A atmosfera entre as forças aliadas era deprimente. Não houve muitas baixas, mas isso não mudou o fato de que haviam perdido a primeira batalha. Além disso, as forças de reforço inimigas fogo os desmoralizaram. Entretanto, a guerra estava longe de terminar.
Os elfos se equiparam em silêncio e se prepararam para a próxima batalha. O grupo de Zich se sentou em círculo ao redor de uma fogueira. Ninguém ficou ferido de maneira grave, mas não conseguiram escapar do cansaço; Hans lutou contra elfos nas linhas de frente, Lyla disparou feitiços de todo o lugar e Snoc manteve um túnel gigantesco. Todavia, ninguém estava dormindo.
Uma grande onda de mana surgiu por perto. Hans e Snoc logo se levantaram.
Zich saiu da onda de mana.
— Bem-vindo de volta, senhor!
— Valeu — respondeu Zich a Hans.
Ele entregou a Lyla o artefato de teletransporte dela. Ele pediu emprestado a ela, já que precisava verificar algo em Mentis. Esta ação também significava o quanto ela confiava nele agora.
— Eu usei bem.
— Como foi? — questionou ela.
— É impossível se infiltrar no castelo como antes.
Zich caiu na frente da fogueira. Hans e Snoc também voltaram aos seus lugares.
— A vigilância está tão pesada assim?
— Não importa. Antes que eu pudesse dar um passo para dentro, as tropas chegaram correndo. Tentei várias vezes, mas fui impedido em todas.
— Você usou o artefato com a função de invisibilidade que também esconde sua presença, certo?
— Óbvio.
— E ainda foi impossível?
O efeito das habilidades dele combinadas com o artefato era surpreendente. Mesmo quando estavam salvando Romanne, puderam se locomover no castelo como se fosse a casa deles.
— Quando aquele poder foi liberado, se tornou impossível entrar de modo furtivo.
— É um verdadeiro incômodo.
— Está tudo bem. Mesmo que eu mate o rei, não é garantido que eles parem. Não, já que chegaram até aqui, na verdade, vai ser um evento talvez insignificante.
— Como está a atmosfera?
— Não está boa, senhor — disse Hans.
— É esperado, já que perderam.
Contudo, não foi uma guerra infrutífera, visto que confirmaram com clareza que a existência de que Renu falou poderia ganhar tempo até que o ritual terminasse.
— O que vai fazer de agora em diante, Zich?
— Não tenho certeza. Tenho certeza de que os comandantes das forças aliadas pensarão em algo.
— A propósito, a unidade de comando estava procurando por você, senhor Zich — disse Hans. — Eles pediram que você visitasse a sede para discutir planos futuros.
— Ah, bem, é cansativo ser tão popular. — Ele se levantou. — Volto daqui a pouco. Vocês devem dormir primeiro.
— Sim, senhor!
— Entendido, senhor!
Quando Zich se dirigiu para o quartel-general das forças aliadas, Hans e Snoc começaram a preparar as suas roupas de dormir; adormeceram assim que se deitaram. Ao contrário deles, porém, Lyla não adormeceu. Com os olhos bem abertos, ela ficou observando a fogueira.
Zich voltou depois de um bom tempo.
— Ainda não foi para a cama?
— Vamos conversar um pouco.
— Tudo bem — assentiu, encarando ela.
Ela o levou para longe do acampamento. Considerando os ouvidos sensíveis dos elfos, caminharam uma distância considerável até ela de repente se virar e olhar diretamente para Zich.
— Você sabe o que vou dizer, certo?
— Claro. Você está preocupada que eu me torne um Lorde Demônio.
— Você vai mudar?
Embora as memórias dela fossem irregulares, se alguém tivesse que posicioná-la, ela estaria do lado do bem. Enquanto viajava com Zich, ela ficou bastante apegada a ele, então, para ela, isso era um problema consideravelmente sério.
Como ela não tinha memórias passadas, não sabia da existência da família, amigos ou mesmo conhecidos. Talvez, nem sequer existissem, e havia a possibilidade de que ela nem fosse humana. Assim, para ela, as existências mais próximas ao seu lado eram Zich, Hans e Snoc. Falando com ele de igual para igual, era inevitável que ela mantesse uma certa distância com os servos. Em suma, ele era a pessoa mais próxima dela. Se ele se transformasse em um Lorde Demônio… ela não teria confiança para se opor a ele sem emoções como antes.
— Para dizer a verdade, não tenho nenhum pensamento sobre querer ou não querer mudar.
— Mas você tentou até agora.
— Para ser preciso, foi apenas o resultado de fazer o que eu queria.
“Independentemente de tudo, apenas o fato de eu ser um cavaleiro karuwiman honorário mostra que estou longe de ser um Lorde Demônio. Mas achei zoado isso do cavaleiro honorário, te falar.”
— Então as coisas que você queria fazer mudaram? Por que mudou de repente?
— É porque a razão pela qual comecei a fazer coisas boas ficou comprometida.
Ela estava prestes a perguntar o motivo, mas logo fechou a boca. Considerando a personalidade dele, seria difícil persuadi-lo mais, e mesmo que estivesse curiosa, não precisava saber agora. Nada mudaria, também.
— E se você tiver um motivo diferente?
