Zich desviou sua caneta em todas as direções enquanto cantarolava. Atrás dele, Lyla olhou para a carta inacabada que havia escrito.
— Existe algo que deseja solicitar da torre mágica? Diga-me se quer alguma coisa, como dinheiro, círculos mágicos ou tesouros. Você pode até pedir ao mestre da torre para dançar na frente da torre sob a lua brilhante. Afinal, temos a vida de sua neta em nossas mãos.
— Não há nada. E qual é o sentido de chantageá-los para algo assim?
— Para se divertir.
— Você vai morrer de uma forma terrível…
— Mesmo que isso aconteça, não pretendo abrir mão do meu modo de vida.
— Não tente enquadrar seu comportamento desprezível como uma espécie de filosofia de vida.
— Lyla deseja: “Não tente enquadrar seu comportamento desprezível como algum tipo de filosofia de vida”…
— Ei! O que você está escrevendo?!
Ágil, ele evitou as mãos dela. Ela tentou mais, porém ele evitou todas as tentativas apenas mexendo o tronco.
— Não importa o quão bom em bater nos outros seja, não pode fazer nada comigo.
Ele ergueu o dedo para cima e para baixo. No entanto, quando ele a viu pegar seu cajado com uma expressão severa, sentou-se em obediência.
— O que você escreveu?
Depois que ela olhou para Zich e respirou profundamente algumas vezes para se acalmar, Lyla abaixou seu cajado. Claro, ela não se esqueceu de dar um tapa nas costas dele uma vez.
— Não é nada incrível. Bem, eu não pretendo pedir nada agora — respondeu ele, esfregando a área onde suas costas foram atingidas.
— Por mais que tenhamos dado um grande golpe no sequestrador, não sabemos a sua identidade.
— Então, por que está escrevendo uma carta de chantagem?
— É para descobrir a identidade dele, claro. Para pegar um peixe, usamos isca. Isso está bom por enquanto. Vou escrever o resto para ver como fica.
* * *
Zich foi chamado à mansão de Walwiss. Como se fosse um assunto urgente, Walwiss o chamou de manhã cedo. Assim, após uma refeição leve, Zich dirigiu-se para a mansão. As camareiras da mansão o cumprimentaram e, como se estivessem esperando por ele, o conduziram até a sala de estar. A mansão inteira parecia tomada por uma sensação de urgência que sugeria que algo sério havia acontecido.
“Bem, provavelmente é por causa da carta de chantagem que enviei.”
Ao contrário das empregadas domésticas, que tentavam esconder o nervosismo e as preocupações com Elena, mas acabavam revelando tudo com as caras duras, Zich estava tranquilo. Havia muitas pessoas reunidas na sala de estar. Walwiss sentou-se no centro da mesa enquanto havia Orland e algumas pessoas cujos rostos não conhecia sentados ao seu redor.
— Você veio? Por favor, venha por aqui.
Walwiss colocou Zich ao lado dele.
— Tenho certeza que todos sabem quem é, já que foi ele quem causou uma grande comoção recentemente.
As pessoas olhavam para ele com simpatia, e havia até alguns que olhavam para ele com olhos curiosos.
— Como somos todos magos, podemos não ser capazes de ver esse incidente fora de um ponto de vista unilateral, então o chamei aqui. Ele pode nos dar sua perspectiva como espadachim e viajante.
Então, Walwiss apontou para um assento vazio. Zich assentiu logo e sentou-se.
— Ele é tão tranquilo. Não pensei que um viajante fosse o último a chegar — falou alguém, tirando sarro. Zich olhou para o lado de onde vinha a voz.
A pessoa sentada na diagonal em frente a ele o olhou com atenção. Era a primeira vez que ele via esse homem, mas podia adivinhar quem era sem dificuldades. Não só tinha ouvido falar da sua aparência antes, como também apenas uma pessoa ligada a Walwiss o olharia com tanto desdém.
— É a primeira vez que o encontro, senhor Wayne Jaewick. — Zich sorriu. — Como está seu filho?
