Era verdade que Snoc controlava um número considerável de soldados blindados, porém não o fazia sozinho. Os únicos que ele controlava eram os que lutavam na vanguarda, enquanto o resto eram os golens de Lyla — diferentes daqueles de mithril que o grupo lutou nas ruínas.
Os golens dela corriam em grupos seguindo comandos, e nenhum deles poderia se envolver em uma batalha adequada. Não que o problema fosse com ela, porque só o fato de ela ter feito vários que podiam imitar movimentos humanos em tão pouco tempo mostrava o seu incrível talento. Todavia, a própria não parecia satisfeita.
— Não importa quão apressada eu estivesse, não posso acreditar que fiz golens tão inúteis…
Precisavam somente do suficiente para enganar os elfos e fazê-los pensarem que eram muitos humanos. Eles não tinham o tempo necessário para ela criar golens que a satisfizessem.
“Ela provavelmente destruirá até os de alta qualidade dizendo que não gosta deles”, pensou Zich.
Eles também não pretendiam executar o plano de maneira descuidada. Dentro de cada armadura, puseram uma pequena bolsa de sangue animal. Tudo o que restava para eles fazer era colocá-los com as armaduras de Snoc na caixa mágica e retirá-los após a invasão.
Foi o mesmo ao recuar. No meio do caos, depois de se esconder atrás de um edifício, Zich guardou todos de volta na caixa mágica. Por fim, só tinha que levar de volta o seu eu físico em segurança, e essa era uma tarefa fácil.
— Você deveria ir dormir. Vai ter que continuar fazendo coisas assim — disse ele a Snoc.
— Sim senhor. — O garoto estava um pouco cansado. Abraçando Nowem, que cochilava no seu ombro, foi ao seu quarto.
Hans recebeu a mesma ordem. Usando uma armadura, ele também ajudou Zich o tempo todo, afinal, o plano ocorreria melhor com uma figura habilidosa com autojulgamento.
Depois de os dois saírem, Zich se dirigiu a Lyla: — Encontrou?
— Aqui, marquei os locais. — Ela entregou o mapa dado por Dornian a ele. Além das marcas anteriores, que mostravam os lugares mais prováveis de os reis estarem, havia novas desenhadas por ela.
Enquanto ele corria por Mentis, ela fazia uma busca em silêncio pela cidade no céu. Em seguida, avaliou em detalhes os movimentos das tropas e registrou no mapa a fim de identificar onde os cativos estavam.
— Por enquanto, estes dois pontos não parecem prováveis; tinha muito poucas tropas saindo de lá. Estes aqui tinham várias, como se fossem a residência principal dos soldados.
— Onde estão os lugares suspeitos?
— Aqui. Nenhuma tropa deixou esta área.
— Não está vazio, certo?
— Tinha algumas luzes lá dentro. Vi uns soldados saírem para avaliar a situação, mas ninguém participou da batalha. Em vez disso, contornaram o prédio e fortaleceram suas defesas. A razão por trás parece óbvia.
— Isso significa que eles estão protegendo algo importante dentro daquele edifício. — Ele sorriu. — Não seria o centro de comando deles ou algo assim, não é?
— É um prédio pequeno com dois andares, a “gente da elite” não preferiria ali. A julgar pelos movimentos das tropas, acho que o chefe da Tribo do Ferro está no castelo que vimos antes.
— Previsível.
— Então, o que você vai fazer agora? — questionou, um pouco de nervosismo na voz.
— Temos que procurar naquele lugar por ora. Na verdade, não temos certeza se os cativos estão lá ou não.
Ela se sentiu um pouco mais aliviada ao ouvir a resposta dele. “Felizmente, não parece que ele pretende estender esta guerra por muito tempo.”
O Lorde Demônio teria tentado prolongar o tempo para causar estragos tanto quanto possível. Zich não parecia mostrar esse aspecto ainda.
“Espero que ele continue assim…”
Ciente ou não das preocupações dela, ele apontou para uma parte do mapa: — Devemos atacar daqui da próxima vez.
— Por que não vamos direto para onde os cativos estão?
— Podemos ser descobertos como colaboradores da Tribo do Lago. Ainda temos que ser os caras que vieram roubar o tesouro dos elfos.
— Então, devemos começar a nos preparar para dormir para nos prepararmos para amanhã? Embora não seja tão confortável quanto uma casa, é um porão bastante confortável.
