Zich sabia quem era.
— Senhor Clovey?
Como Brod, ele subordinado a Joaquim. Por terem trabalhado juntos no auge dos surtos, Zich falou bem com ele.
— Qual é o problema?
— Não é coisa boa. — O seu rosto endureceu — Acho que novos casos estão reaparecendo.
— Quer dizer, na área isolada?
Não pôde deixar de fazer uma cara irritada. Mesmo com as medidas preventivas avançadas da Bargot e a cura, os casos retornaram; era mais irritante porque estavam fazendo progressos significativos. Mas Clovey balançou a cabeça.
— Feliz… quero dizer, não sei se é “felizmente” ou não, mas não é em Ospurin. Uma doença com sintomas semelhantes tem se espalhado por uma aldeia entre a cidade e Dobo.
A princípio, ficou feliz. Porém, era incômodo que as doenças se espalhassem perto. Até agora, todas fora ígram no território eram raras e possuíam sintomas meio violentos.
— É a mesma doença?
— Eu não sei, não sei nem se por alguma razão muitos estão tendo dores normais ao mesmo tempo. Mas já que é aqui perto, o senhor Joaquim queria que alguém investigasse a possibilidade de ser ígram.
— E você veio pedir para eu ir lá.
— O senhor Joaquim sente muito por isso, porém o único com um conhecimento básico sobre e mana alta o suficiente para não ser infectado é você — disse confiante, contudo com incerteza nos olhos.
Zich não era um dos subordinados de Joaquim e muito menos relacionado aos Dracul, em primeiro lugar, o que fazia Clovey ficar nervoso sempre que fazia pedidos a ele, considerando que já os havia ajudado tanto.
— Beleza. Vou ver isso direito.
— Ah, muitíssimo obrigado! — O rosto dele se iluminou.
— É para agora?
— Sim. Visto que novos casos é a prioridade atual, ele falou que você não precisava esperar por ele. Já preparei o seu transporte.
— Certo, vamos embora. — Se virou. Hans e Snoc estavam desajeitadamente de pé lá atrás enquanto ouviam a conversa — Ouviram tudo, não é?
— Temos que ir junto?
— É óbvio.
Sem queixas, assentiram. O cavaleiro também não impediu.
— Rápido. A carruagem está lá na frente, para que não tenha que andar muito.
A aldeia era pequena. Não importava quão pequena fosse, deveria haver alguns sinais de presença humana; nenhum sinal era encontrado, entretanto.
— Parece ameaçador — falou Snoc enquanto abraçava Nowem. Hans não discordava, então assentiu em silêncio. A carruagem entrou, e descobriram que não tinha uma alma viva em canto nenhum.
— Chegamos! — Clovey, quem manejou o transporte, gritou alto.
Os outros três saíram. Hans e Snoc olharam em volta e não sabiam o que fazer, já que parecia uma cidade fantasma.
— Bem ali. — Zich apontou para um edifício.
Aparentava ser um templo religioso. Por ser pequena, ele também era; existia uma simples estátua de uma divindade nela. Ainda assim, era maior do que as outras casas.
— Quando tem doenças se espalhando, na maioria das vezes são os templos que cuidam dos doentes.
— A situação está mais grave do que pensei. O único lugar onde pode ter humanos é lá. — Clovey concordou.
— Quer dizer que toda a aldeia foi infectada?
— Talvez. Vamos descobrir mais.
Caminharam em direção ao templo. No trajeto, puderam ver bastantes casas de portas abertas, que possibilitou a visão do interior bagunçado delas, como os moradores estivessem com pressa.
Quando Zich chegou ao tempo, abriu a porta.
— Imaginei.
Estava cheio de pessoas no chão, fora algumas dezenas em camas. Era uma visão familiar. Hans e Snoc, que estavam atrás dele, fecharam as caras. Nem todos pareciam ter adoecido, pois alguns cuidavam dos pacientes.
Um jovem mais próximo da entrada realizou uma pergunta:
— Quem são vocês? — Sua pele não era uma das melhores. Os infectados que apresentavam sintomas menos graves eram os que cuidavam dos graves.
— Creio que todos aqui foram infectados — contou Snoc a Hans.
— Somos de Ospurin! Ouvimos dizer que as doenças estão se espalhando por aqui e viemos investigar! — Clovey deu um passo à frente.
— Glória, são cavaleiros! — O rosto do cuidador se iluminou, e ele estendeu as mãos para tentar se aproximar.
— Antes, precisamos descobrir o que aconteceu aqui. Então, por favor, nos dê uma explicação…
— Está tudo bem. — Zich o interrompeu.
— O que está falando?
— Não precisamos de explicações. Já sei o que aconteceu.
