Era um ritual transmitido por gerações na Tribo do Ferro. Precisava de pelo menos cinquenta e oito vidas de elfos da tribo e mana do rei, sobretudo o sangue do descendente do xamã da Tribo do Lago que havia selado seu poder. A realeza da tribo valorizava o ritual mais do que qualquer coisa, escondendo de até o vassalo mais próximo.
Os reis da tribo usavam todos os recursos possíveis para iniciar o ritual para permitir que quebrassem o selo usufruíssem do poder sob o castelo. Por essa razão, uma vez que ele começava, a barreira, que não era indestrutível, usava a força daqueles que participavam e até do poder do selo.
Permaneceu um fato que a barreira era dificílima de ser quebrada. Não dava para imaginar que alguém pudesse rasgá-la em um só golpe.
Naquele momento, o selo quebrou e a gloriosa busca pela grandeza deles caiu. Incluindo Renu e os soldados cuja força vital foi tirada, ninguém conseguiu parar Zich, que, em um instante, estava na frente do rei.
O plano original dele era resgatar Romanne e escapar, porém mudou de ideia quando deu uma olhada mais de perto nela.
Ela quase não tinha cor no rosto e estava gélida. Se perdesse mais sangue, morreria, o que o levou a decidir curá-la antes de tirá-la do altar.
— Você é…
Em vez de responder, ele despejou uma poção na boca dela. Parte dos ferimentos dela se dava devido aos espinhos por toda a superfície do altar. Esses espinhos deviam ter perfurado o seu corpo e extraído o sangue para um lugar na parte inferior do altar.
Os ferimentos dela cicatrizaram em um ritmo acelerado, porém continuava sem sangue. Considerando a forte vitalidade dos elfos, isso provavelmente era suficiente.
Embora não tenha demorado, atrasou o tempo de fuga deles; não era como se os tribais presentes fossem assistir à cena acontecendo bem diante deles.
— Pegueeeeeem eleees! — gritou Renu.
Os soldados participantes do ritual ainda não podiam se mover e morreram um graças aos efeitos colaterais. Todavia, tropas emergenciais estavam lá: quatro elfos ao lado do rei.
Craaaash!
Os quatro elfos estenderam as mãos e conjuraram quatro feitiços: dois eram magia de vento, um era de fogo e um de terra. O fogo e as pedras misturadas dentro do redemoinho matavam só de tocar na pessoa, contudo, Zich sequer se mexeu. Era, sim, um ataque formidável, ainda mais se levasse em conta que não proferiram cânticos.
Bzzzzzzzz!
Um raio foi disparado por trás deles e apagou os feitiços. Zich aproveitou o momento em que os elfos tentaram desviar e também se afastou. Desta vez, despejou outra poção na boca de Romanne. Ela recuperou um pouco da cor, mas ainda não conseguia se mover.
“Não é que ela não tenha resistência… Alguma droga paralisou o corpo dela de antemão. Ela não teria se deixado ficar sobre os espinhos, em especial considerando o jeito dela. Ela tá abrindo a boca.”
— É uma pena que você não consiga ver toda a merda que fez enquanto morre! Eu não te disse que tudo o que você faz é inútil!?
— Você está certa, senhora — respondeu Zich. — Os idiotas pensam que, se fizerem um plano, tudo funcionará exatamente de acordo com ele.
— Céus, você sabe. Quando as coisas não vão de acordo, eles sempre culpam o ambiente por isso.
— Sim, sei muito bem. Se têm uma posição elevada, culpam os subordinados; se têm uma família, a culpa. É uma pena que respiremos o mesmo ar que eles.
— Uma coisa é certa: ele não tem família. Ele não pode ter uma esposa. Não dá para ver que ele não tem caráter nenhum?
— Hahaha, não é essa a louvável tentativa dele de não deixar seu sangue inferior para trás? Na verdade, ele não pode nem pensar nisso. Eu estava enganado. Quão tolo eu fui.
— Sei que é rude falar isso no nosso primeiro encontro, mas você estava mesmo. Nunca que um urubu desses consegue raciocinar.
— Pode crer, seria demais para ele.
— Também acho.
Não parecia a primeira vez que conversavam. Lyla, quase sempre cautelosa, quase deixou o controle sobre o seu cajado. Assim, Renu, o centro da conversa dos dois, não poderia estar mais furioso.
— O que está fazendo?! Matem eles agoooooooooraaaaaaa! — Revirou os olhos.
“Recuo antes? De agora em diante, as outras tribos podem se unir para dominar a Tribo do Ferro, e isso seria suficiente. Que ânsia.”
Brrrrrr!
O castelo inteiro tremeu de novo. Os elfos que estavam de pé tropeçaram, diferente de Zich, que se manteve equilibrado sem dificuldades.
