Capítulo 10
Com o estômago cheio de comida e café aromático, SoYoon foi para a casa do Chapeleiro Maluco. Ela bateu na porta por um longo tempo antes do Chapeleiro Maluco colocar a cabeça para fora da janela do segundo andar. Em sua cabeça havia uma touca amarela de dormir com olhos e bico de pintinho.
Então, como se não acreditasse, ele murmurou: — Coelho Branco?
A porta se abriu alguns momentos depois, e ela entrou. Chapeleiro Maluco estava de pé na escada. Ele usava a mesma roupa de ontem, exceto a jaqueta, o que ela percebeu porque manchas vermelho-escuro de sangue tingiam sua camisa e calça.
— Achei que você não viria hoje.
Ele subiu as escadas para seu laboratório, e ela o seguiu.
O Chapeleiro Maluco perguntou sobre smartphones e, como sempre, voltou a fazer experimentos. E como de costume, ela caiu inconsciente.
— Teimoso.
O Chapeleiro Maluco pegou um cobertor fino ao lado da cama e a cobriu com ele. Ainda assim, ele observou SoYoon enquanto ela dormia e sentiu sua dor de cabeça desaparecer. Ele resmungou para ninguém em particular.
Alguns minutos depois, ela piscou acordada sob o cobertor fino. O Chapeleiro Maluco tinha desarrumado a cama com coisas para os experimentos, então não havia como ela pegar o cobertor sozinha – o que significava que havia apenas uma pessoa que teria colocado isso sobre ela.
Se levantando, ela se endireitou e foi procurar o Chapeleiro Maluco. Ele estava na cozinha, olhando alegremente para os novos copos que havia coletado na noite anterior. Seus olhos se encontraram com os dela, e ele olhou para ela como se perguntasse por que ela ainda estava aqui.
— Vejo você depois de amanhã.
— Tudo bem.
***
SoYoon foi para sua casa na zona neutra depois de sair da casa do Chapeleiro Maluco. Por ter comido tanto na casa de Heart em uma hora estranha, ela não sentiu necessidade de jantar. Desafiantes novamente a atacaram hoje, mas por causa do que Heart disse a ela, ela se sentiu um pouco mais confortável.
Quando ela se aproximou da zona neutra, um menino bloqueou seu caminho. O adolescente sujo e esfarrapado agarrou seu pulso e a empurrou para um beco suspeito. Normalmente, ela teria puxado sua espada, mas ao contrário de seu eu habitual, ela o observou enquanto ele a encurralava em uma parede e puxava uma faca em seu pescoço.
— …
Isso tudo porque Heart tinha feito seu café e o Chapeleiro Maluco colocou um cobertor sobre ela. Ela levantou a cabeça da parede. Devido ao movimento, um pequeno corte percorreu seu pescoço, e as mãos do menino começaram a tremer.
— Não se mova!
SoYoon observou o garoto com interesse. Os olhos castanhos do menino também estavam vacilantes. Eles estavam mostrando a ela que ele nunca machucou ninguém antes. Ela observou seus olhos perderem e ganharem foco várias vezes.
— Se não quer ser esfaqueada, então me dê tudo o que você tem.
Mesmo que fosse uma criança hesitante, quando encontrasse a resolução em machucar alguém, isso significava que era um adulto no País das Maravilhas. SoYoon agarrou seu pulso com força.
— Ai!
O menino gritou e largou a faca. SoYoon chutou a faca até que estivesse longe e empurrou o garoto contra a parede oposta. Ele bateu as costas com força e se encolheu.
— Você não deve julgar um livro pela capa.
Ele não perguntou se ela era a Coelho Branco, e só pediu seus pertences valiosos. Ele não sabia quem ela era e só a abordou porque ela era pequena e parecia fraca.
— Se quer viver uma vida longa, precisa prestar atenção no que ouve.
Cabelos brancos e máscara preta, uma espada única e grande – se prestasse um pouco de atenção aos rumores, teria sido capaz de descobrir. SoYoon soltou o garoto. Atrás dela, ela o ouviu xingando e seus gemidos de dor, mas ela não estava mais interessada. Mas aqueles olhos castanhos continuavam piscando na frente dela no espelho.
SoYoon balançou a cabeça. ‘Só foi um dia ruim. Se eu o visse de novo, tenho certeza que em qualquer outro dia, não me lembraria dele.’
Mas, alguns dias depois, ela viu o menino novamente.
***
SoYoon estava jantando em um restaurante na Central. Ela já estava completamente acostumada ao País das Maravilhas e podia saborear o sanduíche sem graça enquanto respirava o ar pacífico da liberdade.
— Seu pestinha! O que pensa que está fazendo?
— Dizem que há um ladrão por aqui esses dias, e deve ter sido você!
— Espere, você não é da favela, é?
Uma multidão se formou não muito longe de onde SoYoon estava sentada. O tumulto vinha do centro dela. SoYoon terminou de comer, pagou e saiu do restaurante.
Até então, ela não tinha intenção de assistir ou se envolver – até que notou o rosto ao passar.
O garoto de olhos castanhos estava cercado pela multidão. Eles o espancaram tanto que sua boca estava pingando sangue. O menino olhou ameaçadoramente para a multidão. Para uma multidão violenta, não era a melhor expressão para se ter. Um homem puxou uma faca.
