Jaehwan afastou suas memórias. Ele ficou desapontado, porque queria perguntar algo ao [Pesadelo].
— Quem é o melhor artesão aqui então?
— Hmm… É o vice chefe Meikal. Mas…
O aprendiz olhou para Jaehwan da cabeça aos pés. Jaehwan olhou para si mesmo. Ele esqueceu que parecia um mendigo.
— O preço de um pedido do Meikal é bem caro. Você precisa dos materiais também…
— Eu tenho os materiais.
Os materiais eram os chifres dos monstros. Eles usavam aço e ferro, mas não havia material mais valioso que chifres dentro da Árvore da Miragem. Nenhum dos metais era tão leve e resistente quanto os chifres.
— Você tem um chifre?
Ele perguntou, com uma voz desconfiada. Os chifres que a <Queda do Crepúsculo> usava eram chifres de uma besta de dois chifres ou mais. Eles haviam produzido em massa armas que podiam ser usadas por Não Adaptados ou Adaptados do 1º estágio, então pedidos especiais com bestas de um chifre eram desnecessários.
— Só aceitamos chifres de bestas de dois chifres ou mais. Por que não escolhe uma das bainhas da produção em massa? Elas ainda são bem-feitas…
Jaehwan balançou a cabeça. Enquanto o aprendiz ficava vermelho de raiva, Jaehwan falou:
— Está falando da besta de dois chifres?
— Sim.
Jaehwan pegou a mochila dele e tirou o chifre. Era o chifre que ele conseguiu por matar o lobo. Depois de receber o objeto, o aprendiz olhou para o chifre por um bom tempo e começou a tremer.
“Quantos chifres essa coisa tinha…?!”
Ele havia treinado na <Queda do Crepúsculo> por bastante tempo, mas nunca tinha visto um chifre daqueles. O brilho do chifre negro e a resistência dele… Até mesmo a espessura era fascinante.
— Isso… É tão lindo…!
Ele percebeu que isso não era para ele decidir, ele precisava buscar o vice chefe imediatamente! Depois de olhar em volta por um tempo, ele parou. Havia dezenas de artesãos reunidos ao lado da fornalha central.
— Ah, ali está ele.
Antes que pudesse terminar, Jaehwan já tinha começado a andar. Ele foi seguido por uma Minora suspirando e um aprendiz com o chifre.
Meikal, o ferreiro vice chefe da <Queda do Crepúsculo>. Todos no Castelo de Gorgon sabiam o nome dele. Ele era o único ferreiro com o título de [Aprendiz] entre os humanos. O título era geralmente dado apenas a [Pesadelos]. Então mesmo que o título representasse a classificação mais baixa, era um grande feito para um humano ter um título desses.
— Eu sou um velhote agora.
Meikal se lembrou do dia que ganhou o título, dezenas de anos atrás. Um [Pesadelo] tinha vindo e falado com ele:
— Culpe a sua herança. Você nunca vai atingir uma classificação maior que [Aprendiz].
Ele não prestou atenção nessas palavras na época. O jovem Meikal, naquela época, achava que tinha tempo e paixão. Ele achava que conseguiria entrar em um mundo superior se tentasse. Ele praticava enquanto os [Pesadelos] dormiam, e estudava metalurgia enquanto os [Pesadelos] brincavam.
Mas à medida que ele enfrentava o crepúsculo de sua vida, ele sabia.
Era algo que não poderia ser alcançado, não importa o quanto ele tentasse.
— Acho que estive fazendo isso por tempo demais…
Meikal murmurou ao ver o chifre na frente dele. Era o chifre de um dos vice-líderes dos Dez-Clãs do <Caos>. Era para fazer uma espada e o trabalho já estava quase completo. A única coisa que faltava agora era dar o toque final.
“Preciso de um lugar para encaixar uma gema no centro do punho da espada.”
Moldar um chifre de uma besta de quatro chifres não era fácil, já que era muito resistente, era difícil parti-lo. Ele mal conseguiu criar a lâmina e moldá-la, mas aquele nível de sutileza não foi fácil.
[Criação], habilidade única dos [Pesadelos].
Quando ele se tornou um [Aprendiz], recebeu a habilidade do [Pesadelo]. Mesmo com essa habilidade, esculpir o chifre ainda não era fácil.
Meikal colocou-o de lado por enquanto. Precisava descansar antes de continuar. Depois que ele parou de trabalhar, artesãos rapidamente começaram a procurá-lo.
