— O que eles estão escondendo para bloquear a entrada assim?
Haviam várias pedras do tamanho de uma pessoa empilhadas e pressionadas contra a porta para mantê-la fechada. Além disso, tinha também uma pilha de golens imóveis. Parecia que alguém havia posto eles acima da porta e os imobilizados.
Se ajoelhando, Lyla tentou passar uma pequena abertura exposta que não estava coberta por uma pedra ou pelos golens.
— Também tem um mecanismo mágico.
Que tipo de magia?
— É um que intensifica a força da porta e a sela. A mana restante é incrivelmente forte, e tem vários feitiços complicados sobrepondo. Tinham que fazer tanto por uma única porta…? Mas quer que eu tente abrir?
“As correntes e os parafusos são feitos de mithril também. Não dá para empurrar. O que diabos tem aqui embaixo?”
— Vai descer, senhor? — perguntou Hans. Todos olharam para Zich, aguardando pela resposta.
— Afastem essas coisas. Vamos descer.
Eles moveram as pedras e os restos de golem que pressionaram a porta. Em seguida, retiraram as correntes e parafusos sem muita dificuldade. Sem a ajuda de ninguém, Snoc poderia mover as pedras e o metal sozinho.
Em frente à área limpa acima da porta, Lyla subiu. Ela se ajoelhou com uma perna enquanto colocava a mão na porta e lançava um feitiço, fazendo com que a mana na sua mão se dirigisse à entrada. Um dos selos foi destrancado.
Após a mana fazer uma grande onda, ela se levantou.
— Desfiz tudo.
— Muito bem. — Bateu nos ombros dela.
Depois que todo o bloqueio despareceu, puderam ver a forma real da porta. Era apenas uma porta simples sem um único padrão, mas conectada por mithril.
— Tudo é feito com mithril neste lugar?
O metal era tão comum dentro dessa ruína que parecia ter perdido seu valor. A porta brilhava com a peculiar luz prateada do minério e, como a maioria das que levavam a um porão, estava fechada de ambos os lados. Parecia que os dois buracos em seu centro eram as maçanetas, mas não havia necessidade de eles usarem.
— Abra.
— Sim, senhor! — Snoc deu um passo à frente.
Rrrrrrr!
Pam!
A porta bateu na parede e soltou um barulho alto. Uma ampla entrada e escadas apareceram à vista. Zich assumiu a liderança e entrou primeiro, seguido pelo resto logo depois. Então, sumiram lentamente.
Todos estavam nervosos. Lyla agarrou o novo cajado com força, e Hans fixou seu aperto na Estellade. Snoc, que já havia se acostumado a manusear mithril, envolveu o metal em torno de si. Leona armou uma flecha no arco, enquanto Zich simplesmente colocou a Windur nos ombros.
Não tinha nada incomum.
Temiam que monstros estranhos surgissem, porém, ao contrário das expectativas deles, a vista não parecia diferente do andar de cima. Todos se soltaram um pouco. Entretanto, conforme andavam, ficaram tensos de novo. O número de restos de golens e armas espalhadas aumentou à medida que continuavam. O que mais os enervava era o ar, quase como se estivesse perfurando-os. Até que, por fim, alcançaram a estranheza.
— O que é isso? — Leona fez uma careta.
As expressões de todos eram semelhantes. Algo horrível cobriu o chão, as paredes e os tetos, soltando um fedor nojento. Zich deu um passo à frente e sentiu o pegajoso da carne apodrecida nos pés antes de remover com a Windur.
— Ugh…! — Lyla tremeu — Acho que sei como é pisar em corpos em decomposição agora.
— Estou feliz que você esteja ganhando uma experiência tão boa.
— Uma ótima experiência.
Zich riu e esfregou a sola do sapato no chão. Seguindo Lyla, Hans também subiu no topo dos pedaços de carne. Não era tão intenso quanto a feição dela, contudo, o rosto dele também não parecia bom.
— Senhor Zich, o que é isso?