— Lixo da favela, como você se atreve? Eu vou te mostrar. Todos saiam do caminho!
O homem que entrou no meio da multidão agarrou o menino e pressionou o pulso dele em suas costas. O menino gritou. Os pulsos do garoto já estavam machucados e inchados. Esse era o mesmo pulso que ela agarrou na última vez que o viu. Ela não estava em ótimas condições, então ela não foi capaz de controlar sua força.
A faca foi erguida bem alto. Parecia que ele estava prestes a cortar o pulso do garoto. SoYoon jogou a faca que tinha nas costas. Assobiando pelo ar, a faca atingiu a faca do homem e ficou presa atrás da parede.
— Ah! Quem foi?
O homem que de repente perdeu sua faca e simultaneamente torceu o pulso gritou de raiva. SoYoon levantou a mão.
— Aqui.
— Oh…! Coelho B-Branco?
SoYoon caminhou até onde as pessoas estavam. À medida que ela se aproximava, alas começaram a recuar lentamente. Quando ela puxou a faca da parede, ela os ouviu engolir em seco com medo, mas quando ela colocou de volta no bolso, todos suspiraram de alívio.
Um homem na parte de trás da multidão perguntou: — Ah, você conhece esse garoto?
— Não.
— Então por que…?
SoYoon olhou para o garoto. O menino, que estava ajoelhado, olhou para ela. Suas pupilas trêmulas eram reais. Ela suspirou.
— Esta é a zona neutra. Não vamos sentir cheiro de sangue aqui, está bem?
— Mas esse pestinha está roubando as carteiras das pessoas…
— Não há provas de que ele fez tudo isso. E parece que você o puniu o suficiente. Não vê o pulso quebrado dele? Se ele teme pela própria vida, provavelmente não vai roubar de novo. Agora, por que não vão para casa?
A multidão murmurou, mas se dissipou. Não foi porque ela os convenceu; era mais o fato de ela ser o Coelho Branco com uma espada gigante nas costas. Onde havia tumulto, agora apenas SoYoon e o menino estavam. Ela estava prestes a sair quando o menino a chamou.
— E-Espere!
Claro, SoYoon não o ouviu. O menino gritou nas costas dela.
— Se responsabilize!
Esse moleque ingrato. SoYoon parou. O menino, aproveitando a chance, se agarrou à ponta de sua camisa.
— Meu pulso! Foi você quem quebrou! É por isso que não consegui ganhar dinheiro hoje e agora não posso nem trabalhar aqui!
— E por que seu pulso foi quebrado?
— Bem, isso…
O garoto murmurou e então ficou quieto. SoYoon bufou.
— Isso é problema seu, não meu.
SoYoon começou a andar novamente. Ela se virou ao som de alguém seguindo. O menino estava mancando em direção a ela, mas parou e olhou para outro lugar quando foi pego. Ela voltou a caminhar novamente. Um, dois, três – no três, ela correu o mais rápido que pôde. Era uma velocidade que o menino, que havia machucado a perna, não conseguia acompanhar. O menino tentou acompanhá-lo, mas falhou e chutou uma pedra em frustração.
Ela, escondida, observou o garoto em um beco enquanto ele xingava e agarrava sua perna machucada. Suas pequenas costas pareciam cansadas.
‘Pare com isso, Ye SoYoon. Ele não é um SoHa.’
Ye SoHa era seu único irmãozinho. A última lembrança que ela tinha de seu irmão era o rosto sorridente e o cabelo cortado curtinho quando ele entrou no exército. Todas as vezes que brigaram e se odiaram – ela não conseguia se lembrar de nada. Tudo o que ela conseguia lembrar eram aqueles olhos castanhos que se pareciam com os dela. Só porque os olhos do garoto eram castanhos e se parecia com ele não significava que era SoHa.
O menino voltou mancando para a favela. A favela sempre cheirava a podridão. O garoto achava que o cheiro era de gente podre. Vivendo na favela, ele sabia que, se se perdesse no ciclo da depressão, no medo do amanhã e desesperança, também apodreceria em breve.
Ele não podia fazer isso. Havia uma razão pela qual ele não podia desistir. Mas não estaria tudo bem se ele chorasse em um dia como este – talvez só um pouco? O menino esfregou os olhos com força.
Ele morava no interior da favela. Era onde uma pessoa nascia e crescia e depois tinha seus próprios filhos para repetir o ciclo. Ele abriu a porta decrépita e entrou.
— Cheguei, Dor!
Não houve resposta quando ele entrou no único cômodo da casa. Uma menininha estava deitada na velha cama. Era sua irmã mais nova, três ou quatro anos mais nova.
Cabelo castanho-claro, comprido e encaracolado – ela tinha os mesmos olhos castanhos do menino. Nunca tendo saído, sua pele era branca, mas Dor era como um sonho, uma criança muito adorável. E como tal, passou a maior parte de seu tempo no mundo dos sonhos.
‘Me pergunto quando ela vai acordar.’ O menino esperou por esse tempo enquanto a limpava e a alimentava.
— Só espere até acordar. Todas as dificuldades que enfrentei, vou me vingar — o menino murmurou enquanto se dirigia para a cozinha. E no quarto escuro, ele encontrou um intruso.
— O-o quê? Quem é você? Oh! Você?
Coelho Branco – a garota que havia impedido a multidão de cortar seu pulso estava de pé na frente dele com seu cabelo branco brilhante.