Claro, Estellade não respondeu a ele.
— S-senhor Zich, você acabou de puxá-la?
— Acredita?
Eles murmuraram de excitação. Para sonhadores como Hans e Snoc, aquele era o símbolo de um verdadeiro herói.
— Qualquer um pode tirá-la?
— Duvido. O senhor Zich disse que era sagrada, e até ele parece surpreso. Aposto que ninguém consegue.
— Então, ele se tornará um herói? — murmurou Hans.
Tum!
De imediato, ele pôs Estellade de volta. Ela estremeceu, e ele deu três passos para trás.
“Um herói? Como ele pode dizer tais coisas…?!”
Embora tentasse ser melhor, não significava que fosse, de fato, bom — ao menos, era o que pensava. Ele não se imaginava balançando a espada sagrada enquanto o chamavam de herói.
“Ah, vá pra porra! Tenho medo de ouvir isso mesmo em meus sonhos.” Balançou a cabeça e desceu do pódio.
— Hã? Não vai pegá-la, senhor?
— Não estou interessado e nem vim aqui por ela, de qualquer maneira. Para dizer a verdade, acha que combinaria comigo?
Tanto Hans quanto Snoc tomaram a sábia decisão de permanecer em silêncio. Zich olhou para ela de longe com os braços cruzados, como se fosse imunda.
“Mas é bem bonita.”
Tornium parecia pesada e simples em comparação. Exceto por sua lâmina preta, não havia nada de especial ou único; era como tivesse sido criada somente para cumprir seu dever. Por outro lado, Estellade era bonita o suficiente para ser chamada de obra de arte. Mesmo que Zich acreditasse que “uma espada simplesmente tinha que ter um bom desempenho”, o de Estellade não ficava atrás de Tornium de forma alguma.
“Tanto faz. Só preciso da Tornium.”
— Um, senhor Zich… — Antes que percebesse, Snoc estava ao lado da Estellade — Se não quiser, posso tentar puxá-la?
— Faça o que quiser. Mas você provavelmente não será capaz.
— Ah, como esperado. Ela escolhe seu mestre?
— Tem isso também, e você tem uma besta mágica contigo. Pelo que sei, ela é exigente ao ponto de recusar quem tem outro vínculo, como um contrato com uma besta mágica.
— Entendo…
Koooo…
Ambos Snoc e Nowen suspiraram de decepção.
— Mas, nunca se sabe. Tente, posso estar errado.
Depois de tirá-la, a fé de Zich nela caiu ao fundo do poço.
“Não tem nenhum padrão para que até alguém que nem eu consiga tirá-la? Glen Zenard era ruim, na verdade?”
Com a sugestão de Zich, Snoc agarrou com alegria o seu cabo.
— Huuu! — Respirou fundo.
Os três não disseram nada. Como seus músculos mostraram, ele estava usando bastante força, porém, ela sequer se moveu. Ele franziu o rosto e exerceu mais força, mas o resultado não mudou. No fim, a largou.
— Tch… Não preciso de uma espada sagrada, só de Nowem.
Koo!
Nowem subiu no topo do ombro de Snoc e bateu os pés, o confortando. Seus ombros pareciam pequenos quando desceu do pódio fracamente.
— Vai tentar também, Hans?
— Não, não acho que consigo.
— Dá uma chance.
A sua curiosidade aumentou em resposta à sugestão, e ele, hesitante, foi a ela. Entretanto, quando suas mãos estavam a alcançando, ouviram passos próximos. Todos se voltaram aonde o barulho vinha, e Hans e Snoc logo correram para o lado de Zich.
— Tem alguém aqui. — Cauteloso, Hans tirou sua espada.
— Parece que sim. Achei que fôssemos os primeiros a encontrar este lugar.
— Acha que é alguém que veio buscá-la, senhor?
— Pode ser alguém que se perdeu.
“Não pode ser Glen, certo?”
Os passos que se aproximavam eram leves demais para pertencer a um homem robusto e grande como Glen.
“Ter meus sentidos distorcidos é realmente desconfortável.”
O único que podia usar era a audição. Atrás dos passos leves, ouviu outros misturados, que eram ainda mais silenciosos e ágeis.
“Eles foram treinados profissionalmente para o silêncio.”
Não poderiam ser turistas que se perderam e vagaram. Zich gesticulou para Hans e Snoc, sinalizando para que se preparassem para a batalha e aguardassem as pessoas a qualquer hora.
Tump!
Uma pulou da passagem, usando um vestido. Não era um traje adequado para usar dentro de uma ruína antiga escura e abafada. Contudo, Zich reconheceu as roupas, os cabelos prateados esvoaçantes e os olhos vermelhos cintilantes que brilhavam na escuridão. Ele ficou surpreso ao vê-la, e ela também. Os passos que vinham atrás dela não pararam.
Ele olhou para trás dela e viu um grupo de pessoas chegando com mantos, o lembrando de uma organização que ele conhecia. Ele ficou alternando entre os olhos dela e a entrada.
— Abaixe-se! — gritou.
Lyla se jogou no chão enquanto se aproximava rápido. Então, ele ergueu a sua espada.
Espaço Perfurante.
O ar misturado com mana disparou feito brocas e passou por cima de Lyla para acertar as figuras vestidas.
Vush!
As sobrancelhas de Zich se contraíram. Não achava que seu ataque seria capaz de ferir tanto os oponentes, já que aparentavam ser qualificados. Além disso, nem sabia se eram mesmo seus inimigos. Ele simplesmente viu que estavam apontando suas armas contra Lyla e os atacou.
