Zich derrubou uma manopla blindada com Windur. Caiu com impacto, mas a armadura não parou de se mover e esticou o braço vazio a Zich. Hans, Snoc e Lyla fizeram uma careta, porém, ele se manteve indiferente.
Uma mão blindada caiu desta vez. O seu pulso e dedos se moveram e convulsionaram como se estivesse tentando atacar. Ao mesmo tempo, ele jogou a sua espada nos seres que vinham correndo para cima dele, lançando duas armaduras para longe; ambas continuaram a se mover mesmo depois de serem cortadas. Desta vez, no entanto, ele cortou as articulações dos dedos.
Tum!
Quando as articulações delas foram rasgadas, os dedos caíram e pararam de se mover. Zich logo terminou de quebrar as juntas e pulsos, dando um fim aos movimentos. Ele olhou para os companheiros e viu que estavam lutando às próprias maneiras.
Como Zich, Hans estava perfurando as armaduras e experimentando como poderia fazer; Snoc, as prendendo e esmagando por baixo da terra; Lyla, congelando todas e observando as respostas; Leona, observando com um olhar perplexo.
“Ela não sabe de nada mesmo.”
Os companheiros dele eram os estranhos, pois seguiam a sua ordem de descobrir como matar as armaduras, mesmo quando elas se moviam por uma força poderosa e desconhecida. Então, ele lançou um peitoral detido contra o pessoal.
— Quebrem as articulações. Elas param de se mover.
Hans se moveu conforme à sugestão, ofuscando a ele mesmo com a luz da Estellade. Em um instante, uma das armaduras parou de se mexer por completo. Em comparação, os ataques de Snoc eram simples.
Crek! Crraaak!
Se as armaduras pudessem emitir sons e sentir dor, gritos arrepiantes seriam proferidos sob a terra.
O chão tremeu e jogou fora o que havia engolido, dando origem a pedaços de metal quebrados e esmagados. Por não terem sido transformados em pó, algumas sobreviveram.
Crek!
Pedregulhos voaram aos pedaços sobreviventes, os esmagando. Porém, de longe, os ataques de Lyla foram os mais violentos. Após congelá-las, ela conjurou o próximo feitiço. O fogo vermelho envolveu os alvos, derretendo o gelo em um instante e elevando a temperatura a um ritmo alarmante. Elas, então, se libertaram e voltaram a andar. Tentaram correr em direção a Lyla, mas depois de alguns passos, caíram.
— Eles caem mais facilmente do que eu pensava — disse, cancelando o cântico e inclinando a cabeça.
Leona continuou a encará-los perplexa. Ela nunca pensou que fossem tão fortes.
“E-eu também deveria ajudar!” Apressada, ela firmou uma flecha no arco. “As articulações!”
As armaduras não tinham tantas articulações quanto um ser vivo, entretanto eram fortes o suficiente para suportar a maioria das flechas comuns. Ela não pretendia desperdiçar as flechas em vão.
Duas delas arrancaram as articulações de ambos os joelhos de uma armadura. A armadura rolou para o chão, mas passou a se arrastar com o braço. Leona sequer olhou para ela e acertou as pernas de outras armaduras, derrubando três. Elas continuaram se movendo, contudo, quase todas imobilizadas.
Uma brandiu a sua espada, todavia, a elfa, que havia se aproximado, desviou com facilidade.
Sling!
Uma flecha esmagou as articulações do braço blindado. Uma série foi disparada através das juntas do braço com perfeição, fazendo com que ele se partisse em um instante. A armadura tentou agarrar a arqueira com a outra mão, todavia, ela desviou com facilidade de novo e pegou as flechas presas no chão e disparou feito uma tempestade, rachando outro dos braços. Tudo o que podia mover era as articulações do quadril e pescoço agora. Ela pisou na armadura, que se contorcia que nem um inseto, e disparou em direção à última junta restante.
Quando o seu capacete saiu, os movimentos pararam por completo. Após recuperar todas as flechas do chão, Leona verificou as armaduras restantes. Ainda havia dois pés e dois corpos se contorcendo.Não demorou muito para que o resto caísse em pedaços.
— O que são essas coisas? — perguntou ela, vasculhando a armadura que havia esmagado — É comum no mundo humano?
— De jeito nenhum. Aqui não é tão selvagem — disse Zich, se abstendo de acrescentar “ainda” — Alguém deve ter as enviado ao ouvir que estávamos procurando um tesouro.
— Eles são golens, que nem Lyla disse?
— É provável que não. Não têm nenhum vestígio de magia, além de que não morrem tão rápido e nem movem partes individualmente. O normal é eles morrerem quando o núcleo é quebrado.
