Zich e Lyla se esconderam atrás da parede do lado do prédio e procuraram as celas dos reis. Teriam sido descobertos se os guardas cercassem mais a região, porém Snoc e Hans haviam roubado toda a atenção deles; agora, tinham mais liberdade.
Zich se aproximou com cuidado do prédio pelo lado primeiro, onde dois soldados estavam de guarda. No dia anterior, ele teve que esconder todos os vestígios da sua ida e volta para que não prejudicasse ninguém; isso seria diferente agora. Ele sinalizou para trás.
Algo roçou o lado do rosto dele e fez o seu cabelo esvoaçar. Uma flecha invisível feita de vento perfurou a testa de um dos guardas, enquanto, ao mesmo tempo, Zich acertava o pescoço de outro com a Windur. O guarda tossiu sangue e caiu no chão, tremendo. O outro, que foi atingido pela flecha, morreu sem sequer emitir um som.
Zich jogou os corpos em um arbusto próximo, e Lyla murmurou um breve feitiço. Um momento depois, os soldados reapareceram no lugar em que ocupavam antes.
— Incrível — comentou ele.
— Não é nada demais, na verdade. É apenas magia de ilusão mental que projeta a imagem na minha cabeça por um tempo. Se você olhar de perto, falta detalhes.
Apesar de ser verdade, bastou. Não era como se alguém fosse prestar muita atenção a cada guarda naquele cenário, e, de qualquer maneira, os dois não ficariam lá por muito tempo.
— Pronta? — Ele pôs a mão na porta.
— Aham.
Seguindo com cautela, ele abriu a porta e colocou a palma da mão na frente de Lyla.
— Hã?
— O que é isso?
Assim que ele abriu a porta, avistaram dois soldados, que viram Zich e Lyla e arregalaram os olhos. Quando estavam prestes a gritar que havia invasores, flechas de vento perfuraram as testas deles. Zich correu rápido, porém silenciosamente, e segurou os cadáveres antes de baterem com as costas no chão.
A única dificuldade era a parte da invasão. Havia alguns guardas dentro, porém, ao contrário daqueles na entrada, ficavam sozinhos. Além do mais, pareciam preocupados com os ruídos da batalha do lado de fora e não prestavam muita atenção ao ambiente.
Sangue espirrou do pescoço de outro elfo. Zich deitou o corpo com cuidado para que ele não fizesse barulho e apontou para cima, sinalizando para Lyla subir.
“Parece que terminamos no primeiro andar”, ela assentiu.
Os dois chegaram em frente às escadas e subiram devagar. As portas estavam ordenadas em ambos os lados do corredor em linhas retas. Em frente a oito portas, havia dois soldados em frente a cada uma, totalizando dezesseis. Estavam guardando os quartos dos reis.
“É impossível cuidar deles um por um.”
Como os guardas estavam em um corredor reto sem cantos e quadrados, eles seriam descobertos se um dos soldados morresse imediatamente.
“Eu gostaria de acabar com todos eles de uma só vez.”
Alguns poderiam colocar em risco a vida dos prisioneiros ou ameaçá-lo com eles. Não o incomodaria nem lhe faltava a capacidade de resolver o problema, entretanto, preferia tomar o caminho seguro e calmo.
Ele se aproximou do ouvido dela e abaixou a voz o máximo possível.
— Lyla, quantos você pode derrubar de uma vez com magia? Com a condição de que eles não vão criar uma comoção e não vão perceber que foram atacados até morrerem. E eu também preferiria que você lidasse com os mais distantes.
Não importava se ela atingisse todos eles com um raio ou fogo, as condições eram complicadas.
— Eu com certeza posso levar oito ou todos eles se considerarmos uma pequena chance de fracasso.
— Ótimo. Cuide dos oito mais distantes.
Ela lançou um feitiço silencioso, que não foi percebido. Embora uma quantidade considerável de mana girasse ao redor, quase não havia vazando do lado de fora. Foi uma exibição fantástica de controle.
Flechas de vento voaram em arcos contínuos, ao contrário das anteriores, que seguiam uma linha reta. As flechas pousaram no meio das sobrancelhas dos soldados enquanto olhavam para frente.
Com um som de osso sendo esmagado, formaram buracos em oito testas. O resto dos guardas se virou com o barulho, dando a Zich a oportunidade de se mover. Em um piscar de olhos, ele ficou no centro dos guardas vivos com a Windur. Não dava para ver os movimentos dele com clareza.
O resto dos oito foram decapitados e jorraram sangue ao ponto de criar poças no chão. Os dezesseis, ao todo, morreram sem saber o que tinha acontecido.
— Isso é tudo? — Escondendo o corpo na escada, Lyla perguntou.
— Sim.