Wayne apertou os punhos com força, a fim de espancar Zich até a morte. No entanto, Zich permaneceu relaxado, olhando para Wayne como se estivesse incitando.
— Seu des…
— Parem. Esta não é hora para brigas!
A pessoa ao lado o parou e Wayne calou a boca. Depois de dar a Zich outro olhar penetrante, ele virou a cabeça.
Orland sentou-se a uma boa distância de Zich e disse:
— Por favor, tenha paciência com ele também. Este não é o momento, por favor.
Assim, Zich também desviou o olhar de Wayne e assentiu.
Enquanto os membros do grupo se acalmavam, Orland disse:
— Antes de tudo, quero agradecer a todos por terem vindo a esta reunião — começou, a voz cansadíssima mostrando com clareza o estresse. — Quero expressar meus sinceros agradecimentos a todos aqueles que vieram de imediato para ajudar a encontrar minha neta, embora este não seja um assunto pessoal para todos vocês.
Walwiss fez uma reverência. Os outros magos ficaram assustados e tentaram detê-lo.
— Senhor, você trabalhou tão duro para a torre mágica. Este não é um assunto para você abaixar a cabeça.
— Sim, se não ajudarmos em situações como esta, como podemos nos chamar de companheiros?
— Estou muito agradecido. Então, recebi algo ontem.
Quando Walwiss fez um gesto, um homem vestindo um uniforme de mordomo entrou na sala segurando uma bandeja de prata. O mordomo colocou cuidadosamente a bandeja de prata sobre a mesa. Os olhares das pessoas se voltaram para a bandeja de prata. Havia um envelope rasgado e uma carta na bandeja.
A pessoa sentada ao lado de Walwiss perguntou:
— Senhor, o que é isso?
Walwiss soltou um suspiro e, com a voz cheia de indignação, disse:
— É uma carta enviada por aqueles que sequestraram Elena.
As pessoas começaram a sussurrar entre si.
— Tudo bem se lermos?
— Sim.
Orland levantou com cuidado a carta.
— O que está?
Orland olhou para a carta como se quisesse rasgá-la, a lendo pouco a pouco..
— Temos Elena Dwayne.
O povo engoliu seus gritos. Mesmo que a primeira linha fosse muito curta, era mais explícito assim. Uma pessoa fechou os olhos, outra franziu a testa e algumas tentaram abafar a raiva.
— E é isso.
— O quê?
As pessoas ficaram estupefatas. A pessoa ao lado de Walwiss rapidamente pegou a carta da mesa e examinou seu conteúdo. Ele olhou para a frente e para trás, para cima e para baixo, e até tentou virá-lo de cabeça para baixo. No entanto, o que estava escrito era realmente apenas uma linha.
— O que é isso…?
— Eu não posso acreditar que há apenas uma linha.
As pessoas se revezaram olhando para a carta e todos murmuraram para si mesmos em perplexidade.
— Talvez, isso pode ser apenas a ideia de piada de alguém.
Era natural que tal opinião surgisse.
No entanto, Walwiss balançou a cabeça.
— Isso estava em cima de uma mesa no meu jardim. Que tipo de pessoa insana viria secretamente à minha casa neste momento para apenas fazer uma piada?
As pessoas assentiram com a cabeça. A menos que alguém estivesse realmente ansioso para morrer, ninguém faria uma piada como essa em tal momento.
— Então há uma grande probabilidade de que realmente possa ter vindo do culpado…
As pessoas começaram a cair em pensamentos profundos.
— Por que enviariam uma carta como esta?
— Não escreveram nenhuma exigência ou o motivo de seu crime. Realmente arriscaram o perigo e se infiltraram na mansão Dwayne apenas para isso?
As ações do culpado eram inexplicáveis pelo senso comum. Mesmo que todas as pessoas reunidas aqui fossem conhecidas por sua inteligência, suas cabeças doíam de olhar para uma carta com apenas uma linha. A carta continuou a ser repassada e finalmente chegou a Zich.
