— Como viver uma vida gentil?
— Sim.
Lubella piscou os olhos. Não esperava que ele fizesse tal pergunta. Até Weig olhou para Zich com curiosidade. À sua maneira, ele estava mesmo sério.
“Mesmo que eu queira ter uma vida gentil, não sei nada sobre ser assim. Quando eu bato e destruo coisas, não tenho que pensar em nada, então é conveniente.”
Durante a maior parte da vida, viveu como quis. Mesmo que quisesse ter essa “vida gentil”, não conseguia pensar em maneiras de alcançar esse objetivo. Até agora, agiu de acordo com quaisquer ideias aleatórias que surgissem em sua mente, mas não tinha certeza se as ações estavam de fato na linha do desejo.
“Essa mulher pode ser capaz de pelo menos me dizer por onde posso começar.”
Antes de regredir, tinha sido uma santa. Mesmo que não fosse uma agora, ser selecionada como candidata era uma tarefa assustadora. Desde jovem, deve ter possuído a principal qualificação de um santo, que era a bondade — uma qualidade a qual ele pensava não ser tão diferente da estupidez.
— Hmm, então sobre isso… — Lubella não sabia como responder.
Para viver uma vida gentil — a pergunta era muito ampla para dar uma resposta completa.
— Antes de responder, você pode me dizer por que está me perguntando isso?
— Alguém sugeriu que eu tentasse viver uma vida gentil pelo menos uma vez. Mas eu já vivi uma bastante dura, então é difícil entender o que exatamente eu deveria fazer.
Indiretamente confessou que tinha vivido uma vida ruim. No entanto, ela o elogiou em vez de repreendê-lo.
— Isso é realmente impressionante. Deve ter sido um desafio tentar mudar o seu rumo.
Como uma característica entre as pessoas boas, ela tendia a pensar positivo sobre tudo.
— Há muitas maneiras de ter uma. Há algo em que você é bom?
— Eu sou bom em quebrar tudo na base da porrada.
— S-sério?
Vendo como ela se assustou, Weig riu baixinho. Podiam perceber o caráter de Zich a partir de suas poucas palavras.
— Então, estou certa em assumir que você é proficiente em tarefas que utilizam sua força física?
— Pode-se dizer que sim.
— Então, o que acha de ajudar as pessoas que estão em necessidade?
— Pessoas que estão em necessidade?
— Sim. Há muitas maneiras diferentes de ser gentil. Mas, fundamentalmente, acho que um ato gentil é um ato que dá felicidade a outra pessoa, não importa o quão pequeno ou grande seja.
— Um ato que dá felicidade a outra pessoa…
Era uma área em que ele não tinha experiência — não, muita experiência contrastante. Embora tivesse feito muitas pessoas chorarem lágrimas de sangue, nunca havia feito outro indivíduo feliz.
— Já que você disse que é bom em tarefas que envolvem força física, por que você não ajuda as pessoas dessa maneira?
— Então, eu só tenho que ajudar as pessoas que estão em necessidade?
— Sim. Se você começar a fazer isso, acha que será capaz de entender lentamente o conceito de atos gentis?
Zich assentiu com a cabeça. — Obrigado pelo conselho.
— Não, estou feliz por poder ajudar alguém que está tentando mudar de vida. Rezarei por sua bênção a Karuna.
Receber uma bênção em nome de Karuna causou arrepios nas costas dele. Porém, não mostrou isso e a recebeu enquanto Lubella repetia constante em sua mente que ele não era mais um inimigo de Karuwiman.
Ele desceu da carruagem e voltou ao chão plano.
— Por que razão você foi lá em cima, senhor? — Com curiosidade nos olhos, Hans olhou para Zich. Ele parecia ainda ter muito interesse nela.
— Nada demais. Eu só perguntei como posso viver uma vida gentil.
— Como viver uma vida gentil, senhor? Calma aí, essa fala maluca é real?
Ele definitivamente o ouvira dizer isso antes de deixarem os Steelwall, mas era algo tão absurdo que havia apagado isso da mente há muito tempo.
— Por que você tá tão surpreso?
— E-eu não estou surpreso, senhor!
Mesmo que estivesse obviamente mentindo, negou com fervor. Não podia dizer que estava surpreso porque Zich não teria interesse real e algo assim.
— Por que, isso não me serve?
— N-nada disso, senhor.
