Baccano! – Vida: Desânimo – Vol 05 - Anime Center BR

Baccano! – Vida: Desânimo – Vol 05

Vida: Desânimo

Tradutor: PH — Revisão: Tinky Winky

A estrada levando à floresta

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“O que você acha, Maiza?”, Czes perguntou, nervoso.

“Não se preocupe, Czes.”, Sylvie disse antes de Maiza poder abrir a boca. “Tenho certeza que Maiza não liga que você tenha corrido e se escondido no carro no primeiro sinal de perigo.”

“N-não é isso! Eu só queria ouvir a opinião dele sobre essas três garotas!”

“Aha! Agora entendi. Bem, nesse caso, eu tenho que dizer que aquela no meio combina com você.”

“Ah, para com isso! Pare de brincar assim comigo, Sylvie!”

“Aww, você realmente é muito fofo.” Sylvie escorou-se atrás de Czes e novamente envolveu seus braços ao redor do pescoço dele, não se importando com o vermelho em suas bochechas.

Maiza riu e sentiu pena do garoto.

“Ficaremos bem. Com a informação que temos até agora, acho que é seguro dizer que Elmer está esperando por nós lá na frente.”

Após a confusão cessar e os aldeões voltarem para suas casas, Maiza e os outros decidiram seguir as garotas de vermelho. Julgando pelas reações dos camponeses, eles julgam que o demônio do qual falavam provavelmente era Elmer. Eles não sabiam exatamente o porquê dele ser temido como um monstro, mas isso era algo que podiam perguntar para ele e descobrir.

Enquanto isso, Nile retornou ao porta-malas, cobriu-se com um cobertor grosso, e voltou a dormir.

“Mas… Elas não são um pouco estranhas? São muito quietas, e comparadas aos aldeões, são… Eu não sei. Elas tem características semelhantes, mas parece que são de um país diferente…”

“Em termos de estranheza, eu acho que a vila é suspeita por si só.”, Maiza disse. Ele começou resumir a situação.

“Quando eu disse que éramos viajantes, pareceu claro para mim que essas pessoas não sabem que estão vivendo em uma propriedade privada.”

“Sim, você está certo.”

“Se eles soubessem, poderiam apenas dizer que esse lugar era privado e ordenar que nós saíssemos. Não temos qualquer tipo de permissão, então não teríamos uma desculpa nesse caso. E não apenas isso, a maneira como falam o idioma desse país é levemente diferente do resto dos habitantes. Se eu tivesse que descrever, diria que parece… Arcaico.”

“Você acha que são algum tipo de culto, considerando que não estão em nenhum mapa que vimos?”

Maiza parou para pensar na sugestão de Czes, então sacudiu sua cabeça.

“Acho que não. Pense em como chamaram o monstro… Que provavelmente é Elmer, aliás. Primeiro o chamaram de demônio, e depois de monstro. Se fossem religiosos, provavelmente teriam decidido um único nome para tal aberração de acordo com suas crenças religiosas.”

“Então você está dizendo que… É só uma vila normal?”

“Isso também é improvável, já que o prefeito era muito estranho. As outras pessoas estavam simplesmente assustadas, mas… Ele era um pouco diferente. No momento que nos viu, ele nos classificou como simples forasteiros. Eu acredito que ele seja o aldeão com mais conhecimento.”

Maiza inclinou sua cabeça para um lado, lembrando dos olhos cheios de ódio do prefeito. Czes, por outro lado, meramente suspirou em desdenho.

“Bem, sim. Ele era o prefeito, sabe.”

“Não, eu quis dizer que em nível mais básico… Ah, parece que chegamos.”, Maiza disse, com sua expressão levemente preocupada tornando uma de pura surpresa ao espiar o seu destino através das árvores.

Czes virou-se e olhou também, e Sylvie fez o mesmo.

Era um velho castelo.

Sendo mais específico, era uma fortaleza cercada por muralhas de pedra, do tipo que não pareceria fora de lugar em um conto de fadas, novel fantasiosa, ou um videogame…

Isso para não dizer que era grandiosa ou impressionante. Parecia mais como um tipo de lugar que bandidos ou piratas usariam como sua fortaleza, ao invés de um castelo real. As muralhas tinham poucas decorações, e a sensação que o local passava era meio crua, mas pelas janelas posicionadas aleatória e afastadamente, parecia que o interior seria bem mais complicado do que o exterior sugeria.

Parecia um pouco velho, mas nenhuma das partes que podiam ver estava muito danificada.

“Parece um castelo que você acharia em Luxemburgo, ou talvez na Bélgica. Em particular, é muito similar ao Castelo de Vianden em Luxemburgo, porém muito menor.” Maiza disse calmamente.

A expressão de Czes ficou séria. “O estilo não é norte-europeu. E… de alguma forma, não parece tão velho. Acho que esse castelo não tem nem cem anos desde que foi construído.”

A muralha inteira, com exceção do portão, estava cercada completamente por uma densa barreira de árvores, tornando inviável caminhar ao redor dela.

Um portão solitário permiti a entrada no castelo, e os três cavalos que estavam na frente correram direto pelas portas abertas e desapareceram em algum lugar no interior.

“… Nós devemos dirigir o carro para dentro?” Maiza perguntou para si mesmo, então sacudiu sua cabeça e dirigiu através do portão, estacionando no centro do pátio.

Ele saiu do veículo e olhou atentamente o castelo mais uma vez.

“… Entendo…”

“… Elmer definitivamente está vivendo aqui.”, Sylvie concluiu, olhando para a construção tão admirada quanto Maiza.

Haviam decorações de Natal por todo lado – O número era tanto que fez Maiza soltar um suspiro inconsciente. Pendurados em cada uma das janelas haviam ornamentos, não só nos portões do castelo. Não eram comprados, mas obviamente feitos usando recursos que vinham da vila, cada um deles único e fabricado com carinho.

“Apenas Elmer se esforçaria tanto para algo tão inútil.”

Czes desviou o olhar após uma rápida olhada, mas Sylvie continuava encarando cada uma deles, em transe. Parecia como se as almas deles tivessem trocado de corpos.

“Você está certo.”, Sylvie disse. “Elmer é o único que iria tão longe com essa decoração… Ao menos entre os imortais que estavam no barco.”

“… Bem, vamos lá. Eu não acho que essas garotas não vão voltar para nos escoltar. Sylvie, por favor, vá acordar Nile.”

“Okay.”

Enquanto Sylvie abria o porta-malas, Maiza e Czes caminhavam na direção do castelo.

A grande porta tinha dobradiças, novamente contrastando com o visual do forte de pedra. Parecia mais e mais provável que a construção não havia sido feita há tanto tempo.

Maiza bateu na porta diversas vezes, mas não houve resposta. Concluindo que eles já eram invasores ilegais de qualquer jeito, apenas decidiram entrar.

“Com licença.”

A porta não estava trancada. O ornamento de Papai Noel e suas renas penduradas na porta estremeceram quando ela abriu, estalando. Os dois hesitaram, então avançaram na direção do enorme saguão lá dentro.

O saguão tinha pouca decoração e não era muito diferente do exterior do castelo, com as mesmas paredes e chão de pedra. Porém, as escadas que poderiam ser vistas no canto do cômodo não eram feitas de pedra, mas sim lembravam o tipo de escadaria que alguém poderia ver em mansões do século 19. A porta no canto, também, não parecia nem um pouco velha.

“Esse lugar não combina consigo mesmo. É como se eles tivessem se esforçado para fazer o exterior parecer como um castelo velho.”

“De fato. Parece que pisamos em um museu de art-”

Um rangido assustador interrompeu as palavras de Maiza, com a porta atrás deles subitamente batendo e se fechando. Antes que pudessem fazer mais do que se virarem, as janelas também fecharam em uma rápida sucessão, deixando o saguão escuro e empoeirado.

Não havia ninguém atrás deles. Czes correu até a porta, mas estava trancada e não abria.

Então, como se combinando perfeitamente com aquela situação de filme de terror, uma baixa risada surgiu acima de suas cabeças.

Muahahaahahaha…”

O som ecoou pelo vasto saguão, tornando difícil de dizer de onde vinha.

Pobres criaturas… Bem-vindos a esse castelo amaldiçoado, essa floresta maldita… Talvez as decorações do lado de fora passassem uma falsa sensação de segurança, mas essa foi exatamente a intenção, tolos. Agora, vocês serão sacrificados diante do altar que é meu poder…”

A voz ameaçou eles com frases teatrais, mas Czes e Maiza meramente trocaram rápidos olhares e falaram em uníssono:

“… Elmer?”

Oh, então vocês sabem o meu nome? Devem ter ouvido dos aldeões. Sua coragem é admirável… Poucos ousam dizer o nome de um demônio com tanta facilidade. Mas isso é tudo, mesmo que vocês possam resistir…”

“Ahem. Você é o Elmer, certo?”

