Ele era detestável e descarado. Renu não gostava de Zich, e a sua impressão dele piorava conforme interagiam mais.
— Todos os humanos são como você…?
— Nunca, é impossível existir tantos como eu: inteligentes, gentis, bonitos e com um incrível senso de humor; não apenas entre os humanos, mas em todas as raças.
Ele sentiu o olhar de Lyla, porém ignorou. Não tinha tempo para debaterem pontos de vista conflitantes.
— Tudo bem — respondeu Renu com voz de desânimo —, não me importo como a sua mente funciona. De qualquer forma, vou aceitar o fato de que você me atacou como uma declaração de que não quer sair daqui vivo. Me recuso a ouvir mais uma palavra sua. Vocês não têm para onde correr.
Renu apontou o dedo para eles, movimentando tropas exalando sede de sangue.
— Como alguém que tem insultado aquele maldito até agora, eu não deveria dizer isso, mas você tem alguma maneira de fugir? — questionou Romanne, ainda surpresa pelo chute que Zich tentou dar no rei.
— Não se preocupe, senhora — respondeu Lyla. — Embora ele pareça ser espontâneo, ele age depois de pensar na maioria das coisas.
— Hã? Eu?
Depois que ela recebeu o olhar desapontado da xamã, o chutou na canela.
— Bem, não é como se eu tivesse vindo aqui porque sim. — Bateu na parede atrás dele. — Eu queria ver o que estava além disso.
— Isso? — Renu interveio, como se não pudesse acreditar. — Isso não abre sem uma chave especial, e é bem capaz de que você não consiga achar algo bom lá. Pensei que você tinha algumas capacidades, mesmo se é um cara irritante, mas está fazendo um ato incompreensível e sem sentido no último momento.
— O quê? Achei que você não ia mais me ouvir. Como pode um rei voltar atrás em sua palavra logo após dizê-la? Até um peixe tem uma memória melhor. Ah, fui muito ofensivo? Você sabe, pro peixe.
— A Tribo do Ferro é lamentável — acrescentou Romanne. — Como podem se curvar e servir a um cara desses como o seu rei? E o resto de vocês, soldados? Se vocês se juntarem a nós, nós os aceitaremos como refugiados.
— Você disse que eu fiz um ato sem sentido, rei? Não é o caso. Me lembro do que descobri da conversa de vocês muito bem — disse Zich, erguendo a Windur. Ela assumiu a forma da lâmina que ele imaginava.
— Tem coisas que você não sabe.
Como se estivesse revelando a forma original com orgulho, a Windur floresceu no formato de galho de maneira esplêndida, deixando o rei, os soldados e a xamã boquiabertos. Então ele a cravou numa rachadura na parede.
O som de algo destrancado.
— O quê? O que é isso?!
Zich meneou a Windur. Como em Violuwin, uma parte da parede traçou um grande círculo e começou a se mover. Todos podiam dizer que ele estava abrindo a parede.
— Não! — gritou Renu. — Imbecil, você não se lembra da nossa conversa! Se abrir, não sabemos o que vai acontecer!
— Não, eu sei! A espadona aqui me instruiu.
—T-te instruiu?
— Sim, é por isso que sei com certeza que ficaremos bem. Mas… — Zich riu alto. — Vocês ficariam completamente fodidos!
— Parem ele!
Soldados se movendo em fila para minimizar qualquer dano correram em direção a Zich com tudo o que tinham, contudo chegaram tarde demais.
— Não é isso que queria tanto? Olhos sempre abertos; observe com cuidado!
Eles escutaram outro barulho e a Windur girou em um círculo completo. A porta da parede, tranquila há séculos, se abriu. E o que existia além era a própria calamidade.
Uma enorme fumaça irrompeu, engoliu o porão na hora, subiu as escadas e se estendeu por todo o castelo. Mas não parou por aí. Queimou tudo o que tocou e expandiu o alcance, transformando, em um período curtíssimo de tempo, o castelo em uma fornalha acesa gigantesca.
Enquanto Zich estava lidando com o rei no porão, Hans liderava uma batalha com os blindados de Snoc e os golens de Lyla. Mesmo que estivesse trabalhando duro, lidar com soldados de elites usando golens desleixados tinha um limite. Um por um, os blindados caíram no chão; naturalmente, o segredo foi revelado.
