— Hipócrita? Como assim…? — indagou Lyla, a voz trêmula. — Então, quando você me perguntou se eu conhecia outro futuro para ele…
— Eu tava vendo se a fachada dele foi revelada em algum futuro. Se os meus palpites estiverem certos, foi ele quem criou os demônios e trouxe o caos para o mundo. Portanto, por que eu deveria ouvi-lo?
Ela não pôde responder.
— Não, até esse ponto está tudo bem. Você pode não gostar muito, mas não tenho porquê para ficar chateado que outro cara enganando o mundo. Tipo, né? O que me preocupa é que tem uma possibilidade de ele ter criado o Moore. Não sou gentil o suficiente para perdoar um arrombado que brincou com a minha vida — disse, sorrindo fracamente.
Lyla, assustada, ficou calada por um bom tempo. “Ele nunca agiu com rancor antes, nem como o Moore. A única motivação dele era a sua busca incessante por força”, pensou, engolindo em seco. “As coisas estão piores do que eu imaginava. Se ele agir em prol do alívio próprio… Tenho que arranjar um motivo para ele não mudar, já!”
Uma ilha apareceu à vista. Ela foi criada pela atividade vulcânica sob o oceano, e no seu centro, uma caldeira no topo de uma montanha transbordava de lava. Quando a atividade aumentava, a caldeira expelia magma no ar e espalhava as cinzas pelos arredores.
Devido ao ambiente hostil da ilha, quase não havia sinais de vida. Os únicos seres vivos aparentavam ser a grama que cobria o local um pouco e os pássaros marinhos nos céus. Sem água potável e longe da terra, marinheiro algum se arriscava lá, apesar de tal lugar ter presença humana.
No meio da montanha, havia uma entrada onde uma pessoa mal conseguia passar que levava a uma caverna. Parecia ter sido feita de forma natural, com a sua estrutura circular que inclinava ladeira abaixo. Considerando tudo, não era amigável aos humanos.
Caso alguém fosse fundo na caverna e continuasse descendo, ficaria surpresa ao sentir aromas artificiais, uma passagem suave e até escadas. Mais fundo ainda estariam de frente a uma grande porta. Era como uma base secreta.
Além daquela porta, havia um grupo de pessoas numa parte iluminada por várias velas e tochas no chão e paredes. A maioria estava coberta com vestes pressionadas pesadamente sobre elas.
Se Zich visse, ficaria em êxtase, alegre por encontrar um dos esconderijos dos homens de preto. Havia também aqueles que não as usavam e um suposto comandante, que, como se fosse o rei deles, estava numa cadeira gigantesca.
O lugar não era extravagante o suficiente para ser considerado a residência real. Era sombrio e não refinado, e o homem não parecia estar preocupado com isso.
— Descobriram a causa? — perguntou o homem, pesaroso. Era claro que ele estava insatisfeito com algo.
As pessoas baixaram a cabeça e não responderam.
— Esta é a segunda vez agora. — O desagrado em sua voz se aprofundou. Ele cerrou os dentes, mas não os repreendeu mais; apenas os examinou com os seus olhos frios. — Encontrem o Núcleo a todo custo. Pode haver uma dica nas memórias daquela mulher.
— Sim, senhor! — responderam todos em uníssono, disparando para fora em um instante. Como todos os outros, não queriam perto do superior descontente.
“Nada está indo do meu jeito,” pensou, se levantando enquanto pressionava as têmporas após saírem.
O tamanho do lugar era considerável. Sem uma única coluna, era incompreensível como não desmoronou. O mais surpreendente era a condição dali: a caverna não foi feita pela natureza. Fora as paredes e piso lisos, tinha muitos dispositivos indescritíveis. Sinais estranhos foram desenhados em tudo, sem exceção, e brilhavam de modo estranho.