“Qual foi? Sou eu!”

Eu disse que é inútil resis… Eh…? Espera… O quê? Algo não está certo.”

Talvez pela surpresa, a voz rouca na escuridão subitamente mudou para aquela de um jovem.

“É você, Elmer… Quanto tempo faz desde que nos encontramos pela última vez? 290 anos?” Maiza disse, com sua voz mais robusta que o normal por sua felicidade.

Czes não mostrou seu ânimo tão obviamente quanto Maiza, mas mesmo assim abriu um largo sorriso irônico e disse: “Você não mudou nada. Eu nem preciso olhar você para concluir isso.”

Silêncio reinou na escuridão. Assim que os últimos ecos da voz de Czes dissiparam-se, um grito surpreso veio das sombras:

“Espera um pouco! Vocês são… Czes… E Maiza?!”

O grito veio de cima de suas cabeças e rapidamente caiu em sua direção.

Um baque grave ecoou logo a frente deles, então um rápido barulho de arranhão soou enquanto uma silhueta escura erguia-se no saguão empoeirado.

“Ei! Seja querida e abra as persianas nas janelas, por favor?” a sombra gritou, e em resposta ao seu chamado, as persianas abriram uma de cada vez. Era como se o vento tivesse aberto elas, pois Czes e Maiza não conseguiam ver ninguém perto das janelas.

“Maneiro, não é? Eu projetei de uma forma que você pode abrir e fechar elas apenas puxando uma corda de longe!”, A silhueta vangloriou-se, com sua identidade finalmente revelada pela iluminação externa.

“Ah, há quanto tempo! Deixe-me ver seu ros…”

Tanto a expressão animada e as palavras de Maiza pararam abruptamente assim que ele viu o rosto do homem.

Ele estava vestindo roupas semelhantes a Nile.

Estava vestido completamente de preto, e vestindo um saco tingido de preto sobre sua cabeça, com apenas dois buracos cortados para os seus olhos. Era como se ele estivesse tentando recriar o estilo de um Kuroko japonês1.

“… O que você está vestindo?”

“Hmm? Ah, isso! Desculpa, desculpa! Eu pensei que me vestir assim iria assustar mais as pessoas. Uma grande sombra na escuridão, certo? Hahaha.”

O homem riu e tirou o saco de sua cabeça. Até mesmo as luvas que vestia haviam sido cuidadosamente tingidas de preto.

“Aah, agora eu posso respirar. Enfim, eu estava tão ansioso para fazer um espetáculo. Já faz um tempo desde que tive visitas.”

O homem sob o saco estava com um sorriso largo no rosto, com olhos azuis sob uma mecha de cabelo dourado levemente suado. Ele não era particularmente bonito, mas também não era feio. Uma pessoa ordinária por completo que ficava melhor enquanto sorria.

A tensão finalmente sumiu dos ombros de Maiza com a visão do rosto de Elmer, então ele avançou na direção dele e colocou as mãos em seus ombros. Seus olhos estavam brilhando com simples ânimo, como os de uma criança, e parecia que ele poderia começar a chorar a qualquer momento.

“Aah… Você realmente não mudou nada!”

“Haha! É o Maiza! É realmente você, Maiza! E Czes! Nossa, nossa! Você… Aah! É realmente você, Czes! Meu Deus! É realmente o Czes, o que eu faço, Maiza? Eu não acho que haja uma maneira de expressar essa alegria dentro de mim além de explodir, porém eu infelizmente não tenho um fusível nem um ativador e isso provavelmente iria doer muito mesmo, então acho que recuso! Não, não, não é isso o que eu faço, estou muito confuso o que devo fazer?”

“Eu acho que você deveria se acalmar primeiro.”

O pico emocional diminuiu e Maiza riu em silêncio, lembrando do que havia acontecido.

“E sério… ‘Muahahaha’? Você não é mais uma criança, Elmer. Eu fiquei envergonhado só de escutar.”

“Eh? Eu soei estranho?”

“Você não percebeu?”

Czes, que estava um pouco afastado de Elmer e Maiza, finalmente disse algo:

“Se você estava tentando nos assustar, então falhou espetacularmente. Na verdade, foi muito engraçado.”

Mas Elmer apenas riu, apesar das palavras rudes de Czes.

“Engraçado, é? Um grande sucesso, então! Não é todo dia que você pode fazer alguém rir enquanto tenta assustá-lo! Digo que é uns oitenta por cento melhor!”

“Você sabe o significado de ‘sorriso irônico’?”

“Ahahaha! E daí se é irônico? O importante é que é um sorriso! Não não não não, eu fiquei surpreso, sério! Como vocês chegaram aqui? Vocês sabiam que eu estava aqui?

Elmer agarrou Maiza em um forte abraço e bateu em suas costas.

Maiza e Czes, porém, estavam confusos demais para responder. Elmer não sabia que eles estavam na vila? Não havia sido por isso que ele enviou suas mensageiras para trazê-los ao castelo?

“Elmer, você não sabia que estávamos aqui?”

“Ah, não não não não. Tudo que ouvi foi que forasteiros chegaram na vila. Os aldeões são muito rudes, e eu já irritei muito eles, então decidi esconder todos vocês antes de algo ruim acontecer!”

Era uma distância bem longa entre o castelo e a vila. De quem ele ouviu isso? E ainda mais, por que ele estava escondido em um castelo, temido como um demônio pelos aldeões?

Maiza tinha incontáveis perguntar na ponta de sua língua, mas decidiu guardá-las por enquanto e aproveitar a alegria da reunião.

Então, uma batida veio da porta fechada. Parecia que Sylvie e Nile estavam do lado de fora.

“Hmm? O que é isso? Vocês dois não vieram sozinhos?”

“Claro que não. Temos mais dois velhos amigos conosco.”, Maiza disse.

Czes sorriu. “Então, pode adivinhar quem são eles?”

“Eh? Quem será? Vamos ver, se eles são amigos seus, talvez Begg, ou… Ah, eu não sei! Sim, sim, estou indo!”

Elmer perdeu a breve batalha com sua curiosidade e ansiosamente abriu a porta. Parecia que havia algum tipo de dispositivo acoplado à porta, o mesmo que nas janelas, e apenas puxando uma corda ele poderia abri-la ou fechá-la.

“Elmer? Elmer, é mesmo você?!”

“Saudações.”

Do outro lado estavam uma mulher quase sobrenaturalmente bonita, e um homem com uma máscara sobre o seu rosto coberto por bandagens.

Elmer fechou a porta lentamente e virou na direção de Maiza.

“… Quem são eles?”

“Me pergunto…” Maiza respondeu, com um raro sorriso malicioso em seu rosto. Ao seu lado, Czes tentava segurar sua risada desesperadamente.

A porta abriu pelo lado de fora com um rangido torturando assim que Nile a empurrou, e então, os dois estranhos, para Elmer, entraram.

“Aaaaah! Visitantes desconhecidos! Estranhos invadiram o meu castelo!”

“Elmer, seu idiota! Você fechou a porta nas nossas caras sem nem mesmo dizer oi!”

A voz de Sylvie estava cheia de raiva, mas os cantos de sua boca faziam movimentos suspeitos, como se ela também estivesse se segurando para não rir.

“Seu paspalho. Talvez eu estivesse sendo otimista demais, esperando que você agisse seriamente ao menos na ocasião momentânea de nosso reencontro.”

Nile, por outro lado, soava genuinamente aborrecido.

“Quem, quem, quem são vocês?! Vocês não estão apenas invadindo o meu castelo, mas meu coração também! Revelem-se!”

Sentindo a confusão genuína de Elmer, Nile lembrou o estado de sua cabeça.

“Hmm, entendo… Eu não usava uma máscara assim antigamente. Talvez sua confusão seja entendível. Mas eu digo isso: Você deveria reconhecer a minha voz.”

“… Nile? Nile, é você?!”

“Demorou demais.

Nile assentiu, satisfeito. Elmer encarou-o por um momento, então voltou seu olhar para Sylvie.

“Então você seria… Isso!”

“Surpreso, não é mesmo? Creio que você estaria, como eu mudei demais.”

“Você é Huey! Huey Laforet, não é? Por que você está vestido como uma mulher?!”

“E não sou!” Sylvie berrou, surpresa com a resposta inesperada, enquanto os outros gargalhavam.

“Eh, você não é? Estou errado? Posso jurar que o Huey era o único naquele navio que era tão bonito…”

“É a Sylvie. Sylvie Lumiere.” Maiza disse, ainda rindo.

Ela grunhiu e disse: “Honestamente, Elmer. Eu era a única mulher no navio, lembra?”

“Sylvie?”

Elmer fixou o olhar na mulher diante de si, então virou-se para encarar Maiza.

“Você está brincando! Sylvie não era uma mulher tão bonita assim! Ela era uma simples garota do interior!”

