Hai to Gensou no Grimgar – Capítulo 15 – Vol 07 - Anime Center BR

Hai to Gensou no Grimgar – Capítulo 15 – Vol 07

Capítulo 15 – Porque ele tem uma razão.

Alluja havia sido uma cidade massiva. Havia até teorias que diziam que ela prosperou antes do conflito entre Lumiaris e Skullhell começar.

Levaram um dia inteiro para atravessar as ruínas da Grande Alluja. Durante esse tempo, fizeram várias pausas, e aqueles que conseguiam tirar um cochilo o fizeram, mas, mesmo que pudessem deixar de lado o medo dos logoks, ainda teriam medo dos nivles.

Acontece que os nivles se alimentavam principalmente de logoks, mas os humanos eram muito mais apetitosos para eles. Se vissem, ouvissem ou detectassem um humano de qualquer forma, eles realmente o perseguiriam até os confins do mundo. E não apenas isso, eles não atacavam cegamente; também eram astutos ao encontrar boas oportunidades para atacar.

O Sr. Unjo disse que eles tinham quatro metros de comprimento, mas isso variava de acordo com o espécime, indo de três metros até quase cinco metros nos maiores. Os machos tinham cristas, enquanto as fêmeas não. Quanto maior e mais vistosa a crista, mais violento era o macho, mas esses atacavam de frente com confiança, o que os tornava mais fáceis de lidar. Surpreendentemente, eram as fêmeas, de aparência mais discreta, que eram mais perigosas. As fêmeas eram calculistas, e rápidas também. Eram oponentes assustadores.

Haruhiro e os outros derrubaram sete nivles enquanto atravessavam a cidade em ruínas. Quatro machos, três fêmeas. Cada luta havia sido até a morte. Foram apenas afortunados por nivles não caçarem em grupos. Se tivessem que enfrentar mais de um ao mesmo tempo, não teriam chance.

As peles de nivles aparentemente eram vendidas por um bom preço, mas também eram volumosas, então não parecia valer a pena carregá-las. Eles tentaram cozinhar e comer a carne, e não era exatamente ruim.

Quando chegaram ao fim das ruínas, havia uma ladeira descendente. A inclinação não era particularmente íngreme, mas descia por um longo caminho. Era como se estivessem indo para as profundezas da terra. Descia tanto que, mesmo durante o dia, ficava tão escuro que eles não conseguiam ver o que havia à frente.

Se não tivessem o Sr. Unjo para guiá-los, jamais teriam descido. Afinal, era assustador.

— Hm, o que tem depois daqui…? — Haruhiro criou coragem para perguntar.

— Orcs — respondeu Sr. Unjo, tão indiferente quanto sempre.

Walk? — Yume repetiu.

Não, Yume, pensou Haruhiro, não é isso. Por que você está falando de andar? Bem, estamos andando, mas…

 

(NT: Walk = Andar)

 

— Espera… — Mary perguntou, — Orcs, você quer dizer…?

— Eles são parecidos, pelo menos — Sr. Unjo desceu a ladeira, um passo de cada vez. — Além disso, eles também são chamados de orcs aqui em Darunggar.

— Uau! — Ranta estremeceu. — Caramba. Agora estou com arrepios. É tipo, sabe, no nosso mundo, os orcs são inimigos, mas aqui, sinto quase uma afinidade com eles… Bem, não, nem tanto, mas ainda assim…

O Sr. Unjo bufou.

— Eles são inimigos aqui também.

— Esses orcs, — Shihoru disse, com uma voz tão baixa quanto o zumbido de um mosquito — poderiam ter vindo de Grimgar…?

— A entrada para a saída… — Kuzaku sussurrou para si mesmo.

O Sr. Unjo apenas disse: — Quem sabe? — Então, após um longo silêncio, como se estivesse se lembrando pela primeira vez em muito tempo, disse: — Aqui pode ter sido o lar deles.

A colina era rochosa, mas estava coberta de pedrinhas finas que pareciam areia. Por causa disso, precisavam ter cuidado para não escorregar.

