Para alcançar lá, tiveram que atravessar um caminho estreito no penhasco conectado à área atrás da cachoeira. O tal caminho mal dava passagem a um pé pequeno, e era mais semelhante a uma longa rocha. Porém, eles cruzaram a passagem com facilidade.
Massas de rochas flutuaram e se prenderam ao penhasco, criando um novo caminho. Assim que eles passaram, elas retornaram às posições originais à medida que mais se erguiam e formavam outro caminho. Isso continuou até que alcançassem a parte detrás da cachoeira.
Embora a água tivesse encharcado as suas roupas, Zich ficou satisfeito com a sua caminhada tranquila.
— Bom trabalho, vocês dois.
— Sim, senhor!
Koo!
— Uma besta mágica da terra. É a primeira vez que vejo uma.
Snoc estava em um estágio em que não precisava se concentrar muito para exercer esse nível de controle. Mesmo Leona, uma elfa, ficou curiosa a respeito de Nowem e estendeu o dedo à toupeira, que cheirou o dedo e lambeu, fazendo Leona soltar uma mistura de grito e risada. Enquanto ela fazia isso, Snoc congelou no lugar. Ele ainda se sentia um pouco estranho com ela, já que era uma elfa, uma existência que só tinha ouvido falar em histórias.
— Está aqui.
Às palavras de Zich, todos olharam aonde ele apontava: uma caverna com uma bem atrás da cachoeira.
“Uma caverna atrás de uma cachoeira?” pensou Hans, engolindo em seco. “Existe algo mais semelhante a um conto de fadas?”
— Vamos entrar.
Seguindo Zich, o líder, entraram um por um. A umidade persistiu e até aumentou à medida que se aprofundavam. Porém, a sensação diminuiu quando o chão acidentado da caverna foi substituído por lajes de pedra que facilitavam a caminhada.
— Daqui em diante, acho que são as ruínas.
Havia uma grande porta diante deles com símbolos estranhos esculpidos, dando-lhe um olhar ameaçador.
— Uaaaau! — exclamou a elfa, examinando a porta com o toque — Sinto que tem mesmo um tesouro lá dentro.
— Você duvidou de mim?
— N-não! P-para dizer a verdade, um pouco…
— Tranquilo. Afinal, era uma história bem peculiar.
Ela sorriu de leve. Mesmo que fosse ingênua, não confiava por inteiro nas palavras dele. Era ridículo que tivesse o seguido, mas uma parte dela confiava nas próprias habilidades.
“Suponho que ela tivesse certeza de que poderia pelo menos escapar.” pensou Zich, empurrando a mão na parede de pedra fria ao lado da elfa.
Brrrrrr!
A espessa parede de pedra — porta — se abriu. Embora fosse muito pesado devido ao tamanho e material, não havia outros obstáculos bloqueando o caminho, como fechaduras ou barreiras mágicas. Entre as lacunas da abertura, viram um caminho enorme se conectar a outras passagens.
— Você não acha que este lugar é parecido com as ruínas antigas de Violuwin, sênior? — perguntou Snoc a Hans, um pouco preocupado com a possibilidade de os seus poderes serem selados de novo.
Apesar de Hans ter concordado, não podiam ter certeza no momento. Zich entrou primeiro e retirou a Windur das costas, dizendo:
— Estejam atentos. Haverá inimigos.
Tum! Tum!
Assim que ele terminou a frase, ouviram passos à frente — e não deviam ser humanos, a julgar pelo som.
— Que tipo de inimigos? — questionou Lyla.
— Veja você mesma — respondeu ele.
Eles viram os olhos vermelhos brilhantes primeiro. A criatura não fez nenhuma tentativa de se esconder em meio à escuridão, e deu outro passo em direção a eles.
— É um golem.
— Então isso é um golem, senhorita Lyla?
Como era a primeira vez de Hans vendo um golem, ficou curioso. Ficou ainda mais por ter lutado contra as armaduras, que haviam confundido com golens.
— Sim, é. Usando um núcleo como sua força motriz, são bonecos que se movem de modo automático. Estou avisando, só por precaução, mas não pense que são as mesmas armaduras com as quais acabamos de lutar. A força de um golem difere com base nos metais que compõem o seu núcleo, e o que está à nossa frente parece formidável.
— Mithril — disse Leona, rígida — O metal do núcleo é mithril.
— Eu nunca vi isso em todo o meu tempo com os Steelwalls. Não é muito precioso?
— Tá surpreso por quê, Hans? Você tem algo bem mais precioso do que esse metal — disse Zich, tapeando a Estellade com a Windur. Ótimo, vai ser um ótimo aprendizado para vocês. Tentem lutar contra eles.