“Eu deveria estar lisonjeada? Ou com raiva?” Sylvie murmurou, com uma expressão complicada em seu rosto.

Elmer virou na direção dela novamente e disse: “Não, bem, mas… Mesmo se você tendo mudado seus óculos para lentes, você não era tão alta, e você era, err, um pouco plana, se você entende o que quero dizer. Espera, você só tinha dezessete anos na época! Você parece estar na metade de seus vinte agora! Não tem como você ter crescido assim, já que Czes ainda é o mesmo…”

“Sylvie não bebeu o Grande Elixir imediatamente.”

Maiza falou, interrompendo a enchente de perguntas que Elmer ainda iria vocalizar. Sylvie sorriu e explicou determinadamente:

“Eu me tornei uma alquimista porque queria ser bonita para sempre. Quando eu achei o elixir para a vida eterna, porém, tinha apenas dezessete anos. Eu ainda tinha muito o que melhorar. Então coloquei o elixir em um pequeno frasco e bebi após anos cuidando de mim.”

Elmer olhou para ela com um olhar cético.

“… Então quer dizer que você é uma versão de vinte e poucos anos da Sylvie?”

“O que você quer dizer com versão? Bem, suponho que você possa dizer dessa maneira.”

Elmer parou para pensar um pouco e então colocou uma mão no ombro dela, encarando-a com olhos cheios de pena.

“Sylvie, antes de podermos aproveitar essa reunião, eu quero que você me responda algo honestamente.”

“O que é?” Sylvie perguntou, com seu coração acelerando um pouco por conta da súbita expressão séria de Elmer.

“Está tudo bem. Não vou te condenar não importa o que diga. Nós temos todo o tempo do mundo, então você pode pagar pelos seus pecados com o tempo.”

“Do que você está falando?”

“Me conte a verdade… Quantos banhos você tomou com o sangue de crianças para ganhar essa beleza?!”

“Elmer, você percebe o quão rude está sendo agora mesmo?”

Sylvie recuou a mão para estapeá-lo, mas ele desviou do ataque e virou na direção de Maiza mais uma vez.

“Certo, chega de brincadeiras.”

“Me diga, quanto foi brincadeira e quanto foi sério?”

“Sendo completamente honesto, eu sabia desde o começo que era você, Sylvie. Ahahahahaha!”

Sylvie apenas suspirou e elevou sua mão direita mais uma vez.

“Ei, agora… Eh?”

Elmer recuou para desviar do tapa, mas subitamente encontrou-se preso onde estava. Maiza estava à sua direita e Nile à sua esquerda, ambos firmemente segurando seus braços.

“Elmer, isso passou um pouco dos limites.”

“Eu digo isso: Você merece mais do que um tapa pelo que disse.”

A firmeza nos braços de Elmer era tanta que seus pés saíram um pouco do chão.

“Huh? Esperem. Eh? Ei!”

A palma de Sylvie viajou majestosamente pelo ar até o rosto de Elmer e…

Czes estava um pouco longe do restante e encarava o teto sem objetivo enquanto um barulho estridente soou pelo ar.

“Ah, Elmer e Sylvie não mudaram nada. Não por dentro.”, ele murmurou silenciosamente para si, baixo o suficiente para ser inaudível aos outros. Ele parecia velho.

“… Talvez eu tenha sido o único que mudou.”

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Eles estão sorrindo. O Mestre Elmer está sorrindo, assim como os forasteiros que vieram ao castelo.

Eles estão rindo, muito felizes.

Mestre Elmer não mudou nada. O mesmo sorriso, a mesma risada que sempre me mostra.

Mas eu… Não posso rir.

Se eu pudesse, como as pessoas que o Mestre Elmer convidou.

Se eu pudesse rir assim…

Mas eu não consigo. Eu não consigo sorrir sinceramente.

Apesar de que o Mestre Elmer sorri genuinamente para mim.

Apesar de que ele se esforça para me ensinar como fazer isso.

Mas tudo que consigo lembrar é sofrimento.

Provavelmente, eu não consigo rir por causa desse sofrimento.

Mas agora mesmo, estou triste porque não consigo rir.

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“Enfim, esse lugar está muito sujo, mas vocês podem ficar aqui por um tempo!”

“Agora sim parece que esse lugar é seu.”

“Não diga isso, Czes. Você está acertando o meu ponto fraco… Aah.”

Elmer largou-se no sofá próximo à lareira, com a marca de uma mão ainda vermelha em seu rosto.

O grupo decidiu conversar em um lugar mais confortável, então foram até um cómodo adjacente ao saguão que parecia com uma sala de estar.

“Vocês são todos que vieram hoje, eh… E os outros? Há algum ainda seguro?” Elmer perguntou, levantando-se para acender o fogo. Era uma pergunta crucial, portanto Maiza e os outros trocaram olhares desconfortáveis após ouvi-la.

Após um momento de silêncio, Maiza falou por todos:

“… Incluindo nós cinco, apenas nove dos trinta originais do navio sobreviveram.”

Elmer ficou quieto por um tempo. Silêncio caiu sobre os cinco imortais, enquanto a luz do fogo tingia a cabeça curvada de Elmer com um vermelho forte.

Alguns segundos depois, ele virou sua cabeça na direção do restante… E sorriu.

“Entendo. Isso é triste, porém também é bom.”

“O quê?”

Elmer colapsou na cadeira de madeira, com sua expressão mais animada por algum motivo.

“Falando a verdade, havia a distinta possibilidade de que eu viveria para sempre sem ver nenhum de vocês. Mas hoje, todos vieram. Então a pior situação possível mudou de apenas eu restando, para apenas nós cinco. Mas agora vocês me dizem que ainda há outros. Bem, essa é uma ocasião para um sorriso. Eu acho que está tudo bem sorrir.”

“Você é otimista.”

“Não tanto. Sorrir é a única maneira que tenho para honrar as mortes dos outros. Sendo honesto, não sou bom em ficar triste. É difícil, e eu não gosto. Ah, deixe-me esclarecer: Eu nunca irei esquecer os mortos. Então me diga quem restou, para que eu saiba de quem lembrar.”

Tendo terminado a explicação sobre sua falta de tristeza, Elmer continuou pressionando Maiza por mais informação. O homem pareceu estupefato por um momento, então sorriu, aliviado.

“Você realmente não mudou nada. Certo, então. Aqueles além de nós são Begg, Huey, Victor…”

“Ah, o Huey ainda está por aí? Eu li em um jornal há muito tempo que Victor recebeu um emprego no FBI, e que capturou Huey.”

Elmer sorriu levemente, como se estivesse lembrando de algo bom.

“O que ele está fazendo hoje em dia? Ouvi rumores de que foi enviado à prisão, mas creio que ele provavelmente já serviu sua sentença, certo?”

“Não sabemos também. Nós não ouvimos nada sobre ele ser devorado, então talvez ainda esteja por aí, continuando seus experimentos.”

“Huey realmente amava testar as coisas, não é? Suponho que o mais alquimista de todos nós era ele… Ah, desculpa, desculpa. Eu te interrompi.” Elmer disse, interrompendo a si mesmo.

“Não, tudo bem. E sobre a última pessoa, nós ainda não conseguimos achá-lo. Denkuro. Tougo Denkuro. Você lembra dele, não é? Era o único asiático no navio.”

“Ah, você está falando do Ninja.”

“Ninja?”

“É o apelido que dei para ele… Ahn? Vocês ainda não o encontraram?”

Os outros o encararam com olhos arregalados.

“Você se encontrou com ele?!”

Elmer deu de ombros com o grito de Maiza.

“Bem, eu meio que acabei esbarrando nele há uma década. Ele estava vestido como um ninja em um lugar chamado Vila Edo ou algo assim, no Japão. Eu não vi ele desde aquele dia, então não posso dizer com certeza se ele está vivo…”

“Não acredito… O primeiro lugar que olhamos foi o Japão. Ele sempre disse que queria voltar para lá, então procuramos nas proximidades de sua antiga casa…”

“Quando?”

“Há uns vinte anos.”

Elmer sacudiu as mãos e riu.

“Ah, isso não ia funcionar. Claro que não. Denkuro apenas voltou ao Japão há uma década. Ele disse que tentou caminhar da América até o Japão, mas passou por problemas no Polo Norte e ficou submergido em gelo por uns 250 anos.”

Silêncio total.

“Ele foi capturado por um submarino nuclear Soviético, perseguido pela KGB, fugiu até a Alemanha e foi baleado quando tentou passar pelo Muro de Berlim. Então se escondeu na Alemanha Ocidental até o muro cair e finalmente conseguiu voltar ao Japão. Ele disse que foi um grande choque o quanto seu país mudou. A sua casa foi destruída há muito tempo, antes mesmo da guerra… Por volta de quando o Japão abriu suas portas no século 19. Então ele acabou apenas vagando pelo país.”

“Uma grande aventura.”

