Tokyo Ravens – Volume 5 – Capítulo 3 - Anime Center BR

Tokyo Ravens – Volume 5 – Capítulo 3

Capítulo 3: Conferência das Seis Pessoas

Tradução: Index Novel

 

PARTE 1

Um edifício cobria o horizonte e o sol afundava gradualmente no lado oposto.

Em um canto de Shinjuku Kabukicho, um pequeno beco fora selado com magia para que nenhum pedestre normal passasse por ele. O sol laranja tingia a cena ao redor, fazendo passar a sensação equivocada de que estivesse desacelerando o tempo.

O breve período em que o dia e a noite mudavam, Omagatoki.

“… Comecem.”

Um homem silenciosamente ouviu o breve comando que vinha de seu fone de ouvido. Uma van grande estava parada no beco e o homem estava sentado no assento da van, esticando os pés pelo corredor estreito.

Esse homem poderia ser descrito com uma palavra, que era inauspicioso.

Ele era jovem, com cerca de vinte anos de idade. Seu corpo era magro e exalava um ar orgulhoso como se tivesse sido esculpido com uma faca. Ele tinha uma cabeça de cabelos curtos tingidos de prata, e suas orelhas eram perfuradas com muitos brincos.

Um casaco de pele era complementado por jeans, e óculos de sol cujas lentes eram revestidas com película prateada obscureciam a expressão em seu rosto. Seu sorriso descontroladamente arrogante e zombeteiro parecia ter sido esculpido em seus lábios como uma marca, e a cicatriz em X na testa fazia os espectadores tremerem ainda mais.

Ele era um exorcista independente – Kagami Reiji dos Doze Generais Divinos.

Kagami cruzou os braços, sentando-se no banco e se concentrando em ouvir a mensagem que vinha de seu fone. Um olhar penetrante saia dos olhos por baixo dos óculos de sol, passando pela janela do carro e olhando atentamente para o prédio que enfrentava.

Usando sua habilidade de espírito-vidente, Kagami via a aura de pelo menos várias pessoas entrarem no terceiro andar, no quarto andar e no quinto andar. Essas pessoas possuíam uma aura estranha e anormalmente forte. As pessoas no prédio que notaram que havia ameaças invadindo – também possuíam fortes auras – apressadamente contra-atacaram.

Energia mágica se espalhou, formando magias uma após a outra, ataque e contra-ataque.

Uma batalha mágica.

Havia um grupo de praticantes lutando no prédio em frente a ele.

Não muito tempo depois, o som de vidro quebrando, de coisas caindo no chão, gritos, rugidos furiosos, e o som de encantamentos sendo recitados chegaram até fora do prédio. Os oponentes estavam resistindo obstinadamente, e os relatórios que chegavam ao seu fone ficaram cada vez mais agitados.

Mas…

“… Nós não conseguimos nada.” Kagami murmurou, bufando com o nariz.

“Uh… Reiji? Não vamos? Se não formos logo, a ação terminará.” Uma voz trepidante soou, educadamente perguntando a Kagami.

Além de Kagami, havia também uma outra pessoa na van. Aquela pessoa sentara-se no banco em frente a Kagami, olhando para o prédio sem piscar, o rosto quase colado na janela do carro.

Aquela pessoa era um jovem magro e esbelto, o cabelo comprido amarrado atrás do pescoço, com uma aparência delicada que pareceria uma linda garota a princípio. No entanto, ele soltou um ar infantil de seu corpo, parecendo um garoto simples e fraco.

O jovem sentou-se desconfortavelmente no banco estreito, as mãos segurando um pacote fino no peito. Era uma bolsa de espadas usada para segurar uma katana.

“Hey, Reiji.” Ele virou a cabeça para olhar para Kagami, continuando a gritar. “Você não vai? Então eu deveria ir sozinho?”

Sua voz era aguda, seu tom como uma criança implorando a seus pais que o deixassem sair e brincar. Embora ele tivesse pedido pacientemente, Kagami não lhe dera atenção. Quando ele impiedosamente insistiu novamente, Kagami silenciosamente dobrou a perna estendida, então chutou com força o assento do jovem por trás com um estrondo.

O jovem recuou de susto, momentaneamente desanimado e olhando através do banco para Kagami com um olhar que parecia entediado.

O interior da van afundou em silêncio novamente. O barulho vindo de fora da van – do prédio que se tornara um campo de batalha – ficou ainda mais claro. O jovem voltou a olhar para fora da janela.

A batalha mágica no prédio ainda continuava, mas parecia decidida. A julgar pelas reações, o grupo de pessoas no prédio que originalmente vinha resistindo firmemente estava claramente tendo cada vez mais dificuldade em encarar o desafio.

Pouco tempo depois, a porta do lado do motorista da van se abriu.

Um jovem vestindo um terno entrou na van. Sentou-se no banco do motorista, fechou a porta e voltou seu olhar para o espelho que refletia Kagami.

“Acabou. Não tivemos baixas, e ninguém do outro lado foi morto, mas…” O jovem relatou com um tom calmo, um sorriso irônico nos lábios. “Nós especialmente incomodamos um oficial independente, fazendo-o vir aqui, mas acabou sendo um desperdício. O incidente desta vez não tem nada a ver com D.”

O jovem relatando sobre a situação atual para Kagami se chamava Hirata Atsune. Ele era afiliado ao Departamento de Investigação de Crimes Mágicos da Divisão de Segurança Pública da Agência Onmyou – os Investigadores Mágicos.

No mês anterior, um membro do Sindicato dos Chifres Gêmeos provocou ataques terroristas com Desastres Espirituais em vários locais da cidade. Os Investigadores Mágicos haviam recebido informações sobre os restos daquele grupo há dois dias, e Hirata, responsável pela investigação do Sindicato dos Chifres Gêmeos, conduzira imediatamente uma investigação secreta, confirmando a autenticidade da inteligência, encontrando o esconderijo dessas pessoas, e planejando esse ataque.

Durante o plano, desta vez, eles se preocuparam mais com um certo Onmyouji que havia se mostrado relacionado a todo o incidente dos ataques terroristas anteriores – e que acabaram aparecendo no final da sequência de eventos conhecidos na comunidade mágica. como a Grande Repurificação Hinamatsuri.

Um misterioso Onmyouji que os Investigadores Mágicos chamavam de D.

A existência do Onmyouji D já havia sido confirmada há muito tempo, mas sua verdadeira identidade sempre fora um mistério. Embora eles tivessem recebido informações muitas vezes que ele se chamava Ashiya Doman, infelizmente a verdade por trás dessa informação não pôde ser verificada. Tudo o que eles sabiam como verdadeiro era que D era de fato um Onmyouji com um poder bastante forte e que ele era frequentemente próximo do Sindicato dos Chifres Gêmeos.

Os Investigadores Mágicos viam D como um indivíduo de alto risco, e o localizavam e investigavam há muitos anos. Como D tinha sido excepcionalmente ativo recentemente, os Investigadores Mágicos solicitaram especialmente a assistência de um Exorcista Independente do Bureau de Exorcismo como salvaguarda contra uma intervenção de D ao ataque. O Bureau de Exorcismo concordou com este pedido, enviando Kagami para se juntar à operação de ataque.

No final, D não interveio na operação. Os Investigadores Mágicos tinham julgado originalmente que a probabilidade não era alta, mas não estava fora de suas expectativas.

“Desculpe por incomodar você e o ter feito vir aqui, mas graças à sua ajuda, a operação foi bem sucedida. Deixe-me expressar sincera gratidão em nome dos Investigadores Mágicos.”

Hirata agradeceu Kagami, sua voz séria e seu olhar não deixando o espelho retrovisor.

Sua aparência honesta e sincera não era como um Onmyouji, mais como um padre ou pastor. No entanto, os olhos refletidos no espelho retrovisor eram afiados, mostrando uma vontade firme. Um fio vermelho de cabelo estava misturado em sua franja arrumada, extremamente atraente.

No entanto, Kagami parecia não prestar atenção a Hirata. Ele ficou em silêncio, nenhuma mudança na expressão visível em seu rosto. Os dois ficaram calados, mas o jovem que carregava a sacola de espadas olhou timidamente entre os dois.

Um leve sorriso irônico apareceu no rosto de Hirata novamente.

“Chefe Amami tinha algo para me dizer. Ele esperava que você também viesse vê-lo.”

Kagami finalmente estalou sua língua ao ouvir essas palavras.

Quando ele entrou pela primeira vez na Agência Onmyou, Kagami fizera parte dos Investigadores Mágicos por um tempo, então o Chefe dos Investigadores Mágicos, Amami Daizen, contava como seu antigo chefe.

Kagami dobrou seu corpo, levantando-se do assento.

“Estou saindo, se você não tem mais nada.”

“Por favor, deixe-me levá-lo até lá.”

“Eu não preciso disso.”

Ele falou bruscamente, indo até a porta e abrindo-a. Hirata finalmente disse as palavras ‘Obrigado pelo seu trabalho’, mas Kagami nem olhou para ele, saindo da van.

O jovem carregando a sacola de espadas apressadamente seguiu-o, olhando para Hirata, mas deixando a área com Kagami sem dizer nada no final.

A porta se fechou sozinha.

“…”

Hirata calmamente estendeu a mão para o espelho retrovisor, ajustando o ângulo e observando as costas de Kagami no espelho enquanto ele saia.

Ele ficou em silêncio, pensando, seu olhar permanecendo atento ao espelho.

 

 

Kagami caminhava pela noite de Kabukicho.

Os pedestres que passavam por ele não ousavam se aproximar, mantendo-se o mais longe possível. Mesmo que eles não soubessem que ele era um praticante, eles ainda poderiam sentir o ar não auspicioso que ele carregava. Mesmo se estivessem interessados, sentiam medo só de olhar para ele.

O jovem que estava na mesma van que Kagami seguia atrás dele. Havia cerca de cinco ou seis passos de distância entre os dois.

Quando os dois ficavam assim, podia-se ver que o jovem era ainda mais alto que Kagami. Como seu tipo de corpo era esbelto, ele parecia um caule de bambu, e na verdade ele tinha 1,9m de altura, com um corpo bastante magro.

Mas seus ombros caíam e suas costas estavam curvadas, então sua presença era muito menos forte do que Kagami que andava na frente dele. Além disso, comparado a Kagami que estava vestido de forma atraente, ele só usava jeans e uma camisa simples. Ele cuidadosamente segurava a bolsa de espada o tempo todo.

Ele olhou para as costas de Kagami como se estivesse fazendo isso para mostrar sua irritação, reclamando: “… Ei, Reiji. Como as coisas se tornaram diferentes do que foi dito no começo?” Seu tom parecia infeliz. “Eu não tive a oportunidade de fazer nada em muito tempo… Você não precisa de mim para esse tipo de situação…”

“…”

“Realmente, eu estava feliz por nada. Reiji, você mudou muito desde que você conseguiu essa cicatriz em X.”

“…”

“Ahh, que estupidez, estou tão desapontado.”

“…”

O jovem tagarelava, reclamando continuamente. Embora ele baixasse a voz, não era tão baixo que não chegasse aos ouvidos de Kagami, mas Kagami não tinha nenhuma intenção de se virar.

Assim, o jovem reclamou cada vez mais vigorosamente, criticando abertamente o comportamento de Kagami, dizendo coisas como ‘Reiji é tão frio’, ‘Reiji é tão mau’, se deixando levar pela insatisfação que normalmente lhe provocava. A expressão em seu rosto tornara-se cada vez mais confiante.

“Além disso, você é muito arrogante…”

“… Shaver.”

 

 

Ao ouvir repentinamente seu próprio nome, o jovem Shaver parou às pressas. Olhando para frente, ele viu que Kagami, que andava à sua frente, também havia parado e se virado, olhando para trás.

Kagami enfiou a mão direita no bolso, curvando o dedo indicador para chamar Shaver. O rosto de Shaver se iluminou, como um filhote sendo chamado para o lado de seu dono, e se apressou…

E fora atingido.

Kagami casualmente balançou o punho. Shaver segurou a cabeça, tremendo no chão em uma genuflexão e incapaz de sequer gritar. Kagami retirou a mão direita, colocando-a no bolso, depois levantou o pé direito, chutando a cabeça de Shaver com a sola de suas botas e mandando-o voar para longe.