Surpreendentemente, o lugar em que eles estavam era um grande porão subterrâneo sob Mentis. Snoc se infiltrou lá na noite anterior e trabalhou duro para cavá-lo sem que os inimigos descobrissem. O chão, o teto e as paredes eram todos feitos de terra, contudo a sua resistência era digna de nota, pois foi feito com muito cuidado. Também ficava bem no fundo da terra, ou seja, chance mínima de que achassem a localização deles.
“O ar está abafado, mas temos que conviver com isso.”
Apesar de terem perfurado respiradouros no topo do teto, eles ficavam no subsolo, de modo que a circulação de ar era insuficiente. No entanto, costumavam dormir em todos os lugares graças ao estilo de viagem de Zich. Logo, adormeceram um por um.
A Tribo do Ferro, perplexa com o ocorrido, fortaleceu as defesas iluminando mais a região e aumentando o número de patrulhas. Além disso, Kandis, que geralmente dormia durante esse período, participava da ronda. Assim, os soldados não possuíam escolha a não ser estarem em alerta máximo.
“Aqueles filhos da puta!”
Sempre que Kandis pensava nos eventos de ontem, ele se enchia de fúria. Como general do exército da Tribo do Ferro, se sentiu orgulhoso de assumir um papel tão essencial em um plano para florescer a prosperidade de sua tribo; sua confiança e orgulho alcançavam os céus. Se esse plano fosse bem-sucedido, eles se tornariam proprietários de toda região da floresta de Adrowon e talvez até estendesse seus poderes ao reino humano. Então, como um dos principais líderes do plano, ele ganharia abundante riqueza. Antes do dia anterior, tudo parecia estar indo com perfeição.
As outras tribos não podiam abordá-los tão abertamente devido aos reféns, e eles conseguiram capturar e matar os batedores ocasionais que se infiltravam lá dentro. Tudo estava indo tão bem que estavam se cansando.
Em apenas uma noite, seu triunfo completo foi destruído. Uma tropa que parecia ser formada por humanos se infiltrou na ilha. Como precisavam economizar o máximo de energia possível, foi uma perda significativa para eles. O general não tinha ideia de como puderam escapar.
— Merda! — Ele sem querer xingou em voz alta, espantando os subalternos para longe. Ele não era um chefe gentil.
“Como caralhos eles conseguiram escapar?!”
Ele recebeu todos os tipos de insultos e humilhações de seu rei sem poder responder uma única palavra. Por essa razão, desejou com todas as suas forças que aqueles humanos aparecessem de novo.
“Desta vez, vou capturar todos eles! Sem falhas!”
Foi nesse momento que ele ouviu um grito alto.
— Inimigos! São os mesmos de ontem! Eles se infiltraram outra vez!
Os olhos vermelhos dele brilharam.
— Capturem eles!
— Não os deixem escapar!
A visão dos elfos correndo e gritando com tochas e armas era intensa e assustadora. Contudo, como estavam tão focados em uma área, deixaram o lado oposto repleto de escuridão. E, no escuro, alguém se movia em silêncio.
Zich escorregou para dentro de um dos prédios que estava com as luzes apagadas. Ele abaixou ainda mais o manto e sentiu o ambiente.
“Quase não há elfos por aqui.”
Ele subiu no telhado e viu luzes brilhantes reunidas no campo de batalha. No dia, ele planejou se infiltrar no prédio sugerido por Lyla e procurar reféns, deixando a liderança para Hans.
“Ele provavelmente vai se sair bem. Como quem o ensinou foi eu, ele deve poder pelo menos isso.”
Claro, a confiança dele em Hans vinha dele mesmo. Esta missão era muito mais complicada do que as normais, porque não seriam capazes de matar nenhum elfo. Se os elfos próximos aos reféns fossem mortos, a Tribo do Ferro talvez suspeitasse de que as tropas eram relacionadas a outras tribos.
“Eu gostaria de poder capturar um como refém e torturá-lo.”
No entanto, a tortura não funcionava em elfos treinados. Ele experimentou isso várias vezes antes de regredir.
“Minhas palavras não chegaram até eles.”
Ele evitou os poucos elfos que ficaram para trás e continuou a se mover. Logo depois, chegou ao seu destino: um prédio alto de dois andares feito de pedra. Era bem grande, mas não parecia nada especial.
“Hora do show, porra.”