A história de Tougo terminou com o comentário sucinto de Nile. Elmer revisou as coisas por um momento e então foi ao que importava.

“Eu percebi que Szilard não foi mencionado.”

Os outros, com exceção de Maiza, desviaram os olhares, cada um com pensamentos diferentes.

Szilard Quates havia sido o homem mais velho a bordo do Advena Avis a receber a imortalidade, e também aquele que desejou ganhar absoluto conhecimento devorando outros imortais.

Maiza escolheu responder a pergunta implícita de Elmer com simplicidade.

“Szilard está morto.”

Uma complicada expressão espalhou-se pelo rosto de Elmer. De um lado, parecia que ele estava profundamente aliviado, porém de outro, também parecia um pouco desolado.

“… Entendo. Então incluindo Denkuro, são nove.”

Maiza assentiu após um momento de hesitação.

“Esse é o caso, isso.”

“Vocês estavam atrás de mim apenas para me contar isso?”

Maiza deu um sorriso meio abatido para ele e assentiu novamente.

“Entendo… Bem, desculpa por ter feito vocês passarem por tantos problemas. Eu posso sorrir agora, sabendo o que vocês fizeram para mim. Não apenas um sorriso, acho que vou rir tanto que vou explodir ahahahaha hahhahaa ha ahahahahaha haa hahaha ha ah ahaha ahahahaha! Argh! Argh! Argh! Aah!”

Elmer subitamente caiu no chão e começou a tossir violentamente, balançando seus membros como uma cigarra que foi virada de cabeça para baixo.

“Você está bem?”

“M-me forcei a rir! Ácido estomacal! S-subiu! No meu e-e-esôfago! Estou morrendo! Estou morrendo!”

Toda vez que ele tentava inspirar, tossia mais, incapaz de respirar propriamente. Elmer começou a se afogar em terra firme, com três séculos de memórias passando diante de seus olhos.

“Você não deveria ter feito isso.”

“Eu digo isso: Você é um tolo. Ainda mais, você não acha que é meio rude com Maiza rir dessa situação?”

Sabendo da imortalidade de Elmer, Sylvie e Nile não moveram um único centímetro. Maiza levantou-se e acariciou suas costas, enquanto Czes agachou-se para olhar o rosto de Elmer com uma expressão preocupada.

“Você está bem?”

Czes moveu a sua mão direita para frente, na direção da bochecha de Elmer. E lentamente sua palma moveu na direção da testa dele… Porém, ele não esboçou reação alguma.

“Ah, estou bem agora. Obrigado, Czes.”

Sem palavras, Czes recuou sua mão e retornou ao seu assento. Seu rosto infantil estava coberto com algum tipo de insatisfação.

“Hmm?”

Elmer percebeu a expressão obscura de Czes e abriu sua boca para perguntar o que havia de errado.

“Então, Elmer. É a sua vez de responder nossas perguntas.” Maiza disse, chamando a atenção de Elmer. O rosto preocupado de Czes rapidamente foi colocado em segundo plano e levado ao esquecimento.

“O que vocês querem saber? Eu sei alguns segredos de nível nacional, mas não acho que eu possa contá-los a vocês…”

“Não ligamos para isso.”

“Certeza? Eu realmente sei segredos sobre a República de Nauru.”

“Estou falando sério.” Maiza disse, com as luzes em seus olhos inabaladas apesar das tentativas feitas por Elmer.

“O que é essa vila? Por que eles temem você e te chamam de demônio? Vocês está atormentando eles? E aquelas garotas, quem são-”

“Não pergunte tudo de uma vez! Estou ficando confuso! Confusoconfusoconfusoconfuso.”

Elmer segurou sua cabeça com ambas as mãos e começou a tremer, lentamente no início, porém começou a ficar cada vez mais rápido. Sua cabeça tornou-se um borrão…

… E subitamente caiu.

Todos congelaram, ficando com a garganta presa. A cabeça rolou até metade de seu corpo e desapareceu entre o amontoado de tecidos negros, ao mesmo tempo que uma fumaça densa começava a sair de onde seu pescoço antes estava.

A fumaça preencheu o quarto em um instante, temporariamente cegando todos. Ela fazia os pulmões queimarem um pouco ao ser respirada, porém não parecia ser venenosa, então Maiza e os outros ignoraram-na, agachando e tentando ver onde Elmer estava.

Após um tempo a fumaça dissipou-se e eles podiam ver… As roupas negras que Elmer estava vestindo e um objeto rolando no chão, provavelmente a fonte de toda a fumaça.

“Engenhoso como sempre, entendo…” Maiza disse, observando o que restou do gás. Ele não pôde ver nada se movendo; Elmer provavelmente saiu correndo no momento que a fumaça começou a se espalhar.

“Igual os mágicos sempre fazem.” Czes disse para si mesmo, analisando as vestes negras. “Ele desapareceu e deixou as roupas para trás.”

Naquele momento…

“Um jogo! Que tal um jogo?”

A voz de Elmer ressoou pelo cômodo. Ela ecoava estranhamente a partir das paredes de pedra, reverberando felizmente ao seu redor.

“Eu apreciaria se você parasse com essas brincadeiras.”

“Eu vou me esconder de vocês por um mês a partir de agora, continuando meu trabalho! Se vocês conseguirem me achar, irei contar tudo que quiserem saber como um prêmio!”

“Elmer.”

“Desiste, Maiza.” Czes disse. “Você sabe tão bem quanto eu que assim que Elmer decide fazer algo como isso, não há como fazê-lo mudar de ideia.”

Maiza desistiu, aceitando as palavras de Czes.

“Muito bem…”

“Okay! Incrível! Eu sabia que você entenderia, Maiza! Agora, recebo-os mais uma vez! Permitam-me introduzi-los a essa vila, parada no tempo, não, espera, na verdade, para essa vila, que existe por conta própria em uma dimensão alternativa isolada! Em outras palavras, é quadridimensional! Fantasia! Eu estou felizmente esperando uma atuação séria!”

Com esse último discurso, a voz de Elmer explodiu em gargalhadas e após isso lentamente sumiu, com os últimos ecos desaparecendo com rapidez. Maiza jogou-se em uma cadeira e suspirou.

“Suponho que eu deveria estar acostumado com isso, considerando o que acontecia o tempo todo em Nova York.”

“Isso, apesar de que o Isaac e a Miria são bons quando se trata disso, o Elmer não.”

“Quem são esses?” Nile perguntou, não conhecendo os nomes, porém antes que Czes e Maiza pudessem responder, uma batida veio da porta.

Ela era feita de madeira e contrastava curiosamente com as paredes de pedra. Do outro lado dela veio a voz suava de uma garota.

“Ah… Eu preparei um pouco de chá.”

“Ah, minhas desculpas. Pode entrar.” Maiza disse, temporariamente tomando a posição do mestre da casa.

“Com licença.”

A garota que entrou estava vestida de vermelho assim como as outras, mas ela era diferente das três que estavam andando a cavalo. Muito similar, mas o estilo de seu cabelo e as linhas de seu rosto eram sutilmente diferentes.

Ela percebeu que Elmer não estava no cômodo e parou, nervosamente observando o ambiente.

“Elmer disse para nós acharmos ele, mas talvez nós possamos apenas perguntar para essa garota.” Nile sugeriu.

Czes caminhou para frente, com sua linguagem corporal mudando para aquela de um garoto.

“Ei, qual é a sua relação com o Elmer?” Ele perguntou, abusando do direito que era apenas dado às crianças para fazer perguntas invasivas sem se preocupar com qualquer tipo de julgamento. A garota respondeu igualmente.

“Eu… Sou um sacrifício.”

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As pessoas não tinham como saber a quanto tempo a vila existia. Os mais velhos algumas vezes indicavam que sabiam mais do que demonstravam, mas o tempo passava e eles morriam um por um, levando seu conhecimento para o túmulo.

Os aldeões que formavam a maior parte da vila agora eram aqueles que haviam crescido sem saber nada além da vila, e para eles as árvores agrupadas tão próximas ao seu redor eram o mesmo que cachoeiras levando à borda do mundo.

Curiosos tentavam atravessar a floresta, mas suas esperanças e sede por conhecimento nunca foram atendidas.

Eles nem mesmo sabiam que as árvores cresciam artificialmente próximas umas as outras, eram pessoas que não aprenderam o que era natural para início de conversa.

A floresta era grande demais para se atravessar a pé. Muitos voltaram, derrotadas, e alguns deles nunca retornaram. Os aldeões fofocavam, dizendo que a floresta destruía o senso de direção das pessoas, que ela confundia viajantes os fazendo passar pelos mesmos caminhos repetidas vezes. A única estrada que existia tinha um túnel no meio, bloqueado por uma porta trancada, mas recentemente o túnel colapsou, fazendo com que a estrada fosse completamente impossível de ser utilizada.

Porém havia outra estrada, indo mais fundo na floresta, de onde de tempos em tempos vinham as mercantes.

