— Eu gosto dela no ponto.
Lyla olhou para Zich enquanto ele chutava o homem no chão com a ponta do pé.
— O que foi? Se apaixonou? Quer dizer que você gosta dos violentos…
— Não vai matá-los? — Apontou para os homens no chão.
Os quatro se contorciam de dor, e toda a multidão congelou. Ouvindo as palavras dela, começaram a tremer feito loucos ao perceberem que haviam provocado as pessoas erradas. Zich e Lyla não eram como eles, que só agiam com dureza e força em seus bairros; os dois eram realmente “os fortes”.
— Como pode ser tão cruel? Não cometeram um crime tão grande, e acima de tudo, sequer me insultaram. Na verdade, estou tentando ser melhor, então não os mataria por uma coisa tão pequena.
Em suma, ele estava dizendo que os deixaria ir. Ela ficou atordoada, mas Hans e Snoc encolheram os ombros como se estivessem acostumados.
— Você não deveria se abster de usar a violência de forma imprudente se quiser ser uma pessoa boa?
— Quando agi de forma imprudente? Bater em uns caras que brigaram contigo não é imprudente. — Inclinou a cabeça.
— Acho que entendi um pouco como a sua mente funciona — falou, pressionando os dedos em suas têmporas doloridas.
— Vocês dois viram tudo, certo? Se forem brigar com vocês, ajam assim. Por que ficar de bico calado que nem uns idiotas?
— Senhor, não acho que um futuro herói deveria usar seus poderes desse jeito… — respondeu Hans.
— Mas é óbvio que esses caras são do tipo que causam problemas em todos os lugares. Não faz sentido para um herói deixar seus inimigos irem só porque são pequenos vilões, certo?
Hans e Snoc coçaram desajeitadamente a cabeça.
— Para ser um herói, apenas não provoque a luta. Antes da violência, pense mais uma vez se for justa e razoável. Se estiver certo, ataque. Como falei, um herói não é um santo. E não se esqueça de ajustar sua força de acordo com o nível de seus oponentes também.
Os dois servos assentiram.
— Perfeito. Então, vou continuar meu encon…? — Ele viu o olhar de Lyla e parou — Foi o quê agora? Não gosta do meu jeito, mas gosta do meu rosto? Quer que eu pare de falar para me admirar?
— Nada… Não é nada.
— Está pensando sozinha de novo. Isso está me deixando curioso.
Ela nem respondeu às reclamações de Zich.
— Vou sair daqui.
— Está indo embora? Pensei que íamos tomar uma bebida.
— Eu não quero beber nesta atmosfera.
— Sim, é compreensível. — Concordou Zich, vendo os homens temerosos no chão — Te acompanho até lá.
—- Está tudo bem. Não quero que você saiba onde estou ficando também.
Não parecia que mudaria de ideia, não importava o quanto a persuadisse. — Aparece amanhã, então. Estou planejando ficar nesta cidade por um tempo.
Ela piscou algumas vezes enquanto pensava por um momento. — Amanhã de manhã, no lugar onde nos conhecemos hoje.
— Parece bom. Não quebre a sua promessa.
Ela saiu do bar. Depois que a porta se fechou e seus cabelos brilhantes desapareceram de vista, os olhos amorosos de Zich mudaram por completo. Ele agora parecia um predador procurando por quaisquer fraquezas em sua presa. Era afiado o suficiente para Hans e Snoc pararem seus passos, mesmo que quisessem perguntar a ele o que fariam agora.
Zich, com uma bebida nas mãos, entrou na varanda, feita de rochas brancas esculpidas, anexada ao seu quarto. A vista noturna deste lugar era deslumbrante. As tochas iluminavam diferentes partes da cidade e faziam uma cena completamente diferente da que tinha durante o dia. A fonte de luz vacilava de acordo com o fogo e acrescentava vitalidade à cidade, e os pontos escuros onde a luz não alcançava despertavam a curiosidade de quem via. Entretanto, a visão noturna não o interessava. Toda a sua atenção e pensamentos estavam em Lyla.
“Me pergunto qual é a identidade dela.”
Ele se lembrou dos comportamentos que ela demonstrou mais cedo quando se recusou a responder perguntas sobre si. Ele também não esperava aprender muito sobre ela em apenas um dia.
“Primeiro de tudo, ela não tem dinheiro.”
Não fazia sentido que uma maga, ainda mais uma de alto nível, não tivesse dinheiro. Considerando suas habilidades, deveria poder ir aonde quisesse e pedir tratamento especial, que qualquer lugar a receberia de braços abertos. Mesmo que vagasse como uma andarilha, ganharia dinheiro o suficiente para comer o que quisesse.
“No mínimo, não estaria salivando com espetinho.”
Talvez não conhecia a realidade do mundo, que nem uma dama rica ou uma elite que nunca precisou fazer nada além de aprender magia. Esta foi a principal razão pela qual ele pediu que ela pedisse a comida enquanto ele pagava.
“Foi bem estranho.”
A primeira vez que ela pediu comida, ele sentiu como se tivesse descoberto um de seus segredos. Mas, na próxima vez que ele a testou, sua estranheza já havia desaparecido. Foi o mesmo no restaurante. Quando ele passou o menu, observou de perto como ela agia.
“Ela ficou esquisita nessa hora. O problema é que também não parecia.”
Havia uma certa falta de jeito ao pedir, entretanto, depois da primeira vez, pediu perfeitamente sua comida e o vinho do início ao fim.