A ladeira aparentemente estava livre de nivles. Isso provavelmente porque os logoks de que eles se alimentavam viviam em Alluja.

Aqui e ali, havia buracos com cerca de um metro de diâmetro. O Sr. Unjo os evitava. Quando perguntaram por quê, ele disse: — Porque lá dentro há gujis.

De acordo com ele, um guji era uma criatura entre um macaco e um urso, e eles lutavam até a morte para defender suas tocas. Se cutucassem a toca mesmo que um pouco, às vezes mais de dez gujis sairiam, e isso viraria um grande problema. Se conseguisse pegá-los, gujis eram comestíveis, mas eram musculosos e sua carne era incrivelmente dura, mesmo quando cozida. Se cozinhasse até amaciar, o caldo supostamente era bom. Não que eles fossem pegar um, ou cozinhá-lo.

Eventualmente, começaram a ver luzes vermelhas aqui e ali. A temperatura também estava subindo. Estava um pouco quente. Havia vapor subindo de todo lugar. A palavra “cratera” passou pela mente de Haruhiro. As luzes poderiam ser lava… talvez?

Logo passaram por uma dessas luzes. Estava borbulhando e soltando vapor. Sem brincadeira, parecia realmente ser lava. Se escorregassem e caíssem ali, teriam algo muito pior do que queimaduras.

Eles também se depararam com um rio. A profundidade não chegava nem à altura dos joelhos, e a água era levemente morna, mas não muito quente.

— Uma fonte termal? — Mary perguntou.

— Banho misto! — Ranta exclamou.

— Nem pensar! — Yume deu um tapa na parte de trás da cabeça de Ranta.

— Também é potável — disse o Sr. Unjo, apontando para o rio de água termal com o queixo. — O gosto é estranho, mas não causa indigestão. Vamos descansar aqui.

A party, obviamente, não entrou no esquema de banho misto, mas cavaram um buraco nas margens do rio e os garotos e garotas se revezaram para se lavar. Felizmente, o Sr. Unjo se ofereceu para fazer a vigia.

— Eu não sei nem o que dizer… — Kuzaku disse, afundando até os ombros na água. — Não te dá aquela sensação de estar feliz por estar vivo? Só eu? Tipo, eu poderia morrer satisfeito agora. Não que eu queira morrer, mas… Isso é muito bom…

— Sei como você se sente… — Haruhiro pegou um pouco de água nas mãos, lavando o rosto suavemente. — Isso é ótimo. Sério, isso é maravilhoso…

— Como assim? — Ranta cruzou os braços. — Estou decepcionado com vocês dois! A gente poderia ter convencido elas a entrarem com a gente. Se vocês dois tivessem concordado comigo, elas teriam dito algo como: Bem, dessa vez, acho que não temos escolha. Vocês são idiotas? Como vocês podem ser tão inúteis?

— …Eu estou curioso para saber em que momento você achou que havia alguma chance delas concordarem com isso? — Haruhiro perguntou.

— Hã? É tudo uma questão de sentimento, cara, de vibe. Dizem que, quando você está viajando, deve deixar a vergonha para trás, certo? Se todo mundo fizesse isso, elas topariam o banho misto, não acha? Quero dizer, as garotas não são burras.

— Bom, Yume, Shihoru e Mary não são burras como você, então elas nunca pensariam isso.

— Ah, cala a boca! Eu queria um banho misto! Eu quero tomar banho com garotas! Eu querrroooo!

— Você é tipo um maníaco por banho misto, hein? — Kuzaku suspirou profundamente. — Cara, isso está bom demais…

Talvez por ter tomado um bom banho, ou pela falta de sono, Haruhiro dormiu profundamente. Yume teve que sacudi-lo para acordar, e ele se sentiu mal por isso.

O Sr. Unjo lhes contou que, uma vez, ele havia sobrevivido usando aquele Rio de Águas Termais como seu ponto de abastecimento. Foi nessa época que ele também comeu carne de guji.