— Não são humanos, os pedaços de armadura estão vazios!
— São golens! Golens! São apenas fantoches!
— Não é um grupo de ladrões humanos?!
No início, apenas alguns descobriram, entretanto a notícia se espalhou muito rápido. O número de blindados aumentou exponencialmente, e mais e mais elfos descobriram a verdade por si mesmos.
“Está quase no fim?”
Cortando outro elfo que o atacou, Hans previu o fim desta batalha. Todavia, não se sentiu arrependido.
“Já passei muito tempo o tempo que o senhor Zich me pediu.”
Ele confiava plenamente em Zich, ao ponto de parecer fanatismo. Nem pensou por um segundo que Zich falharia.
“Muitas das armaduras foram esmagadas. Eu deveria me preparar para recuar”, pensou, batendo no chão algumas vezes. Era um sinal para Snoc.
Tum! Tum!
Alguns dos ataques dos blindados ficaram rígidos, e eles correram aos elfos sem prestar atenção ao dano. Enquanto eles bloqueavam os inimigos pela frente, os golens na parte de trás que estavam lá para preencher os números correram até Hans.
Hans pegou uma caixa mágica e começou a colocar os golens de volta na ordem em que chegaram.
— O-o quê!? — Kandis, o general, abriu a boca, encaixando todas as peças.
“Não era um grande número. Desde o início, eram somente alguns inimigos! Há alguns especialmente fortes, mas isso é demais! Os melhores sequer eram humanos!”
Os blindados que caíam voltavam a correr, mesmo que forrem golpeados e perdessem partes da armadura.
“Provavelmente há muito poucos inimigos reais. Talvez”, Kands focou no centro da batalha, avistando Hans, que estava enfiando golens na caixa mágica. “… Seja apenas uma pessoa.”
Mesmo que Hans não estivesse tendo facilidade, para Kandis, parecia que ele estava. O elfo ergueu o arco, incutindo uma grande quantidade de mana na flecha.
Swoosh!
A flecha, forte o bastante para perfurar sem dificuldades uma placa de metal, voou até Hans. A menos que Hans usasse uma armadura de um metal precioso, como mithril, ela o machucaria.
A flecha não pôde perfurar o alvo, este que desviou a flecha com uma espada e se manteve pondo golens na caixa mágica, como se nem precisasse usar toda a força para bloquear.
Kandis continuou atirando, entretanto Hans cortou cada uma a Estellade, mexendo apenas o braço direito para lidar com os projéteis do general élfico.
— Esse pedaço de merda do caralho!
Crek!
Ele jogou o próprio arco no chão. Eram flechas fortes e complexas feitas de várias árvores, partes de monstros e até um pouco de metal, mas quebrou sob o choque do arremesso.
— Concentrem todas as flechas naquele desgraçado que está enfiando as armaduras naquela caixa! Transformem-no em um ouriço!
Se qualidade não funcionasse, usaria a quantidade. As flechas que estavam disparando em direção às armaduras estavam todas focadas em uma pessoa. Como estava escuro, era difícil vê-las, porém se fosse à luz do dia, a nuvem de numerosas flechas subindo de uma só vez teria sido uma visão maravilhosa.
Hans concentrou a mana na Estellade, fazendo com que ela brilhasse tão forte que talvez pudesse simular um pequeno sol. Então ele a brandiu contra a chuva de flechas.
As luzes que saíram primeiro iluminaram os arredores, e o que se seguiu foi uma luz explosiva repleta de mana. Nenhum som saiu. Toda a área circundante clareou.
Daí, sumiu. Em um instante, a escuridão voltou, no entanto, todas as flechas desapareceram com a luz. Em choque, os elfos congelaram com o choque de realidade.
Sem prestar atenção à reação dos inimigos, ele continuou com a sua tarefa, mas até ele se sentiu estranho com a parada repentina e o silêncio.
“Hum, se fosse o senhor Zich, ele…”
Com o timing perfeito, ele olhou nos olhos bem abertos do general, sentindo a sua fúria.
— Por que está olhando para mim assim? Ficou putinho, foi?