A boca dele começou a ficar seca, e olhou para o rosto de Zich. No entanto, ao contrário de sua expectativa, o humor dele parecia bom.
Zich moveu a lenha e começou a cantarolar depois de acender uma fogueira.
Hans sentiu-se aliviado que provavelmente não seria atingido; sentindo que a atmosfera era cordial, fez outra pergunta a ele.
— O que ela disse para você?
— Ela me disse para ajudar pessoas necessitadas. Depois que eu falei que eu era bom em destruir coisas, falou que seria bom ajudar as pessoas usando minha força física.
Era perfeito para alguém como ele. Embora o servo tivesse passado mais anos com o Zich que nem conseguia falar com um servo e buscava desesperadamente o amor do pai, o recente causou um impacto tão significativo em Hans que só conseguia se lembrar de como era agora: um ditador que tentava resolver todos os problemas com poder e violência.
“Olha, talvez as coisas melhorem, já que o sir Zich recebeu conselhos da santa dama, e realmente parece que ele quer realizar atos gentis.”
Mas mesmo enquanto pensava isso, não pôde deixar de o olhar com suspeita.
O Santo de Karuwiman era a criança-propaganda da família. Por isso, o processo de ser um era complicado e demorado, e um dos passos era fazer o que Lubella estava passando agora, como viajar pelo mundo e ouvir as opiniões e pensamentos de um grupo diversificado de pessoas.
— Vamos começar.
Mais uma vez, partiu depois de ouvir, consolar e abençoar um grande número de pessoas em uma aldeia.
— Tá cansada?
— Um pouco.
À pergunta de Weig, Lubella deu um sorriso tenso. Contudo, como se estivesse tirando o último pedaço de sua energia restante, ergueu os dois punhos.
— Mas sendo uma seguidora de Karuna, tenho que obedecer aos ensinamentos aos seus ensinamentos sempre e tentar fazer o meu melhor. Mesmo que eu não possa fazer muito pelas pessoas, posso pelo menos confortá-las. Meu cansaço é uma questão trivial.
— Você também terá uma chance maior de ser selecionada como a santa.
— Sir Weig.
Ele riu do tom de repreensão dela.
— Fufufu, parece que à medida que envelheço, fico menos atencioso.
— Para de me provocar.
— Peço desculpas. — Abaixou a cabeça com grande formalidade. — Mas é verdade que você terá uma chance maior de ser selecionada.
— Não estou fazendo isso porque quero me tornar uma santa!
— E esse tipo de atitude a torna mais adequada para o papel.
Não conseguia vencê-lo em uma conversa, já que o homem havia passado por todos os tipos de adversidades e sabia como ser astuto.
Ela fez beicinho e virou a cabeça.
“Ela ainda é nova.”
Suas emoções eram claramente visíveis. Não podia criticá-la por isso, já que viveu dentro de uma pequena bolha por toda a vida. Assim, essa viagem foi necessária para que ganhasse experiência e corrigisse a atitude ingênua.
“Mas, em comparação com os outros candidatos, ela definitivamente se encaixa no cargo.”
Mesmo sendo uma eleita ao papel, não significava que todos fossem obedientes e gentis feito ela. Por exemplo, algumas pessoas fizeram Weig se perguntar como passaram no teste. Comparada a eles, ela era quase que um anjo, embora ainda tivesse alguns defeitos.
“Ela não tem tenacidade.”
— Depois que esta viagem terminar, você retornará à igreja novamente — disse isso em voz alta para testá-la. Ele estalou a língua depois de ver a expressão dela escurecer — Estou repetindo isso, senhorita Lubella, mas não é suficiente ser apenas paciente e gentil. Como seguidores de Karuwiman, não só temos que confortar as pessoas, mas também devemos protegê-las. Então, devemos ter corações fortes.
— Eu sei.
Ela ouviu isso muitas vezes antes e assentiu para mostrar que entendia. Porém, a voz era fraca.
“Não é fácil.”
As habilidades físicas poderiam ser fortalecidas treinando feito louco, mas a força mental era muito mais complicada. Falar mais sobre esse tópico só serviu para a estressar, então mudou para outro tópico.
— Agora que penso nisso, estou me perguntando se nosso amigo está indo bem.
— Nosso amigo?
— Você sabe, aquele jovem que pediu para você ensiná-lo a ser gentil.
— Ah!