Os pedestres que passavam ficaram chocados, olhando para os dois. Shaver – ainda segurando firmemente a bolsa de espadas – soltou gritos lamentosos e tristes, caindo sobre o cimento.

“Is… Isso é demais! O que você está fazendo, Reiji!”

“… Sama.”

“O quê? O que você está dizendo? Ah! Não… Não! Por… Por favor, não me chute! Deixe-me ir, Reiji. Por… Por favor, não me chute, eu estou te implorando, Reiji-sama!”

Shaver implorou amargamente e chorando, e Kagami finalmente parou, silenciosamente se virando e se afastando. Shaver gemeu baixinho, mas finalmente se levantou enquanto sentia o nariz, perseguindo Kagami.

Os pedestres observaram o par sair, atordoados. Nenhum deles notou que, quando Shaver fora atingido, seu corpo – seu contorno – imediatamente se distorceu e a interferência passara por seu corpo. Claro, ninguém lá provavelmente sabia que era um fenômeno chamado lag.

Shaver rapidamente acompanhou Kagami, andando atrás dele novamente. A distância entre os dois estava ainda mais próxima do que antes. Shaver olhava choroso para Kagami, resmungando ressentido.

“… Ei, Reiji… sama? Você poderia ter esquecido que você usa um monte de anéis tão duros quanto pedras em suas mãos? Honestamente, esses anéis são armas, eles são como soqueiras. Se você batesse em outra pessoa com isso, ela poderia ter morrido.”

“Você não pode morrer de qualquer maneira.”

“Não, não, não! Esse não é o problema! Estou te avisando, não faça aleatoriamente ataques mortais!”

“Não haveria problema se você obedientemente calasse a boca e não dissesse nada estúpido.”

Reiji falou com extrema frieza. Shaver franziu a testa, olhando indignado para suas costas.

Então, como se tivesse um lampejo de epifania, Shaver perguntou: “Será que você está realmente muito aborrecido porque aquela pessoa D não apareceu?” Ele obviamente não tinha aprendido uma lição ao ser espancado agora.

Como sempre, Kagami não respondeu imediatamente, mas não o ignorou.

“Hmph…” Ele riu friamente. “Eu já sabia que essa pessoa não apareceria. Embora eu não tenha certeza do que o motiva, pelo menos o lugar agora não tem esse tipo de atmosfera.”

“Atmosfera?”

“… Minha intuição me diz. Por exemplo, da última vez… Depois de lidar com os Nue, várias pessoas que deveriam ser iscas interessantes se reuniram.” Kagami falou friamente, como se estivesse falando sozinho, em vez de explicar para Shaver. “De qualquer forma… Mesmo que essa pessoa aparecesse, seria apenas uma briga… Mas é melhor para mim se ele se esconder nos bastidores por enquanto.”

“Por quê?”

“Os cães são comidos depois que as lebres acabam – isso é plausível. Além disso, o oponente é um animal selvagem, não uma lebre, então não havia escolha a não ser soltar o colarinho deste cão louco.”

“… Eu não entendi nada, o que exatamente você está dizendo?”

“Eu estou falando de você.”

“Eu?”

Shaver perguntou de volta, com os olhos arregalados. Kagami olhou por cima do ombro, para Shaver – o Shikigami que ele usava – e mostrou um sorriso.

Pelo fato de Kagami ter recebido permissão para convocar Shaver, ficara evidente quão seriamente os Investigadores Mágicos – junto com os superiores da Agência Onmyou que aceitaram o pedido dos Investigadores Mágicos – viram a existência de D. Assim, eles haviam especialmente retirado a proibição – embora tivessem acrescentado limitações – e permitiram que ele usasse o Shikigami como um método de se opor ao D.

O fator mais importante para tal mudança fora que durante o término do ataque terrorista com Desastres Espirituais no mês anterior, Kagami e o exorcista independente Kogure Zenjirou cruzaram com D. Os dois Generais Divinos tinham verificado a existência de D em primeira mão, e eles expressaram que a força do oponente não era algo para se desprezar. Isso forçou a Agência Onmyou a tomar contramedidas urgentes e definitivas, e, embora compreendessem os riscos, só podiam permitir que Kagami usasse Shaver como último recurso.

“… Então, nós não precisamos colocar todo o nosso esforço em caçar essas bestas selvagens. Pelo contrário, devemos aproveitar esta oportunidade para aumentar nosso poder de barganha.”

“Poder de barganha?”

“Aumentando as cartas em nossas mãos… Certo, eu ainda deveria retaliar apropriadamente aquele professor bastardo.” Ele falou baixinho, matando sob os óculos escuros a intenção assassina tão afiada quanto uma lâmina.

Quando Kagami e Kogure viram D, havia também outro General Divino presente. Essa pessoa era um ex-Investigador Mágico – portanto, um antigo colega de Kagami – um Onmyouji chamado Ohtomo Jin. Na época, Ohtomo havia colocado uma maldição nele para limitar as ações de Kagami.

Depois disso, Kagami fez uma investigação completa, verificando que a maldição que Ohtomo colocara era apenas magia de segunda classe – também conhecida como blefe.

Kagami tinha notado desde o início que a maldição de Ohtomo provavelmente era um absurdo, mas Kagami sabia muito bem que tipo de pessoa era Ohtomo, então ele não podia afirmar que a maldição era 100% um blefe. Assim, mesmo que acreditasse que 99% eram inofensivos, ele só poderia recuar.

Simplificando, Kagami tinha sido derrotado. Eles apostaram suas vidas e realizaram um truque envolvendo vida e morte. Como Ohtomo tinha conseguido o melhor dele, Kagami naturalmente se recusou a deixá-lo descansar e obedientemente admitir a derrota. Além disso…

“… Não deveria ser apenas D quem quer provar essa isca…” Ele pensou nas pessoas de antes – os alunos da Academia Onmyou que Ohtomo havia tentado proteger.

Tsuchimikado Natsume.

Tsuchimikado Harutora.

Ato Touji.

Não só os dois primeiros nasceram da famosa família Tsuchimikado, mas o sucessor da família, Tsuchimikado Natsume, era a reencarnação do grande Onmyouji Tsuchimikado Yakou, o ancestral da magia moderna e o culpado pela calamidade de Desastres Espirituais. Na verdade, os fanáticos por Yakou eram suspeitos de terem tentado encontrá-lo e contatá-lo diretamente duas ou três vezes.

A outra pessoa, Ato Touji, era um espírito vivo com um demônio alojado em seu corpo, e esse demônio era muito possivelmente o descendente que o principal suspeito Dairenji Shidou usara como recipiente durante o ataque terrorista com Desastre Espiritual na Grande Purificação Hinamatsuri. O demônio estava selado agora, e a pessoa que havia feito o selo era outro Tsuchimikado, o pai de Tsuchimikado Harutora.

O mais interessante de tudo é que ele ouviu que até a Prodígio dos Doze Generais Divinos havia entrado na Academia Onmyou para estudar. O nome dela era Dairenji Suzuka, a filha de Dairenji Shidou que fez Ato Touji se tornar um espírito vivo. Quanto mais ele pensava, mais ele sentia que o destino era bastante inconstante.

Depois de perguntar, ele tinha aprendido que a Prodígio entrar na Academia Onmyou era a vontade dos superiores da Agência Onmyou como punição pelo incidente que ela causou ao ano anterior.

Com isso, surgiu uma nova questão. A Prodígio, Dairenji Suzuka, tinha se especializado originalmente em pesquisar Onmyoudou Imperial, e o estilo Imperial foi fundado por Tsuchimikado Yakou, o sistema de magia fundacional do Onmyoudou moderno. Até mesmo o incidente que ela causou foi baseado nessa pesquisa – em outras palavras, fora um incidente relacionado a Yakou.

Já que havia tal conexão, por que os superiores decidiram que ela entrasse na Academia Onmyou onde Natsume, supostamente a reencarnação de Yakou, estava? Dizia-se que era um castigo simples, mas na verdade era para provocar o próximo incidente – preparando o palco para deixá-la pesquisar mais.

“… Mas, para ser honesto, Dairenji Shidou também pertencia aos fanáticos do Sindicato dos Chifres Gêmeos que adoravam Yakou.”

Dairenji Shidou fora quem provocou o primeiro ataque terrorista com Desastres Espirituais, fazendo com que os fanáticos por Yakou fossem notórios culpados na comunidade mágica. Por que a Agência Onmyou deixaria a filha de tal homem pesquisar Onmyoudou Imperial? Mesmo que ela não fosse autorizada a ficar na linha de frente e tivesse que fazer pesquisas nos bastidores por ser menor de idade, ainda era difícil entender por que ela tinha permissão para realizar pesquisas relacionadas a Tsuchimikado Yakou.

“… É muito suspeito.”

Agora, essas pessoas tinham um fardo que nem eles conheciam. Era como se as pessoas esperassem que elas produzissem algum tipo de mudança ao esbarrarem umas nas outras. Mais importante ainda, Ohtomo – um ex-General Divino – tinha se tornado professor depois de se demitir do trabalho da Agência Onmyou.

Academia Onmyou.

Agora, aquele lugar se tornara o lugar mais interessante para Kagami. Ele acreditava que isso também era verdade para D e para a Agência Onmyou. Qualquer pessoa da indústria que estivesse bem informada e que tivesse bom senso definitivamente trataria a Academia Onmyou como um objeto de grande interesse.

“…”

Kagami continuou a ponderar. O cérebro astuto por trás de sua expressão orgulhosa estava fazendo várias suposições e continuando a investigar.

Shaver, que há muito tinha sido ignorado, olhou para o mestre de lado e disse em voz baixa: “… Reiji parece muito feliz.”

Depois de dizer isso, ele sorriu. O medo, a ansiedade, a fraqueza e a tristeza de antes não eram mais visíveis no sorriso. Era como se alguém pudesse vislumbrar uma escuridão profunda e sem fim debaixo de sua bonita aparência. Esse era o tipo de sorriso que ele revelou.

Shaver era o Shikigami de Kagami, e Kagami usava esse Shikigami como um escravo. No entanto, ninguém forçava Shaver. Ele mesmo tomara essa decisão, concordando em se tornar o Shikigami de Kagami.

Ele tinha visto que tipo de homem Kagami era e decidiu que só ele era adequado para ser seu mestre.

Enquanto caminhavam, os olhos de Shaver de repente se arregalaram e ele rapidamente se virou, olhando para um prédio ao longe do outro lado da rua como um cachorro ouvindo um som extraordinariamente alto que os humanos não podiam ouvir.

O corpo de Kagami também estremeceu, diminuindo o passo e reagindo. Ele olhou na mesma direção que seu Shikigami, estreitando os olhos aguçados debaixo dos óculos escuros.

“… Um Desastre Espiritual… Parece que é um Fase bem alto.”

Ele não podia ver a imagem completa porque o prédio o bloqueava, mas ele ainda podia ver a aura distorcida no chão à distância, sinais de que estava prestes a se transformar em miasma.

Havia um Desastre Espiritual acontecendo à distância. Parecia que já havia se desenvolvido em um Fase 2. Sua localização também era bastante complicada, bem em cima de um fluxo de aura. Depois de mais noventa minutos – ou talvez nem precisaria de tanto tempo – o Desastre Espiritual logo entraria em Fase 3.

“Está aqui de novo… esse mundo caótico”.

Desde o ataque terrorista com Desastres Espirituais no mês anterior, o fluxo de aura dentro de Tóquio fora perturbado, e a taxa de ocorrências de Desastres Espirituais havia acelerado. Atualmente, um Desastre Espiritual de Fase 2 não era mais incomum, e até um Fase 3 – Desastres Espirituais móveis – surgiam um após o outro.

Enquanto Kagami olhava friamente para o Desastre Espiritual ao longe, a reação de Shaver era completamente diferente da dele.

“Reiji.”

Seus ombros magros ergueram-se animadamente, e os olhos que olhavam para seu mestre mostravam expectativa e ansiedade. No entanto, Kagami apenas bufou, não se importando com ele.

“Quem se importa com um Desastre Espiritual, a Agência ainda não deu ordens.”