Depois que atravessaram o Rio de Águas Termais e seguiram em frente, o terreno nivelou. Quando perceberam, no entanto, uma falésia íngreme se erguia diante deles. Não era um beco sem saída. Havia fendas na falésia.

As fendas serpenteavam para dentro, estreitando-se e alargando-se. Não conseguiam ver nem alguns metros à frente, o que os deixava incrivelmente inquietos. Será que o Sr. Unjo havia encontrado esse caminho e passado por ali sozinho?

Se Haruhiro estivesse no lugar do Sr. Unjo… ele não teria conseguido. Nem precisava pensar a respeito. Seria impossível para ele. Ele não tinha a habilidade, nem o apego à vida.

Quando fazia algo por seus companheiros, Haruhiro conseguia se esforçar bastante. Mas quando se tratava de si mesmo, ele era inútil. Não suportava a dor, o sofrimento, ou até mesmo a falta de esperança. Para o bem ou para o mal, era simplesmente assim que Haruhiro era como pessoa.

E seus companheiros? Kuzaku, Yume, Shihoru e Mary provavelmente eram todos bastante parecidos com Haruhiro nesse sentido. Talvez o único que conseguiria resistir por conta própria fosse Ranta.

Isso provavelmente era uma força da party, e também uma fraqueza. Eles se davam bem, com uma exceção, e conseguiam cooperar, mas, analisando de maneira mais crítica, todos eram altamente codependentes e frágeis quando a situação apertava. Se um deles morresse, era provável que perdessem a vontade de lutar de verdade. Não era uma situação em que ele queria pensar, mas era algo que precisava considerar como líder. Afinal, estavam em território inimigo.

— Uauuuu… — Ranta exclamou.

Ele soava como um idiota. Mas, bem, era uma vista incrível, podia-se dizer.

No final do caminho sinuoso entre as fendas, uma vista majestosa apareceu diante deles.

Conseguiram ver centenas, talvez milhares, de fluxos de lava subindo e descendo conforme se espalhavam. Havia colinas. Havia montanhas. Havia rochas gigantes. Havia construções, grandes e pequenas.

Sim.

A maioria era esculpida em rochas, mas, sem dúvida, eram construções. Eram reforçadas e decoradas com estruturas de ferro, e havia uma construção que parecia algum tipo de santuário ou templo também. Havia torres. Embora não fossem arranha-céus, havia alguns prédios de tamanho médio ali também.

Entre dois fluxos estreitos de lava, uma estrada—sim, era realmente uma estrada—se estendia de um lado ao outro. Havia grandes edifícios voltados para as ruas principais, e fileiras de pequenas construções voltadas para as ruas menores.

O céu já estava escuro. Era noite. Mas, graças à lava, aquela era uma cidade que nunca dormia.

Uma cidade.

Aquilo era uma cidade. Ou talvez uma metrópole.

— …Não pode ser — a voz de Kuzaku falhou ao falar.

— Isso… — Haruhiro não conseguiu encontrar as palavras.

— Isso é… — Shihoru perguntou com uma voz quase imperceptível. — A cidade dos orcs? Tudo isso…?

— Nossa — disse Yume. — É uma cidade grande, hein?

Yume estava levando tudo com muita calma. Calma demais, até.

— Aquilo é…? — Mary perguntou a questão que Haruhiro queria fazer. — A entrada para a saída?

— Sim — respondeu o Sr. Unjo, com uma leve risada na voz, por algum motivo. — Aquilo é a entrada para a saída. Eu passei por essa cidade, Waluandin.

— Eles são nossos inimigos, né? — Kuzaku esfregou a parte inferior das costas. — Os orcs…

— Claramente — o Sr. Unjo declarou. — Os orcs não deixam ninguém além de seus próprios companheiros passar. O gado é uma questão à parte, no entanto.

— V-Vocês acham que a gente devia se deixar ser criados por eles? Seria mais fácil… — Ranta olhou para os outros e, então, pigarreou. — E-Eu tô brincando, claro. Não tem como eu estar falando sério, seus idiotas.

— Talvez não fosse uma má ideia — o Sr. Unjo acariciou a barba. — Mais realista do que correr por ali, pelo menos.