— Mestre, posso tentar…
— Me deixa tentar…
Meikal sorriu. Era bom ser jovem.
— Vocês deveriam treinar mais se quiserem trabalhar nesse aqui.
Meikal sabia que nenhum deles o superaria, mas a paixão deles o motivava. Tudo que ele podia fazer agora era garantir que a nova geração e os esforços deles fossem colocados no lugar certo.
— Ótimo. Se qualquer um de vocês conseguir fazer um buraco nesse chifre, seja quem for, vou deixar ser o vice chefe pelo resto do dia.
Ele estava dando a eles esperança de alcançar algo, mesmo que não fosse possível. Meikal achava que era seu trabalho dar essa esperança.
— Uau! Tá falando sério?
Os jovens artesãos atacaram os chifres e, obviamente, ninguém conseguiu. Até os que tinham um pouco de poder espiritual não conseguiram nem arranhar. Foi quando alguém disse:
— Deixa eu tentar.
Era um rosto desconhecido. Meikal olhou para ele de forma estranha enquanto se abanava contra o intenso calor da fornalha central.
— Não! Não pode fazer isso!
Então Meikal notou o jovem aprendiz correndo até ele, segurando alguma coisa. Ele era um jovem aprendiz que estava cuidando da entrada. Meikal perguntou:
— Naven, quem é ele? O que é isso que está segurando?
— Ah, isso…
Naven não sabia como responder. Ele olhou entre Jaehwan e o chifre, e Jaehwan respondeu no lugar dele:
— Precisa de um soquete nesse cabo?
Meikal estreitou os olhos. O homem parecia um mendigo, mas soava como um artesão experiente.
“Acho que ele é um jovem artesão viajante.”
Meikal balançou as mãos para fazer os outros artesãos se afastarem.
— Deixem-no tentar.
Era uma surpresa ver um homem com essa confiança na <Queda do Crepúsculo>, estando cercado de vários artesãos experientes.
No entanto, ele ainda era tolo.
O motivo pelo qual a <Queda do Crepúsculo> era famosa era por causa de sua classe. Meikal achou que era uma boa oportunidade para mostrar a esse jovem a diferença das classes. Então, ele ficou chocado.
“O quê?”
Parecia que o homem estava tentando cutucar um buraco com o dedo. Ele com certeza era louco. Meikal tinha ouvido que [Pesadelos] de alto nível podiam moldar os chifres sem nenhuma ferramenta, mas ele nunca tinha ouvido de um humano capaz de fazer isso.
“Se isso pudesse ser feito, eu não teria feito todas as…”
Com um grande estrondo, poeira explodiu para todos os lados. O som em si era como se todo o prédio tivesse desmoronado.
Meikal não sabia. Ele não sabia que era o som de todo seu trabalho ao longo da vida que estava prestes a se tornar inútil.
Quando a poeira baixou, eles conseguiram ver o pequeno buraco no cabo.
— O qu-qu-QUÊ?
Todos eles não conseguiam falar ou acreditar no que estavam vendo.
— Isso deve servir, né?
O homem ficou ali, com o dedo no cabo, girando-o. Meikal sentiu como se todo o seu mundo estivesse girando e perguntou:
— Quem é você?
Jaehwan achou cansativo ouvir essa pergunta agora e respondeu:
— Vice chefe.
Meikal então se animou um pouco. Se ele fosse um vice chefe de alguma ferraria, poderia ser um artesão habilidoso.
— Vice chefe de onde?
Jaehwan respondeu: — Queda do Crepúsculo.
Com essa resposta, alguns dos artesãos franziram a testa e gritaram com raiva:
— Para de brincadeira!
Entretanto, Jaehwan falou calmamente: — Não prometeu mais cedo?
Promessa? Todos ficaram confusos. Então, pensaram no que Meikal disse mais cedo. O rosto de Meikal estava pasmo. Jaehwan falou de novo:
— Durante o dia de hoje, sou o vice chefe da <Queda do Crepúsculo>.
E naquele momento, o chifre da besta de quatro chifres na mão de Jaehwan começou a quebrar. Meikal ficou pálido.
— N-NÃO!
O osso quebrou em pedacinhos e se transformou em pó. Jaehwan franziu a testa e murmurou:
— Droga. Achei que tivesse sido cuidadoso.