O tempo de trabalho já havia terminado há muito tempo e, hoje, ele até havia ajudado os Investigadores Mágicos. Ele já havia relatado antes de sair e tinha saído diretamente do trabalho depois que o incidente fora resolvido. Mesmo que o Desastre Espiritual tivesse acontecido mais perto, ele não tinha obrigação de ir purificá-lo.

“Vamos lá.” Kagami falou friamente e estava prestes a se afastar quando…

“… Reiji.” Shaver gritou para ele novamente, algo em sua voz parecia soar um pouco errado. As pernas de Kagami endureceram e ele rapidamente checou a aparência de seu Shikigami, notando que Shaver estava parado com a cabeça abaixada, os ombros tremendo constantemente. Os braços que seguravam a bolsa de espadas estavam constantemente estremecendo, a atmosfera claramente diferente de antes.

Ele murmurou com uma expressão vazia: “… Por que as coisas são diferentes do que você disse no começo? Não foi você quem me chamou para vir? Mas por que, por que eu tenho que sofrer? Eu não quero isso. Eu fico com você porque você precisa de mim. Se você não precisa de mim… Por que você me chama?” Seu espasmo se estendia a todo o corpo como se estivesse suprimindo desesperadamente os músculos que tentavam se mover sozinhos. Sua expressão vazia e rígida parecia a de um viciado em drogas.

Ele lentamente levantou a cabeça.

“… Não pode ser assim, certo, Reiji? Eu sou seu Shikigami… Você é meu mestre…”

Os olhos do Shikigami olhavam diretamente para Kagami, seu olhar preenchido com uma estranha sensação de fome. Kagami encarou o olhar de seu Shikigami de frente, como quando ele tinha enfrentado Ohtomo, soltando uma risada fria do fundo do seu coração como se ele estivesse brincando com a morte.

“… Isso é verdade.” Ele olhou para Shaver, respondendo prontamente, um sorriso selvagem e bestial emergindo em seus lábios.

“Tudo bem, vamos embora. Faz muito tempo desde que eu testei seu fio.”

PARTE 2

Pela noite, o imponente cume do Monte Fuji aparecia entre o céu escuro e a terra. O brilho do pôr-do-sol refletia-se no lago, que, inconscientemente, tornara-se azul escuro. O primeiro dia do currículo do treinamento de habilidades práticas terminara e os estudantes retornaram ao auditório onde estavam hospedados.

O jantar foi a cozinha local de Yamanashi, houtou. Era uma espécie de sopa espessa, onde macarrão udon, abóbora e outros vegetais eram cozidos com missô. Tinha um aspecto pegajoso único e sabor simples e delicioso. Mas o que mais os motivou fora o fato de que eles poderiam comer sem ter que trabalhar sozinhos. O dia de treinamento já os esgotara há muito tempo, e se tivessem de controlar novamente Shikigami neste momento para preparar o jantar para si mesmos, talvez não houvesse muitas pessoas que pudessem fazer uma refeição.

A atmosfera de acampamento do campo de treinamento de habilidades práticas da Academia Onmyou havia começado desde que eles haviam feito curry, e o conteúdo do currículo era tão difícil quanto os rumores alegavam. O assunto do curso não era usar magia de dificuldade alta, mas sim realizar um treinamento básico completo.

Por exemplo, recitar corretamente um encantamento cem vezes, ou liberar sua energia mágica mais forte no início e depois controlá-la, liberando gradualmente toda a energia mágica em um estado controlado. Eles passaram por treinamentos repetidos, chatos e difíceis, um após o outro.

O currículo dava especial importância à transformação de energia mágica. A quantidade, a distribuição e o tempo foram finamente regulados até o ponto em que até os efeitos da respiração e dos movimentos eram controlados. Embora o processo de transformar a energia mágica fosse apenas momentâneo, qualquer condição sutil poderia afetar o resultado. A imaginação era especialmente importante para isso e, portanto, o professor encarregado enfatizava a importância de compreender que tipo de estrutura a magia usada tinha.

Também havia treinamento tradicional como meditar debaixo de uma cachoeira, exercitar seu espírito e recitar encantamentos em um altar. Esses conteúdos eram mais como treinamento especial do que como exercício. Depois de todo o dia de aula, não importava cozinhar o jantar, havia algumas pessoas que não conseguiam engolir a comida.

“… Eu realmente subestimei o acampamento. Eu não achei que seria tão cansativo…”

“Sim… eu já estou sem energia.”

Harutora estava deitado sobre o tatame em seu quarto depois de jantar.

Havia um tempo determinado para tomar banho depois de comer. Os estudantes podiam essencialmente fazer o que quisessem antes de dormir, mas mesmo nessa rara viagem, não apenas eles não estavam com vontade de se divertir, os outros alunos estavam tão quietos e mortalmente cansados.

Natsume sentou-se ao lado de Harutora. Ela exalou.

Natsume tinha o maior poder da turma, mas até ela também acreditava que o currículo do campo de treinamento era mais difícil do que imaginava. Mas, comparada aos outros alunos, parecia relativamente à vontade e, como fizera um treinamento relacionado à magia desde que era pequena, parecia adepta do conteúdo desse currículo.

Havia também outra razão pela qual ela poderia estar à vontade.

“… Mas como eu devo dizer, é uma sorte que a Suzuka não tenha tido energia à tarde para vir e causar problemas. Essa é a única razão pela qual conseguimos ter uma tarde tranquila…” Harutora sorriu ironicamente, falando baixinho.

Natsume também inadvertidamente sorriu ao ouvir essas palavras, dizendo: “Sim.”

O campo de treinamento de habilidades práticas não era originalmente planejado para os primeiro-anistas, mas ela viera especificamente de Tóquio para participar do acampamento. Eles tinham se preparado há muito tempo, achando que ela iria se comportar mal, mas no final ela não tinha feito nada, então eles também estavam relaxados.

“Mesmo que ela seja incrível, ainda é difícil para ela seguir o currículo.”

“Sim… Mesmo que ela seja uma Onmyouji Nacional de Primeira Classe, ela ainda é mais jovem que nós, e o currículo de hoje foi um teste de resistência, bem como mentalmente estressante.”

Suzuka não tinha ido incomodar os dois durante o treinamento ou pelo jantar. A julgar por isso, talvez a situação fosse como Natsume dissera e ela estava mortalmente cansada também. Ela provavelmente dormiria nos quartos das garotas esta noite, então ela provavelmente não incomodaria Harutora e Natsume novamente pela noite.

“Tudo o que resta é tomar banho e dormir… Ah! Natsume, como você vai tomar banho…?” De repente, Harutora pensou no assunto, dobrando o corpo e lançando um olhar inquisitivo para Natsume.

Natsume e Harutora moravam no dormitório masculino, e normalmente ela sempre tomava banho de maneira sorrateira usando chuveiros individuais. Embora este auditório fosse completamente mobiliado no aspecto de acomodações, os móveis para banho eram, infelizmente, apenas grandes balneários separados por gênero.

Natsume riu embaraçada ao ouvir a pergunta de Harutora, evitando cuidadosamente que os outros alunos ouvissem o que ela dizia.

“… Eu trouxe o Shikigami simples de antes.”

“O de antes… Você se refere ao Shikigami dublê?”

“Sim, mas na verdade não há razão para se arriscar usando o Shikigami. Eu simplesmente não vou me banhar hoje.”

“Eu… Eu acho que isso é muito mais seguro.”

Natsume realmente queria muito lavar o suor de seu corpo, mas ela era uma garota posando como um garoto, então ela não podia arriscar esse tipo de perigo.

“De qualquer forma, é só um dia, vai acabar se eu aguentar um pouco.”

Natsume segurou os joelhos dela com as mãos, sorrindo ligeiramente para Harutora, que estava deitado no chão. Harutora gaguejou uma resposta: “Sim…”

Desde que há muito se acostumara a isso em sua vida cotidiana, quando se deparava com esse tipo de momento fora dos dormitórios, isso o lembrara dos vários inconvenientes da vida de Natsume e o fez simpatizar por seu azar. Ele acreditava que Natsume definitivamente encontrara um pouco de problemas em lugares que ele não havia notado também.

Enquanto Harutora pensava nessas coisas, Touji entrou no quarto.

“Harutora, Natsume, venham aqui um pouco…” Ele chamou Harutora e Natsume assim que viu os dois, desaparecendo no corredor à frente deles. Harutora e Natsume olharam um para o outro sem entender. De qualquer forma, ainda havia um pouco de tempo até a hora do banho, então os dois se levantaram em uníssono, saindo do quarto e correndo atrás de Touji.

“O que foi, Touji?”

“Eu tenho algo para falar com você.”

“Algo para falar? Ah, poderia ser o seu novo selo?”

“Isso está incluso, claro… Venha comigo primeiro.”

Touji respondeu casualmente a Harutora e Natsume, avançando rapidamente pelo corredor. O cansaço e a exaustão do acampamento do dia não podiam ser sentidos pela velocidade da sua caminhada.

Touji saiu do auditório, trazendo Harutora e Natsume pelo pátio e andando para trás do auditório.

Havia uma floresta atrás do auditório. Estava escuro em toda parte, e eles só podiam ver o chão debaixo de seus pés pela fraca iluminação do luar e a luz que saía do auditório. O sol estava por trás das montanhas, o ar também se tornara frio, apenas a grama exalando o calor que absorvera durante o dia. O barulho do auditório gradualmente se tornou distante, e o que soava como corujas vinha da montanha atrás do santuário.

Depois que eles caminharam um pouco mais para a floresta, viram um armazém cercado por paredes brancas. Harutora e Natsume foram trazidos ao lado do armazém.

Eles originalmente pensaram que os três estavam falando secretamente, mas…

“O que? Kyouko, Tenma… E… Suzuka também?”

Kyouko, Tenma e Suzuka já haviam se reunido no armazém. Kyouko e Tenma pareciam ter sido chamados inexplicavelmente, assim como Harutora. Eles olharam para Touji, confusos como se pedissem uma explicação. Por outro lado, Suzuka sentou-se junto com Kyouko e os outros, mas não adotou a mesma atitude de sempre ou fingiu que era uma ídolo. Ela se inclinou na parede branca do armazém, olhando para Touji com um olhar frio.

“… Por que todos estão reunidos aqui?” Harutora não pôde deixar de questionar Touji, que parecia ter chamado a todos aqui.

“Essas são as pessoas com as quais estamos mais familiarizados. Quero aproveitar essa oportunidade para organizar as informações que todos conhecem.” Touji encolheu os ombros, depois olhou para Kyouko e Tenma. “Deixe-me checar novamente. Kyouko, Tenma, não há nada de bom em se envolver com esse assunto. Mesmo assim, vocês têm certeza que querem se juntar?”

Touji perguntou calmamente, seu tom como sempre. Kyouko e Tenma não entraram em pânico ao ouvi-lo falar para confirmar, mas Harutora e Natsume estavam confusos.

“Tou… Touji?” Natsume advertiu-o discretamente, mas Touji acenou levemente a mão como resposta, aparentemente querendo que Natsume relaxasse e o deixasse lidar com as coisas.

Kyouko e Tenma se entreolharam, acenando para Touji.

“… Isso está relacionado ao Natsume-kun também, certo? Além disso, é um pouco insensível fazer esse tipo de pergunta agora, você deve se apressar e chegar ao tópico principal.”

“O que Kurahashi-san diz é verdade. Embora eu não saiba que tipo de assunto é… Eu concordarei com isso, qualquer que seja o pedido.”

Os dois estavam claramente um pouco tensos, mas não demonstraram hesitação. “Vocês são realmente uma grande ajuda.” Touji sorriu, agradecendo sinceramente.

Finalmente, ele confirmou com Suzuka: “… Dairenji, e você? Certo?”

“Vamos lá, não é irritante continuar perguntando repetidamente?” Suzuka soltou essas palavras fria e grosseiramente.

Kyouko e Tenma ficaram surpresos, virando-se para olhar para Suzuka, mas ela não se importou nem um pouco. Até mesmo Harutora e Natsume ficaram estupefatos com a mudança repentina de Suzuka.

“… Touji? O que exatamente está acontecendo?” Harutora não resistiu e perguntou.