O olhar dele se entrelaçou com o dela.
— Hans e Snoc sonham em se tornar heróis. O que você acha que vai acontecer com eles se você se tornar um Lorde Demônio?
— Eles terão que me fazer o seu inimigo.
—
Você parece ter certeza disso. Não acha que vão te seguir?
— Eu não criei eles largados. Se eu me tornar um Lorde Demônio, eles com certeza virão me derrotar, sentindo raiva ou tristeza.
— E o que você acha que eu vou fazer?
— Possivelmente o mesmo. Podemos até ter viajados juntos, mas você não é uma pessoa ruim. Por outro lado, tenta fazer o bem.
— Sim. E esses motivos não são suficientes?
— Bem…
Foi uma reação duvidosa, porém ele não pareceu descontente. Ela não estava muito satisfeita, então não desistiu.
— E temporariamente?
— Temporariamente?
— Sim. Não estou dizendo que você deve se abster de mudar por causa de suas conexões conosco, só que podemos ser uma razão temporária para você não se transformar em um Lorde Demônio.
— E depois?
— Vou encontrar um porquê bom o suficiente para você — falou, determinada.
Ele olhou para o seu rosto. Como se para mostrar o que sentia, ela assumiu uma expressão muito séria, fazendo com que ele risse achando a situação divertida e interessante.
— Parece bom. O grande e heroico Zich não terminou de treinar Hans e Snoc, de qualquer maneira. Fazer o bem também não é tão ruim, então vou ouvir você.
O rosto dela se iluminou.
— Eu só quero e tenho que continuar vivendo como estou agora, certo? Não me diga para fazer mais do que isso. Mesmo que eu escute o que você quer por um tempo, tudo tem um limite.
— Claro. Sendo honesta, se você começasse mesmo a viver como uma boa pessoa, eu ficaria apavorada. Estou implorando para não ir tão longe, porque gosto de como você está agora.
— Como esperado, você me conhece bem — disse, rindo. A sua risada era como o seu eu habitual, não era o Lorde Demônio cruel e egoísta das memórias dela.
Ela se sentiu aliviada. Já que ele falou tudo aquilo, a expectativa era que ficassem bem por um tempo.
“Mas não posso ficar tão à vontade.”
Era somente uma solução temporária. Ela precisava encontrar uma razão que fosse boa o suficiente para ele o mais rápido possível e também não podia baixar a guarda. Mesmo que tenha recebido um sim, era uma promessa verbal. Se ele decidisse mudar de ideia, seria o fim de tudo.
“É provável que ele não faça isso sem motivo, embora também signifique que, se tiver uma razão boa o suficiente, ele ignoraria a promessa. Mesmo assim, não posso deixá-lo voltar a ser o que era antes.”
— Bem, se acabamos de conversar, vamos voltar. Mesmo que os nossos inimigos estejam todos em Mentis, não será bom para nós nos afastarmos muito do acampamento. Eu também tenho alguns assuntos para pensar.
— Que assuntos?
— Digo, você não deve querer que eu apenas mate a porra desse pessoal.
— É, isso mesmo.
— Então, preciso encontrar a maneira mais rápida de acabar com esta guerra. Isso também é um ato bom.
— Isso! — Ela respondeu, alegre. Não pôde deixar de sorrir amargamente com as próximas palavras dele.
— E também tenho que preparar um jeito de praticar o meu passatempo ao mesmo tempo. É, bicho, esse papo de fazer coisa boa é chato, viu.
O rei da Tribo do Ferro, Renu, estava no porão do castelo. A porta do porão estava aberta por completo. Uma grande árvore em chamas, a força selada de Clowon, era visível além dela, mas não estava queimando; o fogo que a envolvia inteira fazia parte de seu corpo. Ela possuía um poder poderoso sobre o fogo ao redor, se tornando uma combinação inacreditável.
Assim que Renu entrou pela porta, viu que as escadas estavam cobertas de raízes até o fundo. Dezenas de elfos estavam debaixo da árvore, e todos cheios de cabelos brancos e rugas. A raça envelhecia muito devagar, e aqueles anciões, que costumavam liderar a tribo no passado, não deveriam morrer nos próximos anos. Mesmo que as capacidades físicas deles fossem mais fracas do que os elfos mais jovens, a sua sabedoria do passado elevaram as suas habilidades mágicas.
Renu trabalhou duro ao extremo para esconder os anciãos da tribo de todos os outros, porque eles foram a razão pela qual a tribo pôde usar o antigo poder. Mesmo que Renu sacrificasse todos os outros, tinha protegê-los a todo custo.
— Ugh! — Ele soltou um gemido observando o ritual.
Todo o seu corpo doía. Desde que ele recebeu uma enorme cicatriz de queimadura de sua interação com Zich, estava envolto em bandagens, que não bastavam para cobrir todas as feridas. Não importava quantas poções usasse, apenas aliviava a dor momentânea. Além do mais, as explosões aleatórias de dor doíam feito tortura no inferno. No entanto, quanto mais dor ele sentia, mais seu desejo de completar esse ritual aumentava — não era mais apenas um desejo, mas uma obsessão.
Com seus olhos ardentes derramando sua raiva e dor no mundo inteiro, ele olhou para a árvore flamejante que queimou o seu corpo.