— E-E-Eu sei, né? Né? Wahahahahaha…

— Ele está sendo sarcástico… — Haruhiro suspirou. — Descubra isso sozinho, cara.

— Cala a boca! Eu sabia disso! Só estava fingindo ser idiota, seu imbecil! — Ranta gritou.

— Então… — Yume inflou as bochechas e apontou para a cidade de Waluandin. — E agora? A gente já chegou até aqui, né. Seria legal tentar chegar mais perto.

— Yume-san tem coragem… — Kuzaku parecia seriamente incomodado com a sugestão dela.

— Bom, só se não for perigoso, sabe? — Yume disse. — Se for perigoso, Yume acha que seria melhor a gente ir embora também.

— Obviamente vai ser perigoso! — Ranta bateu os pés. — Você deveria saber disso!

— Se for só um pouquinho perigoso, talvez dê certo!

— Pode não dar… — Shihoru parecia pronta para desmaiar a qualquer momento.

— O-Onde… — Haruhiro pressionou a garganta. Ele tinha que ser firme. Talvez estivesse em choque, mas estava preparado para isso até certo ponto. Embora, só até certo ponto. — Por onde você passou? Unjo-san. Quero dizer, em que área?

— Não me lembro. Eu estava desesperado — o Sr. Unjo abaixou lentamente sua mochila, agachando-se ao lado dela. — A única coisa de que tenho certeza é que dois dos meus companheiros morreram em Waluandin. Iehata e Akina. Foram mortos pelos orcs, e eu fugi. Sozinho.

Pelo que o Sr. Unjo contou brevemente, a party dele encontrou dificuldades na fronteira dos antigos reinos de Nananka e Ishmal.

O território do antigo Reino de Nananka foi invadido pelos orcs, e o antigo Reino de Ishmal tornou-se um território dos mortos-vivos. O Sr. Unjo e seus companheiros, quando ainda eram jovens e cheios de vigor, se aventuraram com ousadia no território inimigo e lutaram de igual para igual com poderosos mortos-vivos. No entanto, um dia, foram pegos de surpresa e um dos seus companheiros, o ladrão Katsumi, morreu.

Enquanto corriam pelo território inimigo, acabaram se perdendo em uma área enevoada. Passaram por uma caverna e saíram em uma região montanhosa escura com rios de lava, onde acharam que estavam seguros. Embora, ao verem os lagartos nadando despreocupadamente naqueles rios, sentiram que algo estava errado.

Felizmente, aqueles lagartos, que decidiram chamar de salamandras, não os atacaram, mas, então, um dragão aterrorizante devorou as salamandras. A party do Sr. Unjo foi perseguida por aquele dragão vermelho escuro, o dragão de fogo.

Dois dos companheiros do Sr. Unjo, o paladino Ukita e o mago Matsuro, aparentemente foram devorados por aquele dragão de fogo. Enquanto eles eram devorados, o caçador Unjo, o guerreiro Iehata e a sacerdotisa Akina fugiram o mais rápido que puderam.

E então, chegaram a Waluandin. O que os aguardava lá eram milhares, talvez dezenas de milhares, de orcs.

Haruhiro tentou organizar seus pensamentos.

Atualmente, havia duas maneiras de sair de Darunggar.

A primeira opção era seguir o caminho por onde tinham vindo. Eles voltariam para Vila do Poço e, então, atravessariam o ninho de gremlins para chegar ao Reino do Crepúsculo. No entanto, a floresta ao norte estava infestada pelas mariposas chamadas yegyorns. Bem, eles ficaram bem no caminho para cá, então provavelmente conseguiriam voltar… mas não era algo em que Haruhiro estivesse otimista. Foi um milagre terem chegado a Vila do Poço sem encontrarem nenhum yegyorn. Não podia esperar que o milagre acontecesse duas vezes.