Zich franziu a testa como se realmente estivesse refletindo sobre o conteúdo da carta e olhou para ela. No entanto, esta era apenas sua aparência externa. Por dentro, ele estava tendo pensamentos aleatórios que não importavam.
“Eu escrevi isso, mas está escrito de forma muito estranha.”
Para não ser pego, Zich havia torcido e inclinado suas letras. Não era tão difícil de ler, mas a caligrafia era horrível. Claro, a qualidade da caligrafia não era importante para ninguém na sala. Zich foi o último a verificar a carta, então, depois de olhar para ela, a colocou de volta em cima da bandeja de prata.
— Agora, quero ouvir a opinião das pessoas sobre esta carta.
Walwiss perguntou isso, mas ninguém foi capaz de dar um passo à frente imediatamente.
— Por que o culpado escreveria tal carta?
— Talvez, seja para se exibir.
— Se exibir? — comentou um mago.
— Sim, senhor. Eles podem ter enviado para mostrar que a Sra. Dwayne está em sua posse.
— Isso não é muito irreal? Por que alguém faria uma coisa tão inútil?
Alguém argumentou contra o primeiro mago que falou.
Contudo, Zich concordou com a primeira teoria.
— Não podemos dizer com certeza que não é uma possibilidade.
Os olhares de todos se voltaram para ele. Um olhar muito desagradável também estava misturado, mas Zich ignorou completamente aquele olhar. Para ser mais exato, nem prestou atenção nisso.
Ele continuou:
— Conheci muitas pessoas enquanto viajava, e há algumas que são impossíveis de entender com bom senso. Não é uma história absurda haver um louco que sente satisfação em se gabar de seus crimes para as famílias de suas vítimas.
— O que você está dizendo?
As pessoas estalaram a língua.
Orland perguntou:
— Então você está dizendo que este é um ato cometido por uma pessoa insana?
Zich balançou a cabeça com a pergunta de Orland.
— Senhor, só estou dizendo que é uma ‘possibilidade’. Não podemos encontrar uma resposta definitiva a partir das informações que temos atualmente. O culpado também pode ter outro motivo.
— E se tudo isso fizer parte do plano deles?
Surgiu uma opinião diferente.
— E se for para nos distrair ou mudar de planos dependendo de como reagimos?
— Essa também é uma explicação possível.
Assim, as pessoas continuaram a compartilhar suas opiniões e pensamentos. Como havia poucas pistas, não havia respostas que parecessem definitivas. Com o tempo, algumas explicações altamente prováveis surgiram e, como foi um avanço, a expressão de Walwiss se iluminou um pouco.
Depois de compartilhar muitas ideias diferentes, a reunião estava chegando ao fim. Antes que todos pudessem sair, Wayne de repente falou com Zich:
— Você não tem outros pensamentos? O mestre chamou você para trazer uma perspectiva completamente diferente, mas vejo que não compartilhou nenhum de seus pensamentos.
Orland ficou do lado de Zich.
— Ele compartilhou seus pensamentos várias vezes nesta reunião.
Wayne bufou.
— Tudo o que ele fez foi acrescentar à ideia de outra pessoa. Isso não é suficiente para atender às nossas expectativas. Não o chamamos para ouvir pensamentos de uma perspectiva completamente diferente, de maneiras que não havíamos pensado?
— Ei, chega…
Outras pessoas tentaram parar Wayne, mas Zich deu um grande sorriso.
— De uma perspectiva diferente… Bem, tenho uma.
— O quê?
Wayne ficou surpreso. Todas as outras pessoas na sala, que olharam para Wayne com aborrecimento e desgosto de que uma briga pudesse irromper de novo, se surpreenderam.
Zich abriu a boca bem devagar, a voz presunçosa.
— Por que não mudamos nossa linha de pensamento? No momento, pensamos que esta carta é endereçada ao mestre da torre. No entanto, e se não for o caso? Esta mensagem pode ser endereçada não ao mestre da torre, mas a uma pessoa completamente diferente.