A batalha era feroz. Uma espada colidia contra três adagas, e o som soava por todo o espaço. No entanto, apenas parecia. Zich e até os assassinos sabiam que ele não passaria sufoco; pelo contrário, os analisava com calma.
“Hmmm. Eles não estão usando técnicas especiais.”
Eles baixaram a postura e tentaram desesperadamente encontrar quaisquer aberturas nos ataques dele. Entretanto, não importava o quanto tentassem, todos os ataques eram bloqueados, e não tiveram escolha a não ser aceitar a derrota garantida.
Se ele quisesse resumir a luta em uma frase, seria: “eu tô com mó sono”. A sua atitude descontraída não era coisa boa, pois não importava o quão grande fosse a diferença em suas forças, o descuido levaria a erros perigosos.
Por outro lado, ele não somente “brincava”. Ele estava tentando encontrar pistas sobre as identidades deles analisando as habilidades e movimentos. Eram precisos, contudo, incolores e sem nenhum pingo de engenhosidade ou singularidade. Mesmo que estivessem sendo empurrados, era apenas porque tinham pouca experiência com lutas individuais e porque era Zich o alvo. Como assassinos, eram ótimos.
“Eles não serão fáceis de cuidar.”
Para transformar pessoas em assassinos assim — sem características ou estilos, só “ferramentas” para matar —, precisavam investir muito e trabalhar duro nisso.
“Devo capturar um deles e perguntar?”
A esgrima dele mudou. Em um instante, passou a refletir as adagas para trás.
“Primeiro, pego esses três.”
Ele lembrou de como os assassinos que encontrou em Suol se explodiram para detê-lo. Por conta disso, não teve tempo para capturar um deles. Porém agora, tinha mais tempo do que precisava.
“É, só um deles está ótimo.”
Prestes a desacordar o mais próximo, o assassino de repente estendeu as mãos.
Booom!
Uma explosão repentina. Hans e Snoc, que cuidavam de um, se assustaram e deram uma olhada rápida na explosão.
— Senhor Z-Zich? — falou Snoc.
Os que lutavam contra os dois riam baixo, confiantes de que Zich morrera. O garoto mordeu o lábio, preocupado, diferente de Hans.
Whoosh!
Hans apenas olhou sem demorar onde Zich esteve e voltou o foco ao inimigo, que, surpreso, parou de rir a fim de bloquear o golpe de Hans.
“Não tem como o senhor morrer com isso.”
Ele estava mais calmo do que Snoc porque tinha um nível mais alto de confiança em Zich, graças ao maior tempo viajando com ele.
“Se ele morresse desse jeito, os Steelwall não teriam caído em caos, e eu não teria sido arrastado até aqui.”
Com isso em mente, o seu manejo de espada se tornou mais rígido.
Flash!
A poeira desapareceu num instante. Os assassinos, que recuardam, estremeceram de choque: Zich, calmamente parado no centro da explosão.
— Aí, é um artefato? Então são vocês, pô.
Ele se animou ao ver assassinos da mesma organização que os de Suol.
Uma promessa era uma promessa. Ele queria manter o juramento com aquele outro assassino que, assim que achasse alguém da organização, os enviaria para o seu lado no inferno.
Até agora, duraram um tempo porque ele brincou com eles. Quando ficou mais sério, avançou sem hesitar. Usaram seus artefatos sem ressalvas, e todos foram cortados.
— Agh!
Um longo corte apareceu num deles. Não era o suficiente para matar, porém seria impossível continuar lutando.
“Tome um.”
Preocupado que se sacrificassem, ergueu a espada em direção às cabeças para desmaiá-los. Entretanto, antes que pudesse, um dos dois restantes soprou um apito.
Fweeet!
— Tch!
Percebendo que algo estava errado, estalou a língua.
Crashhh!
Uma explosão muito maior do que a primeira irrompeu. A magnitude não era grande, mas a intensidade era mais alta. Tentaram feri-lo, porém ele se afastou e tirou a poeira da roupa.
“É por isso que eu queria terminar isso logo.”
Se fossem de fato da mesma organização anterior, havia uma grande chance de que se explodissem.
“As técnicas deles são bem melhores que as dos de Suol.”
Quando o homem encapuzado disse que reunira um grupo de “baixo nível” para a missão, pelo visto, era verdade.
Zich se virou. Hans e Snoc estavam jogados no chão, cheios de arranhões e alguns ferimentos muito profundos, todavia não aparentava ser tão grave. Antes que os explodissem, ele afastou os assassinos, então os dois tiveram tempo de sair.
— O que isso aí? Vamos, levantem.
Depois de dar a cada um deles uma poção, não mais deitados, olhou para trás, arrependido por não ter conseguido obter mais informações, embora não parecessem saber segredos importantes. Mas acima de tudo…
“Acho que vou ver mais deles no futuro.”
Tinha certeza disso.
Era tarde da noite. Zich enfiou mais gravetos na fogueira e tentou manter o fogo aceso. Cansados da longa e árdua luta, Hans e Snoc caíram na cama assim que tiveram a chance. Por outro lado, parecia despreocupado e imerso em sua rotina diária observando o fogo e perdido em pensamentos.
“Sem dúvidas, tenho certeza de que são relacionados aos de Suol. Mas por que eles estão aqui?”
Primeiro, o objetivo do grupo era fazer de Nowem o Tirano da Terra. Antes do incidente, ele nunca imaginou que Nowem, que causou o colapso de todo um reino antes de Zich regredir, foi feito de uma maneira tão vigorosa.