Se lembrou do que ocorrera. Não era algo antigo, então era fácil para se lembrar.
— Admito que fiquei muito surpresa. Eu não esperava que alguém fizesse uma pergunta dessas.
— Sim, mas parecia que era importante àquele jovem.
Como os Cavaleiros Sagrados estritamente a protegiam, uma pessoa precisava de muita coragem para até mesmo pedir para conhecê-la.
— Também penso assim. Seus olhos estavam muito sérios quando ele me perguntou. Quero descobrir se meu conselho foi útil para ele e como ele está trabalhando para alcançar seu objetivo.
E orou em silêncio a si mesma para que ele encontrasse luz em seu caminho.
Os seguidores de Karuwiman chegaram à grande cidade. Primeiro garantiram um lugar para ficar, e já que estavam em uma cidade grande, visitaram um santuário dedicado à religião. Mas como Lubella estava no processo de viajar ao redor do mundo sendo uma candidata a santa, não podiam usar o santuário por seus próprios meios, e ela saiu do seu alojamento com um par de Cavaleiros Sagrados. Mesmo na cidade, precisava ver como as pessoas viviam em primeira mão e interagir com elas.
Todavia, Weig, o seu guarda-costas mais próximo, não estava em lugar algum. Ele recebeu uma ordem da Igreja, então ficou um pouco ausente.
— Vamos tentar ir até lá. — Ela apontou para um beco escuro com algumas pessoas.
De relance, parecia perigoso, então os Cavaleiros Sagrados tinham expressões conflitantes em seus rostos. Entretanto, ninguém poderia impedi-la, já que o propósito desta jornada era que fosse até os pontos mais baixos do que este mundo tinha a oferecer.
Os Cavaleiros Sagrados esperavam que nada agitado acontecesse. No entanto, ao contrário dos seus desejos, gritos ameaçadores saíram do beco.
— A-alguém me salva!
— Eu disse que pouparei sua vida se me der o bagulho! Por que tu não me ouve?!
Pei! Pá!
— Agh! Arghh!
Gritos temerosos, vozes ameaçadoras e o som de socos voando batendo numa carne ecoaram pelo beco. Era fácil entender a situação.
Sem hesitar, ela e os cavaleiros correram ao local.
— Pare!
O primeiro cavaleiro a chegar clamou na direção do barulho. De imediato, o som. Ela chegou um pouco mais tarde e começou a avaliar a situação.
A primeira coisa que viu foi alguém quase desmaiado no chão. Vendo que o seu rosto estava inchado em diferentes áreas e o sangue fluía dos lábios e nariz, ficou evidente fora atingido muitas vezes.
Com lágrimas nos olhos, o homem olhou para ela e o Cavaleiro Sagrado como se fossem seus salvadores.
Então, ela desviou a visão para os infratores. Havia quatro deles. Vendo a sua aparência e maneiras desajeitadas, pareciam gangsters ou bandidos de rua. Os infratores pareciam encantados pela aparência dela e do cavaleiro — todos, exceto uma pessoa.
— Hã? Lubella e… os Cavaleiros Sagrados? Por que vocês tão aqui?
— Você…! — Ela ficou chocada.
A pessoa que estava liderando esse ataque violento era… Zich!
— Eu não pensei que a gente ia se encontrar tão cedo. Posso saber o motivo de você vir aqui com tanta pressa?
— O motivo?
Com a atitude desavergonhada dele, ela ficou sem palavras. Mas logo recuperou a compostura e gritou:
— Para que eu possa ajudar a salvar as pessoas, obviamente! Eu deveria estar perguntando o que você está fazendo! Você não me disse que queria viver uma vida gentil? O que você está fazendo agora?
Fazia muito tempo desde que ficou tão irritada, porém ele inclinou a cabeça como se não pudesse entender o porquê, e isso a irritou.
— Mas estou agindo de acordo com o seu conselho…
— De que maneira você está seguindo meu conselho?!
— Você me disse para dar os meus serviços a pessoas que precisam de ajuda.
Zich apontou para os três bandidos atrás dele.
— É por isso que estou ajudando pessoas que precisam de mim.
“E-eu disse a ele para ajudar as pessoas que precisam, então ele está ajudando bandidos?”
Mais uma vez, esboçou uma reação superconfusa, sem palavra alguma, pela interpretação ultrajante, quase engenhosa, de Zich.