Se fossem contar com um milagre para chegarem ao Reino do Crepúsculo, seria uma jogada arriscada. Mesmo que funcionasse, havia alguma esperança para eles no Reino do Crepúsculo? Ele não podia dizer que não havia, mas teriam que caçar por essa esperança enquanto eram perseguidos pelos cultistas, pelos gigantes brancos e pelas hidras. Isso não parecia fácil. Na verdade, parecia incrivelmente difícil.

A segunda opção era de alguma forma passar pela Montanha do Dragão de Fogo, que ficava do outro lado de Waluandin, e então alcançar o local enevoado. Aquela era uma área inimiga perigosa, mas mesmo deixando isso de lado por um momento, Waluandin seria um problema. Não havia como chegar à Montanha do Dragão de Fogo sem passar por Waluandin, que estava cheia de orcs? Mesmo que houvesse uma boa maneira de fazer isso, ainda haveria o dragão de fogo lá.

…É, não.

Ele não conseguia ver nenhum potencial ali. Zero. Essas eram as chances, ou algo muito próximo disso.

E então?

Talvez fosse hora de aceitar as coisas como elas eram. Eles esqueceriam Grimgar por enquanto, e viveriam aqui. Aqui em Darunggar. Se nada especial acontecesse, talvez vivessem o resto de suas vidas nesse lugar.

O que eles precisavam fazer para conseguir isso? Precisavam compartilhar seus conhecimentos, trabalhar juntos e construir uma base estável para suas vidas. Passo a passo. Poderiam avançar no próprio ritmo, sem se apressar.

Seria possível viver em um mundo tão diferente sem grandes problemas? Eles tinham o Sr. Unjo como prova viva de que isso era possível. O Sr. Unjo estava pálido, provavelmente devido à falta de sol, mas parecia saudável o suficiente. Poderiam viver uma ou duas décadas.

Com a realidade se impondo diante de Haruhiro, finalmente começou a fazer sentido.

Ei, pode funcionar, certo? Este lugar tem seu valor. Quero dizer, Grimgar não era nossa terra natal para começo de conversa—tenho quase certeza. Quando nos demos conta, estávamos em Grimgar. Fomos forçados a viver lá. Só isso.

Este mundo era escuro. Escuro demais, honestamente, e isso o deixava com uma sensação sombria. Ele também não conhecia bem a língua. Além disso, basicamente não havia humanos. Era cheio de perigos. Ele tinha muitas preocupações sobre o lugar, mas provavelmente poderiam ser superadas. Eventualmente, eles se acostumariam.

Além disso, ao contrário do Sr. Unjo, Haruhiro ainda tinha seus companheiros. Ele não estava sozinho. Suas circunstâncias não eram tão ruins quanto as de Sr. Unjo.

Mesmo percebendo que não era do seu feitio pensar dessa maneira, ele ousou ser otimista sobre o futuro.

Grimgar tinha sido o primeiro capítulo de sua história. Agora, o segundo capítulo havia começado em Darunggar. Provavelmente haveria um terceiro e um quarto capítulo por vir. Ele esperava que continuasse, pelo menos.

O próximo estágio poderia ser aqui em Darunggar, ou talvez em outro lugar. Haruhiro nunca tinha sido capaz de prever para onde as coisas iriam antes. E dessa vez não era diferente. Tudo era uma grande incógnita. As coisas nem sempre seriam boas, mas também não deveriam ser ruins o tempo todo. Se havia problemas, também deveria haver alegrias a serem encontradas. Mesmo em Darunggar, que era sombrio, não era tudo escuridão. Havia luz também.

— Bem. — O Sr. Unjo se levantou e jogou a mochila nas costas. — Acho que você entendeu agora. Não há como voltar para Grimgar. Agora você vê as razões. Eu vou voltar para Herbesit. Façam o que quiserem.

Haruhiro fechou os olhos e assentiu. Não podia suportar a ideia de eles ficarem para trás ali. Eles voltariam também. Não seria certo abusar da gentileza do Sr. Unjo, mas Haruhiro queria manter um bom relacionamento com o homem. Afinal, eram todos humanos, e soldados voluntários—ou melhor, ex-soldados voluntários. O Sr. Unjo era seu veterano nesse aspecto. Haruhiro queria poder contar com seus conselhos e orientações daqui em diante.