“… Hmm.” Mas Touji ainda parecia hesitante sobre por onde começar. “Certo, eu vou direto ao assunto e deixarei tudo claro. Primeiro – já que conseguimos reunir todos aqui, eu vou primeiro deixar vocês verem minha linda transformação.”

“Transformação?” Harutora, Natsume, Kyouko e Tenma disseram curiosamente em uníssono.

Na frente de todos os olhares atônitos, Touji calmamente – e aparentemente feliz – tirou a bandana da testa.

 

 

Eles tinham alguns assuntos para ordenar. Mesmo entre as coisas que todos deveriam saber, eles ainda precisavam confirmar o reconhecimento e a compreensão um do outro.

Um exemplo era o boato de que Natsume era a reencarnação de Yakou. Kyouko e Tenma sempre evitaram tocar nesse assunto, mas agora isso se tornara uma preocupação desnecessária.

Cada pessoa suplementou suas próprias descrições e esclareceu a sequência de eventos para outras coisas, como o fato de que Natsume estava sendo observado por fanáticos por Yakou e pelo ataque terrorista com Desastres Espirituais ocorrido dois meses antes. Eles examinaram os incidentes que aconteceram.

Uma vez que o nome Ashiya Doman fora mencionado, até mesmo Kyouko e Tenma não puderam deixar de rir, não assumindo como real. Suzuka então explicou o caso que os Investigadores Mágicos tinham designado como D, e seus rostos mudaram depois de ouvir, suas expressões se tornando ainda mais graves do que antes.

Kyouko e Tenma, que não tinham conhecimento sobre a verdadeira natureza de Suzuka, ficaram extremamente surpresos com o conteúdo da conversa. O comportamento de Suzuka os chocou muito. Eles pulavam toda vez que Suzuka falava um pouco grosseiramente, como se tivessem tocado em uma batata quente, incapaz de decidir que tipo de atitude deveriam usar para lidar com ela.

Suzuka não tomou nota das reações do par, continuando a falar com uma atitude fria.

“Todos tomam os fanáticos por Yakou como o mesmo grupo de pessoas, mas na verdade nem todos são tão extremos. Além disso, existem muitos praticantes que reverenciam e adoram Yakou. Na verdade, antes do ataque terrorista com Desastres Espirituais que aconteceu dois anos atrás houve alguns praticantes que afirmaram publicamente as conquistas de Yakou.”

A maioria das pessoas geralmente consideravam Yakou como a causa principal da calamidade de Desastres Espirituais em Tóquio – a maioria das pessoas aqui significa pessoas que tinham mais ou menos algum conhecimento relacionado à magia – e, portanto, todos fizeram de Yakou um flagelo.

Mas, ao mesmo tempo, Yakou era um gênio Onmyouji, e ele havia estabelecido as bases para o Onmyoudou Geral, que representava a magia moderna. Aos olhos daqueles que aspiravam a aprender Onmyoudou, ele era sem dúvida um grande homem que havia deixado para trás um legado.

“Dois anos atrás, desde que uma seção de fanáticos por Yakou organizou um ataque terrorista com Desastres Espirituais, as pessoas que cegamente adoravam e reverenciavam Yakou foram rotuladas como perigosas. Os fanáticos por Yakou que você fala se referem àquelas pessoas. O principal suspeito do ataque terrorista que aconteceu naquela época – chamado de Grande Purificação Hinamatsuri – era um Onmyouji Nacional de Primeira Classe na época, um homem chamado Dairenji Shidou.”

“Ele também era meu pai.” Suzuka disse casualmente. Além de Touji, as outras quatro pessoas olharam para Suzuka, imóveis, incapazes de falar por um longo tempo.

Touji continuou as palavras de Suzuka, explicando sobre o demônio que vivia em seu corpo que todo mundo tinha visto e como era derivado do Desastre Espiritual móvel que Dairenji Shidou usou para si como recipiente. Os quatro tinham originalmente conhecimento que Touji estava envolvido em um Desastre Espiritual e se tornara um espírito vivo, mas fora a primeira vez que eles ouviram os detalhes.

“A parte extremista dos fanáticos por Yakou é suspeita de ter formado uma organização clandestina. Eles também são os responsáveis pelo ataque terrorista. Ouvi dizer que o pai de Suzuka também era membro da organização e os que vieram para assediar Natsume provavelmente também são do mesmo grupo.”

“Uma organização clandestina?” Harutora coçou a cabeça em incompreensão ao ouvir a explicação de Touji.

“Será que esse tipo de coisa que parece vir de um mangá realmente existe?”

“Sim, se chama Sindicato dos Chifres Gêmeos.”

“Além disso…” Suzuka abriu a boca novamente. “D, de quem falamos agora, acredita-se que esteja conspirando com o Sindicato dos Chifres Gêmeos. Talvez isso esteja relacionado ao motivo pelo qual ele apareceu diante vocês.”

“… Isso significa que Ashiya Doman também está no Sindicato dos Chifres Gêmeos?”

“Não tenho certeza, não há nenhuma evidência de que ele tenha se juntado ao Sindicato dos Chifres Gêmeos… Na verdade, os Investigadores Mágicos provavelmente não obtiveram evidências definitivas sobre se ele é mesmo o verdadeiro Ashiya Doman.”

Harutora não pôde deixar de cerrar os dentes ao ouvir a observação de Suzuka. Kyouko, Tenma e até Natsume ficaram em silêncio, com os rostos sérios.

Eles conversaram assim por um longo tempo, o mistério ainda não resolvido. Em vez disso, tornou-se ainda mais aparente quão difícil e complexo era o problema diante eles. Mas mesmo assim, era melhor do que não saber de nada. Nenhum deles estava disposto a fugir da realidade e se arrepender depois.

“Essa é toda a informação que temos agora. Os fanáticos por Yakou – o Sindicato dos Chifres Gêmeos – estão de olho em Natsume, e incluindo D cuja identidade não é clara, eles provavelmente continuarão a pensar em maneiras de entrar em contato com Natsume Além disso, parece que há membros do Sindicato dos Chifres Gêmeos infiltrados na Agência Onmyou. Não sabemos onde os inimigos estão se escondendo, então não podemos ser negligentes. Embora eu diga isso, não há nada que nós podemos fazer no momento… Primeiro, todo mundo tem que reconhecer a situação.” Touji olhou para os cinco, fazendo sua conclusão.

As reações de Suzuka, Harutora e Natsume não eram tão chocadas quanto as de Kyouko e Tenma. O enrijecimento de suas expressões podia ser sentido mesmo na escuridão. Mas era difícil culpá-los por ter esse tipo de reação.

Touji abriu a boca para falar com eles como se notasse a mudança da dupla: “Há mais alguma coisa que vocês queiram saber? Essa é uma oportunidade rara.”

Mas não foi um dos dois que levantou uma questão.

“… Uh… Dairenji-san?”

Foi Natsume quem perguntou. Suzuka estava encostada na parede e, ao ouvir Natsume chamando por ela, seu corpo estremeceu visivelmente.

“… Por favor, me diga a verdade. Eu sou… Eu sou verdadeiramente a reencarnação de Tsuchimikado Yakou?” Natsume perguntou, sua expressão bastante solene.

“Natsume…!” Harutora não pôde deixar de falar, e Kyouko, Tenma – até a expressão de Touji mudou, e eles olharam para Natsume.

E então olharam para Suzuka.

O rosto de Suzuka afundou. Ela lançou um olhar afiado para Natsume. O tempo fluia lentamente.

Pouco tempo depois, Suzuka relaxou friamente, estreitando os olhos e admitindo: “… Não sei dizer.”

Obviamente, Natsume recusou-se a aceitar tal resposta.

“Mas no ano passado, você…”

“Naquela época, eu acreditava que você era a reencarnação de Yakou, mas… Honestamente, eu não tinha escolha naquela época. Na época, eu acreditava que a única maneira de conseguir meu objetivo era se você fosse Yakou.” Suzuka encolheu os ombros enquanto falava.

Suzuka era muito orgulhosa, e ela definitivamente não queria admitir honestamente que havia agido com base em especulações otimistas, mas não mostrava seu comportamento arrogante, sem hesitar em admitir seus erros passados. Esse tipo de atitude racional fez lembrar que ela originalmente tinha a identidade de uma pesquisadora.

“Mas, agora eu ainda acredito que você é a reencarnação de Yakou. Mesmo que eu não tenha como provar isso objetivamente, acredito que a probabilidade é extremamente alta – na verdade, para ser honesta, já que a magia atual não pode explicar a existência de almas humanas, é quase completamente impossível provar algo como reencarnação. Não importa o quanto eu trabalhe, não posso escapar de ser uma hipótese.”

Então, Suzuka encontrou o olhar de Natsume, sua expressão despreocupada carregando um sorriso gelado.

“… Honestamente, eu não posso esperar para usar várias magias proibidas para provar minha hipótese. Infelizmente, minha energia mágica está selada, então eu só posso olhar para você impotente sem poder fazer nada.”

“…”

Natsume empalideceu e rangeu os dentes ao encarar a expressão de Suzuka como um gato olhando para um rato. No entanto, ela não desviou o olhar, olhando inabalavelmente para Suzuka.

“Es… Espere, Natsume-kun, você conheceu Dairenji-san antes? E o que você quer dizer com a sua energia mágica está selada?” Natsume não sabia como responder por um tempo ao ser perguntada por Kyouko.

Só então, talvez acreditando que o incidente no verão passado era irrelevante para a questão que eles estavam discutindo atualmente, Touji agilmente deu um passo à frente. “Quanto a isso…” Ele planejou casualmente encontrar alguma desculpa para explicar isso.

“Está tudo bem.” Suzuka interrompeu bruscamente suas palavras, soando um pouco autodepreciativa. “Eu não quero que as pessoas entendam mal que você e eu temos algum tipo de relacionamento peculiar. Além disso, se esse incidente se espalhar, somente os superiores da Agência Onmyou que vão se machucar, não importa para mim.”

Então, a própria Suzuka explicou a verdade por trás do incidente no ano anterior para Kyouko e Tenma. Acreditando que Natsume era a reencarnação de Yakou, ela tentou repetir a magia proibida de Yakou e, portanto, ela havia sido punida, uma parte de sua energia mágica havia sido selada e ela tinha sido forçada a entrar na Academia Onmyou. Kyouko e Tenma olharam fixamente ao ouvi-la, atordoados e sem palavras.

“… Então Harutora-kun e Touji-kun se transferiram em um momento tão estranho porque…”

“Certo, estávamos relacionados a esse incidente.”

Touji confirmou a especulação de Tenma com um tom aguçado. Se Suzuka não tivesse agido primeiro, Harutora e Touji poderiam não ter estado nesse tipo de lugar discutindo essas coisas com todos.

Então, Suzuka levantou a franja novamente, mostrando o pequeno X na testa.

“E isso. Quem você acha que colocou esse selo?”

“Hã?”

“Foi o seu pai, o líder dos Doze Generais Divinos, Kurahashi Genji.”

“…!” Kyouko recuou por um momento, sem palavras.

Kyouko era da família Kurahashi, que havia sido uma família secundária dos Tsuchimikado nos tempos antigos. Em contraste com a família Tsuchimikado, que havia diminuído rapidamente após a morte de Yakou, a família Kurahashi era agora a família com maior influência no mundo mágico. A avó de Kyouko ocupava o cargo de diretora da Academia Onmyou, e seu pai ocupava os cargos de Chefe da Agência Onmyou e chefe do Departamento de Exorcismos.

Quanto a este último, Kurahashi Genji, que era o atual chefe da família Kurahashi, fora intitulado a reputação de ser o atual Onmyouji mais notável em termos de poder e caráter. Como Suzuka era uma Onmyouji Nacional de Primeira Classe, julgara que era necessário que ele a selasse, ou então Suzuka poderia remover o selo por conta própria.

Suzuka colocou sua franja de volta para baixo.

“De qualquer forma, o estilo Imperial é atualmente visto como um antigo sistema de magia, e magia relacionada ao reino das almas é designada como magia proibida. É muito possível que nós nunca saibamos se Tsuchimikado Natsume é a reencarnação de Tsuchimikado Yakou, a menos que alguém quebre o tabu e entre nesse território como eu.”