Mas essa estrada tinha um portão, e era feita de uma maneira que nada além da carruagem de metal do mercante, que movia por conta própria, fosse capaz de passar. Houve casos onde alguns embarcaram escondidos na traseira da carruagem e foram embora… Porém esses também nunca retornaram.

Os aldeões perceberam o perigo do exterior e ensinaram suas crianças propriamente.

O exterior é perigoso. Não há nada lá. A vila é tudo.

As crianças sabiam que isso era mentira. Mas a atmosfera da vila fazia com que tais pensamentos fossem impossíveis de vocalizar… E além disso, as crianças eram contidas pelo grande medo do que havia além dos limites da vila.

Haviam pássaros prateados e brilhantes que às vezes voavam alto no céu acima deles. Grande além da imaginação e dando voz a um barulho estranho e assustador, os pássaros pareciam como mensageiros do demônio, espalhando terror nas pessoas da vila.

Mas com exceção dos pássaros demoníacos, a vila não era um lugar tão ruim. Era praticamente autossuficiente, e o mercante trazia óleo para eles acenderem suas chamas. O mercante por si só era a prova decisiva de que algo existia lá fora, mas o aldeões fingiam não perceber. Ele nunca falou sobre o mundo exterior, na verdade nem nunca saiu de sua carruagem, ou até mesmo abaixou o vidro.

Havia uma regra implícita que desencorajava falar com o mercante, e o antigo prefeito havia feito regras proibindo que qualquer um saísse da vila. As regras foram aceitas por todos como completamente naturais, e a vida seguiu sem distúrbios.

Haviam problemas, claro. Não importa quanto os aldeões fossem incapaz de sair mesmo se desejassem, de tempos em tempos pessoas vinham à vila, dizendo que vieram do exterior. Todas elas pareciam ter encontrado a vila por acaso, e algumas delas nem mesmo falavam a mesma língua que eles. Mas… A maioria dos aldeões não conseguia entender o contexto de “forasteiro”, pois não havia tal coisa como um mundo exterior para início de conversa. Para eles, tais pessoas não eram mais nada além de demônios perigosos.

Por exemplo, um grupo de jovens decidiu seguir o primeiro forasteiro que apareceu, encantados por suas descrições sobre o mundo além. Eles saíram com ele, ignorando as preocupações dos mais velhos, com as cabeças preenchidas pelas histórias contadas sobre o mundo de fora.

Nenhum deles retornou.

Eles foram seduzidos por um demônio, todos concordaram.

Após isso, a aparição de forasteiros foi ignorada.

Quando eles vinham, mais ou menos uma vez por década, eles eram perseguidos imediatamente… Ou eles eram, literalmente, apagados da existência da terra.

Temendo o exterior, temendo a possibilidade de que suas vidas pudessem ser negadas, eles continuaram dentro da floresta.

Haviam algumas preocupações com a diminuição da população, mas ainda assim todos viviam relativamente felizes, passando seus dias em paz.

Ao menos até aquele dia há 5 anos, quando o demônio conhecido como Elmer surgiu…

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… E o dia presente.

Na noite após Maiza e seus amigos saírem da vila, as figuras importantes da aldeia estavam todas reunidas ao redor de uma pequena mesa. Como uma só, as suas expressões eram severas, e alguns deles até mesmo demonstravam medo.

Não era um assunto qualquer. O ar por si só estava pesado, esmagando opressivamente as pessoas naquele cômodo de madeira, como se a qualquer momento uma tempestade de chamas fosse cair sobre eles.

“O que vamos fazer, prefeito?”

“Eu não vi por mim mesmo. Os rumores que estão circulando são reais?”

“Há mais demônios agora? Explique o que está acontecendo!”

“O que irá acontecer com essa vila?! Aquela coisa já disse algo?”

O prefeito, Dez Nibil, sentou-se em silêncio e ignorou os gritos dos aldeões.

“Faça algo! Há mais quatro deles?! Todos são demônios?!”

Ao invés do prefeito, um dos jovens decidiu responder. Ele era o homem que havia atirado na perna esquerda de Maiza antes.

“Sim, eu vi com meus próprios olhos. Assim como aquela coisa. Eu não sei sobre os outros três, mas aquele com óculos é um aliado do demônio com certeza!”

“E aquele vestindo a máscara aterrorizante estava falando em um idioma estranha. Deve ser um código que apenas eles conseguem entender. Uma língua de maldições!”

“M-mas você acha que aquela mulher era um demônio também?”

“Bem, err… Eu acho. Espera, não, não, talvez ela não seja.”

Aqueles afetados pela beleza de Sylvie achavam difícil fazer um julgamento em relação a ela.

“E ele se escondeu rapidamente, mas eu vi aquela criança também.”

“Sim, há quatro incluindo a criança. Qualquer que sejam as circunstâncias, eles foram embora assim que Elmer os chamou. Mas… Essa coisa em que estava montados… Vocês acham que tem algo a ver com o mercador?”

“O mercador não é nosso problema agora. O assunto importante é o que vamos fazer a partir de agora. Não acha, prefeito?”

Todos os aldeões ficaram em silêncio e viraram na direção de Dez.

Ele soltou um longo suspiro e murmurou, como se estivesse falando consigo mesmo:

“Estava esperando pegá-los antes que pudessem contatar aquela coisa, mas… Do jeito que mandou mensageiras, eu acho que ele sabia que eles haviam chegado. O problema é: O que farão conosco, considerando que os ameaçamos com armas?”

“Nós sabemos disso! O que estamos perguntando é o que faremos em relação a isso?!”

“Não temos uma escolha! Nós apenas temos que esperar e ver o que ele irá dizer! Não podemos fazer nenhum tipo de plano sem saber nada!” O prefeito gritou, irritado, mas os aldeões recusaram-se a recuar.

“Se eles vierem durante a noite em busca de vingança nós estamos acabados!”

“E se eles decidirem pedir por mais… Nós teremos que começar a usar nossos alimentos estocados.”

“Eles iram nos fazer morrer de fome!”

“Você é o prefeito, não é?! Faça algo!”

“Chega!”

Dez bateu com o punho na mesa e berrou, uma veia pulsava em sua testa.

“O que vocês querem que eu faça?! Usem suas cabeças um pouco antes de virem me irritar! Vocês têm alguma ideia boa? Vocês tem algo, algum plano que pode matá-los ou forçá-los a sair? A única diferença entre eu e vocês é que sou o prefeito e vocês não! Se quiserem, eu entrego o meu cargo para qualquer um! Veremos então que grande plano irá surgir! Vamos ver o quão bem vocês podem liderar a vila!’

Nenhum dos aldeões foi capaz de responder. Ninguém entre eles conseguia pensar em um plano além de esperar e ver.

Então, uma voz alta vinda de trás de Del quebrou o silêncio.

“Isso foi um pouco rude, pai.”

“Felt. Isso não é problema seu.”

Um garoto que parecia estar em sua adolescência estava de pé ao lado da porta. Ainda haviam traços infantis em seu rosto, mas a luz em seus olhos já era forte e clara.

“Os aldeões apenas estão nervosos. Eu também. É por isso que estamos todos buscando por seu suporte, pai.”

Dez manteve seu silêncio.

“Essa não é a hora de discutir assim. Nós temos que nos agrupar em tempos difíceis para proteger a vila.”

Suas palavras eram tão francas que quase soavam infantis, mas ao invés disso serviram para acalmar os aldeões, que estavam no limite de perder sua calma.

“Por enquanto, nós temos que fazer como meu pai diz e observar o que acontece. A criança e a mulher podem ser apenas reféns ou prisioneiros… E nós podemos ser capazes de descobrir uma fraqueza. Nós devemos fingir obedecer e esperar o tempo certo chegar.”

Os aldeões olharam uns para os outros, considerando a proposta do rapaz. Houve uma breve discussão, após qual a maioria deles vocalizou a sua aprovação, decidindo assim que por enquanto eles iriam manter as coisas como elas eram.

“Assim está bom, não é, pai?”

“Faça como desejar.” Dez disse rudemente, levantando-se para sair do cômodo, talvez tendo considerado que seu filho havia tomado sua posição.

Então, um dos aldeões fez uma pergunta para ele, com incerteza preenchendo sua face.

“Mas prefeito, se eles pedirem por mais sacrifícios…”

“Eu sei. Nós apenas temos mais um sobrando. Se acabarem, então teremos que começar a oferecer as damas da vila…”

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Uma voz irritada vem da prefeitura enquanto eu caminho até minha cabana para dormir. É a voz do Mestre Dez.

Talvez eu tenha cometido outro erro, apesar de que eu não lembro de ter feito algo assim.

Eu não desejo fazer isso, mas eu tenho que me certificar.

A prefeitura é levemente elevada em relação ao chão. Enquanto eu subo as escadas, percebo que há muitas pessoas dentro. Elas provavelmente estão discutindo sobre o Mestre Elmer. Talvez o grito de agora não tem nada a ver comigo.

