Zich ficou sério. No entanto, Hans e Snoc não entenderam a gravidade da situação e apenas observaram.
— Senhor, qual foi a justificativa?
— Já que ela é uma ótima especialista médica, querem que ela dê uma olhada na condição do conde.
— Muitos não já viram?
— Claro. Trouxemos um grande número de médicos e sacerdotes qualificados, mas todos disseram que ele não tinha muito tempo de vida.
— Então, o que você acha? Acredita mesmo que levaram ela para isso? Ou… — Baixou a voz — … É porque as doenças estão se espalhando lá dentro?
— O quê?
— Hã?
Hans e Snoc ficaram chocados, diferente de Joaquim, que esperava a suspeita de Zich.
— Para ser franco, eu, de verdade, não sei. Mas também é uma grande possibilidade.
— Já que levaram ela, é bastante claro que não vão nos informar.
— Deve ser verdade. Se está se espalhando lá, ela seria um talento cobiçado; não apenas porque é especialista no assunto, mas também porque não é uma ameaça à autoridade do meu irmão, ao contrário de você.
— Acho que seria melhor não ter notícias do castelo.
— Sim. — A voz dele era grave — Se nos chamarem de volta, é porque até ela não foi capaz de conter a doença.
Ademais, não havia ninguém que soubesse mais do que ela. Portanto, significaria que uma incontrolável estava se espalhando.
— Mas já que nada está definido ainda, vamos continuar com o que estávamos fazendo. Aliás, não tinha algo para me dizer?
— Antes disso, você mandou Clovey fazer um pedido em seu nome?
— Um pedido? Não, nunca.
Zich explicou o que aconteceu. No início, Joaquim ficou surpreso, entretanto conforme a história continuava, várias emoções apareceram no seu rosto: raiva, confusão, descrença e muito mais. No fim do relato, ele estava sério, em um dilema intenso, e olhou com atenção para o parceiro antes de abrir a boca.
— Eu acredito em você, senhor Zich.
Hans e Snoc, nervosos, se aliviaram. Por outro lado, Zich previu a sua reação.
“O maior motivo para a resposta dele deve ser porque dei a cura para ígram.”
Era o quão rara e significativa era a cura. Ele esperava que Joaquim apenas encobrisse o caso ou varresse para debaixo do tapete, pois Clovey estava com ele há muito tempo. Joaquim faria uma investigação, mas visto que era inegável que a ida à aldeia, Zich não se preocupou.
— O que aconteceu com os aldeões?
— Não sei, mas acredito que estão vivos. — Mentiu, contudo Joaquim não parecia desconfiado.
— Senhor Zich, se é verdade, o que acha que meu irmão está planejando?
Ele não sabia da existência do Fest ou da organização assassina. Além disso, quando Zich explicou o ocorrido, tirou eles da narrativa. Por essa razão, a sua suspeita era que Biyom fosse o responsável.
— Ele pode estar irritado por eu estar ajudando você. Do lado deles, nunca esperariam que sua reputação aumentasse tanto com a cura e as estratégias da senhora Bargot.
— Essas são as razões pelas quais ele queria te matar? Então ela também não está em uma situação perigosa?
— Não. Se ele quisesse, não teria chamado ela para o castelo, e sim levado ela comigo. Tem uma grande chance de que julga o conhecimento dela e quisesse usar para si, ainda mais se assumirmos que as doenças estão se espalhando dentro do castelo.
— Se pudesse, eu realmente iria fazer uma reclamação.
— Mas não temos evidências.
Uma organização misteriosa e Clovey foram os que tentaram matá-lo, afinal.
— Eu não posso acreditar que ele nos trairia — falou com amargura na voz. Se sentiu traído e, em conjunto, preocupado que outra pessoa fizesse igual.
— Você nunca pode dizer o que alguém está pensando.
— Sim, concordo. Mas, antes de tudo, vamos acabar logo com o surto o mais rápido possível para que eu volte ao castelo. — Seus olhos estavam cheios de determinação.
Apesar da preocupação com o castelo, continuaram com o trabalho rotineiro perto de acabar com ígram de uma vez por todas. As áreas infectadas diminuíram a um ritmo constante junto de novos casos.
Logo depois, o último paciente saiu. O povo celebrou em uníssono. Desde que aquela doença se espalhou, foi a primeira vez que puderam parar a propagação com baixas tão limitadas.
— Tudo graças ao senhor Zich e à Bargot! — exclamou, feliz, Joaquim. Por mais que muitos estavam felizes, ele e os médicos estavam era loucos. Foi a primeira vitória após fracassos devastadores.
— Mas ainda não podemos baixar a guarda. Novos casos podem aparecer depois de uns dias.
— Claro! Faremos o mesmo!
Como a pessoa falou, a força-tarefa ainda investigava se havia ou não infectados que negligenciaram, com foco especial em áreas com altas taxas de infecção.
— Tudo bem, então.
Estavam preparados para qualquer problema inesperado. O êxtase dele durou até Zich citar algo mais perigoso do que ígram.
— Notícias do castelo?
Embora o clima estivesse bom, o rosto de Joaquim endureceu de novo.
