Leona parecia querer partir a testa de Scholl ao meio com uma flecha.
— Compreensível.
Durante o tempo em que Leona vivia na floresta, se interessava pelos comerciantes que iam à residência dos elfos de vez em quando. Os mais velhos proibiam os mais jovens e ingênuos de fazer contato direto com os humanos, porém não era uma regra fácil de aplicar. Sempre havia aqueles que faziam contato com humanos em segredo, como ela mesma.
Scholl contou a ela todas as coisas interessantes do mundo e ganhou o seu favor. No início, ela manteve a guarda alta, mas conforme ele a presenteava com mais coisas misteriosas e contava histórias sempre que a visitava, ela abriu o coração para ele. Pensou que eram amigos.
Ela não sabia como ele conhecia a Lágrima do Lago. Era difícil para obtê-la, pois estava no centro da habitação dos elfos. Assim, usou Leona ao seu favor.
“Sabe de nada, inocente.”
Portanto, ela tinha saído para o mundo humano porque era a sua culpa por perder o tesouro dos elfos. Basicamente, fugiu de casa.
“Tsk! Tsk! Tsk! Ela deveria ter duvidado mais das pessoas, já que já foi traída. Caiu no meu papinho em dois tempos. Bem, isso facilitou as coisas para mim.”
Sua personalidade não era a seu favor. Assim, Lyla às vezes levava ela para ensinar os caminhos do mundo quando não estava ocupada. Claro, já que Lyla conhecia o mundo a partir de livros, Zich intervia vez ou outra para falar algo.
“… Embora Lyla odeie sempre que eu faço isso.”
Na maioria das vezes, ela o afugentava, dizendo que ele estava ensinando a uma pobre menina coisas estranhas.
— Sinto muito! Tenha piedade!
Leona ainda apontou a flecha para Scholl. No entanto, não conseguia puxar a corda do arco, trêmula.
— O que você vai fazer? — perguntou Zich.
—Eu não sei… O que faço aqui?
— Faça o que quiser. Mate-o, deixe-o ir ou deixe-o em paz depois de tacar o pau um pouco nele. Tudo depende de você, senhorita.
—É… eu deveria saber que você responderia assim.
Ele nunca a pressionava a tomar uma decisão específica. Claro, ele escolhia o próprio método para cumprir o propósito, pelo qual ela ficava muito grata. Ela pensou mesmo que tinha feito a coisa certa em acreditar nele.
— Me deem algum conselho.
— Que tipo de conselho? Como você está se sentindo agora?
— Estou com raiva.
— É essa a emoção que você sente em relação a ele? Quero que você o mate.
Scholl engoliu em seco, sentindo que a sua vida dependia da conversa atual.
— Então, por que está hesitando? — questionou Zich, sorrindo e calmo — Mate-o.
— E-espere! Sinto muito, então, por favor, poupe minha vi… — Tentou dizer antes de ter o rosto chutado e preso pelo rosto de Zich.
— Mesmo que ele seja de uma espécie diferente da sua, tenho certeza de que a sua primeira morte será difícil. Se não planeja lutar de agora em diante, acho que deveria deixá-lo ir. Quanto menos pessoas você matar, melhor. Agora, se quer continuar lutando, tem uma grande chance de ter que matar alguém no futuro. Decida, a culpa por matar alguém que você não tem ressentimentos é bem maior.
— Então… Zich, afaste os pés. Não quero acertá-los por acidente.
No entanto, ele não tirou os pés. — Apenas faça isso. As suas habilidades de arco e flecha não faltam, de qualquer maneira.
— Isso é verdade.
Tut!
Assim que ela soltou a corda, deixaram de ouvir os gritos de Scholl.
Havia um rumor circulando em torno de Tungel que dizia que quem havia arruinado a casa de leilões se escondeu em uma montanha próxima. Como era apenas um boato, a equipe de investigação não foi deu tanta bola. Ainda assim, alguns tentaram subir a tal montanha; falharam, desistindo após verem o quão íngreme era.
Uma sombra escura passou com rapidez entre as árvores. Depois, mais outras figuras de preto circularam a área, como se estivessem procurando por algo na floresta. Por mais que fosse uma profunda, não era muito grande; logo encontraram uma carruagem no meio da floresta.