Ao me aproximar da porta ela subitamente abre.

Choque.

A porta me derruba e eu caio no chão.

Meu nariz dói. Eu encosto nele e percebo que está sangrando.

“Droga, essa porta apenas se recusa a abrir, não é?!”

A voz do Mestre Dez vem logo acima da minha cabeça. No instante seguinte, uma dor excruciante assalta meu corpo repetidas vezes em rápida sucessão.”

“Droga! Droga! Droga!”

Mestre Dez me encara enquanto abre e fecha a porta repetidas vezes, chocando-a contra meu corpo.

Eu contorço meu corpo e quase consigo impedir a porta de bater contra meu corpo novamente.

Mas eu perco meu equilíbrio ao tentar me levantar e caio, agora ficando entre a porta. Uma enorme dor subitamente atinge minhas pernas.

“Ah, agora ela não fecha!”

De novo e de novo, agonia assalta meus sentidos.

Dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, isso dói, isso dói, isso dói, isso dói, isso dói…

Eu perco a habilidade de expressar o que sinto em palavra e meu corpo se encolhe com o tempo, mantendo-se parado.

O choque para, e acima da minha cabeça posso ouvir a voz agitada do Mestre Dez.

“Ah, sua vagabunda inútil, você ensanguentou toda a porta! Limpe antes da madrugada!”

Após o Mestre Dez sair, o restante dos aldeões também saem, passando por cima do meu corpo.

“Que desconcertante…”

“Ela estava bisbilhotando…?”

“Honestamente…”

Os aldeões evitaram meu corpo como se eles estivessem evitando o corpo de um cachorro. Eles franziam as sobrancelhas e falavam sobre mim como se eu fosse alguma sujeira.

Isso acontece o tempo todo. Isso não é nada novo. Mas por que isso me preocupa agora? Talvez por causa dos convidados do Mestre Elmer.

No momento que eu consigo ficar de pé, apenas o Mestre Felt está perto de mim.

“Não parece que você está tão machucada. Está tudo bem?”

O Mestre Felt me olha com pena e então sai, comentando algo.

“… Se eles pedirem por outro sacrifício, provavelmente será a sua vez. Faça isso pelo bem da vila. Me desculpa.”

Mestre Felt não me bate ou me despreza.

Mas ele também não me ajuda.

Eu sei disso. Nada vai mudar.

Essa é meramente a minha situação. Eu não preciso pensar em nada.

Nada vai mudar. Nada está errado. Todos os dias vão continuar após o anterior, tudo igual.

Mas mesmo assim, aah, mas mesmo assim.

Por que aqueles que vêm de fora me tratam tão gentilmente?

Eles não me batem, eles não me chutam, eles não ficam irritados se eu ouso dormir em uma cama.

Talvez o Mestre Elmer seja a única exceção.

Esse pensamento é a única coisa que permite que eu prossiga.

Eu já sei.

A possibilidade de um mundo diferente que existe além dessa vila, além dessa floresta.

Então por que eu devo viver aqui, sendo tratada assim?

O Mestre Elmer me disse que podem haver lugares melhores que esses, mas também há lugares muito piores também. Mas eu desejo acreditar na minúscula chance de um amanhã melhor enquanto a possibilidade existir.

Eu quero sair. Qualquer lugar além dessa vila. Se eu posso viver sem ser espancada, sem ser machucada, sem ser solitária, então qualquer lugar, qualquer lugar…

Mas esse é um sonho que não posso ter.

Uma esperança que nunca virá.

Porque sair desse lugar significaria a morte.

Seria melhor se eu tivesse continuado ignorante, se eu não tivesse motivo para ter sonhos impossíveis… Esperanças tão fúteis.

Estou triste. Eu quase me encontro desprezando aquele que me deu sorrisos, aquele que me ensinou felicidade, Mestre Elmer.

Eu lembro. Eu lembro claramente.

O sentimento é… Ódio.

Eu odiei o Mestre Elmer antes de odiar os aldeões.

Isso me deixa mais triste do que tudo.

Eu sinto como se eu fosse algo que não deveria existir nesse mundo…

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23 de Dezembro, noite.

O velho castelo.

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A noite chegou.

A escuridão, tão clara ao ponto de parecer congelada, fez o já gélido ar da floresta tremer de frio.

O telhado do velho castelo foi construído de maneira plana, para que alguém consiga caminhar por ele como o terraço de um prédio. Apenas o telhado da torre protuberante do sul foi construído em um cone, tornando-o difícil de escalar.

Um homem estava deitado no cone íngreme, observando as estrelas.

“Elmer.”

O homem silenciosamente olhou para baixo ao ser chamado.

“Ah.”

No canto de seus olhos ele viu o torso de um garoto. A outra metade de seu corpo estava escondida pela borda do telhado, como se ele estivesse com dificuldades para escalar. Após um tempo, Czes conseguiu subir completamente até o telhado.

Elmer parabenizou-o enquanto ele ofegava, claramente exausto.

“Então você achou os apoios próximos à janela. Estou impressionado.” Elmer disse sinceramente. “Você veio sozinho?”

Czes não respondeu, ao invés disso decidiu olhar ao redor.

“Esse castelo é muito estranho. O design dele é como o de uma fortaleza em Luxemburgo, mas esse telhado em formato de cone é mais comum na Dinamarca… Parece que foi feito a partir de uma mistura de diversos castelos diferentes.”

“Você é esperto. Estou surpreso… Eu não sabia nada disso.

“Metade disso veio das observações de Maiza.”

“Haha, então o que acha de adicionarmos algumas telhas e uma ou duas gárgulas enquanto estamos aqui?”

Czes deu um sorriso largo para Elmer e cuidadosamente começar a caminhar através do telhado.

Elmer o viu se aproximando e subitamente ficou de pé. Apenas uma pisada em falso e ele cairia brutalmente no chão abaixo, mas nem um pingo de preocupação surgiu em sua face.

“Heheheh, você pode ter achado que me encurralou, mas verá que está errado! Você acha que pode me perseguir, O Grande Elmer ‘Pés Divinos’ Albatross?”

“Para onde você vai correr?” Czes respondeu.

Elmer olhou ao seu redor e parou para pensar um pouco.

“… Eh?”

Não havia nenhuma parte do telhado para as quais ele poderia ir, e até mesmo do ponto mais baixo que poderia alcançar, pular para o chão certamente iria terminar com algo muito pior que um ou dois ossos quebrados. Ele pode ser um imortal, mas coisas que machucam ainda machucam. Suor escorria de sua testa enquanto mantinha-se parado.

“Bem, uh, se você vier para cá, então eu vou correr para o outro lado desse cone.”

“E nós iremos correr para sempre?”

“O que você acha de fazer parte de um teste que iria abalar as fundações da ciência moderna? Veremos quantas vezes precisamos correr ao redor disso até nos tornarmos manteiga.”

“Eu irei recusar.” Czes retrucou, e Elmer inclinou sua cabeça para um lado.

“Eu acho que a pessoa que pensou primeiro em fazer tigres virarem manteiga tinha que ser um gênio, não acha?”

(N/T: Isso vem do livro “A História do Pequeno Negro Sambo” de Helen Bannerman, a história de um garoto indiano que engana três tigres, os fazendo perseguir um ao outro ao redor de uma árvore até eles virarem manteiga.)

“Você não precisa tentar me distrair. Eu não estou aqui para te pegar. Só quero conversar.”

Czes sentou-se onde estava e deitou seu corpo pequeno no telhado.

“Conversar? Eu já te disseeee, se você não me pegar eu não vou-”

“Não é sobre isso. É pessoal.”

“Hmm?”

Elmer aproximou-se, intrigado pela seriedade súbita de Czes.

“Enfim, você ainda gosta de ir para lugares altos de noite, não gosta? Eu lembro que você costumava subir no cesto da gávea toda noite para olhar as estrelas.”

“Ah… Aaah… Aaah, então é isso. Por isso que você soube que eu estaria aqui em cima? Eu não esperava ser achado no primeiro dia, sabe? Fiquei surpreso.”

“O quê? Você estava mesmo planejando se esconder por um mês inteiro?”

Ao invés de responder, Elmer colocou a mão no telhado e elevou seu corpo para uma posição quase inteiramente reta, virando seu rosto na direção de Czes.

“Então, sobre o que você quer falar?”

Ele sabe que eu teria dificuldades em iniciar a conversa.

Czes soltou um suspiro ao perceber as intenções de Elmer.

Então, mudando de ideia, ele deu um sorriso falso e abriu sua boca para falar.

Mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, Elmer interrompeu-o:

“Não force seus sorrisos. Não combina contigo.” Ele disse.

Czes respirou profundamente e seu rosto ficou sem expressão.

Em seguida, uma expressão estranhamente matura surgiu em sua face. Ele encarou Elmer, com o ar ao seu redor completamente diferente de antes.

