— Duas cervejinha e dois pedaços de carne de coelho, por favor! — Zich sentou-se em uma cadeira e gritou. Hans logo sentou na frente — Você pode descansar na hospedagem se estiver cansado. — Sorriu ao dizer, mas o servo balançou a cabeça.
A sua maior alegria hoje em dia era uma bebida após o treino. Só por este momento, suportava dormir nas montanhas e lutar contra monstros. Não importa o que Zich falasse, ele não podia desistir disso, e Zich riu da resposta.
Antes de o pedido chegar, colocou o braço na parte de trás da cadeira e olhou em volta do bar.
— Espere aí.
Zich ouviu vozes altas no canto da sala. Um grande grupo tinha conectado várias mesas e estavam rindo e falando. Um integrante deles enxugou as lágrimas que vieram das inúmeras risadas e notou que estava sendo observado.
— Zich!
— É o Sam. — Balançou a mão.
— Oh, é um amigo do Sam?
— Ele não é o cara que conhecemos na frente da entrada da mina da última vez?
— Ah, é aquele lá, que pega monstros e garante nossa segurança.
— O quê!? Não podemos deixar um homem assim largado!
— Claro! Como um das minas, se eu não der uma bebida para ele, deveria cortar minhas bolas!
Os mineiros conversaram e se reuniram em torno da mesa de Zich e atribuíram à força a sua mesa à deles.
— Hã? Quê?
Atordoado, Hans girou a cabeça ao redor; em comparação, Zich parecia estar se divertindo e seguiu os movimentos dos mineiros.
E…
— Saúde!
— Saúde!
Mais de dez copos colidiram no meio, e ele derramou cerveja na garganta. O ângulo do copo arqueou profundamente, porém Zich não se rompeu. Logo, a cerveja morna desapareceu com um gole.
— Ha! — Soltando um grito refrescante, bateu a caneca em cima da mesa. Todos os mineiros riram da visão.
— Pô, você parece delicado, mas a maneira como bebe prova que é um homem de verdade!
— Claro, ele é meu amigo! Você acha que eu vou fazer amizade com qualquer um? — Sam gritou enrolando enrolou os braços em torno dos ombros de Zich. Hans assistiu à visão barulhenta e vulgar, mas vibrante, na frente dele, espantado. Zich riu e cantou com o copo levantado, encaixando com perfeição aos mineiros. Quem diria que era o sucessor dos Steelwalls há pouco tempo?
— Em comparação, olhe para ele. Seu amigo não parece estar se divertindo!
— P-perdão?
Um começou uma conversa com ele, e ele respondeu desajeitado. O rosto avermelhado do homem o observou com atenção.
— Ele não é divertido. Qual é a sua relação com o amigo do Sam?
— Meu servo — respondeu — Por favor, entenda: ele não sabe como ser tão humorado, já que cresceu protegido desde sempre.
Não parecia apropriado para um ex-aristocrata que nem ele dizer isso, mas se encaixava tão bem aos presentes que Hans não podia dizer nada.
— Opa, opa, opa. Eu pensei que era apenas seu companheiro, mas, servo? O amigo do Sam é mesmo alguém de alto status?
Embora tenha dito isso, o mineiro não acreditou. Sua voz estava cheia de certa desconfiança.
Zich respondeu sorrindo:
— Fufufu, talvez. Eu poderia ser o filho de um grande senhor que fugiu de sua casa depois que seus sentimentos foram feridos, sabe?
— Ei! Esse grande senhor não deve ser um nobre. Agir como um nobre significa pena capital! — Sam disse enquanto ria. Todos os outros riram também. No entanto, Hans, que sabia a verdade, não podia rir.
A festa continuou assim por muito tempo, dando sumiço a uma grande quantidade de cerveja. Além disso, já que Zich se ofereceu a pagar uma grande quantia, o clima festivo disparou. Todos conversaram bêbados.
Então, alguém se aproximou cuidadosamente de Zich.
— Olá…
— Sim? — Olhou para a pessoa; um rosto familiar.