— Também não sei, mas parece ser carne meio podre. Não sei por que isso pode estar aqui.
— Se a história da senhorita Leona estiver certa, as coisas dentro deste túnel devem ter milhares de anos. Por que está só meio podre?
Leona se encolheu quando seu nome foi mencionado.
— Tente se concentrar em seu entorno.
Mesmo como um fiel ouvinte das ordens de Zich, Hans franziu a testa abertamente para essa ordem. No entanto, não foi contra e tentou concentrar sua atenção nas peças de carne. Claro, tocá-las seria a melhor maneira de descobrir quais eram, mas não queria ir tão longe. Zich também não falou muito sobre o método de Hans.
— Senhor, tem um fluxo de mana, embora seja muito pouco.
— Sim, é por isso que está apodrecendo em um ritmo muito lento.
Mesmo com mana, nada poderia vencer o passar do tempo; os pedaços de carne no chão eram exemplos claros disso. Hans estava pensando nisso quando outro pensamento surgiu em sua mente, tirando a sua mente do foco.
— Senhor Zich! Acha que esse pessoal estava vivo há muito tempo?
— Tem uma grande possibilidade. Além disso, pode não estar vivo há tempo pra cacete. Mesmo que seja apenas um pouco, a mana ainda está saindo disso. Vamos mais fundo neste túnel. Vamos pelo menos verificar se tem mesmo um monstro aqui.
— Não… é uma mão? — falou Snoc , vendo o desastre vermelho nas paredes.
Koo…
Nowem olhou para a mão e se escondeu dentro das roupas de Snoc.
— E isso aqui é uma perna? — disse Hans.
Depois disso, continuaram encontrando mais e mais pedaços que se assemelhavam a partes do corpo humano. Havia até globos oculares e crânios secos. Zich parou de repente e mexeu os pedaços com a Windur.
— São menos podres aqui.
— O cheiro também diminuiu — respondeu Lyla — Tem também bem mais mana dessas peças.
Zich olhou para o fim do túnel. — Esse cara… ele pode ainda estar vivo.
Alguém engoliu em seco nervosamente.
Eles continuaram a seguir em frente e desceram mais um andar. As peças de carne ao redor deles agora não pareciam mais podres, e sua forma claramente se assemelhava a partes do corpo humano. Quando chegaram a uma certa parte do chão, as partes em que pisavam começaram a vibrar.
Foi com certeza um batimento cardíaco. Zich cortou com a Windur, mas não saiu sangue dos membros decepados.
— Não é sangue que estão liberando, mas mana — explicou Lyla.
Os pedaços que Zich cortou se contorceram um pouco. Todos os companheiros dele expressaram o desgosto dos movimentos, mas continuaram a entrar mais no túnel; de um certo tempo, o olhar dele ficou preso nela.
— Você está bem?
Lyla assentiu em resposta à preocupação de Zich; o rosto dizia o contrário.
— Parece mais forte.
— Como é a sensação?
— É como se algo estivesse me passando pela cabeça. É bem desagradável e nojento.
Com base em seus arredores, havia uma grande possibilidade de que o corpo principal estivesse na parte mais profunda da ruína.
“Então isso significa que tem uma conexão entre esses pedaços de carne e ela. Bem, não tenho ideia de como estão relacionados um com o outro.”
No entanto, não havia necessidade de ele forçar a mente. Seria capaz de encontrar mais pistas quando chegassem ao fim. Ela aparentava também ter o mesmo pensamento e perseverou. De certa forma, era a mais curiosa sobre o que estava no fim da ruína.
Quanto mais fundo iam, as peças pareciam mais frescas. Também eram maiores, e algumas estavam até se contorcendo. Zich e seus companheiros desceram mais dois andares e finalmente chegaram ao que parecia ser o último andar.
Uma presença sinistra ocupava o último andar.
— Esse é o corpo principal.
Ao contrário dos outros andares, havia apenas um quarto. No centro dele, um enorme ser em forma de um botão gigante de carne apareceu.