— Sim, ordenamos que algumas pessoas olhassem ao redor e pergutassem coisas para as criadas, mas parece que não tem nada de especial acontecendo.
— E a senhora Bargot?
— Não ouvimos nada a respeito dela. — Balançou a cabeça.
— Seria ideal se ela residisse lá para cuidar da saúde do meu pai.
— É, já que todas as outras possibilidades são bastante sombrias.
As outras hipóteses eram que, de fato, uma doença estivesse se espalhando lá, ou que quisessem manter um talento importante de Joaquim para ficar de olho.
— Seja qual for o caso, podemos voltar, já que nos livramos do ígram. Nem meu irmão pode me impedir sem motivo agora. Vou descobrir o que aconteceu.
Apesar de sempre seguir o fluxo, queimava com firme determinação para assumir o controle do próprio destino. Zich riu um pouco ao vê-lo desse jeito.
Um pouco de tempo se passou. A doença não reapareceu, e pensaram que ela fora exterminada, o que fez Joaquim enviar um relatório; para sua surpresa, recebeu uma ordem para retornar. Todavia, como quando chegaram à cidade pela primeira vez, ordenaram que ele fosse sozinho.
— Parece que meu irmão está tramando algo de novo — contou com desagrado.
— Alguma ideia?
— Não sei, mas provavelmente é algo inútil.
Ao lado dele, os olhos de Hans se arregalaram de surpresa. Considerando que o homem sempre falava com cuidado e apenas insinuava desgosto nas menções a Biyom, a mudança foi surpreendente.
— Peço desculpas, mas você e seus companheiros terão que esperar mais uma vez em seus aposentos anteriores.
— O que você vai fazer, senhor?
— Estou planejando tomar minha decisão depois de ver o estado do castelo. Vou me certificar de que meu irmão não fará como da última vez. Por ter acabado com o surto e ter o apoio do povo, não poderia ser ameaçado.
— Por favor, me chame se precisar de ajuda.
— Obrigado por tudo.
Com essas palavras, chamou os subordinados e se dirigiu ao castelo. Depois, Zich ficou em Ospurin no mesmo lugar de antes, a única diferença sendo o fato de que ele se encontrava com alguns seguidores de Joaquim vez ou outra. Não teve notícias dele, que fez parecer que derrubaria o castelo quando chegasse.
Assim, Hans e Snoc passaram seus dias normais e despreocupados no hotel. Não descansaram o tempo todo, e houve momentos em que estavam ocupados com as ordens de Zich. Contudo, depois de terem passado pelo seu treino difícil, não sabiam quando teriam outra chance de relaxar e aproveitaram o máximo possível.
Com certeza a felicidade não duraria para sempre.
— O que foi, senhor? — Hans perguntou ao ser chamado. Porém, em seu coração, sabia que seu tempo feliz acabou quando viu Zich blindado dos pés à cabeça.
— Vão e se preparem. Agora. Temos um lugar para ir.
Ele sabia com certeza que iriam fazer algo perturbador, então suspirou e se perguntou que tipo de idiota irritou Zich.
— Senhor, posso saber para onde estamos indo?
— Bora invadir o castelo — disse, sorrindo.
Hans e Snoc pensaram que ele enlouqueceu, até descobrirem o restante da história: iriam para o porão.
Dentro do castelo, que era famoso pelos interiores extravagantes, mas práticos, havia uma área sombria e suja abaixo, que aprisionava aqueles que cometeram crimes graves, como traição ou tentativa de assassinato contra o conde. Desnecessário dizer que o ambiente ia além do terrível.
Um cheiro abafado e de peixe encheu a área, e, no canto mais profundo, Joaquim foi preso. Mesmo no ambiente sujo, se sentou firme com as costas retas. A sua constituição era frágil, e o local era ainda pior. Sua pele parecia terrível; a respiração, áspera. De lábios e pálpebras fechados, havia uma raiva incrível saindo do coração.
“Biyom Dracul!”
Sob todos os tipos de perseguição e calúnia, ele o respeitou. Todavia, todos os seus esforços foram inúteis. Para matá-lo, Biyom o enviou a lugares afetados por doenças fatais; no fim, usou as próprias mãos para cuidar do irmão. Contudo, até no meio de sua raiva, Joaquim se perguntou sobre uma coisa.
“Como ele conseguiu obter o controle do castelo?”
Biyom sempre o considerou como um espinho e conspirou contra ele. O fato de ele ter passado pelo trabalho de reunir o apoio da maioria das forças do castelo provou o quão significativa e problemática era a presença do irmão, e não conseguiria fazer isso sem uma razão adequada. Mas para a sua surpresa, o aprisionou no porão.
Além disso, não estava trancado que nem a última vez, e sim sendo tratado feito um criminoso. Os próprios seguidores de Biyom deviam ter expressado suas preocupações sobre a prisão do segundo filho do conde.
“Está além da razão, mas ele não faria isso sem uma preparação completa.”
Afinal, a preocupação dele com sua própria segurança pessoal era a maior de todas. Joaquim continuou meneando a cabeça para encontrar uma resposta, todavia não pensava em nada razoável. Gemeu de frustração, antes de ouvir uma voz desconhecida além das barras de ferro de repente.
— Parece estar sofrendo.