“Deve ser aquele admirador de aventureiros.”
— Olá, te conheci há alguns dias…
— É, eu me lembro. Você disse que seu nome era Snoc.
O rosto dele se iluminou.
— Sim, sim! Sou eu! Você lembrou!
— Você disse que queria ouvir sobre minhas viagens, certo?
— Sim! Meu sonho é me tornar um aventureiro! Quero vagar por esse mundo enorme sem um destino em mente e viajar para onde eu quiser! Quero explorar lugares misteriosos, conhecer companheiros excelentes, encontrar ruínas antigas, e…!
Cuspiu palavras sem parar. Não era uma história muito importante, somente uma sem um pingo de realidade, que nem as de livros infantis, cheios de romantismo e aventura. E enquanto falava, os olhos esperançosos nunca deixaram Zich.
No entanto, em vez de Zich, foi Hans quem fez uma pergunta.
— Por que você quer tanto andar por aí? Não é tão maravilhoso como diz.
Já que foi forçado a esta jornada, a voz estava misturada com uma pequena raiva reprimida. Talvez estivesse mais enfurecido, porque se viu da mesma forma que Snoc no passado.
Ele não pôde responder de imediato. Olhou ao redor, e após ter certeza de que ninguém estava interessado na conversa, confessou os verdadeiros sentimentos.
— … Eu odeio as minas — falou calmo, mas o tom estava cheio de emoções. — Eu odeio que tenho que continuar martelando um lugar sem um único raio de luz em um espaço abafado com nuvens de poeira voando por toda parte. Quando endireito as costas para olhar ao redor, tudo o que vejo é uma parede preta e rochosa. Quando consigo ver ao redor, fico pensando que… — disse tudo com tristeza nos olhos — … o poço será minha cova. — Quando falou isso, sentiu calafrios subir às costas.
— Você está dizendo isso de novo?
Ele ouviu uma voz cheia de desconforto misturada com embriaguez, mas a pronúncia indicou que não estava bêbado por completo.
— … Sam.
Snoc abaixou os ombros, e Sam se virou. Como se tivesse ouvido toda a conversa, parecia uma mãe que encontrou seus filhos causando problemas.
— Eu não lhe disse para parar com isso? Como você poderia ser um aventureiro?
— N-não importa o que faço!
Snoc resistiu, mas a voz não tinha força.
— Sim, eu gostaria que fosse esse o caso. Eu não teria me preocupado com o que faz com sua vida se não fosse pelo pedido de seus pais.
Sam colocou a mão em cima da cabeça de Snoc e a virou.
— Ah, para!
Snoc arremessou a mão e tentou sair, mas não conseguiu escapar do firme aperto de Sam. Ele era dez centímetros mais alto que o menino e muito mais forte.
“Eles são como irmãos.”
O tal do mais velho tentava impedir o mais novo de agir impulsivamente. De acordo com a conversa, pareciam não ser parentes de sangue, mas cresceram juntos desde jovens.
— Então, você quer ouvir histórias sobre minhas viagens? — Zich questionou.
— Qual é, Zich! — Sam tentou cortar a sua fala, mas em contraste, os olhos de Snoc brilharam.
— Sim!
— Eu posso dizer pelo menos um pouco.
— Sério?
— Claro. Nem é tanta coisa. Eu dou importância nos sonhos dos outros.
Os olhos de Zich se curvaram. Por sua expressão, parecia que contaria uma em detalhes e até mesmo reencenaria algumas partes, mas por alguma razão, Sam sentiu um frio na pele.
— Mas você terá que assumir a responsabilidade por isso também.
— … Responsabilidade?
— Sim, responsabilidade.
Para Snoc, cujo rosto endureceu um pouco, ele enfatizou suas palavras.
— Você pode alcançar o que quiser no mundo lá fora: belas paisagens, céu azul e liberdade. Se tiver sorte, vai salvar pessoas de bandidos ou monstros e ser tratado como um herói. Você pode até mesmo conhecer uma garota bonita no meio também.
Era um sonho que todos sonharam pelo menos uma vez na vida.