Por enquanto, pensou Haruhiro, vamos seguir o Sr. Unjo, fazendo o nosso melhor para não ser um fardo e nem irritá-lo. Vamos fazer isso.

— Nós… — Haruhiro começou a dizer, mas seus olhos se arregalaram. — …Sério?

Ele enfiou a mão dentro da camisa e puxou aquela coisa para fora.

Numa hora dessas? sério?

Era um objeto preto, plano e parecido com uma pedra. Mas não era uma pedra. Ele vibrava, e a extremidade inferior estava brilhando em verde.

— O receptor… — Shihoru sussurrou.

— O que é isso? — O Sr. Unjo empurrou a aba de seu chapéu trançado para cima, com seus olhos brilhando. — É um item de outro mundo?

— Haruhiro — veio a voz do receptor.

— …Soma-san. — As mãos de Haruhiro, e sua voz, tremiam ainda mais que o receptor.

Seus companheiros se juntaram ao redor, desesperados para ouvir o que ele iria dizer.

— Está ouvindo? — A voz de Soma disse. — Haruhiro. Quantas vezes eu já te chamei? Estamos em Grimgar. Akira, Tokimune e suas equipes também estão bem.

— Ahh, cara… — Ranta estava quase chorando. — Claro… Claro… Eles estão bem. Estou tão aliviado. A situação é difícil, mas estou aliviado…

— Haruhiro. Ranta. Yume. Shihoru. Mary. Kuzaku — disse a voz de Soma. — Eu sei que vocês estão aí em algum lugar, ouvindo isso. Eu acredito em vocês.

— …Droga. — Kuzaku segurou a cabeça. — Soma-san disse meu nome…

— Quantas vezes… — Mary abaixou a cabeça.

Quantas vezes ele já nos chamou? Era provavelmente o que ela queria perguntar.

— Estamos ansiosos para ver todos vocês de novo — disse Soma. — Não sou só eu. Todo mundo está dizendo isso.

— Ufa… — Yume caiu sentada no chão.

— Kemuri — acrescentou a voz de Soma.

— Hm — disse a voz de Kemuri. — Como estão as coisas?

— Shima.

— Sim — disse a voz de Shima. — …Haruhiro. Você se lembra do que eu disse? Vamos conversar sobre isso da próxima vez.

— Huh? Do que se trata? — perguntou Soma.

— Oh, meu. Isso te interessa, Soma?

— Sim. Interessa. Bem, acho que tudo bem. Aqui, Lilia.

— Eu não tenho nada a dizer para um bando de crianças imaturas — disse Lilia. — Apenas… tentem ter cuidado. Acreditem em vocês mesmos e em seus companheiros. Vocês devem sempre olhar e escutar o que é importante, e direcionar seus corações para a luz, não para a escuridão. Se nunca pararem de caminhar, eventualmente encontrarão um caminho. Agora, ouçam bem. Se desistirem, eu nunca vou perdoá-los. I-Isso é tudo!

— Para alguém que não tem nada a dizer, ela está falando bastante, hein?! — Ranta fungou. — Ohhh, Lilia-san é tão fofa! Quero vê-la de novo…

— Pingo? — disse Soma.

— Vão pro inferno. Uheheheh… Estou brincando. Ei, Soma… Você pode tentar fazer Zenmai falar, mas não vai funcionar. Seu idiota… Uheheheh…

— Ah, entendi — disse Soma. — Bem, não somos só nós. Akira-san, Miho-san, Gogh-san, Kayo-san, Branken e Taro também estão preocupados com vocês. Depois tem Rock, Kajita, Moyugi, Kuro, Sakanami, Tsuga, Io, Katazu, Tasukete, Jam, Tonbe e Gomi. Acho que vocês ainda não os conheceram. Eu contei a todos sobre vocês. Todos estão interessados em vocês.