Sendo empurrados por Zich, Hans e Snoc trocaram olhares. Então, avançaram. Não havia uma segunda opção, visto que o comando já fora dado.
Eram dois golens, cada um com o dobro da altura de um adulto e uma constituição esmagadora. Os seus braços eram como troncos de grandes árvores que foram transformados em mithril.
Druuuum!
― Como esperado…
Snoc soltou um suspiro. As paredes de pedra e o chão desmoronaram um pouco, mas não se moveram de acordo com a vontade dele. Por outro lado, a sua capacidade de controlar a terra aparentava ter aumentado, pois pôde controlar mais o cenário do que em Violuwin. E Zich nunca aceitaria nenhuma desculpa. Ele se cobriu de uma armadura feita de rocha. Logo, também parecia um golem.
Tum! Tum! Tum! Tum!
Os dois inimigos correram em direção à dupla; cada um pegou um golem e o levou a um lugar diferente. O golem de Hans fez um grande balanço com o punho, e o servo desviou com facilidade, brandindo a Estellade.
— Ugh! — grunhiu.As mãos dele doíam; ao contrário de quando empunhava a espada, ela parecia pesada e maçante, agora a lâmina presa dentro do braço do golem.
Whish!
Quando o golem mexeu o braço, levou junto Hans, que continuou preso. Entretanto, mesmo no ar, ele não permaneceu focado e, usando o próprio corpo de pedra de impulso, alcançou a cabeça dele e puxou a Estellade. Por mais que tivesse recuperado a espada, no entanto, voou pelo ar, já que ela não estava mais presa no golem.
Agora no chão, Hans pensou no golpe que realizou. Ele havia perfurado somente um quarto da grossura total do golem. Era magia, ou mithril que era muito resistente?
“Não importa a razão, o foco aqui é ter em mente que ele é forte o suficiente para resistir a fortes ataques de mana.”
Ele não recuou e se manteve com a Estellade, focado em acertar no mesmo lugar.
Druum!
“Eu consegui.”
De novo, avançou e perfurou o braço do golem. Foi incapaz de cortá-lo por inteiro, contudo, pôde aprofundar mais o buraco feito. Antes que fosse levado ao ar mais uma vez, puxou a espada e deu um passo para trás.
“Outra!”
E então, finalmente…
Pam!
O braço do golem caiu no chão com o terceiro golpe.
Hans soltou um suspiro de alívio, todavia, logo levantou a guarda. Tudo o que fez foi retirar um dos braços; ainda não havia derrotado o oponente. O seu plano era primeiro desmontar todos os seus membros. Com esse pensamento em mente, voltou a correr.Enquanto Hans evitava os ataques, Snoc também estava lutando.
Crashhh!
O punho de pedra do garoto e o do seu golem colidiram de frente. No entanto, o braço de pedra de Snoc não conseguiu suportar e desmoronou. O menino, apressado, recuou; à toa, pois foi alcançado e envolvido em um aperto ao redor da cintura, destruindo a sua armadura. Se permanecesse assim, todo o seu corpo seria esmagado, o que o levou a fugir da própria armadura.
Bam!
A armadura agora vazia foi quebrada nas mãos do golem, e Snoc reuniu as rochas espalhadas de novo e fez uma nova armadura.
“Como esperado, não tenho chance de ganhar com só uma armadura.”
Ele perdia termos de força física, mas não aceitaria a derrota tão facilmente. Também acreditava que, se as coisas ficassem perigosas, Zich interviria.
“E também tenho um plano em mente.”
Prestes a ser acertado por um punho de pedra, Snoc exerceu o seu poder sobre a terra. Por um momento, o movimento do inimigo ficou rígido, como se estivesse enferrujado.
“Funcionou!”
Ele usou a oportunidade para golpear a cabeça do golem, fazendo ele tropeçar.
“Como pensei, o meu poder funciona mesmo em mithril! Então talvez eu também possa…”
Tut!
Ele conseguiu imaginar o mithril do dedo se quebrando. Não quebrou, porém, ele diminuiu a durabilidade e usou a chance para dar um soco.
Crek!
O dedo quebrou. Naquela hora, o golem usou a outra mão para acertar a armadura de pedra do garoto. Outra vez, ela se estilhaçou e ele escapou.
— Isso!
Os ataques funcionaram. Ele envolveu a armadura em torno de si novamente. Agora, o mitril que ele havia cortado estava preso a um dedo da sua própria armadura.
“Agora tenho uma arma que é tão durável quanto ele!”
À medida que o golem se separava cada vez mais sob os golpes, Snoc ficava mais forte. Com isso em mente, ele avançou.
Após um tempo, dois sons ecoaram pelo túnel.
Swish!
Creck!
E dois golens jaziam quebrados no chão.