Suzuka encolheu os ombros maliciosamente. Os lábios de Natsume permaneceram pressionados, considerando cuidadosamente a conclusão de Suzuka.

“… Ah… Mas… Bem… Certo, talvez aquela coisa possa ser útil.” Suzuka percebeu que falara mal, corrigindo-se apressadamente.

“Aquela coisa?” Touji continuou a questão.

Ela silenciosamente pensou por um tempo. Embora não estivesse claro que tipo de ideias estavam flutuando em sua cabeça, um sorriso solitário e autodepreciativo apareceu em seu rosto.

“… Eu realmente não deveria ter dito isso, mas tanto faz. Eu me especializei em pesquisar sobre o Onmyoudou Imperial. As pessoas acreditavam que eu era a autoridade na pesquisa moderna de Yakou, mas na verdade eu não era a pioneira nesse campo. Antes de mim, havia outra pessoa que pesquisou Tsuchimikado Yakou, que era amplamente considerado tabu, e que realizou uma pesquisa profunda e minuciosa nesse campo, estabelecendo um sistema completo, passo a passo, por si mesma. Minha pesquisa que só foi concluída usando os resultados dessa pessoa como uma fundação.”

“… E… Pensar que esse era o caso.” Natsume falou, estupefata.

Natsume – afinal, ela era a pessoa que mais sofria com os rumores de reencarnação – tinha lido tantos livros relacionados à pesquisa de Yakou quanto ela poderia coletar, mas esta parecia ser sua primeira vez ouvindo que existia um pesquisador que poderia envergonhar até mesmo Suzuka.

“Isso mesmo.” Suzuka admitiu prontamente como se desistisse. “Aquela pessoa pertencia à Divisão de Espíritos Permanentes da Agência Imperial, que já foi dissolvida… Ela já trabalhou com meu pai e seu nome praticamente nunca foi à público. Ouvi dizer que ela era uma pesquisadora extremamente capaz. Eu sou um peixe pequeno insignificante na frente dessa pessoa.”

“Quem é essa pessoa?”

“Eu disse que o nome dessa pessoa não foi divulgado, então como você poderia conhecê-la?”

“Mesmo que eu não o conheça, talvez haja outras pessoas que a conheçam.”

“Saotome Ryou.”

“…”

Harutora observou os outros, notando que, incluindo Natsume, ninguém tinha qualquer reação a esse nome. Suzuka mostrou uma expressão que dizia que isso estava dentro de suas expectativas, lançando-lhe um olhar desdenhoso.

Natsume engoliu em seco.

“… Essa pessoa já pertenceu à Divisão de Espíritos Permanentes da Agência Imperial, então ela era um membro do Sindicato dos Chifres Gêmeos que acabamos de mencionar, certo? Onde ela está agora?”

“Eu não sei. Eu investiguei uma vez porque estava interessada. Os Investigadores Mágicos têm muita informação sobre a Divisão de Espíritos Persistentes, mas nem um ano depois de meu pai ser nomeado chefe da Divisão de Espíritos Persistentes, essa pessoa publicou vários papéis e relatórios e, em seguida, desapareceu completamente sem deixar vestígios. Eu acho que ela poderia ter se demitida da Divisão de Espíritos Persistentes e assumiu diferentes trabalhos em outro departamento… Mas, honestamente, o principal tópico de pesquisa dessa pessoa era o próprio Yakou, enquanto eu pesquiso Onmyoudou Imperial. Não havia realmente nenhuma razão para eu querer encontrar o seu paradeiro.”

“… Então você quer dizer que ela não estava relacionado com o ataque terrorista com Desastres Espirituais há dois anos?”

“Eu não posso afirmar.”

Suzuka franziu a testa ao ouvir essa pergunta de Touji. Ela falou sem rodeios e sem reservas, e desde que ela agora não tinha razão para esconder nada, ela provavelmente não estava certa dos detalhes.

“Mais relevante, a teoria de Saotome Ryou era bastante singular, e em sua tese – na verdade, mais como nas notas que ele transcreveu – ela afirmou que alguém poderia usar a Asa do Corvo para julgar se alguém é a reencarnação de Yakou.”

Natsume ofegou ao ouvir essa observação, a primeira a reagir. Kyouko, Tenma e Touji também ficaram surpresos.

“Asa do Corvo… é isso?”

“Certo, eu ouvi que essa coisa escolhe seu dono por si só. Tudo o que sabemos é que ela realmente carrega aura. O Onmyoudou Geral acredita que essa coisa é essencialmente uma caixa preta, mas a coisa toda era apenas a hipótese de Saotome Ryou.”

Natsume e os outros ficaram sem palavras, ouvindo em silêncio a explicação de Suzuka. Mas nem todos.

“O quê? Ei, que tipo de coisa é essa de Asa do Corvo?” As outras pessoas quase desmaiaram ao ouvir Harutora perguntar isso. Suzuka até olhou para o ignorante Harutora, mostrando um olhar violento como se estivesse preparada para acertá-lo a qualquer momento.

Touji suspirou, abaixando os ombros e começando a explicar impotente.

“A Asa do Corvo – também chamada de Manto do Corvo – é o casaco que Yakou usava com frequência. Seu exterior não é exatamente o mesmo que um casaco normal, na verdade é um haori, certo? A roupa de proteção contra o miasma que exorcistas usam imita o desenho da Asa do Corvo, você não viu nas fotos de Yakou?”

“Oh, então é isso!” Só então Harutora finalmente entendeu o que eles estavam falando.

Tsuchimikado Yakou tinha sido um oficial de campo Onmyoudou no antigo exército japonês e, portanto, havia muitas fotos deixadas dele vestindo seu uniforme do exército.

Mas havia um ou dois em que ele podia ser visto usando um estranho casaco sobre o uniforme do exército. Era um casaco escuro que parecia ter sido tecido com penas de corvo. A palavra corvo fazia alusão a Onmyouji, mas isso na verdade veio da imagem de Yakou usando a Asa do Corvo.

“Essa coisa está sendo mantida pela Agência Onmyou agora… Nós deveríamos apenas mandar a Kurahashi ir pegar para tentarmos, e nós saberemos.”

A proposta de Suzuka era apenas sarcasmo; ela não acreditava que era uma possibilidade real. A Asa do Corvo de Yakou estava sendo guardada, se for colocar em termos agradáveis, mas na verdade fora designado como uma ferramenta de magia proibida e fora selada. Não importaria o quão sinceramente Kyouko implorasse, a Agência Onmyou não concordaria em emprestar para uma mera estudante da Academia Onmyou.

“…”

A mão direita de Natsume segurou firmemente o antebraço esquerdo, seu olhar baixou com uma expressão séria. Harutora olhou para sua amiga de infância sem se preocupar, mas ele não sabia o que dizer.

A área foi permeada por uma atmosfera séria. Touji suspirou e disse: “… Não vamos nos incomodar com isso agora. De qualquer forma, nós alcançamos nosso objetivo de dividir informações por enquanto, então vamos mudar para o próximo tópico.”

“O… O próximo tópico… Touji-kun, há outras coisas para discutir?” Tenma não pôde deixar de falar. Ele teve dificuldade em esconder sua exaustão física e mental, como o primeiro dia do currículo do acampamento acabara de terminar e ele estava sendo mantido aqui. Seu rosto afundou.

Touji, culpado, mostrou um sorriso irônico à resposta natural de seu colega de classe.

“Na verdade, eu só quero perguntar a Dairenji… Por favor, nos ajude se puder, mesmo que seja apenas em emergências. Eu disse durante o dia, nós não temos muito o que oferecer, mas… Natsume, você está disposto a ajudar Suzuka com sua pesquisa, supondo que seja uma condição para obter a assistência de Dairenji?”

“Ei, o que você está dizendo, Touji!”

“Não se meta, Harutora, estou perguntando a Natsume.”

Touji repreendeu friamente o desconcertado Harutora.

Na verdade, era uma condição adequada para obter a ajuda da Prodígio. Mesmo que sua energia mágica fosse limitada, havia valor em pedir sua ajuda apenas com base nas informações que ela havia mencionado antes.

“Não espere isso.” No entanto, a proposta foi impiedosamente rejeitada por Suzuka antes que Natsume pudesse falar.

“Eu disse agora mesmo, não me envolva com vocês. D e o Sindicato dos Chifres Gêmeos não têm nada a ver comigo.”

Suzuka encarou Touji, que havia levantado essa proposta – assim como Natsume – e cuspiu abusos, mostrando uma ironia maliciosa e autodepreciativa que eles tinham visto muitas vezes durante a discussão.

“Suzuka…” Harutora falou baixinho, e Suzuka mordeu levemente o lábio ao notar o olhar dele. Mas essa atitude desapareceu em um piscar de olhos. Ela não virou a cabeça, não mudando sua atitude teimosa.

Touji observou atentamente essa atitude de Suzuka, como se achasse que esse assunto realmente era complicado. E não só Touji. Por alguma razão, Kyouko revelou um olhar penetrante, encarando o rosto de Suzuka com uma expressão como se ela notasse alguma coisa.

“… Ha… Harutora-sama…” Só então, a voz de uma jovem garota soou do nada. Era a voz da Shikigami defensiva de Harutora, Kon.

A Shikigami silenciosamente os avisou. Harutora, assim como as outras cinco pessoas, se encolheram de surpresa.

Então… “Ah, os encontrei. O que vocês estão fazendo neste tipo de lugar?”

“Oi, isso é um teste de coragem?” Colegas saíram do auditório. Parecia que eles tinham vindo procurar por Harutora e os outros.

“O… O que é isso? Aconteceu alguma coisa?”

“O que mais poderia ser, é hora do banho, é claro. O terceiro ano já terminou… Nosso tempo para tomar banho acaba logo.”

“Melhor agradecer a nós. Tivemos que fazer esta viagem para lhe dizer para se apressar e ir se banhar porque você não estava no seu quarto.”

A julgar pelas palavras deles, havia chegado a hora de se banhar enquanto discutiam. Harutora, assim como os outros, pareciam ter os mesmos pensamentos – acreditando que aquela não era a hora de se importar com o banho, mas como os colegas de classe tinham vindo especialmente para lembrá-los, não podiam continuar discutindo.

“Desculpe incomodar vocês… ♪ É a minha primeira vez em um acampamento, eu acidentalmente esqueci o tempo enquanto estávamos conversando.”

Suzuka imediatamente mudou para sua fachada amigável, sorrindo para os alunos que tinham vindo para lembrá-los e, em seguida, voltou para o auditório. Harutora e os outros nem tiveram tempo de detê-la.

Ela não olhou para trás, como se acreditasse que não havia mais nada para falar, deixando Harutora e os outros para trás e – embora ela mesma provavelmente teria negado isso – fugindo.

Harutora, Touji, Natsume e Tenma se entreolharam, todos indefesos.

“… Hmm.” Entre eles, apenas Kyouko cruzou os braços, olhando para as costas de Suzuka sem desviar o olhar. Ela assentiu, parecendo ter visto algum tipo de pista.

PARTE 3

“… O monte Fuji sob o luar tem o estilo do outro mundo.”

No pátio do auditório, Ohtomo levou a cadeira até um canto com uma excelente vista, segurando uma tigela de plástico e hashis na mão, comendo o jantar tardio.

Ele adorava sorver a houtou quente, olhando para o Monte Fuji e o Lago Yamanaka ao luar à distância. A brisa tranquila era confortável e agradável, seus sentidos que se tornavam cada vez mais lentos na cidade sendo refrescados pela presença da vasta floresta atrás dele. O ar estava fresco e a tremenda aura do Monte Fuji refrescava seu espírito.

Como professor, ele não conseguira relaxar o dia inteiro, mas a bela cena diante dele agora era suficiente para retribuir o trabalho. Ele não teria mais nada a pedir se pudesse tomar uma xícara de saquê ou shochu…

“Ohtomo-sensei.” Só então, alguém o chamou por trás. Ele virou-se com um ‘Hmm?’ ainda comendo houtou.

Natsume veio pelo pátio, parando respeitosamente ao lado de Ohtomo.

