— Não é um artefato…? — indagou Lyla, descrente de que fosse falso.
— Você está tentando enganar as pessoas? — O homem fez uma careta e olhou para Elena.
— Não! Que tipo de pessoa acha que sou? Acabei de perder a chance de falar! Eu ia contar a ela agora mesmo!
— Ela tentou nos dizer algo — Zich interveio —, até que você se intrometeu na conversa.
— É mesmo? Que bom, então.
“Não parece que ele veio atormentá-la ou coisa do tipo” pensou. “Mesmo assim, ele parece olhar para ela com desprezo.”
— Não importa o quão barato seja, é errado vender artefatos falsos, senhorita — falou o homem.
— Não é da sua conta— respondeu Elena.
— Como um mago da Torre, quero pedir que faça a coisa certa. Se a notícia de que estavam vendendo bens inúteis aqui vazasse, a reputação de Sunewick ou mesmo de todos os magos poderia cair.
— Todos eles funcionam se você derramar mana neles! Eles não são inúteis!
— Quantos magos você acha que podem usar magia de ferro?
— Mesmo que houvesse magos que pudessem fazer isso, seria terrivelmente ineficiente.
Elena não pôde responder.
— Embora seja verdade que não tenho uma opinião favorável acerca de você, não quero sair do meu caminho para torná-la infeliz. Só quero que saiba que muitos outros magos compartilham os mesmos pensamentos. E vocês — olhou para o grupo de Zich —, peço desculpas por mostrar uma visão tão feia. Pela visto, todos vocês são viajantes. Espero que ganhem algo aqui, seja felicidade, conhecimento ou memórias.
Após ele fazer uma reverência profunda, deixou o local. Um breve silêncio se seguiu, mas logo depois, Lyla tirou dinheiro dos e deu a Elena.
Parecendo sombria, Elena piscou. — O-o que é isso?
— O que você quer dizer? É só dinheiro. Você não disse que esse era o preço do item?
— Você realmente vai fazer isso?
— Você não montou seu carrinho para vendê-lo?
— Mas você não ouviu o que aquele homem disse?
— Claro. Eu também tenho ouvidos — falou Lyla, afastando o cabelo para mostrar as orelhas..
— Por que hesitar? — disse Zich. — Nós não sabemos o que aconteceu entre você e aquele homem ou a cidade, mas isso não nos diz respeito. Você apresentou mercadorias para vender e estabeleceu um preço para isso, e nós simplesmente decidimos comprar.
Elena assentiu. Então, ela baixou a cabeça em direção a Zich e Lyla e disse:
— Obrigado pela compra.
Um leve sorriso pairava em seu rosto.
Depois de terminar as compras, reservaram um lugar para dormirem. Snoc agarrou Nowem e correu para o seu quarto, fugindo de Lyla, e Zich também descarregou a sua bagagem no seu alojamento. Alguém bateu na porta.
Era Lyla. Ela e Zich se sentaram de frente um para o outro.
— Você veio aqui para falar sobre Elena Dwayne, certo?— Essa foi a única razão possível para a visita dela.
— Sim. — Então, em um tom suspeito, ela perguntou: — Essa pessoa é realmente Elena Dwayne?
— Ela parece a mesma. Você também não acha?
— É verdade. Pelas minhas memórias, é mesmo ela, só que está tão diferente que pensei ter me enganado.
— Ela não é como a Elena que lembramos.
— É verdade.
Nas suas lembranças, ela era a maga de cabelos castanhos ao lado de Lubella. Vestida com um manto bamboleante e empunhando um cajado, conjurava bolas de fogo tão quentes que pareciam ter saído do inferno. Entre os membros do grupo de Glen, ela tinha o maior poder ofensivo único e uma mana tão imensa que podia lançar feitiços sem parar.
Zich não pôde deixar de se perguntar: “Como tal pessoa poderia nem ser um mago ou usar magia?”
— Você sabe sobre o passado de Elena Dwayne?
— Não, eu não a conheço tão bem. Quando soube dela, ela já estava no grupo de Glen Zenard, e ela era uma maga impressionante até então.
— Então, pode ser que ela não tenha um professor adequado? Talvez por causa da situação familiar dela? Na verdade, não, não é possível. Se os talentos dela são excelentes ao ponto de ela conseguir se juntar ao grupo de Glen, incontáveis magos gostariam de treinar com ela.
Além disso, sua família não é incapaz de dar o treinamento mágico que ela precisa. É o oposto, na verdade.
— O oposto? – Parecia que Lyla não tinha essa informação.
— Quando eu era o Lorde Demônio, o dono do nome da torre mágica era Orland Dwayne.
— Dwayne…? Como eles estão relacionados?
— Ele é o pai dela.
A boca de Lyla se abriu.
— Foi uma grande notícia a filha dele fazer parte do grupo de Glen.
“Pensando nisso, o grupo dele tinha um status muito alto.”
Lubella era a Santa Karuwiman, Leona era uma princesa elfa e Elena era filha da cabeça da torre mágica.
— Pelo que me lembro, Lala Browning também não era filha de um nobre muito poderoso? Se isso é verdade, não deve ser por causa da família. Por outro lado, ela deveria estar muito mais familiarizada com magia do que uma pessoa comum.