Crash!
A parede estava desmoronando. Todas as pedras dela começaram a desmoronar devagar do topo. Então decepcionante parte de trás apareceu
Era outra parede. E ela parecia exatamente a mesma que a anterior.
Ninguém pensou muito a respeito. Renu e Romanne sabiam o que era, e Zich e Lyla também tinham visto antes. Na verdade, tinham visto a estrutura da parede e a lacuna entre ela antes.
— Ei, Lyla. Isso…
— Pensei o mesmo.
Ambos se lembraram da ruína de Violuwin. A parede se assemelhava com a da passagem secreta que a Windur abriu e os levou ao túmulo dos imperadores do antigo império.
Renu soltou uma gargalhada; todos os insultos e humilhações se tornaram nada para ele. O ódio que ele sentia por Zich e Romanne também derreteu. Com o selo foi desfeito, as palavras dos dois não eram nada além de gritos de perdedores. A vitória estava ao seu alcance.
— Hehehe! Pedaços de lixo sortudos. Pensei em capturá-los e torturá-los, mas mudei de ideia. Podem simplesmente voltar.
— Uau? Quanta gentileza — falou ZIch, surpreso.
— Diga isso para o resto. Darei a eles a última chance de escolher: obedecer ou ir para a guerra. Mas sua tribo não tem escolha, xamã — ergueu o queixo e olhou para eles. — É o preço por me insultar. Saia e traga todos da sua tribo e tentem resistir. Vou conceder minha graça e pessoalmente rasgar sua tentativa patética de resistência.
— Você ao menos tem a chave…? — murmurou ela em voz baixa, se sentindo ameaçada.
— Você acha que não? Se quer acreditar nisso, vou lhe deixar em paz. Isso só fará com que você caia mais em desespero no futuro.
Naquele momento, soldados que estavam por perto desceram correndo, cercando o grupo de Zich e apontando as suas espadas para eles.
No entanto, Renu os impediu. — Deixem eles irem.
— O quê? Mas, vossa majestade, eles são intrusos!
— Está tudo bem, prometi deixá-los ir. Por que vocês não os guiam até a ponte para que outros não os ataquem?
O elfo que recebeu a ordem aparentou não ter conseguido entender o que estava acontecendo, mas uma ordem era uma ordem. Ele gesticulou pros outros e todos baixaram as armas e se afastaram.
— O que estão fazendo? Por que não vão? Ou de repente mudaram de ideia e querem se render a nós? — disse o rei, os ridicularizando.
— Zich, acho que devemos sair por enquanto. — Lyla puxou a sua manga.
— Calma, tenho outra coisa para perguntar.
— O que é? — Renu cruzou os braços.
— Se esse tal de poder é tão incrível, por que não abre a parede e mostra para nós agora? Sendo honesto, eu estava curioso sobre ele desde o início.
— Isso provavelmente não será possível — respondeu Romanne. — Nós não sabemos que forma ele tem. Deverão abrir a porta usando outro ritual enquanto controlam a força que vem de lá dentro.
— Estou surpreso que ele tenha cérebro suficiente para isso, xamã.
— Os insetos ficam desesperados para protegerem as suas vidas. Não é por isso que trabalham tão duro para se esconder?
— Vocês dois — falou Renu —, não testem até onde a minha paciência irá.
— Olhe para ele, rapaz. Ele agiu como um rei generoso depois de dizer que tinha algum tipo de poder incrível, mas depois de receber alguns insultos, voltou a tremer de fúria.
— É, xamã, ele é patético. Patético. Superpatético. Como alguém pode ser tão patético? Ele é o ser mais patético que eu já vi. Patético.
— Seus filhos da puta! — veias pulsaram na testa dele. — Tudo bem! Se querem tanto mor…
Foi tudo de repente. Zich agarrou Lyla, que estava atrás dele, e pulou até o rei mesmo segurando a maga e a xamã ao mesmo tempo. Como ele não tinha mão livre para usar alguma arma, estendeu as pernas em um chute aéreo.
Os soldados e o rei, que estavam no extremo oposto , não conseguiram reagir ao golpe repentino. Entretanto, a distância entre eles permitiu que Renu escapasse por pouco.
O pé de Zich bateu na parede, emitindo um som alto, mas não a quebrando. Ofegante, Renu correu para onde Zich costumava estar. Trocaram de posições. Os soldados correram para protegê-lo.
— S-seu arrombado!
O rei ficou tão chocado que, apontando para o inimigo, a sua mão estava tremendo. No entanto, Zich apenas encolheu os ombros.
— Seu desgraçado! Eu estava tentando mostrar misericórdia e você retribuiu meu favor com isso!
— Até porque você morreu, não foi? — respondeu Zich, calmo.