“Desculpe incomodá-lo, não estou me sentindo muito bem hoje, então eu poderia perguntar se eu poderia pular o banho hoje?”

Ohtomo quase não pôde deixar de cuspir a comida da boca ao ouvir as palavras de Natsume. Ele achava que Natsume fosse um estudante sério, mas isso era quase excessivamente rígido.

Ele engoliu o macarrão na boca.

“… Haha, Natsume-kun, não seja tão sério. Você não precisa vir para relatar esse tipo de coisa para seus professores. Já que você não está se sentindo bem, não se force e descanse adequadamente.”

Depois de dizer isso, Natsume respondeu de volta, sua atitude um pouco excessivamente respeitosa, mas Ohtomo podia realmente ver que ela estava sendo introspectiva.

Este estudante realmente é incrivelmente sério. Ohtomo sorriu secretamente.

Mas esta era uma oportunidade rara, e seria desinteressante apenas deixá-lo voltar. “Então, Natsume-kun, você acredita que pode se dar bem com Suzuka-kun?” Ohtomo virou o corpo, apoiando o braço no encosto da cadeira e fazendo uma pergunta a Natsume. Ele já sabia a resposta e, como esperava, a expressão de Natsume tornou-se bastante difícil ao ouvir essa súbita pergunta.

“… Sim… Afinal, ela é uma Onmyouji Nacional de Primeira Classe… Eu tenho muitas coisas para aprender com ela.”

Ela rigidamente deu uma resposta respeitosa. Ohtomo assentiu conscientemente.

“Eu disse isso para Harutora-kun.”

“Hã?”

“Suzuka-kun é realmente muito parecida com você.”

“…!”

Natsume franziu a testa inadvertidamente. Parecia que ela já ouvira uma opinião semelhante de outra pessoa. Sua mudança de expressão fez com que Ohtomo não conseguisse deixar de rir. Essa reação foi muito fácil para o herdeiro digno de uma família tradicional. Claro, Ohtomo não disse o que pensava.

“Quanto a Harutora-kun, eu pedi a ele para cuidar de Suzuka-kun. Eu posso relaxar, vendo ele se esforçar tanto. Eu acho que você também sabe que as garotas da idade de Suzuka-kun são muito sensíveis. É uma grande ajuda para mim ter um senpai tolerante como Harutora-kun cuidando dela.”

Ohtomo falou casualmente, pegando houtou com seus hashis novamente. “… Sim.” Ele ouviu atentamente a vaga resposta de Natsume, enviando o macarrão para a boca e mastigando.

“Você… Existe alguma coisa que você está descontente?”

“Huh? Não… Como eu poderia estar… descontente…” Natsume negou, mas seu rosto mostrava claramente emoções infelizes.

Ohtomo mastigou seu macarrão houtou.

“Ei, Natsume-kun.”

“Sim.”

“Seria problemático se você entendesse errado, então eu vou dizer claramente agora… Você realmente não precisa se preocupar com Suzuka-kun.”

“… O que?”

Natsume não conseguiu esconder sua surpresa com esse assunto repentino. Ohtomo deliberadamente ignorou, sorrindo ligeiramente.

“Honestamente, você é o único na Academia Onmyou agora que pode ser comparado a Suzuka-kun em termos de conhecimento mágico, poder e posição. Um de vocês é um General Divino, e o outro é o próximo herdeiro da família Tsuchimikado, Suzuka-kun – não, na verdade, você também… Vocês dois só podem aprender um com o outro, certo?”

“En… Então é isso que você quis dizer com preocupação…”

“Hmm? O que, pode ser que você tenha algo com o que se preocupar?”

“Não… Não. Eu… Não é isso que eu quis dizer…!”

Natsume sacudiu a cabeça rapidamente depois que Ohtomo casualmente fez essa pergunta. Ele ainda fingia não notar nada, assumindo uma aparência descontraída.

“Na verdade, eu não estou em posição de dizer esse tipo de coisa. Minha cabeça estava cheia de pensar em pular aula quando eu tinha a sua idade, então eu não posso dar a estudantes como você e Suzuka-kun quaisquer opiniões construtivas, desculpe.”

“Não diga isso… Ah, mas…” Natsume não sabia o que dizer, hesitando por um momento, pensando em uma ideia maliciosa e rara.

“Ouvi dizer que o Sensei já foi chamado de um dos Três Corvos do Trigésimo Sexto.”

“Pfah!!”

Ohtomo não esperava esse tipo de contra-ataque, cuspindo toda a comida de sua boca. Natsume viu que seu ataque surpresa havia funcionado, orgulhosamente rindo para si mesma.

Ohtomo limpou a boca, o rosto desgrenhado.

“… Aquele Zenjirou definitivamente fala bobagens em todos os lugares…”

“Vocês se dão muito bem, Kogure-san também chama o Sensei diretamente pelo seu nome.”

“Foi um destino terrível. Natsume-kun, por favor, escolha bem seus amigos, ou você vai se arrepender por um longo tempo.”

“Então vocês são mesmo amigos.”

“…”

Ohtomo fez uma careta, fechando a boca porque era um raro momento em que ele não tinha nada a dizer. Natsume realmente riu alto desta vez.

“Então, Sensei, você pode me dar algumas dicas sobre como lidar com um General Divino?”

“Eu não posso fazer isso, essa pessoa era uma idiota quando esteve estudando na Academia Onmyou… Uh… Na verdade não estou qualificado para falar sobre os outros. Os vários de nós estavam sempre se reunindo para criar problemas. Nós estávamos realmente relaxados, agora que penso nisso.”

Ohtomo encolheu os ombros como se desistisse de continuar a agir como um idiota, conversando vagarosamente sobre seus últimos dias de escola. Sua atitude não era como um professor, mas íntima o suficiente para querer chamá-lo de senpai.

“Certo, desde que você era um dos Três Corvos, isso significa que havia outro amigo com quem você teve um bom relacionamento, certo? O que aconteceu com essa pessoa?” Natsume perguntou de repente.

No início, quando Kogure havia conversado sobre esse assunto, Kyouko também havia feito essa pergunta. Na época, Kogure respondeu em um gaguejar, mas a reação de Ohtomo foi completamente diferente.

“Certo, havia outra pessoa estranha. Ela voltou para o campo por causa de sua família, eu não sei o que ela está fazendo agora… Haha, que nostálgico.”

Ohtomo respondeu casualmente sem demonstrar um pouco de hesitação. Se ela não tivesse visto a atitude de Kogure com seus próprios olhos, Natsume provavelmente teria respondido descuidadamente e deixado as coisas assim.

“… Entendo.” Ela estava um pouco desconfiada, mas não continuou a insistir na questão. Ela não sabia se ele havia notado sua mudança, mas Ohtomo não disse nada, calmamente comendo.

Ele provou o houtou quente e delicioso, e então disse: “… Certo, eu pensei em algo enquanto falava sobre o passado.”

“O que?”

“Hmm… Na verdade, não é nada importante. Eu apenas pensei que se eu pudesse dar algumas dicas ao meu eu do passado… Eu provavelmente me aconselharia: Não se force demais.”

“Forçar a si mesmo, hein?”

“Isso.” Sentado na cadeira, Ohtomo levantou a cabeça ligeiramente e olhou para o Natsume em pé. Então, ele disse: “Quanto mais as pessoas valorizam seus amigos, mais elas devem abrir seus corações. Mesmo que isso traga a outra parte um fardo, elas devem ser honestas.”

“…”

“Eu lhe disse para não ficar preocupado. Resumindo, foi isso que eu quis dizer… Mas não se limita apenas a Suzuka-kun.”

Ohtomo olhou para Natsume, que silenciosamente olhou para ele, falando de maneira indireta e transmitindo sinceramente a emoção em suas palavras com seu tom e expressão. Porque ele tinha falado abertamente sobre o seu tempo como estudante antes e agora estava dando conselhos, soou bastante convincente.

Natsume ficou surpreso e um pouco chocado, seus olhos se arregalaram um pouco enquanto ela olhava diretamente para o professor.

“… Sim.” Seus olhos nunca saíram de Ohtomo enquanto acenava humildemente com a cabeça.

Uma brisa soprou do lago através da colina onde ficava o auditório. O cabelo preto de Natsume, amarrado por uma fita, dançou ao vento.

Ohtomo disse: “… Sim.” E sentou-se na cadeira.

“De qualquer forma, não se force demais. Você precisa se lembrar de relaxar, mesmo quando estiver trabalhando duro. O terceiro ano também estará participando do acampamento amanhã, então não fique acordado até tarde.”

“Sim… Ah, desculpe incomodar sua refeição.”

Natsume abaixou a cabeça em desculpas, sempre mantendo sua atitude respeitosa. Ohtomo acenou casualmente seus hashis, comendo seu houtou novamente e observando a parte de trás de sua aluna quando ela retornou ao auditório.

“… Embora seja difícil, trabalhe duro, Natsume-kun.”

Por um longo tempo, os arredores de Ohtomo tinham apenas as rajadas do vento noturno e o som vagaroso de desfrutar de houtou. Mas quando ele terminou de comer metade de seu macarrão, seu rosto de repente afundou e ele franziu a testa.

Ele ergueu a tigela, olhando para o lado. Havia um pequeno gato passando pelo pátio do auditório. Era um pequeno gato malhado com pele macia e parecia bastante inteligente.

Ohtomo mastigou seu macarrão, olhando com ressentimento para o gato caminhando em direção a ele. Aquele gato foi direto para Ohtomo, andando na frente dele e sentando-se com movimentos leves, levantando a cabeça para olhar Ohtomo.

Ohtomo engoliu o macarrão já mastigado, irritado e impotente falando.

“… Então era realmente a diretora. Eu tive um pressentimento…”

O gato acenou levemente com a cauda ao ouvir isso.

“Apenas um pressentimento não serve. Não há sentido em pedir que você seja um professor se não for capaz de perceber instantaneamente um Shikigami furtivo.”

A elegante voz feminina vinha da chefe de Ohtomo – a diretora da Academia Onmyou, Kurahashi Miyo. Este gato malhado era seu Shikigami. Ela não havia dito a Ohtomo antes que iria secretamente ao acampamento.

“Deve ser um grande problema mover um Shikigami desde Tóquio.”

“Isso mesmo, uma velha como eu sabe muito claramente que sua condição física não é como antes. Mas isso não vai me cansar se for por meus alunos fofos.”

“… Hahaha… Que confiável, seus ouvidos são muito bons…” Ohtomo virou a cabeça e sorriu secamente.

Aliás, Ohtomo encontrou-se com Kogure há alguns dias, e ele usou palavras como ‘velha’ e ‘como antes’ para descrevê-la. Parecia que a diretora tinha ouvido claramente toda a conversa.

“… Eu realmente não posso deixar cair a minha guarda. Parece que você também interceptou a reunião estratégica dessas crianças?”

“Não use uma palavra mal-intencionada como interceptar. Eu estava silenciosamente protegendo-os. Você definitivamente percebeu que eu estava lá, certo? Afinal, você também estava lá na hora.”

“Eu tenho a responsabilidade de supervisioná-los, não me envolva como um intruso…”

“Ora ora, desde que você diz isso, não importa aquelas crianças, eu também tenho a responsabilidade de supervisionar você.”

Ohtomo, que segurava uma tigela e se sentava em uma cadeira, conversava sob a luz da lua com o gato malhado olhando para ele, brigando sobre curiosidades chatas. Se as crianças que haviam sido espionadas agora ouvissem essa justa verbal, provavelmente ficariam tão atordoadas que esqueceriam de ficar com raiva.

“Parando para pensar sobre isso, os alunos estão avançando além das expectativas agora. É algo para ser grato.”

“Você não pode dizer isso, crianças dessa idade são muito difíceis.”

“Ora ora, é você quem diz isso? Minha senioridade como professora é muito maior do que a sua, você sabe.”

“Eu sou apenas um peão, como posso me comparar com você, que tem sido a diretora por muitas décadas… Mas, é hora de intervir e ajudar ativamente essas crianças, agora que as coisas se desenvolveram. Se eles acreditam que podem lidar com isso sozinhos, isso se tornará perigoso… Além disso, diminuiria muito o meu fardo se eles conseguissem escapar sozinhos.”

