A conversa de Lyla e Elena continuou. Elena já havia jogado fora o constrangimento que sentiu ao encontrar um estranho pela primeira vez. Talentosa ao extremo em magia, exceto em mana, percebeu um fato significativo.
“Essa pessoa é mesmo uma maga incrível!”
Conversar com Lyla era como conversar com seu avô, considerado o mago mais habilidoso de Sunewick. Óbvio, estava falando de eventos de um passado distante, pois, depois que ficou claro que ela não tinha mana, Walwiss não falou mais sobre nada relacionado à magia. Embora ainda pudesse conversar com o seu pai, Orland, a respeito, os seus diálogos infelizmente não satisfizeram a sua sede de conhecimento.
Agora, uma pessoa que poderia satisfazer com perfeição o desejo dela apareceu na sua frente, derretendo a cautela que sentia em relação a Lyla feito gelo. Se pensasse mais, veria que era uma situação suspeita uma maga incrível aparecer do nada para uma jovem de uma família conceituada e desesperada para estudar magia. Todavia, estava tão absorta na conversa que foi incapaz de refletir sobre as estranhas circunstâncias.
— Você fez esse aqui com métodos completamente tradicionais — começou Lyla, pegando um artefato incompleto.
— Sim, porque devo fazer mudanças depois de aperfeiçoar meus fundamentos. A base tem que ser forte. Mesmo quando faço muitos experimentais, tento criar ao menos um com métodos mais tradicionais.
— Isso é inteligente da sua parte.
Com o elogio de Lyla, o humor de Elena melhorou. No entanto, despencou com as próximas palavras.
— Um excelente instrutor deve ter lhe ensinado.
— Sim…
Era visível que a voz dela ficou mais baixa. Ela aprendeu magia com o seu avô, Walwiss Dwayne. Sempre que alguém tocava esse assunto, não conseguia deixar de se sentir deprimida.
A consciência de Lyla doía. A sua mente não estava engessada em oricalco como Zich. Além disso, ela gostava de conversar com Elena.
“É fácil falar com ela. É bastante talentosa.”
Era o esperado de alguém que fazia parte do grupo que matou Zich. Entretanto, por mais que gostasse de conversar com ela, Lyla se sentia culpada por enganá-la. Era um trabalho necessário que acabaria por ajudar a todos no final.
“Por enquanto, tenho que fortalecer o meu coração!”
Com isso em mente, Lyla perguntou:
— Por que de repente você parece tão triste?
— Ah, não, não é nada.
Elena respondeu com rapidez, fazendo com que Lyla olhasse diretamente nos seus olhos.
— Não parece ser isso. Algo ruim aconteceu com você?
— I-isso… — Elena olhou de soslaio.
“Tudo bem contar a ela?”
Mesmo que tivessem se aproximado, não tinha certeza se deveria começar a falar de um assunto familiar delicado. Não teria ponderado sobre isso, mas gostava de conversar com Lyla e não queria criar um clima estranho.
No fim, cedeu; sem dar detalhes específicos, explicou de forma breve.
— É porque não consigo mais aprender magia com essa pessoa.
— Ah, me desculpe. Falei sem pensar.
— Está tudo bem.
— Poderá encontrar um bom instrutor em breve. Tenho certeza de que muitas pessoas olhariam com bons olhos para alguém tão talentosa como você.
Elena abaixou a cabeça ainda mais.
“E-eu disse algo errado de novo?”
— Não há ninguém que queira, porque não sou nada talentosa.
— Isso está relacionado ao que aquele mago disse a você da última vez que estivemos aqui?
Elena assentiu.
— Não importa se sou talentosa em outras áreas; não importa o quão boa eu seja em fazer círculos mágicos para artefatos e memorizar encantamentos. Sem mana, todas são habilidades inúteis.
O conteúdo das palavras era miserável, porém a sua voz estava muito calma, a indiferença revelando o seu desespero se sentia. Para dizer aquilo com tanta calma, devia ter passado por muita dor e agonia. Quanto ela chorou e se decepcionou para chegar àquele ponto?
Apesar de tudo, ela amava tanto a magia que não conseguia se desvencilhar do seu sonho. Lyla sentiu que os gritos desesperados estavam ecoando com clareza nos seus ouvidos.
— Mas você ainda não desistiu, certo? É por isso que ainda está tentando estudar magia assim.
Elena olhou para ela; o fundo de seus olhos parecia sem brilho e cansado. Depois, o olhar de Lyla pousou no livro mágico que Elena sempre carregava.
— Sim, está certa.
— Estou certa em pensar que você também está fazendo isso para conseguir dinheiro para estudar?
Elena assentiu.
— Então por que não fazemos isso, senhorita Dwayne? Por que você não aprende magia comigo?
— O quê?
— O que acha de aprender magia comigo? Ah, você não tem fé em mim porque eu sou uma andarilha…
— Ah, não! Não é nada disso!
— Então está decidido!
— Mas a minha mana…
— Mesmo que não possa usar agora, conseguirá no futuro.
— Mas meu avô… quem me ensinou magia disse que, se ainda não despertei até agora, simplesmente não tenho mana ou que ela é muita, o que é uma ideia ridícula.
— Sim, isso é verdade, mas pode haver outra razão. Seria um evento muito raro, mas a hipótese da quantidade pode ser verdadeira.
— Realmente acha que isso é possível?
Fazia muito tempo que Elena não ouvia uma palavra de esperança de uma pessoa que não fosse seu pai. Todavia, Lyla balançou a cabeça.
— Sendo honesta, a chance é baixíssima.
Elena encolheu os ombros.
— Já não sabia disso? Mas ainda não desistiu, certo? Então, pelo menos vou te dar uma mão pelo seu trabalho duro. Ah, mas não poderei te ajudar por muito tempo, já que sou uma maga errante.
Elena hesitou, mas não por muito tempo. A única pessoa que apoiou seu sonho foi seu pai, contudo ele tinha uma afinidade diferente dela e também era ocupado ao extremo. Agora, tinha uma nova chance de aprender com alguém. De certa forma, não era nem para ela refletir.
— Por favor, cuide bem de mim! — Elena fez uma profunda reverência.
Depois de mudarem o relacionamento de cliente e vendedor para professor e discípulo, continuaram conversando. Então, uma sombra se aproximou deles.
— Acabaram?
— Já chegou, Zich?
— O que quer dizer com “já”? Olha o céu laranjão. O sol vai se pôr em breve. Estava tão focada na conversa que perdeu a noção do tempo? Devem ter se conectado bem.
— Ah, isso mesmo. Eu tenho algo para dizer. — Puxou Elena para perto. — Resolvi que vou ser professora temporária dela.
— Senhor, eu sou E-Elena Dwayne!
Ela se curvou para Zich, e ele piscou os olhos surpreso antes de sorrir e estendeu a mão.
— Elena, ouvi seu nome da última vez, mas não é ruim ouvi-lo de novo. Meu nome é Zich. Não tenho sobrenome, então, por favor, me chame assim.
— Senhor Zich, já que é amigo dela, não precisa de tanta educação comigo.
— Sério? Tudo bem. Também pareço ser um pouco mais velho que você. — Então desviou o olhar para Lyla. — Estou um pouco surpreso. Você veio apenas falar com ela e agora a aceitou como discípula.
— É temporário.
— E? Elena, é provável que você vai sofrer um pouco, mas como o ensino dela é impecável, não é uma má ideia, então trabalhe duro. E se parecer que ela está com um papinho torto, pode dedurar.
— Algo assim não vai acontecer!
A raiva de Lyla por Zich parecia tão natural que, apesar de não os conhecer havia muito tempo, Elena não pôde deixar de rir. Assim, foi recebida em silêncio quando o sol começou a se pôr.
Zich e Lyla se separaram de Elena. Como estava ficando tarde, decidiram se encontrar de novo no dia seguinte.
— Tão fácil! Se a vida continuar assim, não vai ter graça! — exclamou ele, esticando os braços.
— Só você diria que não é divertido em uma situação como esta.
— O que aconteceu? Por que você está tão triste?
— Ao contrário de você, eu me sinto culpada. Tenho um pouco de senso, diferente de você.
— Como esperado, deve ser desconfortável pra caralho. Você deveria se livrar de algo assim. Mesmo que guarde isso, não há nada de bom que possa sair.
— Uma pessoa normal não pode simplesmente tirar o peso da consciência quando bem entender!
— É por isso que estou dizendo para se esforçar. Você deve se esforçar para isso. Acha que me tornei um lixo assim com apenas um ou dois dias de trabalho duro?
— Quem diabos vai se esforçar para se tornar um lixo de ser humano?
— Ei, cuidado com palavras! Está ignorando todo o lixo do mundo? Como pode insultar o meu trabalho duro!? Você não sabe o quanto sofri pra achar gente fodida igual a mim! Para ser específico, me fodi muito mais para me tornar um merda do que para ganhar força.
— Ah, que barulho! Cale-se! Quando falo contigo, endoido! Cale a boca!
Zich se retirou, mas sua risada era ainda mais irritante.
— Lyla, você fez bem. Foi capaz de assumir uma posição incrível. Com esse trabalho, pode analisar 1com cuidado o corpo dela com a desculpa de estar ensinando magia.
— Os rumores provavelmente se espalharão rapidinho, como ela é muito famosa por aqui. É bem provável que consigamos entrar em contato com Walwiss e Orland Dwayne.
— Portanto, não pense nisso como apenas uma tentativa de enganá-la. Isso é com certeza uma coisa gentil que estamos fazendo para o bem dela.
— Sim, é a única graça desta situação. — Ela soltou um suspiro.
— Parece que você tem talento.
— Que merda vai falar agora?
— Enquanto eu coletava informações por aqui, fui checar vocês algumas vezes. E, uau, fiquei impressionado demais. Independentemente de quanto ela tenha baixado a guarda, você fez um ótimo trabalho a enganando — disse, tirando o sorriso do rosto e pondo a mão no ombro dela. Completamente sério, continuou — Você tem um talento insano em enganar as pessoas. A sua habilidade de trazer uma criança inocente para o seu lado era como a de um vigarista profissional.
— Aprendi tudo com você!
— Sim, é disso que estou falando. Eu não te ensinei nada em específico; você aprendeu me observando e usou na vida real sem problemas. E funcionou muito bem. Talvez a sua habilidade de enganar as pessoas seja até comparável à sua magi…
— Quieto!
Pá!
Houve um barulho forte de alguém sendo atingido. Então, uma risada barulhenta e alta se seguiu logo em seguida.
Sob o céu que começava a ficar azul escuro, duas pessoas conversavam alto enquanto caminhavam pelas ruas.