Ele andou passo a passo em um canto e parou em frente a algum tipo de dispositivo. O dispositivo, semelhante a um contêiner, era o suficiente para uma pessoa e era cercado por uma parede transparente para que se pudesse ver o que estava dentro. Havia uma rachadura nela, como se algo preso dentro estivesse tentando escapar.
O homem olhando fixamente para o contêiner voltou a andar. Mesmo que o fugitivo Núcleo também fosse um problema, tinha outra coisa o estressando. Ao contrário do espaço trabalhado com cuidado, um lado da parede estava aberto, como se tivesse desmoronado. Ele passou pelo buraco e parou depois de alguns passos.
Quando entrou numa nova área, testemunhou uma visão incrível: lava vermelha brilhante escorria pelas paredes. Ela se acumulou no fundo do chão, formando um lago enorme de lava. Mesmo à distância, o calor escaldante incomodava. O que mais surpreendia era uma ilha gigante no centro com uma árvore.
Por mais que a árvore tivesse enraizado em um lago de lava, era semelhante a qualquer outra de casca marrom e folhas verdes. A única coisa extraordinária era o seu tamanho colossal.
A distância entre o homem e ela era, exagerando um pouco, mais ou menos a distância do topo de uma montanha à sua base. Contudo, a sua parte de cima chegava até ele.
Se alguém olhasse de perto, veria algo estranho na árvore: os ramos que saíam não eram orgânicos e continham grandes lacunas, como se tivessem cortado partes dela.
Ele balançou a cabeça ao se lembrar de um evento que aconteceu dias anteriores. De repente, a árvore começou a tremer tão forte que talvez os vulcões entrassem em erupção graças a ela. Não aconteceu nada, pois não se o tremor não se espalhou. Os subordinados dele lá fora não sentiram nada.Ela já tinha tremido outras vezes antes. Na primeira, ficou assustado, mas passado um tempo, ele ordenou que descobrissem a razão por trás daquilo, embora sem esperanças. Como esperado, não descobriram, até porque não conheciam os princípios e a estrutura de como o “sistema” funcionava. Estavam apenas usando os seus poderes.
Ele olhou de volta para o contêiner rachado, soltou um suspiro e voltou o foco para a árvore, dizendo o seu nome em voz alta.
— Windur.
Tudo o que ele sabia sobre ela era isso, não importasse o quanto pesquisassem a respeito. Além do mais, hesitavam, com medo de danificar o sistema. Porém, estava claro que ela possuía uma grande influência sobre ele, e, por essa razão, o homem reagia histericamente quando ela entrava em um estado estranho.
— Durante o meu tempo, algo assim nunca aconteceu.
Zich teve um sonho lúcido. Todavia, assim que percebeu o que era, ficou frustrado e quis acordar de imediato.
— Todos vocês trabalharam duro hoje. — Uma pessoa mostrou um sorriso gentil para os companheiros. Era ele mesmo.
“Não, não sou eu.”
Ele logo negou a cabeça. Era ele, mas não era; era Zich Brave. Como Lyla disse, Brave era o herói em um dos possíveis futuros. Tentou sair de todas as formas, mas o sonho não parava. Quis agitar os braços, soltar gritos e até chutar, mas não adiantou. No fim, tudo o que conseguiu fazer foi cruzar os braços metafóricos e observar com uma expressão azeda.
“Bonzinho até demais. Bem arrombadinho ele, esse fingido do caralho.”
Mesmo que não se importasse com pessoas fingindo ser boas, era diferente para Brave. Ver uma pessoa com o mesmo rosto que ele soltando palavras horripilantes e carinhosas fazia o seu corpo surtar e liberar uma bomba de adrenalina mais do que Glen.
Brave e os seus companheiros falaram conversa fiada a respeito de vários tópicos. No entanto, depois que Leona recebeu uma mensagem de um pássaro, a atmosfera mudou por completo.
— O que é isso? — perguntou o velho mago. — O que está escrito aí para você fazer uma expressão tão séria?
— O Lorde Demônio voltou à ativa…
Com as palavras dela, todos enrijeceram os rostos.