“E eu vejo que você está mal-humorado como sempre.”

“Eh? Por que você está subitamente agindo como um adulto?”

“… O quê?”

Confusão atingiu Czes. Ele pensou que Elmer havia visto através de sua verdadeira natureza e deu-lhe um aviso para não esconder-se.

“Você não percebeu minha atuação?”

“Não, bem, eu só estava falando sobre o seu sorriso falso, não sua… Eh? O quê? Você estava atuando?”

“Entendo, então eu fui o tolo aqui…” Czes murmurou, curvando a sua cabeça em desistência, enquanto Elmer finalmente percebeu o que estava acontecendo.

“Ah! Ah, isso, eu entendi agora. Certo, eu entendo. Okay. Deixa comigo. É isso, sim. Eu não sei como não percebi antes. Eu deveria ter percebido que era estranho você ainda agir como uma criança após trezentos anos. Certo, desculpa, desculpa por não perceber.”

Czes meramente olhou para o céu e suspirou com a resposta de Elmer. E enquanto o vapor branco de sua respiração misturava-se com a escuridão, o imortal que parecia com um garoto começou a falar:

“A coisa estranha é: Maiza não mencionou isso uma única vez nos setenta anos desde que me encontrei com ele. Eu não acho que Sylvie ou Nile tenham percebido também.”

Seus olhos ainda infantis estavam brilhando de ansiedade.

“Eu tenho uma pergunta. O que somos para você?”

“Companheiros.”

Nem um pingo de hesitação. A resposta de Elmer veio curta e simples no momento que a pergunta saiu da boca de Czes.

Os olhos do garoto arregalaram-se de surpresa, e Elmer, agitado, começou a procurar outra resposta.

“Não, não, não, não, não, espera, espera, espera, espera, espera, espera. Eu acho que apenas dizer “companheiros” dessa forma soa um pouco falso e infantil saindo da minha boca, não é? Eu gostaria de chamar vocês de amigos, mas você é maturo demais, então… Talvez colegas de chá, espera, talvez associado, pessoa de confiança… Talvez colega de trabalho? Camarada… Não, talvez levar pro latino e dizer Compañero… Combo… Et cetera.”

Ele realmente disse et cetera em voz alta…

Claro, Elmer não tinha como ouvir os pensamentos desacreditados de Czes, então continuou murmurando para si mesmo, finalmente batendo suas palmas e as unindo.

“É isso, a expressão que se encaixa perfeitamente é ‘tramando algo’…”

“Claro que não. Que conclusão tola.” Czes disse rudemente, interrompendo Elmer antes que ele pudesse continuar.

“Mas é isso que Denkuro me disse antes: ‘Você e Huey provavelmente estão tramando algo’.”

“Isso não é uma expressão positiva… Aah, não, é minha culpa por ter feito uma pergunta séria.”

“Poxa vida, não seja como o Maiza. Aja mais como uma criança, beleza?”

Czes subitamente grunhiu, irritado com as palavras de Elmer.

“Pare com isso. Eu já te disse, por dentro eu não sou mais um pirralho.”

“Verdade. Creio que você esteja certo. Mas falando a verdade, é um pouco assustador ouvir você dizendo algo assim. Você é um garoto eterno, em outras palavras, o único Garoto Perdido (Referência a Peter Pan) no mundo, então sorria como uma criança deveria. A visão do sorriso mais sincero de uma criança deixa as outras pessoas felizes. Apesar de que eu não posso dizer com certeza se isso se aplica a pessoas que não gostam de crianças. Hahahahaha.”

“Então você está dizendo que meus sentimentos em relação a mim mesmo não importam?”

“Eu não quis dizer isso! Isso é totalmente por sua conta! É difícil para um adulto rir como uma criança, mas você pode fazer isso, não pode? Não apenas isso, mas você comprar meia-entrada no cinema, ir pedir doces no Halloween e ter todo outro tipo de tratamento especial. E você pode agir como um adulto apenas quando for melhor para ti, como está fazendo agora mesmo. E como eu disse antes, apenas sorrindo você pode fazer as pessoas ao seu redor felizes. Todos vão sorrir, e então você irá sorrir por causa disso também. Pense nisso, apenas fazer essas coisas você estará preenchendo os seus arredores de felicidade! Droga, estou com inveja!”

Czes franziu as sobrancelhas, incapaz de entender o argumento de Elmer.

“… Do que você está falando? E isso é algo sobre o que pensei há muito tempo, sua obsessão com sorrisos me surpreende. Apenas sorrir irá trazer felicidade para as pessoas? O quão simples você é?”

“O que é isso?! Um sorriso é a maior forma de demonstrar emoções que os humanos têm! Você não conhece o que falam?: Pensamentos positivos atraem coisas boas!”

“Um ditado é apenas um ditado. Além do mais, qual é a sua base para ranquear emoções?”

“Minha preferência.” Elmer respondeu. Czes soltou um longo e pesado suspiro.

“Como alguém tão ilógico pode ser um alquimista?”

“Hahaha, não há como alguém que tenta criar ouro a partir de metais básicos ser minimamente lógico.”

“Aaaaah, você realmente disse isso.” Czes falou, colocando ambas as mãos na própria cabeça. “Você acabou de negar sua própria existência.”

Elmer começou a gargalhar e sentou-se próximo a ele.

“Você não acha que é arrogante chamá-los de metais básicos pra início de conversa? Que tipo de direito nós temos para forjá-los, fundi-los, fazer todo tipo de coisa a partir deles e então chamá-los de básicos?”

Elmer novamente ficou de pé e começou a andar ao redor de Czes, como se estivesse provocando-o. Era óbvio que essa era uma ação inútil, mas Elmer parecia estar adorando.

“Por volta do século 15, alquimistas encontraram-se divididos em duas facções. Um lado era feito de pessoas que pesquisavam tudo o que podiam, aqueles que criaram a fundação para a ciência moderna. O outro lado era composto por místicos que tentaram atingir os objetivos fundamentais da alquimia. Creio que somos o último. Eu acho que se não fossemos, não teria como nós termos concordado em deixar Maiza tentar invocar um demônio. Apesar de que talvez Huey e Szilard faziam parte dos dois lados ao mesmo tempo. O que estou tentando dizer é: Nós invocamos um demônio e recebemos a imortalidade. Eu acho que é muito tolo ser lógico considerando pelo que passamos. Você não acha que já é a hora de vivermos seguindo nosso coração?… Então vamos sorrir, Czes.”

“Seguir meu coração? Sinceramente, agora mesmo estou tão frustrado com você que estou prestes a explodir.” Czes disse friamente, encarando Elmer com olhos estreitados.

Elmer percebeu isso e parou de girar. Diferente de Czes, seus olhos estavam arregalados.

“Eh, por quê?! Ficar frustrado em uma noite amável como essa não faz bem para a saúde. Irá tirar anos de sua vida. Espera. Ok. Entendido. Pare. Não olhe para mim como se eu fosse um vira-lata que decidiu te cheirar. Certo, eu irei te escutar seriamente. Eu acho que posso ter ficado um pouco animado por causa de todas as estrelas no céu.”

“Você nunca sabe quando ser sério… Isso não é o que está me deixando frustrado. O que eu queria perguntar para você, e o que está me frustrando, é sobre essa sua calma.”

“Heheh, eu vou levar isso como um elogio.”

“Não é! Nada disso foi um elogio! Você sempre atrapalha a solenidade de outras pessoas desse jeito. Mas apenas dessa vez, me dê uma resposta séria.”

Elmer sorriu meio desconcertado diante do olhar severo de Czes e sentou-se em silêncio.

“Me diga, por que você não perguntou quem devorou Szilard?”

Antes que Elmer pudesse responder, o imortal no corpo de uma criança continuou:

“Como você pôde nos receber tão facilmente? Nós poderíamos ter vindo para te atacar! Eu até mesmo coloquei minha mão direito no seu rosto, não, na sua cabeça! Você nem mesmo tentou afastá-la! Você não mostrou um pingo de medo; Sua expressão nem mesmo mudou! Como?! Como você pode ser tão cego ao perigo? Você acreditou que não seria devorado? Você acreditou tão fielmente que nenhum de nós havia mudado com o passar dos séculos?!”

As palavras de Czes tornavam-se cada vez mais feias e Elmer meramente manteve-se em silêncio.

Enquanto Czes recuperava seu fôlego, ele apenas sorriu timidamente e olhou direto em seus olhos.

“Eu esqueci.”

“…… O quê?”

“Não, não, não, bem, eu acabei de lembrar que havia essa regra. Então significa que o velhote Szilard morreu assim. Eu esqueci disso.”

“Eu disse para me dar uma resposta séria!”

A voz de Czes elevou-se, mas o sorriso de Elmer não sumiu.

“Não, isso não é uma piada. Eu não estou mentindo, eu realmente esqueci.”