Não precisavam mais manter o tom baixo. Confiante, ela saiu e evitou os corpos caídos, cabeças rolando e sangue disparando como em fontes e se aproximou de Zich.
— Existe algum tipo de fechadura mágica? — Ele apontou para a maçaneta da porta mais próxima a ele.
— Não — respondeu ela, procurando por qualquer indício de magia. — Se estiver trancado, é por uma fechadura física.
Crek!
Ele esmagou a maçaneta com facilidade. Independentemente da velocidade, não conseguiram impedir que o som da “luta” passasse.
A pessoa que passava pela porta estava de pé e olhando para eles com cautela.
— É ela, Lyla?
— Sim, é.
— Quem são vocês dois…? — A voz da elfa se empolgou um pouco ao ver os mortos; mas só um pouco.
— Saudações, vossa majestade.
— O meu nome é Zich; sou amigo da sua filha.
A rainha e mãe de Leona, Sidia Won tu Glorian, arregalou os olhos.
Zich reuniu todos os reféns no corredor. Os reis sorriam com amargura.
— Felizmente, parece que não tivemos nenhum problema sério.
— Tudo estava bom, exceto a coisa que colocaram na minha comida. Não, na verdade tenho que descansar um pouco. Faz tanto tempo desde que eu não tive que ouvir nenhum incômodo dos meus súditos.
Como esperado dos líderes de grandes tribos, os reis estavam muito compostos mesmo depois de terem sido presos por um longo tempo. No entanto, não podiam esconder a curiosidade em relação aos humanos que os salvaram.
— Tudo bem. Então, vocês estão dizendo que são amigos da princesa da Tribo do Lago?
— Sim.
— Você disse que estava preocupado com a sua filha fugitiva, mas ela trouxe um apoio impressionante — disse o rei da Tribo da Montanha ao pai de Leona, Retree Pearl hum Droud, o rosto mortalmente sério. — Há outros reféns?
— Agora que penso nisso, a xamã não está conosco.
Os outros também perceberam isso, e seus rostos ficaram rígidos.
— A estimada xamã está sendo mantida em cativeiro no castelo. Depois deixá-los num lugar seguro, pretendo salvá-la também.
— Eles colocaram apenas a minha mãe em um lugar separado? Por qual motivo?
— Vossa majestade, darei uma resposta mais tarde.
— O homem está certo — apontou o rei da Tribo do Oeano. — Este não é um bom momento para ouvir o que aconteceu, em especial se quisermos salvá-la.
— Lyla, eu os confio a você — falou Zich a Lyla.
— Aham.
— Vou verificar se tem alguém neste prédio só por garantia. Planejo ficar de guarda na entrada do primeiro andar.
— Zich, espere por mim até que eu volte. Nunca vá sozinho.
— Tranquilo.
Então, ele fez o que disse. A ilusão deixada por Lyla no lado de fora aparentava ter funcionado, pois não havia elfos entrando no prédio. Em pouco tempo, ele ouviu uma voz.
— Estou de volta. — Ela desceu do segundo andar.
— Teve algum problema?
— Não.
— Ótimo. Só temos que pegar a última.
O olhar de ambos se dirigiu em direção ao castelo.
O som da batalha continuou durante todo o trajeto, e não parou mesmo quando chegaram. Como todo o exército da Tribo do Ferro estava focado em combater os intrusos, a dupla teve facilidade para chegar ao castelo.
— Esses dois estão fazendo um ótimo trabalho — disse ela em relação a Hans e Snoc.
— Eles têm talento, uma mente sólida e ganharam muita experiência em pouco tempo. Além disso, têm um professor como eu. Esses dois têm o melhor ambiente possível para desenvolver suas habilidades, é claro que precisam ser bons.
Os dois chegaram. De cara, avistaram quatro soldados vigiando a entrada.
— Temos que entrar sorrateiramente aqui.
As condições no castelo eram diferentes do edifício que mantinham os reis. Considerando o seu tamanho, devia haver muito mais soldados dentro, como na noite anterior. Seria impossível matar todos sem ser pego.
— Você me disse que sabe onde eles mantiveram a xamã, certo?
— Disse. Enquanto eu estava saindo, descobri onde a colocaram.
“Na verdade, foi fácil. Mesmo em estado de emergência, a sala que a abrigava era o único lugar onde os soldados nunca saíam.”
— Mas temos que ir para um local diferente primeiro.
— Está falando do porão?
— Sim. O rei da Tribo do Ferro parece confiar mesmo naquele poder. Ele pode ter arrastado a xamã até lá de novo e causado um alvoroço.
Ele olhou para o seu artefato, e Lyla murmurou um feitiço para si. Antes de ficar invisível por completo, segurou a mão dela e seguiram adiante.