Ohtomo fingiu ser humilde, sorrindo em lisonjeio. A coisa mais irritante era que esse tipo de sorriso combinava muito bem com o rosto dele – ou talvez devesse ser dito que isso mostrava sua gentileza.

O gato balançava a cauda como um cão selvagem cheio de pulgas, expressando boa vontade, olhando com olhos semicerrados para o professor. “… Isso faz sentido.” Então, ela silenciosamente expressou: “Talvez devêssemos considerar adequadamente se é hora…”

Mesmo que ele tenha feito a proposta, a resposta da diretora ainda fez uma expressão de surpresa momentaneamente passar pelo rosto de Ohtomo. Inicialmente, ele esperava que a diretora rejeitasse instantaneamente sua proposta, acreditando que era cedo demais para esse assunto.

“… Você quer dizer que nós podemos?”

“Eu não estou dizendo para agir agora, mas por favor faça os preparativos, Ohtomo-sensei.” Dizendo isso, o gato levantou-se com movimentos ágeis.

Virou as costas para Ohtomo, caminhando em direção ao auditório sem se despedir. Ohtomo na verdade não tinha muito a dizer, então ele silenciosamente assistiu o gato sair, mas…

“… Você sabe da Asa do Corvo?”

O gato imediatamente parou de se mover, ficou em silêncio por um segundo e disse: “Eu não sei”.

Ohtomo indiferentemente continuou a falar para o gato cuja cabeça não estava nem voltada para trás.

“Ouvi dizer que aquele selado na Agência Onmyou é falso.”

“… Será mesmo?”

“Sim, algumas pessoas acreditam que a verdadeira está na Academia Onmyou.”

“… De quem você ouviu isso?”

“Daquela pessoa.”

O gato virou-se para olhar para Ohtomo.

Ohtomo sentou-se na cadeira, ainda segurando a tigela e os hashis em suas mãos e sua expressão não era diferente do usual, enquanto ele olhava fixamente para o Shikigami da diretora.

Os olhares dos dois se encontraram.

Eram olhares sem rumo, e inadvertidamente ficaram em silêncio, mas qualquer um que estivesse observando saberia instantaneamente que nesse espaço aparentemente insignificante estava desenvolvendo uma batalha mágica extremamente intensa de técnicas mágicas de segunda classe de alta dificuldade.

Pouco tempo depois, o gato sacudiu a cabeça, agitando o rabo e passando silenciosamente pelo pátio para sair.

O rosto de Ohtomo permaneceu imutável, chamando: “… Diretora?”

“Miau.” O gato miou.

Ohtomo sorriu ironicamente, pegando o houtou agora frio e enviando o macarrão para sua boca.

 

PARTE 4

Após o banho, os alunos retornaram aos seus quartos com base em idade e sexo.

Eles se prepararam para dormir. Escusado será dizer que eles tiveram que espalhar seus futons no chão para dormir. Eles também queriam jogar cartas ou ter guerra de travesseiros, mas nem uma única pessoa na classe ainda tinha energia para brincar.

Depois que eles espalharam seus futons, alguém apagou as luzes. Como a porta de madeira ao lado da sacada estava bem fechada, o interior da sala ficou escuro quando as luzes se apagaram. Considerando que isso poderia ser perigoso, eles colocaram uma lâmpada de mesa no corredor como fonte de luz.

“… Ahh… posso finalmente dormir.” Assim que a luz do quarto foi desligada, Harutora deitou-se no futon, exausto de corpo e mente.

Harutora esteve bastante ocupado depois de conversar com Kyouko, Tenma e Suzuka. Sua mente esteve cheia daquelas coisas até agora. Mas a fadiga acumulada em seu corpo já estava se aproximando de seus limites. Ele pensou que a melhor coisa a fazer agora era dormir adequadamente e colocar todas as suas preocupações no fundo de sua mente por enquanto.

Touji e Tenma dormiam perto dele, já deitados em seus futon. Dormiam perto dele, mas não tinham intenção de conversar. Parecia que, assim como Harutora, eles não estavam dispostos a pensar mais.

Havia mais uma pessoa em uma situação semelhante.

“… Você está bem, Natsume?” Harutora virou a cabeça enquanto estava deitado, perguntando baixinho.

Eles podiam identificar vagamente os contornos um do outro pela luz fraca que passava pela porta. Natsume já havia mudado para roupas esportivas e estava aninhada em sua cama.

Natsume tinha colocado seu futon perto do canto da sala, junto à parede. Embora o quarto fosse espaçoso, havia muitas pessoas dormindo, e o espaço alocado a cada indivíduo era pequeno. Na verdade, só havia espaço suficiente para um livro didático entre os futons de Harutora e Natsume.

“… Estamos… Estamos muito próximos.”

“Não… Não podemos fazer nada sobre isso.”

“… Uh… Se você rolar…”

“Não se preocupe, eu não vou rolar… Ah… Não… Eu vou ser cuidadoso e me certificar de não rolar…”

Talvez por não ter confiança em seus hábitos de sono, Harutora tornara-se mais ambíguo enquanto falava. Natsume abaixou a cabeça e não disse nada. Harutora também se sentiu um pouco desajeitado, fechando a boca.

Natsume estava claramente perturbada. Esta era provavelmente a primeira vez que ela dormia no mesmo quarto com tantas pessoas, e era especialmente difícil culpá-la por estar ansiosa, já que todos ao seu redor eram homens e ela era a única garota. Embora Harutora sentisse simpatia, ele não podia fazer nada sobre isso.

“Talvez você devesse deixar o seu dublê aqui e fugir para dormir em outro lugar. Isso pode deixá-la dormir um pouco melhor.”

Ele silenciosamente fez uma proposta, mas Natsume de repente balançou a cabeça ao ouvir isso.

“Está tudo bem, especialmente porque eu estou muito cansada.”

Ela inconscientemente deixou sair sua voz original, mudando rapidamente seu tom. Parecia que ela estava realmente cansada. Natsume havia sentido o maior senso de urgência da conversa agora, então sua energia fora rapidamente consumida.

Então, ela rolou para encarar Harutora e puxou os lençóis para cima, cobrindo a boca.

“Uh… Harutora-kun.”

“O que foi?”

“Uh… Todos aqui são homens, então eu me sinto um tanto desconfortável… Você vai ficar ao meu lado?”

“Oh… Sim…”

Ele não podia ver claramente a expressão de Natsume na escuridão. Harutora sentiu suas próprias bochechas inexplicavelmente avermelhadas quando respondeu.

“… Você não precisa se preocupar.” De repente, uma voz soou entre os dois. Seus corações martelaram e seus corpos endureceram em seus lençóis.

“Hoje à noite, eu serei responsável por proteger Natsume-dono, NÍNGUÉM será capaz de tocá-la.”

Era a voz de Kon. Embora sua figura não pudesse ser vista, seu tom era altivo e especialmente pesado quando ela disse ninguém. Então, ela acrescentou: “É claro que, se os hábitos de sono de Natsume-dono forem ruins, eu irei LIDAR COM ISSO APROPRIADAMENTE, não se preocupe.”

Mesmo que ela não tivesse se materializado, eles visualizaram a imagem de Kon olhando ferozmente para Natsume. Natsume rebateu com uma voz estridente: “Eu… Eu não tenho tais hábitos.”

Independentemente do que Natsume dissesse, era realmente reconfortante ter Kon supervisionando. “Desculpe incomodá-la.” Harutora disse a sua Shikigami.

“… Então vamos deixar assim. Boa noite, Natsume.”

“Uh… Sim… Boa noite, Harutora.”

“…”

“…”

“… Mas realmente estamos muito próximos…”

“… Sim…”

Harutora sorriu secamente e disse algumas palavras desconfortáveis, pensando que o mesmo tipo de sorriso poderia estar no rosto de Natsume. Kon tossiu levemente algumas vezes, claramente irritada por ouvir.

“… Muito próximos…” A atitude de Natsume entrou em pânico, como se de repente ela tivesse percebido que algo estava errado. Ela virou as costas para Harutora, dobrando o corpo – movendo-se como se estivesse cheirando a gola de sua roupa atlética.

“… Huh? O que há de errado?”

“Uh… Nada…” Natsume respondeu em um gaguejar, seu corpo não mais curvado.

“… Foi apenas um dia curto, então por que não tem aqueles ao seu redor tolerando isso?” Mas Kon imediatamente falou, proferindo palavras duras e maliciosas.

Harutora não entendeu, mas Natsume parecia zangada o suficiente para ranger os dentes.

Não muito tempo depois, o corpo que estava de costas para Harutora se contorceu desconfortavelmente de novo…

“… Eu… Vou ao banheiro! Harutora, você pode dormir!”

De repente ela correu para fora de seus lençóis, passando pelo quarto e saindo pelo corredor.

“O que aconteceu?”

Harutora murmurou, sem noção e estupefato. Kon bufou com desdém ao lado dele.

 

 

A água quente provavelmente tinha acabado, mas não era como se fosse impossível tomar banho nesta estação. Natsume correu pelo auditório calmo e silencioso, até o balneário.

Homens e mulheres foram divididos originalmente em banhos distintos, mas agora não era mais distinguível qual lado era para homens e qual lado era para mulheres. De toda forma, não deveria haver ninguém lá dentro, então Natsume entrou sorrateiramente – verificando primeiro o ambiente – no vestiário.

Ela não acendeu a luz no vestiário, tirando apressadamente sua roupa atlética e colocando-a em um armário. Então, ela desatou a fita amarrando seus longos cabelos, deixando seu cabelo preto cair em seu corpo.

Tinha sido o mesmo quando ela começou a morar nos dormitórios. Embora ela tivesse evitado os olhares dos outros, ela sempre mantinha sua guarda quando estava completamente nua em um lugar desconhecido. Apenas por precaução, ela se envolveu com uma toalha primeiro, depois entrou no balneário.

Felizmente, o banho ainda estava quente.

O luar brilhava através da janela embaçada perto do teto, iluminando fracamente o velho, mas ainda elegante, balneário. Ainda havia água quente no banho, então Natsume finalmente relaxou.

Pensando com cuidado, ela sempre tomava banho nos chuveiros do dormitório. Além de quando ela voltava para casa para o Ano Novo, ela não tinha se alongado em um grande banho por um longo tempo. Embora a água quente estivesse provavelmente não tão quente assim, ela ainda se sentia afortunada. Assim enquanto ela sorria alegremente, segurando a toalha e caminhando para o banho…

“Ora ora, você não precisa segurar a toalha assim, não somos duas garotas? ♪”

“Ei, o que você está fazendo!? Me devolva a toalha!”

Havia pessoas no outro lado do balneário e as vozes que soavam eram claramente familiares. Sim, eram definitivamente Kyouko e… Suzuka. O coração de Natsume quase parou de bater por medo, seu corpo inteiro endurecendo.

No entanto, ela recuperou o juízo e rapidamente se escondeu, planejando voltar rapidamente para o quarto, mas não pôde deixar de ficar curiosa para saber por que Suzuka e Kyouko estariam juntas. Ela hesitou por um tempo, finalmente decidindo ser prudente e lançar o máximo de magia que pudesse, ficando onde estava. Ela cautelosamente, silenciosamente, sorrateiramente, afundou seu corpo no balneário enquanto fazia o mínimo de barulho possível.

Então, ela animou suas orelhas.

A julgar pelo som, Kyouko e Suzuka ainda estavam conversando no outro lado. Pelo conteúdo do bate-papo, ela descobriu que Suzuka não queria se banhar com as outras, e depois que Kyouko soube disso, ela a puxou à força para tomar banho. Honestamente, isso surpreendera Natsume. Antes da discussão reunida com todos, Kyouko não tinha falado muito com Suzuka, e ela nem deveria saber sobre a verdadeira natureza de Suzuka até então.

Mas o tom com o qual ela falou era familiar e extremamente íntimo.

“Ei, eu sei que não deveria pedir isso a uma General Divina, mas é um pouco estranho usar um tom respeitoso com um kouhai. Posso te chamar pelo seu nome como Harutora faz?”

“Eu não me importo com como você me chama! Faça o que quiser!”

“Hmm, certo então, Suzuka-chan. ♪”

“Chan?”