— Então, o que são?
— Eu não sei.
— Vamos. Mesmo que fiquemos olhando, não acho que encontraremos uma resposta satisfatória. — Lyla olhou para a lataria esparramada no chão.
— Pego alguma parte? — perguntou Leona.
— Não podemos sair levando coisas que não sabemos muito sobre por aí. E temos assuntos mais importantes para tratar, não?
— Ah, sim.
Ela voltou ao seu caminho na frente de todos enquanto cantarolava pensando no tesouro. Zich levantou de leve a cabeça e olhou para as peças espalhadas no chão. Havia algo brilhando entre os fragmentos.
Ele não mostrou nenhuma reação especial, exceto um leve sorriso e seguiu o resto dos companheiros. Assim, deixaram os pedaços de metal, que antes eram armaduras, espalhados por todo o chão.
— Áureo Castelo?
— Sim, o demônio Áureo Castelo, Wips Midas. Tenho certeza de que é ele.
Cutucando a fogueira com um graveto, Zich respondeu a Lyla. Hans e Snoc tinham saído para jantar, e Leona sumiu depois de dizer que traria algo delicioso. Andavam a um ritmo bem rápido fora de estradas, então foram muito mais longe do que uma pessoa normal poderia.
— Ele está nas suas memórias? — questionou ele.
— Não está. — Ela negou com a cabeça — Bem, de relance, ele parece um maldito irritante.
— Você julgou bem. Só de saber disso, conhece noventa por cento dele. — Riu alto — Como o apelido dele indica, ele tenta corrigir todos os problemas com dinheiro. Mesmo na era vermelha, cheia de violência e selvageria, o ouro ainda era usado como moeda. Com o seu ouro, ele pôde manter um enorme poder.
— Agora eu entendo. Não é estranho para gente como ele andar por aí em uma carruagem daquelas. Mas você pode ser chamado de demônio com só riqueza? Durante a era vermelha, se você não tivesse força, ficaria para trás.
— Claro que ele tinha o básico de luta. Ele não recebeu o título de Áureo Castelo por nada. Ele é um alquimista que pode transformar chumbo em ouro.
— Por isso que ele é tão rico.
— A sua capacidade de transformar metais em ouro é impressionante, mas não o único poder dele. De todo o ouro que ele cria, ele pode exercer domínio completo sobre.
— Que tipo de domínio?
— Ele pode controlar o seu ouro como quiser, e até mudar a forma e força. Resumindo, ele tem o controle perfeito.
— Isso é impressionante.
— No auge, ele era ainda mais incrível. O seu título não é uma metáfora. durante a era vermelha, ele, de fato, tinha um castelo feito de ouro. De acordo com testemunhas oculares, quando o sol nascia, todo o castelo refletia a luz, o tornando mais grandioso ainda. Dizia-se o castelo era tão resistente que era difícil pensar que era feito de ouro, e todos os ataques eram refletidos. Além do mais, com os poderes dele, todo o castelo se movia de acordo com a sua vontade, fora a forma. Me contaram que era chocante ver o castelo se mover e se moldar assim.
— Foi ele quem nos enviou aquelas armaduras? Ah, não. A armadura era de ferro.
— Sim, eram de ferro, mas havia ouro incrustado nas articulações.
— Ele controlou aquelas coisas pelas articulações?
— Uhum.
— Vai… ficar tudo bem?
— O que quer dizer?
— Ele está atrás de nós. Baseado nas suas palavras, não estamos em uma situação perigosa? Pensando nisso, você também disse que ele deu a Leona uma barra de ouro. Era para nos espionar?
— Você ficou mais perceptiva. — Sorriu — Mas não tem por que se preocupar muito. O que eu disse era o futuro, então é bastante improvável que ele tenha esse tipo de poder agora. Se ele soubesse, não teríamos ouvido falar dele só agora, já que estaria causando caos onde quer que fosse. Também tenho outra razão em mente, mas, você, Lyla, deve ter esquecido desse fato. Durante esse tempo, fui muito mais foda do que esse cara.
— É… claro — falou, surpresa.
Se passaram exatos dez dias desde que começaram a viagem, e chegaram a uma enorme montanha de vegetação densa com gigantesca cachoeira, liberando uma névoa aos arredores e derramando grandes correntes de água.
Era uma visão misteriosa, majestosa e magnífica. Enquanto os companheiros dele estavam encantados com a visão, Zich apontou para a parte detrás da cachoeira.
— Aquele é o nosso destino. É um lugar desconhecido com vários tesouros.