um ser muito mais importante.
Paimon não se incomodou em cumprimentar Botis. Ele foi direto ao ponto. — É sobre algo que Kim Gi Gyu me pediu para fazer.
— …!
— Ele disse que você quer evoluir?
— Ah… — Botis teve vontade de chorar ao perceber que seu mestre havia se lembrado. Gi Gyu estava tão ocupado que Botis não teve chance de falar com ele. Felizmente, seu mestre não o esqueceu.
— Então, finalmente… — Botis sussurrou. Ele costumava ser um líder poderoso, mas simplesmente não estava melhorando como seus companheiros hoje em dia. As últimas semanas foram angustiantes, mas ele nunca expressou seu desespero.
‘Só não quero ficar para trás’, pensou Botis em desespero. Após sincronizar com Gi Gyu, Botis ganhou muitos colegas. E também havia Tao Chen, com quem lutava com frequência.
Todos estavam se tornando mais poderosos – todos, exceto ele. Claro, ele ficou mais poderoso depois de sincronizar com Gi Gyu, mas não tanto quanto os outros.
Mas agora as coisas estavam melhorando.
Paimon não prestou atenção ao rosto esperançoso de Botis. Focado em outra coisa, ele disse: — Você já reuniu as condições para a sua evolução.
— I-isso é verdade?
— Mas o seu processo de evolução parece ser muito complicado.
Botis engoliu em seco alto. Ele testemunhou a evolução de muitas criaturas ao seu redor, sendo a mais recente Hamiel, que se transformou em Diablo, um ser antigo. Aquele anjo mal tinha presença no Éden, mas de repente ele se tornou muito mais poderoso que Botis.
— Então eu preparei algo… — Paimon começou.
— Eu vou fazer isso!
— Hm? Mas eu nem te contei o que é.
Botis agitou os braços cobertos de muco e anunciou: — Farei o que for preciso para evoluir.
— Hmm… — Paimon finalmente ergueu os olhos de seu trabalho e estudou Botis. — Tem certeza?
— Sim.
Botis nunca tinha visto Paimon tão contemplativo. Ele ficou ansioso e continuou: — Quero ficar forte. Não quero mais ser como sou.
Botis sabia que esta era a coisa certa a fazer.
— Tudo bem. Então… — Paimon acenou em direção a uma tenda preta próxima. A aba da porta caiu e quando Botis viu o que havia dentro, começou a tremer.
Ele ficou petrificado.
Botis não sentiu medo muitas vezes, mas acreditava que qualquer pessoa ficaria apavorada se visse o que ele estava vendo.
— E-esses são… — Botis gaguejou.
— Está familiarizado com eles, não é? — Paimon sorriu orgulhosamente. — São os reis.
Poderosos clones de Leviatãs e de Belphegor estavam orgulhosamente dentro da tenda. Eram apenas clones, e Botis já sabia que Paimon estava envolvido em algo assim, mas ver o exército dos reis do inferno ainda era esmagador.
Paimon explicou: — Bem, eles são um fracasso, mas… De qualquer forma, você já deve ter uma ideia de por que não está evoluindo ou ficando mais forte, certo?
— Ah… Sim… — Botis estava familiarizado com o processo de evolução. Ele entraria em seu casulo a cada centenas de anos e sairia muito mais forte. Ele não teve que comer outros demônios ou treinar. Foi por isso que ele foi apelidado de Conde Repulsivo, mas ele não se importou. Os demônios o respeitaram durante toda a vida.
Mas Botis já não tinha o seu casulo; Gi Gyu roubou dele e ele não se atreveu a cobiçar o que pertencia a seu mestre. Consequentemente, nunca expressou abertamente sua preocupação a Gi Gyu.
— Eu melhorei aquele casulo. Olhe para trás — sugeriu Paimon.
Botis finalmente percebeu o que estava por trás dos reis do inferno. — Ahh…
Ele percebeu que seu casulo agora emanava ondas de energia negra.
— Isso não é tudo. Fiz mais melhorias internamente e estarei muito envolvido na sua evolução de agora em diante — anunciou Paimon.
— Ahh…
— E quando sua evolução estiver completa… — Paimon sorriu ameaçadoramente — …você terá se tornado minha maior criação.
Botis ficou tão emocionado que nem conseguiu agradecer a Paimon. Além disso, ele não conseguia tirar os olhos do casulo, que pulsava com uma força que ele nunca tinha visto antes.
— É claro que o processo de evolução será doloroso. Você vai desejar estar morto — sussurrou Paimon, mas Botis não conseguiu ouvi-lo.
‘Acho que não importaria mesmo se ele ouvisse sobre o processo’, pensou Paimon. A sincronização mudava a criatura, mas o núcleo permanecia o mesmo. Todos os demônios ansiavam por guerra e poder, e nada poderia mudar isso.
— Acho que você terá que aguentar isso — Paimon sussurrou.
***
A história de Gabriel não foi muito longa nem curta. Ele havia explicado o motivo pelo qual queria matar Deus.
— Nosso Deus… Ele… Ele não era quem pensávamos que era — disse Gabriel. Gi Gyu já tinha ouvido falar disso por Cronos.
Gabriel continuou: — Nosso Deus que emanava brilho divino era uma falsa divindade.
Gi Gyu e El permaneceram quietos. Agora que ouviram essa verdade do próprio Gabriel, as coisas pareciam diferentes.
Gabriel acrescentou: — Fiquei preso dentro do Caos com você, mas tive a sorte de ver a verdade.
Com um sorriso amargo, Gabriel murmurou: — Nosso Deus era uma mentira.
Frustrado, Gi Gyu perguntou: — Então, o que isso significa?
— A criação… eu costumava acreditar que nosso Deus criou este mundo. Mas ele, nosso Deus, era apenas uma das muitas peças criadas por outro criador.
Gi Gyu ouviu o mesmo de Cronos.
— Ele era apenas um receptáculo gigante de energia. Nossa ideia do salvador estava totalmente errada. As regras que ele estabeleceu para nós, eram todas sem sentido. Foi por isso que me livrei de tudo.
— Tudo bem, eu entendo essa parte. — Gi Gyu permaneceu calmo, ao contrário de El, porque já tinha ouvido isso. Além disso, ele nunca foi muito fanático por Deus. — Mas por que El… Por que está dizendo que fez isso por Michael?
A voz de Gi Gyu era cortante, mas não foi Gabriel quem respondeu.
— J-já chega — El sussurrou, estremecendo.
— Acho que você se lembra agora. — Gabriel parecia amargo. — Isso mesmo. Aquela que criou essas regras, imaginou o propósito dos anjos e criou os anjos…
Gabriel apontou o dedo para El e acrescentou: — Foi você.