— Os Rocks e o esquadrão da Io-sama! — Ranta se contorceu um pouco. — E, espera, que tipo de nomes são Tasukete e Gomi? Isso é tipo se chamar Me Ajude e Lixo! Bom, tanto faz, ouvi dizer que a Io-sama é uma gata. Cara, eu quero muito vê-la…

— Ele nunca desiste… — Shihoru disse friamente. — Mas…

— Haruhiro. — Soma chamou o nome de cada um deles mais uma vez, como se estivesse esculpindo cada um. — Ranta. Yume. Shihoru. Mary. Kuzaku. Estaremos esperando. Até mais.

O receptor parou de vibrar, e a luz na extremidade inferior desapareceu.

Haruhiro ainda estava segurando o receptor, incapaz de respirar direito.

— Akira, ele disse? — O Sr. Unjo soltou uma risada baixa de repente. — E Gogh? Absurdo. Isso é impossível. Não pode ser…

— …Você os conhece? — Kuzaku perguntou hesitantemente.

— Conheço de nome — o Sr. Unjo parou e soltou um suspiro. — Não são necessariamente as mesmas pessoas. São pessoas diferentes com os mesmos nomes. Provavelmente…

Akira e Gogh tinham a mesma idade e haviam sido soldados voluntários por vinte anos. Haruhiro não sabia a idade exata deles, mas imaginava que estivessem na faixa dos quarenta anos. O Sr. Unjo devia ter mais ou menos a mesma idade. Não seria estranho se ele os conhecesse.

Haruhiro respirou fundo. Sua mente ainda estava completamente entorpecida. — Acho que devem ser os mesmo Akira-san e Gogh-san.

— O Soman disse que ligou um monte de vezes — Yume disse com uma voz sonhadora e suave. — Então por que nunca ouvimos até agora?

— Espera, Soman — Haruhiro começou a corrigi-la, mas decidiu deixar pra lá.

Acho que o apelido tá bem, pensou ele. Ou talvez não esteja? Será? Não sei mais de nada.

— Talvez… — Mary olhou para além de Waluandin. — …seja porque estamos perto?

— É isso! — Ranta apontou para Mary. — Mary, garota, você é esperta! Mas eu também já tinha sacado isso, estava prestes a dizer!

— Garota? Hã? Como é? — perguntou Mary. — Tá me dizendo que nunca mais quer ser curado?

— …Ah! Desculpa, eu fui meio informal. Tenho que ser mais educado, milady. Perdão. Não, sério, sério. Não vai acontecer de novo. Então, me perdoa! Por favorzinhoooo!

— Esse por favorzinho foi irritante… — Shihoru murmurou.

Haruhiro concordava.

Mas deixando isso de lado por agora…

— Estamos perto, hein? — Haruhiro olhou para o receptor. — Entendo. Então estamos perto. Estamos perto de Grimgar.

Yume apertou a mão contra o centro do peito. — Yume quer ir pra casa. Yume quer ver o Mestre também. Se ela não pudesse vê-lo nunca mais, bom, Yume não ia gostar disso.

— É… — Kuzaku olhou para o céu escuro. — Tenho que concordar.

Pare com isso, Haruhiro pensou. Por favor, parem. Não me contem a verdade assim.

Porque, mesmo que seja como vocês realmente se sentem, simplesmente não é possível. Se me perguntassem se eu quero voltar para casa ou não, é, eu quero voltar para casa. Quero dizer, eu nem brincaria sobre querer ficar aqui para sempre. Mas qual escolha nós temos? Se tentarmos voltar, estaremos arriscando nossas vidas. E, se arriscarmos, não há garantia de que vai valer a pena, e eu nem consigo imaginar que valeria.

Eu não posso ser tão aventureiro assim. E não quero que vocês sejam também. Não quero perder ninguém. Não quero deixar vocês morrerem. Nós vamos viver. Todos nós. Essa é a melhor opção.

“Se desistirem, eu nunca vou perdoá-los”, Lilia havia dito. O que isso deveria significar? Que eles não deveriam desistir, que deveriam lutar e sobreviver? Ou…

“Estaremos esperando” Soma havia dito também.

“Até mais” ele disse.

— Não podemos correr riscos — Haruhiro disse claramente. — