A área deserta em que Zich estava era uma floresta tranquila e consideravelmente grande nos arredores de Sunewick nas planícies perto da cidade. Também era muito arborizada, resultando em vários casos de crianças se perdendo nela. Como esperado, quase ninguém entrava ali, mas era um local favorável para ele, pois significava que ninguém gritaria se ele os matasse para se satisfazer.
“Parece que eles também pensam o mesmo.”
Cada um usava um manto que cobria todo o corpo e parecia idêntico um ao outro.
“Espero que gostem de conversar.”
Como a tortura não funcionava neles, ele teria que tentar extrair informações à base da conversa. Assim, esperava que eles dialogassem. Quanto mais falantes, melhor era para ele.
Logo, ele olhou para as figuras e inclinou a cabeça.
Eles abordavam os oponentes com movimentos restritos. Podia-se dizer que receberam treinamento especial apenas por seus movimentos. No entanto, o grupo na frente de Zich não transmitia o mesmo sentimento. Na verdade, havia até alguns cujos movimentos indicavam que não tinham um pingo de treino. Ao mesmo tempo, ele sabia que não havia como reunirem pessoas normais para uma emboscada.
“Eles são magos.”
Era compreensível por que seus movimentos pareciam tão rígidos. Além dos poucos que ele supôs serem magos, o resto se movia bem, mas com uma leve sensação de aspereza.
— Eles são mercenários?
— Magos e mercenários… Faria mais sentido se os magos tivessem contratado os mercenários para uma emboscada.
Zich decidiu tentar falar com eles primeiro.
— Quem são vocês? Não sei de onde são, seus idiotas, mas acho que não vieram até aqui para uma caminhada. Uma coisa que eu sei com certeza é que não têm tato para interromper nosso encontro assim.
— Não é nem um encontro. — Lyla bufou.
As figuras não responderam. Eles simplesmente apertaram os cordões do manto.
Ching! Ching!
Então, tiraram facas de debaixo de suas vestes. Alguns ficaram para trás e puxaram cajados.
— Estão nos atacando porque sabem quem somos, certo? Somos como celebridades dentro de Sunewick.
De fato, as notícias a respeito dos dois já haviam se espalhado por toda a cidade.
O som de risadas distorcidas e zombeteiras veio de trás dos inimigos. Zich olhou para eles.
— A partir dessa risada, parece que sabem quem somos. Se possível, também poderiam tirar esse tapete sujo que estão usando? Ah, são restos de aborto? Ou faltou oxigenação no parto de vocês? Aí, tranquilo. Na verdade, se for esse o caso, por favor, não tirem. Minha mente é muito delicada, então se eu vir um humano assim, serei pessoalmente afetado.
O som das risadas parou na hora, seguido por murmúrios baixos cheios de raiva. Logo, algumas risadas abafadas silenciaram esses murmúrios.
— O espírito de equipe do seu grupo está uma bagunça. Mesmo que seu companheiro tenha uma cara de cu do cacete, não devem rir dele. Vendo como estão todos vestindo túnicas, tenho certeza que também são assustadores.
As palavras de Zich interromperam instantaneamente as risadas que se seguiram. O interior da floresta foi logo dominado por um silêncio sinistro e sede de sangue.
— Como ouvimos, você é bem grosso — disse o mais próximo.
Sua voz era profunda e áspera e não era agradável de ouvir. Parecia que ele poderia pressionar uma pessoa apenas com sua voz, porém Zich permaneceu calmo.
— Desculpe. Como vê, tanto minha amiga quanto eu somos lindos, então não consigo entender as tristezas que todos vocês enfrentaram e por que disseram essas palavras. Peço desculpas. — Curvou-se de maneira exagerada. — Não se preocupem. Tenho certeza que até vocês podem encontrar o amor próprio. Infelizmente, não deve esperar tanto amor dos outros, pois seria impossível. Acho que até ogros recusariam. É sobre isso, e tá tudo bem! Se aceitem do jeitinho especial que são. Todos somos únicos.
Como se ele fosse o deus da benevolência, ele esticou os dois braços.
— Existem muitas formas diferentes de amor, então também entendo isso, sim! — O corpo dele estremeceu, as emoções tomando conta de seu coração. Então olhou para Lyla. — Não fazia ideia de que eu podia falar com tanto amor! E se eu não for mais um merda, mas uma pessoa gentil de verdade agora? Os karuwimans…
— Acho que chega de bobagem.
Lyla cortou severamente as palavras inúteis de Zich, o fazendo colocar um beicinho no rosto, mas não continuou falando.
— Eu decidi — continuou o homem que falou antes. — Vou desenhar algumas linhas nesse seu lindo rosto. Não, vou esfolá-lo inteiro. Deixe-me ver se você pode continuar a latir.
Ele moveu sua espada afiada com intenção assassina e rosnou.
— Tente se puder. Eu estava pensando em fazer uma marca no meu rosto para me representar melhor hoje em dia.
Zich coçou as bochechas, como se quisesse que a pessoa visse mais de perto.
— Mas duvido que você consiga fazer isso com suas habilidades.
— Você está tão confiante só porque derrotaram Mawin Jaewick?