Czes finalmente desistiu. Elmer sempre foi um mentiroso, e muito bom nisso, mas quando ele dizia ‘Eu não estou mentindo’, era sempre verdade.

“… Você está mentindo.”

“Estou falando a verdade.”

“Você está mentindo! Você… Você fugiu porque estava com medo de ser devorado também, não é? É por isso que estava se escondendo em um lugar como esse!”

As acusações de Czes soavam mais como um pedido desesperado, mas Elmer impiedosamente sacudiu a cabeça.

“Eu não vaguei pelo mundo para evitar Szilard ou os outros. E mesmo se eu não tivesse esquecido as regras, eu ainda teria recebido vocês assim como fiz.”

“Você está mentindo.”

“Já te disse que não estou. Eu sei que você não é assim, e mesmo se um entre vocês tivesse devorado Szilard, eu não teria intenção de afastá-lo.”

“Como você espera que eu acredite nisso-?!”

No momento que Czes levantou-se para encara Elmer, ele segurou o pulso direito do garoto e colocou a sua palma contra a própria testa. Se Czes pensasse, mesmo que por um instante, que ele queria devorar, o corpo de Elmer e suas memórias certamente seriam sugadas diretamente pela sua mão direita.

Mas aquele que encontrava-se suando frio era Czes, não Elmer. Ele puxou sua mão para longe de Elmer e afastou-se, com a sua palma encharcada com o próprio suor. Sua pulsação ecoava em suas orelhas e sua respiração ficou ofegante em um instante.

Elmer sorriu carinhosamente para Czes.

“Você acredita em mim agora?”

Czes por um momento encarou aquele rosto completamente relaxado e sem medo antes de recobrar sua calma e desviar o olhar, murmurando por entre sua respiração. Porém, sua aparência ainda era aquela de um garotinho, então seu perfil de descontentamento não tinha nem metade do efeito pretendido.

“… Como… Como você consegue fazer algo assim?” Czes perguntou suplicando, olhando para Elmer com olhos cheios de arrependimento e sofrimento.

“Como você pode fazer essas coisas… Não apenas você, Elmer. Maiza, Begg, Sylvie, todos eles me receberam logo de cara sem um traço de desconfiança. Houve certo problema com Nile no início, mas até mesmo está bem comigo agora. Não, não apenas eu. Todos eles estão completamente bem entre eles. Todos eles acreditam que ninguém vai tentar devorar mais ninguém!”

O olhar de Czes mudou para o chão e ele silenciosamente sacudiu sua cabeça. Ele continuou com uma voz fraca, como se tivesse desistido.

“Eu sei que pessoas mudam. Não apenas isso, mas pessoas são fundamentalmente más! Eu sei disso! Mas há um tempo, não sei quando, comecei a duvidar disso. Décadas atrás eu fui para Nova York sozinho. Estava planejando encontrar Maiza novamente e devorá-lo. Mas no caminho para lá eu encontrei outros imortais. E não apenas lá, quando cheguei em Nova York haviam diversos outros, pessoas diferentes das que estavam conosco no barco! Você pode acreditar? Mas isso não importa. O que mais me assustou foi que… Cada um deles era uma pessoa boa!”

Havia outros imortais além deles.

Isso foi surpreendente para Elmer, mas ele não questionou isso. Parecia que Czes estava mais abalado do que transpassava, pois parecia que ele não percebeu que havia acabado de revelar algo importante.

“Isso não é algo bom?”

“Claro que não! Eu te disse, eu sei melhor do que qualquer um que seres humanos são fundamentalmente maus!”

Czes hesitou por um momento, porém abriu a usa boca e falou:

“… Eu devorei Fermet.”

Fermet. Elmer ficou em silêncio. Apesar de que eles nunca tiveram a chance de conversar, se a sua memória estava certa, Fermet havia sido um de seus companheiros alquimistas e o guardião de Czes.

“Fermet me torturou impiedosamente, dizendo que eram testes necessários. Ainda assim, eu acreditei nele. Mas ele continuou me machucando ainda mais!”

A confissão inesperada deixou Elmer sem palavras. O Fermet em suas memórias não era um homem que teria feito tais coisas a Czes, que era como um irmãozinho ou até um filho para ele.

“Mas você sabe? Eu acreditei nele, eu acreditei nele mesmo após tudo que ele fez comigo, e então em um dia ele tentou me devorar! Eu lutei por minha vida e subitamente me encontrei com minha mão direita na sua testa… Consegue imaginar o inferno que surgiu para mim? O que eu senti quando percebi que a pessoa em quem confiava tanto na verdade estava cheia de uma malícia monstruosa em seu interior, e a agonia que veio ao ter que carregá-lo dentro de mim! É por isso que eu odiei o mundo. Eu decidi que o mundo inteiro, incluindo eu, era algo mau. Mas por que, por que todos eles são tão bons comigo?! Eu sinto como se fosse a única pessoa ruim na terra. Você, Maiza, Isaac, Miria, Firo, Ennis e todo o resto… Como? Por quê? Vocês todos… Vocês todos…”

Czes curvou a cabeça; Suas palavras se recusavam a sair.

Elmer estava em silêncio por um longo período, então subitamente olhou para o céu e murmurou algo, como se estivesse falando consigo mesmo:

“Eu sinto inveja de você.”

Czes lentamente elevou sua cabeça.

“Eu realmente sinto. Olha, Czes. Considere que os humanos sejam bons ou maus. Digamos que dos seis bilhões de pessoas vivendo no mundo, 99.9% delas são más. Isso significa que desde que você subiu naquele trem teve a sorte de encontrar as pessoas dos outros 0.1% uma atrás da outra! Quais são as chances disso? É como o número da loteria ser o mesmo duas vezes seguidas, e você ter os dois cartões vencedores! Como um asteroide colidir com a terra, ou um bando de chimpanzés escrever todas as obras de Shakespeare!”

A rápida enxurrada de palavras vindas da boca de Elmer fizeram Czes sentir-se ainda mais aturdido. O fato de que ele sabia que Elmer não estava apenas confortando-o com palavras vazias, mas sim expressando sua honesta opinião, fazia tudo isso ser mais doloroso.

“… Eu invejo esse seu otimismo.”

“Otimista ou não, estou dizendo a verdade. E enquanto estamos falando disso, quero deixar claro que você também é um rapazinho bom, então relaxe e viva um pouco, Czes.”

“Eu não preciso ser consolado. Apenas estou irritado. Ninguém mudou, mas eu estou me tornando cada vez pior. Sou o único que está mudando. Isso me deixa tão irritado que não consigo aguentar.”

Talvez tendo mais nada a dizer, Czes virou-se e foi em direção aos apoios que levavam até a janela. Logo quando ele estava se preparando para descer, Elmer falou algo para si:

“Você é estranho. Se você se preocupa tanto sobre ser uma má pessoa… Então você apenas pode tornar-se alguém bom.”

“Não é tão simples.”

“Czes, você só cresceu, isso é tudo. Você não mudou. Você apenas viu as partes boas e ruins desse mundo. Isso é algo bom. E se você ainda acha que mudou tanto… Então pode mudar de novo. Assim como a água que congela pode derreter novamente, pessoas podem mudar como quiserem.”

Elmer coçou sua cabeça timidamente e riu.

“Se você quiser derreter de novo, apenas precisa sentir o calor ao seu redor. Mesmo se você não conseguir aceitar essa gentileza, o mínimo que pode fazer é reconhecê-la, não acha?”

“Eu não sei como você pode dizer isso com um rosto sério. Do que importa para você se eu mudo ou não?”

“Eu já te disse. Você fica melhor quando sorri como uma criança. Não apenas você. A vasta maioria das pessoas no planeta nascem para parecer melhor ao sorrirem. Então se você quiser sorrir, irei te ajudar de qualquer forma. Ah, mas peço que você não me peça para matar alguém, ou me matar.”

Czes parou e olhou para trás, com o rosto sem expressão alguma.

“E se eu te pedisse para pular desse telhado agora mesmo, você faria? Isso não te mataria.”

Elmer não respondeu.

“Você não pode fazer promessas tão-”

Czes não foi capaz de terminar.

“Certo, entendi. Opa.”

“Huh?”

Com um grito confuso, Elmer desapareceu da vista de Czes.

No momento que ele percebeu o que aconteceu, um barulho alto ecoou vindo do chão abaixo.

Um momento depois, uma comoção soou quando Maiza e os outros vieram para ver o que era.

“Elmer? Elmer, acorde!”

“O quê? O que você está fazendo morto aqui?”

“Hmm, que sorte. Nós devemos amarrá-lo antes que volte à vida…”

Czes encarou o céu estrelado, ouvindo os barulhos. Uma expressão irreconhecível surgiu no rosto do garoto enquanto ele murmurava para si mesmo:

“Desculpe, Elmer… Eu aprecio o esforço, mas o sorriso não apareceu…”

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