— Mas isso só se você tiver as habilidades. Além da liberdade e dos sonhos, o mundo exterior está cheio de perigo. Embora possa soar um pouco duro, você não parece ter esse tipo de poder.
Os braços do menino pareciam firmes com músculos. Todavia, foram feitos através de trabalho duro e não eram adequados para a batalha. Além disso, não era um sonho que poderia realizar apenas treinando o físico.
— Mesmo assim, eu não quero mandar você fazer isso e aquilo. Histórias sobre aventuras? Posso dizer o quanto quiser, não é tão difícil. Você poderia continuar e ser um aventureiro depois, mas não é da minha conta. Também não é da minha conta se você se tornar uma refeição de monstro em uma estrada de alguma montanha sem nome e virar um qualquer no mundo. — Sorriu muito, porém ninguém, incluindo todos aqueles que pararam para ouvir, sorriu com ele. — Ok, então, por onde devo começar… Não se preocupe. Mesmo que não tenha sido muito tempo desde que comecei, algumas das histórias podem lhe interessar. — Fixou sua postura para começar, mas Sam o impediu.
— É o suficiente. — Então, se aproximou de Snoc com um olhar severo no rosto. — Veja: isso é o que um viajante que realmente saiu da cidade diz. Eu não sempre te digo? Os aventureiros que você sonha só existem em livros de histórias.
Snoc levantou a cabeça, abatido, o que fez a expressão do mineiro mais velho suavizar. Daí, foi consolado por ele.
— Apesar do que você disse, o trabalho que fazemos é vital para o reino; não é inferior a nenhum outro. Até o salário é suficiente para plebeus como nós. Seu pai também minerava. Não pense em mais nada além de…
— Não.
Mal audível, entretanto havia firmeza na voz.
— Snoc, você…
— Eu vou sair da cidade não importa o que aconteça. Não quero continuar fazendo esse trabalho, mesmo que morra. Eu não quero viver que nem o meu pai!
Pumb!
Bateu na mesa e levantou. A cadeira fez um baque alto e rolou no chão, antes do garoto correr para fora.
— Ei, Snoc! — Sam chamou, mas não conseguiu pará-lo. A porta do bar rangeu e despediu Snoc, que não voltou mais.
— Sério, aquele dali! — Sam levantou abruptamente prestes a persegui-lo, só que sentou de novo e soltou um grande suspiro.
Zich comentou:
— Ele é muito teimoso. A maioria das pessoas desistirá depois de perceber a verdade. E mesmo que não, vão reprimi o sonho no coração.
— Peço desculpas. Ele ainda é assim, até depois de eu repreendê-lo muitas vezes.
— Não há necessidade de você se desculpar. Não posso dizer que não tive a intenção, mas não é como se eu tivesse dito algo que não quis falar. Não me importo com o que acontece com ele.
— … Que frio! — Sam fez um sorriso amargo. Embora estivessem na mesma “vibe” às vezes, Zich soltava coisas assim.
“É um traço de aventureiros… não, de viajantes?”
Se fosse esse o caso, não podia deixar Snoc se agarrar a sonhos ainda mais. No entanto, havia um canto de seu coração que queria defendê-lo.
— Na verdade, ele…
— É o suficiente, Sam — Zich o cortou. — Não há necessidade de você dizer nada. Eu nem estava interessado, em primeiro lugar, independentemente da situação ou passado dele.
— … Todos os viajantes são como você?
— Deixe eu ver… Também não estou interessado em outros viajantes, então não sei. Bem, provavelmente não são todos iguais. Quero dizer, basta olhar para os mineiros. Você e Snoc são duas pessoas com pensamentos diferentes ao todo.
— É verdade.
Mesmo que ambos fossem mineiros, continham pensamentos diferentes em tudo; deve ser verdade para os viajantes.
— Mas já que você é meu amigo, não se preocupe. Não pode ser evitado uma punição após um crime, mas se você morrer injustamente, eu vou vingá-lo.
— Obrigado. — Sorriu e brindou o copo de cerveja com o de Zich.