“Mesmo quando estávamos na rua, não aparentava estar confusa sobre os menus. Ela pelo menos sabia que tipo de comida vendiam. Independentemente de existir ou não uma lacuna entre sua experiência antiga e o corpo atual, que nem eu, não faz sentido que ela esteja desacostumada com pedidos. Até quando estava comendo, reagiu como se nunca tivesse experimentado os diferentes tipos de comida. Pode ter conhecimento, mas não experiência. Tenho certeza de que ela é do futuro.”
Desde a primeira vez que ela o chamou de Moore, ele teve as suas suspeitas. Agora, ficou totalmente confiante da ideia após a loja de roupas. Como um casal real, ele entregou um monte de roupas para ela; tudo de acordo com seu plano.
“Ainda bem que ela sabia sobre as tendências da moda.”
Todas as roupas que deu a ela eram roupas que estariam em tendência no futuro. A lojista deve ter pensado que ele estava apenas brincando, já que entregou roupas que não combinavam durante este período. Contudo, Lyla ficou perfeita nelas e até prestou atenção a pequenos detalhes, como a inclinação do chapéu.
“Acho que devo agradecer ao meu subordinado.”
Não havia como ele se interessar por moda. A única razão pela qual conhecia as tendências era porque um de seus subordinados era muito sensível com o tema e até gritou com ele algumas vezes sobre isso.
“Ela deve estar tentando descobrir se eu sou Zich Moore ou não.”
Quando ele disse a Hans e Snoc que deveriam pensar mais uma vez antes de infligir violência, houve um choque claro no rosto dela.
“Se eu pudesse, eu apenas a capturaria e descobriria as coisas à força.”
No entanto, decidiu empurrar esse método para o fundo da lista.
“Como ela tem um artefato de teletransporte, tem uma chance baixíssima de que eu seja consiga.”
Além disso, se fizesse isso, destruiria por completo o relacionamento amigável que construiu com ela até o momento e apagaria a possibilidade de obter informações dela de maneira pacífica.
“E ela também não precisa confiar no artefato.”
Depois de sair do bar, ele estendeu os sentidos para persegui-la, todavia, a sua presença desapareceu de repente.
“Ela provavelmente usou magia de teleporte lá.”
Não era uma situação perigosa, então nem usou um artefato. Fazia mais sentido que ela apenas usasse magia. No entanto, deixando tudo isso de lado, ela era muito forte.
“Bem, vou encontrá-la de novo, então devo tirar uma ou duas coisinhas a mais dela amanhã.”
Zich se afastou do pilar da varanda em que estava apoiado, deixando as luzes de uma bela cidade, e voltou para o quarto. Porém, ele parou quando um pensamento repentino entrou em sua mente.
“Pensando bem, ela mencionou o nome ‘Brave’.”
Devia ser algo no qual ele não possuía informações.
“Ela é realmente como uma caixinha de surpresas. Se eu conseguir me aproximar dela, talvez ela compartilhe informações úteis de verdade.”
Claro, somente a aparência dela o fazia ansiar pelo encontro. Então, as luzes do quarto dele se apagaram.
No dia seguinte, Zich levou Lyla pela cidade. Viram uma arquitetura famosa, comeram em lugares ótimos e andaram de barco veneziano. Pareciam um casal superapaixonado para todos que os assistiam. Entretanto, estavam inspecionando um ao outro o tempo todo. Observaram com cuidado seus movimentos e mantiveram o foco nas reações.
Entretanto, surpreendentemente, se divertiram. Ambos gostaram de passar o tempo um com o outro.
— Aonde vamos amanhã? — perguntou Lyla.
Mas, infelizmente, seria o fim das férias de cinco dias que deu a Snoc e Hans. — Tenho algo a fazer, então não podemos nos encontrar amanhã.
— Ah… — falou, arrependida. Pareceu surpresa com sua própria reação e logo corrigiu a expressão — T-tudo bem. Em primeiro lugar, estamos apenas nos observando com cautela. Não podemos continuar saindo assim.
Seus ombros estavam claramente caídos.
— Ei, não pense tão baixo. Eu realmente tenho algo para fazer amanhã, e não estou dizendo que nunca devemos sair de novo. Se eu terminar este assunto, terei tempo de sobra. Por que não nos encontramos no mesmo lugar daqui dez dias?
— Certo. Preciso de mais tempo para observá-lo, de qualquer forma. Não será bom se separar neste momento.
Ele não tinha certeza se ela pensava aquilo mesmo ou se estava inventando desculpas para si. Mas, no fim, era a resposta dela. Após o humor dela melhorar, progrediram com uma atmosfera significativamente boa. Quando o encontro terminou, se despediram, e ele ficou observando ela desaparecer do outro lado da rua.
“Hmm. Me aproximei mais dela do que planejei.”
Apesar de a sua cautela quanto a ele ainda não tivesse desaparecido, estava claro que gostou do encontro. Considerando sua atitude inicial, foi um desenvolvimento bem surpreendente.
“Mas não parece que ela tenha sentimentos românticos por mim.”
Se fosse franco, ela se assemelhava mais a uma criança absorvida em brincar com o primeiro amigo que fez. Foi a tal ponto que ele pensou que ficou um pouco decepcionado.
“Bem, não é hora para isso.” Sorriu e se virou. “Eu deveria pensar nela mais tarde e ir atrás daquilo.”
Espada demoníaca Tornium. Era hora de pegá-la.