O ouro cintilante refletia a luz do sol que brilhava além das folhas das árvores, e as figuras desceram até a sua frente. Sem nem um cavalo para puxá-la, ela foi largada na floresta, exalando uma atmosfera fria. Contudo, aquelas pessoas não aparentavam se importar.
— Wips Midas — perguntou um —, explique a situação. Você também conseguiu proteger a Lágrima do Lago?
A porta da carruagem se abriu, surpreendendo aos homens de preto. Acreditavam que era ele, pois, afinal, pela comoção causada em Tungel, era possível que ele tivesse se escondido em um lugar isolado. Só que ele usava uma carruagem feita de ouro, não uma banhada a ouro.
— Você não é ele. Quem é você?
— Isso aí, não sou, não. — Um homem saiu da carruagem, deixando os de preto com a guarda levantada — Não precisam saber. Apenas lembrem-se de mim como o cara foda pra caralho que vocês detestam tanto.
Sob a montanha, Zich plantou a armadilha dele. O grupo descansava em uma pequena cabana.
Reeeenk!
A porta se abriu, e Zich entrou. Todos os presentes o encararam.
— Como foi? — perguntou Lyla.
Em vez de responder, ele bateu na Windur algumas vezes. Estava limpa, mas Lyla sabia que não devia ser o caso antes.
— Snoc, deixei a carruagem lá fora, então tire o ouro.
— Sim, senhor!
Ao comando, o garoto saiu da cabana. O olhar de Lyla seguiu os movimentos de Zich até ele pôr a bunda em uma cama velha com um pano gasto.
— Então já terminamos?
— Sim. Cansei de tudo o que planejei em Tungel.
Zich encontrou a Lágrima do Lago, fez justiça ao ladrão que a roubou, destruiu a casa de leilões e até matou Midas, incendiou o cadáver dele e espalhou as cinzas nas ruas — nunca mais o encontrariam por aí.
— Tá tão felizona assim? — Ele agora conversava com Leona de forma informal. Ela que sugeriu, e claro que ele não recusaria a proposta.
— Com certeza. — Ela abraçou a Lágrima do Lago.
Ela mostrou clara determinação para nunca mais perdê-la. No entanto, parecia desconfortável por matar alguém, mesmo que tivesse sido o seu inimigo jurado.
— Olha pelo lado bom: acho que esse tesouro deve ter uma habilidade muito boa, levando em consideração o quão desejada é pela galera.
Todavia, ele não sabia qual era. A razão da ignorância dele era simples: não havia perguntado à elfa a respeito disso e nem planejava. Mas só porque não tinha mais um bom porquê para saber disso.
— Vai voltar para casa, certo?
— Sim, tenho que voltar. Você disse que ia explorar as mesmas ruínas que fomos da última vez, não foi? Pela sugestão de Lyla?
— Foi.
— Posso participar e retornar para casa logo depois?
Havia uma clara curiosidade nos olhos dela. Parecia que ela tinha ficado curiosa sobre as ruínas da última vez que foi lá, mas ele também podia ver outra no seu rosto mais perceptível do que todas as outras.
“Ela está tentando esquecer a sua culpa? É uma boa ideia focar em outras tarefas para se esquecer que matou alguém. Digo, foda-se também.”
Ele olhou para Lyla. Ela pareceu pensar profundamente por um momento antes de assentir. Embora estivesse preocupada com a elfa, não achava que seria problemático levá-la.
— Suave, pode ir junto.
Com a permissão de Zich, a feição de Leona ficou um pouco mais brilhante.
Zich e seus companheiros seguiram o mesmo caminho para chegar à cachoeira em frente às ruínas, ainda liberando correntes frias de água. Como antes, caminharam pelo caminho de pedra feito por Snoc. Ao entrarem na caverna, a umidade que os pressionava desapareceu e as ruínas surgiram. Porém, quando abriram a porta, os golens não saíram de novo.
Ele se virou. Cada um estava observando uma parte diferente das ruínas que despertava o interesse. Da última vez, não tiveram muito tempo para vê-la por causa dos golens e da programação da casa de leilões.
Zich chamou a atenção de todos batendo palmas.
— Bem, meus amigos, hora de descobrir que tipo de ruína é essa.