— O quê? A doença se espalhou neste lugar. Não deveríamos pelo menos obter informações a respeito?
O jovem olhou para Zich e perguntou:
— Um… quem é esse…?
— Ele está conosco para analisar a propagação dos sintomas. Por favor, diga o que aconteceu sem pular nenhum detalhe.
— Oh, você é um médico! Sim, sim, vamos cooperar. Vou te dizer tudo!
Ele não era um médico, mas o cavaleiro não sentiu a necessidade de esclarecer isso e se manteve em silêncio.
— É uma longa história, mas não acho que aqui é um bom lugar para conversar. Tem um quarto um pouco gasto ali, se não se importa, mas é melhor. — Olhou para onde os pacientes estavam deitados e apontou para uma porta.
— Acho que devemos fazer o que o homem diz. O que acha…? — Pediu a opinião de Zich, no entanto parou ao notar que ele estava o encarando — Por que está me olhando assim?
— Só curiosidade.
— Curioso do quê? Não, antes disso, devemos ouvir o que ele tem a dizer? Não temos muito tempo, podemos lidar com assuntos pessoais mais tarde…
— Talvez; só talvez… — Cortou as suas palavras e sorriu — … Você está agindo por vontade própria ou foi chantageado?
— O que quer dizer com…
Clang!
Zich desembainhou a espada e apontou para o jovem com quem acabaram de conversar, e ela se moveu como se estivesse prestes a decapitá-lo.
Ele olhou chocado para a lâmina. Contudo ao sentir a sede de sangue real, o seu rosto mudou.
Kagagak!
Ele tirou uma adaga e bloqueou, diminuindo a velocidade de Zich.
Creck!
Ela cortou a adaga e continuou o movimento, assustando-o.
Swish!
Ele cortou a sua cabeça e passou por ela. Todos ao redor não se moviam, fazendo o tempo parecer estar congelado, e ele jogou o sangue em um balanço exagerado. Depois, levantou o queixo e olhou todo o interior do local. Sem exceção, olharam para ele.
— Deixem de teatro e tragam logo. Não sou inocente o suficiente para cair em uma armadilha tão desleixada que nem essa. — Sorriu de novo — A armadilha era tão infantil que não conseguia suportar ver por mais tempo. Deveria ter prestado um pouco mais de atenção aos detalhes.
— O quê…? — Snoc não entendeu a situação, mas trocou olhares com Hans e puxou a sua espada.
— Cuidado! São inimigos! — Hans o alertou, quando…
Bam!
Adagas voaram na direção deles, e Zich as desviou como se fossem moscas. Todavia, não poderia fazer igual com a outra espada vinda do lado.
Claaang!
Uma lâmina banhada em mana a atingiu, e Clovey olhou para ele com um rosto demoníaco.
— Você não respondeu à pergunta ainda. Está agindo por vontade própria ou foi chantageado?
— Como sabia?
— Responder uma pergunta com uma pergunta é algo bem ruim. Sem mencionar que te questionei duas vezes.
A sede de sangue que fluía no corpo de Clovey parecia que tomaria forma a qualquer momento.
— Matem eles!
Ao seu comando, os cuidadores e pacientes farsantes se levantaram das camas e correram em direção aos três. Por outro lado, um monte ficou agachado no chão e gritou.
— Se não quiserem morrer, se movam! Eu mesmo vou matar todos no chão!
O restante, pessoas normais assustadas e trêmulas, se levantou aos gritos.
“Devem ser os aldeões. Podem ter sido ameaçados por ele e seus aliados antes. Nem sequer vão lutar. Acho que vou ignorá-los por enquanto.”
Entretanto, quando começaram a correr em direção a eles, teve que mudar de ideia, pois os movimentos e velocidade deles eram muito formidáveis. Não eram ameaças, mas ele não podia ignorá-los.
— Vocês dois vão trabalhar juntos para lutar.
Hans e Snoc logo viraram as costas um para o outro ao comando. No treino, aprenderam a lutar contra um oponente ou grupo se juntando. Era cedo para irem a sério, mas mostraram um nível impressionante de cooperação devido ao treinamento.
Após verificar a formação deles, Zich concentrou a atenção no inimigo.
— Vamos ver… Quem preparou a armadilha: Fest ou os assassinos? Ou foi o Biyom Dracul?
Ele listou todos que o queriam morto. Desde que revelou a cura e melhorou a reputação de Joaquim, poderia colocar Biyom na lista.
Tinha uma aparência de armadilha, porém era verdade que a aldeia estava infectada. A pessoa ou grupo planejou isso para tornar mais realista. A julgar pela doença, Fest seria o maior candidato, se não fosse pela movimentação dos inimigos idêntica àquela dos assassinos.