Seus inimigos haviam desviado o ataque com um único soco. Entretanto, conseguiu atrasá-los, e naquele instante, ela correu pro lado dele.
— São seus novos amigos? Não parecem muito bons. Cuidado, nos dias de hoje, todo mundo é amigo de todo mundo.
— Não são meus amigos. — Recuperando o fôlego, respondeu com firmeza.
Zich tentou avaliar sua condição primeiro. As roupas que ele comprou foram rasgadas em muitos lugares, revelando cortes na sua pele branca. Seus cabelos também estavam cheios de poeira, como se tivesse rolado no chão várias vezes.
— Não parece estar tão bem. Com suas habilidades, deveria ter sido difícil para eles levá-la a um canto como este. São fortes?
— Sim, são.
— E a sua magia de teleporte? Você também tem um artefato.
— Não funciona aqui…
A energia que interrompeu os sentidos de Zich aparentava ter bloqueado o teleporte. O tom irônico na voz dele desapareceu, e ele ficou mortalmente sério, assustando um pouco Hans e Snoc.
— Quem são?
— Os caras que estão atrás de mim.
— Por quê?
Ela não respondeu.
— Uau, você é bem popular.
Enquanto murmurava, ele voltou sua atenção para a entrada. Várias figuras vestidas saíram da passagem. Vendo Lyla parada, diminuíram a velocidade e começaram a andar. Havia quatro no total, e um deles se destacava.
“Aquele é o líder.”
Com apenas seu punho, ele pôde anular o Espaço Perfurante. Após o líder olhar para ela, observou Zich e seus companheiros.
— Por que tem tanta gente aqui?
A sua voz era tão sem emoção que parecia morta, arrepiando os dois servos.
— Não fazem parte do plano, certo?
— Sim, senhor.
— Variáveis.
Os olhos de Zich brilharam. Ele se lembrava do grupo de assassinos, que o queriam morto a todo custo, obcecado com a palavra “variável”.
— Primeiro, beba. — Zich entregou a Lyla uma poção.
Ela contemplou por um momento se deveria beber ou não, mas a situação era tão ruim que logo engoliu. Nesse tempo, os três subalternos assassinos se espalharam, cada um se posicionando em um canto da sala e cercando Zich e seus companheiros em questão de segundos.
“Acho que estão confiantes em suas técnicas.”
Uma formação em conjunto era mais fácil para combinarem seus pontos fortes e atacarem juntos. Todavia, ficaram bastante distantes uns dos outros. Deviam conhecer os benefícios de lutar em grupo, no entanto, a confiança em suas habilidades era maior.
— Ei! Por que não tentamos conversar para descobrir o que está acontecendo?
— Matem-nos.
De três direções diferentes, os assassinos encapuzados correram.
“São rápidos!”
— Não são nem um pouco fracos! Tenham cautela!
Depois de avisar Snoc e Hans, Zich ficou na frente de Lyla, atraindo a atenção do líder.
Classh!
— Ugh!
Todo o seu corpo tremeu. Por um momento, sua cabeça ficou dormente, até que ele voltou ao normal e firmou mais o aperto na espada.
Clash! Clash!
Sons explosivos ecoaram pela sala. Com apenas alguns golpes, ele sentiu suas articulações endurecerem.
— Ra! Untu! Bairo!
Por trás, Lyla recitava cânticos. Zich bloqueou outro ataque de frente e um lateral com o cotovelo.
Crek!
Sangue jorrou de seu braço. Felizmente, não aparentava ter atingido o osso.
— Welm, bloom!
Fush!
O feitiço dela estava completo.
Crashhhhh!
Uma explosão, incomparável àquelas de antes, soou por toda a sala. O ar vibrava tanto que parecia que quebraria tudo em seu caminho.
— Agh!
O ataque foi eficaz, e as figuras estranhas recuaram. Vendo o ar sutil, Zich percebeu que feitiço foi usado.
“Inversão Frente e Verso.”
Era um feitiço que atacava com a vibração do ar e protegia os aliados com uma barreira de vento ao mesmo tempo. Era uma combinação que usava dois tipos diferentes de magia juntos.
“Ela realmente sabe bastante sobre magia.”
— Estão bem?
— Sim, senhor, por pouco.
— Aaaaaai…
Mesmo que não parecessem tão feridos, não estavam muito bem.
— Senhor Zich, é horrível controlar a terra aqui!
— As áreas mais internas de ruínas mais antigas como esta muitas vezes têm uma energia especial que a protege de pessoas de fora. Por essa razão, a magia da terra, que controla seus arredores, é bem ruinzinha de ser utilizada.
— Sem chances!
Koo!
Com a explicação de Lyla, Snoc e Nowem se desesperaram com sua cruel realidade.
— Não podem usá-la de jeito nenhum?
— Tem alguns lugares no chão onde funciona um pouco.
Snoc mal pôde bloquear os ataques usando tais áreas. Porém, os ataques de seus inimigos eram muito fortes para ele suportar com tal desvantagem.
— Armadura, então.
— Sim, senhor!
Snoc estava planejando aquilo, de qualquer forma, então respondeu na hora.
Zich, enxugando o suor do rosto com os ombros, olhou para o líder, que, mesmo que estivesse mantendo distância por causa de Lyla, ainda parecia estar à vontade. Então, segurou firmemente a espada com a mão que ainda doía.
“Este desgraçado é tão forte quanto um demônio.”