— Não. Mesmo que ele fosse um mago talentoso ou algo assim, não foi nada para nós. Mesmo que seja metade da razão pela qual nos tornamos tão famosos na torre mágica e em Sunewick, ele é fraco demais para nos sentirmos arrogantes. Não é, Lyla?
— Zich.
— O próprio.
— Quem é Mawin Jaewick?
Zich fechou a boca por um momento. Ele se perguntou se ela estava brincando, mas julgando por sua expressão, não parecia ser isso.
— Você já esqueceu? É o cara que duelou com você na torre.
— Ah, tá. Aquele cara? — Ela aplaudiu uma vez. — O nome dele é Mawin Jaewick?
— Uau, até eu senti agora. Você não deveria se lembrar dele, já que lutaram?
— Não posso fazer nada. Ele era esquecível, e ele também era bem ruim.
— Se ele estivesse aqui, estaria rangendo os dentes que nem um maluquinho doidinho.
Krrrrk!
Eles ouviram alguém cerrar os dentes. Foi um som tão alto e intenso que não seria surpresa se a pessoa tivesse os trincado. O olhar de Zich se concentrou na fonte do som, parando em alguém atrás dos assassinos.
— Quem diabos range os dentes assim? — murmurou, estreitando os olhos. — Você é talvez Mawin Jaewick?
A pessoa não respondeu, mas seu silêncio foi a resposta mais alta.
— Você é mesmo aquele idiota! É você liderando essa emboscada? Ainda está chateado por ter sido espancado por Lyla? Mesmo que seja um mago talentoso, seu coração é tão pequeno quanto uma formiga! Uma formiga com nanismo!
— E-eu não sou Mawin Jaewick!
Era tarde demais para algo assim funcionar. Zich apontou os dedos para ele, e até os companheiros dele balançaram a cabeça de um lado para o outro.
— Agora que penso nisso, foi você quem riu quando um de seus companheiros disse que eu era famoso? Ainda não consegue aceitar sua derrota daquele dia?
— Claro que não! Acha que vou aceitar minha derrota, sendo que ela usou um truque barato para vencer?!
— Truque?
Zich ficou completamente pasmo. Não porque Mawin os acusou, pois ele realmente era o tipo que estava disposta a usar todos os tipos de truques para conseguir o que queria. Havia outra razão.
— Por que faríamos isso por um fraco como você?
Mesmo que uma carroça cheia de pessoas como Mawin corresse na direção deles, não encostariam um único dedo em Zich ou Lyla. Por que se dariam ao trabalho de usar truques contra ele?
— Eu apenas pensei que você fosse um pirralho mimado que cresceu protegido e privilegiado, mas nunca imaginei que teria uma ilusão tão séria. Ser delirante a esse ponto é uma doença. Como sua família está bem de dinheiro, recomendo que contrate um médico e faça tratamentos intensos.
— Obtive esta informação de uma fonte confiável, seu desgraçado desprezível! — gritou Mawin.
— Sério? É verdade isso?
A atmosfera mudou. Mawin deu um passo para trás e seus subordinados ficaram tensos.
— Apenas deixe-me ter certeza disso primeiro, Mawin. Agora, você está tentando nos pegar por enganá-lo, certo?
— Sim! Estão enfim admitindo o roubo?!
— E há uma pessoa que disse a você que usamos truques baratos.
— Sim!
— Essa galerinha aí agora devem ser magos da sua escola de magia e mercenários contratados, certo?
— Acho que, para um andarilho, você tem bom senso! Mas é muito tarde! Seu pecado está me humilhando, herdeiro de uma das famílias mais estimadas da torre mágica, usando truques sujos! Arrependa-se de seus pecados aqui mesmo!
Zich soltou um suspiro.
— Seu idiota. Se pensou que usamos truques baratos, você poderia simplesmente ter nos desafiado para um duelo de novo.
— P-por que eu me importaria com os meios que uso para punir vocês? Mesquinhos!
“Ah, mas ele não quer fazer isso. Mesmo que tenhamos feito algo, acho que ele se sente desconfortável em desafiar Lyla de novo, já que ela o derrotou tão unilateralmente.”
— Covarde. — Zich coçou a nuca, pensativo.
“Esta não é a cena que eu queria.”
Zich queria que as figuras vestidas ou pessoas relacionadas a Orland ou Walwiss Dwayne saíssem, mas um peixe estranho foi pego por sua isca. No entanto, era muito cedo para se decepcionar.
“Independentemente disso, parece haver alguém que o encorajou a fazer isso, então devo colocar minhas esperanças em descobrir quem é essa pessoa.”
— Terminou de organizar os pensamentos? — perguntou Lyla.
— Você aguentou bem. Lyla, pode varrer todos eles.
— Que bom. — Ela ergueu seu cajado. — Eu não gosto de como estão olhando para nós.
A maneira como os olhos lascivos dos inimigos examinavam seu corpo estava começando a incomodá-la.
— Quanto devo controlar minha força?
— Faça o que você quiser. Vou apenas tirar a pessoa de que preciso.
— Sabe de uma coisa, Zich?
Ziiiiing!
Mana começou a girar em torno do cajado.
— Eu realmente gosto dessa parte sua.
Kooooong!
A magia dela foi ativada.