“Eles queriam só a Nowem ou demônios no geral? Se eu assumir que têm objetivos semelhantes…”
Joaquim estava aqui. Num futuro distante, ele se tornaria o Diabo-Vampiro e serviria a Zich, o Lorde Demônio.
“Eles continuam aparecendo perto de lugares que os demônios nascerão.”
Ele não queria excluir a possibilidade de ser uma coincidência, porém sentiu como se os dois eventos estivessem profundamente conectados.
“Se são realmente os desgraçados que transformaram Joaquim, então…”
Pensando melhor, ele se recordou de que um grupo de demônios surgiu durante este tempo, o começo da Era Vermelha.
“Esse grupo está mesmo criando eles?”
Se fosse verdade, seria um evento importantíssimo, porque significava que alguém ou algum grupo controlava as pessoas para desencadearem o caos no mundo.
“Claro, não devem ter feito todos. Tenho certeza de que muitos se tornaram por si só, que nem eu…” O rosto dele de repente ficou sério. “Espere, tem alguma evidência de que não tive influência externa?”
Não havia provas. Em primeiro lugar, nunca pensou que uma organização estava criando os demônios. Visto que Snoc se tornou o Tirano da Terra por causa dos assassinos, quem garantiria que não foi o mesmo com o “Lorde Demônio da Força”, Zich Moore?
“Pensando melhor, assim que deixei os Steelwall, dei de cara com vários eventos como se alguém planejasse tudo…”
E todos os eventos foram perfeitamente definidos.
“Eu apenas pensei que o mundo estava caótico, mas… e se fosse o resultado de outra pessoa? … Que interessante.”
Agora existia a possibilidade de que tenha decidido todo o seu caminho desde o início.
“Ok, vamos nos acalmar por enquanto. Nem tenho certeza se é verdade.”
Não importava o quanto pensasse sobre, não podia deixar de se sentir irritado. Antes de regredir, houve muitas situações frustrantes, entretanto esta foi a primeira em que ele sentiu raiva de verdade.
“Pode ter uns filhos da puta que me usaram de fantoche.”
Se fosse verdade…
“Eu vou dar um jeito de achar esses merdas.”
Ele nunca iria perdoá-los. Até agora, os via como um grupo irritante e queria mandá-los para o inferno sempre que encontrasse um. Porém a partir de agora, a opinião a respeito deles mudou de “um grupo irritante” para uma “organização que pode ter brincado com sua vida”. Ele usaria tudo ao seu alcance para apagá-los da face da Terra.
Depois engoliu a raiva. De nada adiantaria ficar zangado sozinho. Até ele sabia que precisaria ir mais fundo e planejava gravar a raiva no fundo do coração e cultivá-la ainda mais.
“Mas por que me atacaram?” Desistiu de “despensar” e voltou a pensar. “Eles sabem que eu esmaguei os seus parceiros em Suol?”
Se os estivessem conectados a Suol, havia uma possibilidade muito maior de que pudesse ser verdade. No entanto, não era provável, pois ele matou todos os envolvidos no sequestro de Snoc. Não teriam recebido nenhuma notícia sobre ele por esse motivo. Ademais, descobriu o sequestro por acidente, então tinha certeza de que não fazia parte dos planos do grupo.
“Quais são as outras possibilidades?”
Ele considerou a chance de os Dracul estarem conspirando contra Joaquim sem saber nada sobre a organização assassina ou o que aconteceu em Suol, e que o objetivo da misteriosa organização era transformar Joaquim em um demônio. Isso significava…
“Que sou uma variável inesperada?”
Já que apareceu do nada e começou a ajudá-lo, deve ter sido um obstáculo. Mas não chegou a uma conclusão definitiva. Até agora, era apenas uma das suas teorias muito prováveis.
“Eu vou ficar perto dele por ora.”
Se quisessem transformá-lo em um demônio, tentariam todos os meios possíveis para fazer contato com ele. Visto que Zich planejava ajudá-lo de qualquer maneira, não era uma decisão difícil de tomar.
— Você ainda não está dormindo.
Ele de repente ouviu uma voz familiar e virou a cabeça. Era Joaquim, se aproximando cada vez mais.
— Como está? Se dormir tarde, pode ser difícil acordar de manhã.
— Não tem nada para fazer, de qualquer forma. Por que acordaria cedo?
Joaquim deu um sorriso amargo. Parecia triste com a situação atual, pois tiveram que acampar perto de uma aldeia que recentemente passou por um surto.
— Tudo bem se eu me sentar ao seu lado?
— Seria um prazer…
Zich olhou para ele, sentado à sua frente. Era idêntico a antes, somente um pouco mais jovem; a personalidade, todavia, era diferente por completo do Vampiro, e se perguntou como e até que ponto deveria ajudá-lo. Mas devagar chegou à conclusão.
“Vou ajudar enquanto não tiver certeza de que ele não se tornará um demônio.”
Mesmo que ele virasse o Diabo-Vampiro de novo, Zich não sentiria ódio ou antipatia — em vez disso, o receberia, tipo um velho amigo. Contudo, não importa como visse, o Vampiro, Joaquim Dracul, era uma pessoa má. E por ter decidido ter uma boa vida, seus antigos subordinados não poderiam ser uma exceção à regra. Talvez tivesse que matá-lo, caso o plano desse errado.
“Ele de jeito nenhum pode ficar que nem antes.”