The World After The End
Capítulo 97: Caminho do Abismo (6)
Fazia uma semana desde que Sirwen conheceu o pequeno Jaehwan. Ela foi capaz de vê-lo dormindo perto dos esgotos e roubando comida de lojas de bebidas. Então, foi para um terreno mais alto para obter a recepção do Wi-Fi público.
— Quando uma passagem se abre, a recepção fica instável.
E quando uma passagem se abria, ele procurava partículas para recuperar.
Sirwen simpatizava com o menino. Mesmo que ela soubesse que este mundo não era real e era apenas uma parte de sua imaginação, ela ainda tinha que perguntar.
— Você está bem?
Com esta vida? Ela não conseguiu adicionar a última parte.
— Como assim?
O pequeno Jaehwan perguntou. Para ele, esse era o modo de vida normal. Não havia mais nada que ele precisasse.
— Você faz mais alguma coisa? Além de enviar de volta essas memórias.
— Hum…
O garoto parecia que nunca tinha pensado nisso. Sirwen achou que fez a escolha errada ao perguntar isso. Parecia cruel dar esperança a quem não conhecia a esperança. Então o menino falou.
— Eu vejo memórias.
— Memórias?
— Sim.
O menino tirou algo do bolso. Eram pedras brancas.
— Eu não mando todas as memórias de volta.
Sirwen percebeu que eram partículas de memórias. Ela perguntou,
— Você pode fazer isso? Não vai causar problemas?
Jaehwan balançou a cabeça.
— Deve ficar tudo bem. Não é tão importante.
— Como você sabe disso?
— Por causa da cor.
Segundo ele, as memórias diferem nas cores branco, verde, azul e vermelho, nessa ordem de importância. As memórias brancas não eram realmente importantes. Enquanto o menino acariciava a pedra, as memórias dispararam como uma imagem de holograma.
Era a memória onde a mãe de Jaehwan o segurava quando ele era jovem.
[Eu vou ler esse livro para você hoje.]
Era um livro famoso que até Sirwen conhecia. Foi incluído nos [Duzentos livros recomendados para criar uma boa torre].
“Era… Algo… Com um príncipe, eu acho…”
Ela então começou a se concentrar na mãe.
[Então, o Pequeno Príncipe foi para a Terra?]
[Sim ele foi.]
Era sobre um príncipe. Um Pequeno Príncipe que vivia no asteroide B612 desceu à Terra.
[Então, o Pequeno Príncipe disse.
— Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos.]
O Pequeno Príncipe acreditava no poder da imaginação, ou no poder de olhar para as coisas importantes ocultas da vista de todos. Mas Sirwen sabia o fim da história.
Não havia como o Pequeno Príncipe viver sem aceitar o que estava à sua frente. Então, para terminar a história, o Pequeno Príncipe teve que morrer. A única maneira que ele poderia manter sua inocência era através da morte.
[Mas o que acontece com o mundo depois que o Pequeno Príncipe vai embora?]
O menino perguntou.
[Hã?]
Sua mãe ficou surpresa. Era uma pergunta que nunca havia sido feita antes em um mundo onde as pessoas não se importavam.
[O mundo que o Pequeno Príncipe deixou para trás.]
[Hmm…]
[Quem salva esse mundo então?]
Sirwen ficou em silêncio.
[Esse mundo é…]
A jovem mãe ponderou. Qual seria a melhor maneira de evitar que a criança se machucasse?
[Claro, o Pequeno Príncipe vai salvá-lo.]
[Mas ele está morto.]
[Não, ele não está morto.]
Então, veio a história. Uma mentira inventada por um adulto para o bem da criança.
[Ele vive na Terra.]
Ela alegou que o Pequeno Príncipe não havia morrido e ainda estava vivo para salvar o planeta. Era uma mentira, uma história falsa. Mas a criança ouviu atentamente como se realmente acreditasse naquilo.
Sirwen então percebeu que a história era a base de sua vida.
No momento seguinte, ela sentiu seu coração afundar.
Por que essa memória era uma cor ‘branca’? Por que essa memória era ‘sem importância’?
Este homem… Até que ponto ele havia desistido da vida?
Nesse momento, um receptor WiFi à distância começou a fazer barulho. O pequeno Jaehwan levantou-se imediatamente.
— Encontramos.
— Hã?
— A saída para você.
No topo de um arranha-céu havia um buraco estranho. O pequeno Jaehwan e Sirwen olharam para o buraco e então ele falou.
— Eu chamo aquele lugar de ‘porta de cachorro’.
— Porta de cachorro?
Era um nome estranho, mas era meio compreensível. Uma porta de cachorro era pequena demais para adultos normais passarem. Sirwen se sentiu um pouco mal com a ideia de deixar o local. Foi estranho, porque ela odiou muito quando foi presa pela primeira vez.
— Eu teria ficado mais aqui com você se tivesse mais tempo.
— Não preciso disso.
Sirwen então perguntou novamente:
— Mas você gostava de me ter por perto, certo?
Ele não respondeu. No entanto, Sirwen gostou do silêncio. Foi a melhor resposta positiva que o menino poderia dar.
— Temos que subir até lá. Acho que temos que chegar ao telhado.
Ambos começaram então a subir as escadas do arranha-céu. A ‘porta de cachorro’ não ficaria aberta por muito tempo. Sirwen ofegou enquanto corria.
— Você é rápido sendo tão jovem assim.
— Eu não sou jovem.
— Quantos anos você tem então?
— Esqueci.
Sirwen então perguntou novamente.
— Quantos anos você acha que eu tenho?
— Por volta de dois mil.
É meio irritante de ouvir, mesmo que seja verdade.
— Todas as pessoas de fora vivem tanto tempo?
— Com certeza não.
— Mas eles se tornam adultos, certo?
Sirwen não conseguiu responder; ela queria negar. Queria dizer que havia alguns que se tornaram adultos por fora, mas permaneceram jovens por dentro.