— Eu perguntei ao proprietário deste alojamento algumas perguntas sobre esta cidade. O atual chefe do nome da torre mágica é Walwiss Dwayne.
O nome Dwayne apareceu de novo.
— Qual é a relação dele com Elena Dwayne?
— O dono também me disse que o chefe da torre mágica tem um filho, e o nome de seu filho é Orland Dwayne.
— Então Elena Dwayne é a neta do atual chefe e a filha do futuro chefe?
— Provavelmente.
Se fosse verdade, ela não era apenas de uma boa família; no mundo dos magos, a dela superava a autoridade dos nobres ordinários e detinha quase que o mesmo poder que a realeza.
— Com certeza não é coisa familiar. Então, seria um problema com talento pessoal?
— Não, isso é ainda mais impossível.— Como alguém que já havia brigado com Elena Dwayne antes, Zich podia dizer isso com confiança.
— Talvez, a mana dela seja tão grande que ela é incapaz de usá-la, como você?
— Nem. O que tenho comparável à mana de um dragão. Pessoas como eu podem ser contadas em uma mão ao longo da história, e ainda assim, eu pude usar com cerca de vinte anos. Não importa quanto ela tenha, não pode ser comparada à minha. Se ela apenas trabalhasse duro, teria despertado a sua há um tem… Por que está me olhando desse jeito?
— Não, não é nada…
“Ele não era chamado de Lorde Demônio sem motivo.”
Zich relaxou os olhos depois de olhar cautelosamente para Lyla. — A situação familiar dela parece complicada.
— A de Elena? Você não acabou de me dizer que o histórico familiar dela está lá em cima?
— Basta olhar para isso de uma perspectiva diferente. Uma pessoa assim está sendo ignorada e vendendo itens em uma rua com quase nenhuma pessoa. Vou começar a reunir mais informações sobre ela amanhã.
— Você não me disse que não iria prestar atenção nela?
— Mudei de ideia. — Ele lambeu os lábios, e Lyla se encolheu. Ele parecia um predador procurando sua presa. — Se Glen é mesmo um hipócrita e está relacionado com os homens de preto, uma grande chance de que ele esteja envolvido com o problema dela. Sem mencionar que o problema não parece ser normal.
— Sim, faz sentido. Ok, eu também vou ajudar.
— Sério?
— Por que está tão surpreso? Eu já te disse que posso te ajudar com seu passatempo. Se aquele pessoal está envolvido, você não está planejando aproveitar plenamente o seu passatempo ao máximo?
— Sim, isso também está certo.
Observando Zich rir irritantemente, Lyla caiu em um dilema, se perguntando se o que ela estava fazendo era a coisa certa. Mas foi apenas por um momento. — Vamos, então. Sou uma mulher que faz as coisas acontecerem. O que fazemos primeiro?
— Aí eu gostei. Então também devo combinar contigo. — Ele esfregou as mãos, se endireitando. — Primeiro, temos que reunir mais informações e ir para a torre mágica amanhã.
Assim, seu destino para o dia seguinte foi decidido.
Elena voltou para sua casa, n uma propriedade luxuosa. A casa era a maior e mais extravagante de todas as circundantes.
Depois de receber as saudações dos funcionários de sua casa, ela entrou. O primeiro pedaço de dinheiro que ela ganhou sozinha estava dentro de seu bolso. Mesmo que não fosse muito, era para o sonho dela, então ela estava exultante. No entanto, esse clima feliz não durou muito.
— Elena, você está de volta?
Ela parou e olhou na direção do som. Um velho estava descendo a escada do segundo andar.
— Ah, vovô. Você chegou cedo em casa.
— Deveria haver dias como este para que eu possa encontrar prazer na vida. As pessoas estão me usando demais só porque eu sou o chefe da torre mágica. Eles não têm nenhuma consideração pelos idosos.
Ela fez um sorriso amargo ao ver o avô reclamar. Mesmo que fosse difícil para os verem Walwiss como o maior mago da Torre, ele era um avô descontraído para ela.
— Você comeu?
— Ainda não.
— Então vamos comer juntos. Já faz um tempo.
Elena assentiu. Por mais que seu desejo de recusar tenha chegado ao topo do esôfago, ela não conseguia dizer isso em voz alta.
Os dois se reuniram na sala de jantar. Comida de luxo foi preparada na mesa, e em silêncio, começaram a comer de garfo e faca.
— Onde você esteve hoje?
Ela se encolheu. Pensou na hora em mentir, mas balançou a cabeça. Se ele quisesse descobrir para onde ela foi, seria exposta em pouco tempo. Devido a isso, contou a verdade.
Walwiss não tinha palavras para dizer. Ela se perguntou se ele iria deixar isso passar. Contudo, ele, ocupado movendo os utensílios, não se mexeu mais. Ela também notou isso e lançou olhares furtivos em sua direção.
— Querida Elena. — Ele soltou um suspiro. — Não é hora de você parar?
Ele ia dizer a mesma coisa de novo, e Elena queria bloquear seus ouvidos. No entanto, ela não podia fazer isso, e ela ficou indefesa contra as palavras brutais de seu avô que estavam cheias de preocupação.
— Você não tem talento. É hora de você começar a procurar outro caminho.