“O que há de errado com isso, nos damos muito bem.”

“Você está brincando? Quem se dá bem com quem? Não entenda errado! Você é alguém de fora que só tem um histórico familiar!”

“Isso não é verdade, amizade não tem nada a ver com posição, certo, Suzuka-chan?”

“Droga! Você é muito chata!”

Os rugidos furiosos de Suzuka vinham do outro lado da divisória.

A julgar pelo som disso, Kyouko estava no controle da situação. Era a primeira vez que Natsume ouviu o tom de voz de Suzuka agitado.

Kyouko era como uma irmã mais velha da turma, responsável por dar um passo à frente para colocar tudo sob controle. Ela tinha uma personalidade destemida, e poderia tranquilamente se passar por uma senpai para a Onmyouji Nacional de Primeira Classe – ainda uma kouhai – Suzuka. Tal capacidade de comunicação e coragem em enfrentar os outros era admirável, como esperado da filha mais velha de uma família famosa.

Ela estava definitivamente sorrindo agora, bajulando Suzuka, que vomitava abusos. Natsume sabia que era inapropriado, mas não podia deixar de sorrir.

“Pare de falar bobagens, me devolva minha toalha! Devolva!”

“Eu já vi tudo de qualquer maneira, então você não precisa da sua toalha, certo? ♪”

“Sua pervertida exibicionista! Se você gosta de se expor, então vá se expor em outro lugar!”

“Ora ora, você não pode dizer isso, eu não tenho tais interesses. Eu só não entendo o que há para esconder quando somos as duas garotas…”

“Cale a boca, sua vaca leiteira!”

“Ei, Suzuka-chan, ninguém nunca disse coisas tão rudes para mim.”

“Eu vou dizer isso já que ninguém mais diz, sua vaca leiteira sem cérebro!”

“Realmente, eu não tenho nada do que me orgulhar. Eu estava tomando banho com minhas colegas hoje e vi que há outras pessoas ainda maiores que eu.”

“Sua vadia… Seu tom soa como se você tivesse ganhado, coincidentemente insinuando que você é grande!”

“Não se preocupe, você ainda é jovem… ♪”

“Morra! Por que você não se apressa e morre!?”

Desde que se conhecera com Suzuka, Natsume nunca sonhara que haveria um dia em que se identificaria com ela do fundo do coração. Ela até sentiu que as duas poderiam se tornar amigas íntimas.

Mas, Kyouko não tinha nenhuma intenção de se importar, casualmente dizendo: “Eu nunca pensei que pudesse conversar assim com a Prodígio. Estou muito feliz”.

“… Deixe-me dizer isso primeiro… Primeiro devo deixar claro que não tenho esse tipo de interesse!”

“Venha, eu também não. Eu só gosto de homens, como uma garota normal.”

“Sim, sim, isso é bom. Bom, então eu vou dormir!”

“… Ei, Suzuka-chan. ♪”

“Eu terminei de tomar banho! Estou saindo!”

“Você gosta do Harutora?”

“Uwah!”

Natsume teve sorte que os outros não a notaram. Ela esqueceu completamente a discrição, gritando de surpresa ao mesmo tempo que Suzuka. Mas, ela entendeu que não deveria entrar em pânico agora, mas sim observar atentamente a situação se desdobrar. Ela ficou invisível, completamente absorta, concentrando sua atenção em seus ouvidos. Ela não podia fazer mais nada.

“Eu vou te matar, vadia! Eu vou te cortar em pedaços!” Suzuka disse.

“Hahaha, você não precisa ficar envergonhada.”

“Aaarrrgghhhh!”

Uma voz que não soava como se viesse de um humano soou do outro lado da divisória do balneário. Natsume sentiu-se profundamente simpática. Mesmo assim, ela ainda se esforçava para animar as orelhas.

“Eu não suporto você, eu realmente não suporto você, estou indo embora!”

“Hoho… Você acha que pode escapar do meu alcance, Suzuka-chan?”

“Não me abrace! Pare de me tocar! O que sua mão está fazendo! Isso é um crime! Pare de me tocar!”

“Ahh, tão fofa. ♪♪”

“Aaargh!”

Natsume se encolheu, segurando os joelhos e tremendo. O que estava acontecendo do outro lado da parede? Ela estava muito curiosa, mas não se atreveu a conhecer a situação em detalhes.

Mas ela nunca pensou que Kyouko teria esse lado. Será que era assim que as garotas realmente interagiam? Se ela tivesse entrado na Academia com a identidade de uma garota, ela seria tratada da mesma forma?

Por favor, me poupe! Natsume não pôde deixar de implorar por misericórdia em seu coração.

“Esse idiota tem alguém que ele já gosta! Ele não se importa nem um pouco comigo!” Suzuka lamentou.

Os olhos de Natsume se arregalaram.

“Huh, de jeito algum, sério?”

“Isso mesmo! Deixe-me ir!”

O batimento cardíaco de Natsume acelerou intensamente. Suas bochechas se avermelharam instantaneamente enquanto ela se encolhia no banho, onde a água quente não estava mais sendo fornecida.

Ao ouvir essa resposta, Kyouko ficou bastante calma – até mesmo a expressão dela. Ela murmurou um ‘Oh…’, não prosseguindo mais o assunto.

“… Então, e quanto a Natsume-kun? Você não sabe como se dar bem com ele, certo?” Kyouko perguntou de repente. Não, ela não tinha pensado de repente nessa pergunta, ela provavelmente já havia calculado a oportunidade. Este era seu objetivo.

Suzuka prendeu a respiração e o corpo de Natsume também ficou rígido.

O pesado silêncio invadiu a atmosfera, e então como se para quebrar a tensão…

“Sim, desculpe por perguntar esse tipo de coisa. Mas na verdade, eu posso ver que vocês não se dão muito bem. Mas Natsume-kun é realmente muito fácil de se conviver, ele é um pouco lento…” Kyouko defendeu cautelosamente Natsume.

Suzuka ficou em silêncio, e Natsume não conseguia esconder sua tensão, concentrando toda sua atenção no outro lado da divisória.

Muito tempo passou e todas ficaram em silêncio.

“Você não sabe de nada…” Então Suzuka soltou aquelas palavras murmuradas.

“… O que?” Kyouko perguntou de volta. Então, o barulho de alguém saindo da banheira soou.

“Essa pessoa… É muito esperta. Eu a odeio…”

Ela falou diretamente, espancando brutalmente o coração de Natsume.

O tamborilar de seus passos levava ao vestiário. “Suzuka-chan!” Kyouko a perseguiu.

A porta entre o balneário e o vestiário fora aberta. O som da porta soou do outro lado da divisória e as presenças das duas desapareceram.

Natsume permaneceu imóvel no banho. Ela se lembrou do conselho de Ohtomo – quanto mais você valoriza seus amigos, mais você deve abrir seu coração e ser honesto. Ela fechou os olhos, carregando emoções difíceis de reprimir e puxou a cabeça para baixo da água.

Seus cabelos negros flutuavam na superfície da água. Natsume segurou os joelhos com força. Apenas um pouco de calor fora deixado na água.

PARTE 5

A morte da noite. A diretora da Academia Onmyou, Kurahashi Miyo, fora deixada sozinha no escritório da diretoria do prédio da Academia Onmyou, arrumando o trabalho inacabado.

A sala tinha um interior antiquado e calmante, bem como vários móveis que tinham sido bem cuidados, combinando muito com a mestre idosa e ainda elegante da sala. Ela sentiu que poderia fazer mais neste lugar do que em sua própria casa. Em particular, esse sentimento tornara-se mais forte depois de ela ter dado a posição de chefe da casa para o filho. Ela acreditava que ainda tinha muitas responsabilidades na Academia Onmyou.

Ela fazia esse trabalho há quase meio século. O antigo corpo da diretora Kurahashi tinha recentemente tido alguns problemas com suas longas horas de trabalho. Seu velho amigo, o chefe dos Investigadores Mágicos, Amami Daizen, também sempre brincava sobre coisas semelhantes. Ela entendia que estava declinando dia a dia sem que Ohtomo tivesse que dizer nada.

“… Eu espero que eu possa pelo menos esperar até o dia em que essas crianças sejam independentes…” Ela murmurou para si mesma, sentando na frente de sua grande mesa de pau-brasil e terminando as tarefas.

Nesse momento, uma maçaneta soou no escritório da diretoria, e a expressão da diretora mudou momentaneamente. Como diretora da Academia Onmyou, ela não havia notado ninguém se aproximando antes que a maçaneta soasse no escritório.

“…”

Ela baixou os óculos, colocando-os sobre a mesa e observando atentamente a porta.

Os alunos e outros professores já deviam ter ido embora. Não havia mais ninguém no prédio da Academia, e os dois Shikigami, Alpha e Omega, não a informaram de antemão que havia alguém entrando no prédio. Não havia anormalidades na barreira do prédio da Academia, e nenhum estranho poderia romper as barreiras estabelecidas neste lugar. No entanto, se tal coisa realmente acontecesse, ela definitivamente não poderia lidar com o oponente, então não havia mais para onde correr.

“… Quem está aí?”

A diretora se preparou, perguntando calmamente, definitivamente não permitindo que a outra pessoa ouvisse o quanto ela estava preocupada.

Uma resposta veio do outro lado da porta.

“Sou eu.”

Assim que a voz soou, os olhos da diretora se arregalaram em surpresa. Ela não esperava esse convidado surpresa.

“… Por favor, entre.”

A diretora deixou o seu lugar enquanto dizia isso, andando até a porta e abrindo a fechadura. A porta se abriu. Um homem estava no corredor.

Não se podia dizer que idade o homem tinha. Ele parecia ter cerca de trinta anos, mas a julgar por alguns cabelos brancos e finos, não seria duvidoso que ele dissesse que tinha cinquenta anos. Ele usava um par de óculos com aros de metal, com os olhos ligeiramente escuros de um intelectual debaixo dos óculos. Ele estava vestido com um quimono natural, fazendo que fosse inevitável a comparação com um erudito antigo.

“Isso é realmente…” A diretora olhou para o convidado, sorrindo nostalgicamente enquanto falava. “… Uma surpresa.”

“… Desculpe por incomodar você tão tarde.” O homem soltou uma voz indiferente, clara e profunda.

A diretora abriu a porta, recuando e dando as boas-vindas ao homem. O homem acenou levemente com a cabeça, respeitosamente, entrando silenciosamente no escritório da diretoria. A diretora fechou a porta.

“Você não vem para a Academia Onmyou há muito tempo.”

“…”

“Eu deveria dizer a você, o seu Shikigami também veio para Tóquio. Eu tenho um aluno que está sob seus cuidados. Você veio com ele, certo?”

“…”

O homem não respondeu às palavras da diretora. Ele deliberadamente a ignorou, simplesmente não lhe dando nenhuma atenção. Ele entrou no centro do escritório. A diretora ofereceu para que ele se sentasse, mas ele não se sentou, de pé e olhando para as estantes de livros na sala. Ele parecia estar confirmando algo, parecendo não ter interesse nos livros.

Ele soltou um ar gelado de seu corpo. Mesmo assim, a atitude cordial da diretora não mudara.

“Por que você não me contatou mais cedo se você estava vindo? Você quase me matou de susto. Você não pode brincar na casa de uma pessoa idosa.” Ela falava calma e despreocupadamente, como uma velha mãe idosa que se encontrava com o filho – e também como uma professora que relembrava de um ex-aluno. Na verdade, o homem já estudara na Academia Onmyou e se formara na Academia.

“… Por favor, pare de usar sua magia de segunda classe, eu não vim aqui como um estudante graduado.” O homem falou com firmeza, sua atitude fria como gelo.

“Me desculpe.” A tristeza passou momentaneamente através dos olhos da diretora, mas seu rosto imediatamente voltou ao normal, enquanto ela prudentemente abaixava a cabeça em desculpas.

“Então, por favor, permita-me reconfirmar – senhor, por que você veio aqui hoje à noite?” A antiga chefe da família Kurahashi respeitosamente perguntou.

O atual chefe da família Tsuchimikado, Tsuchimikado Yasuzumi, olhou indiferente para trás com um olhar frio.

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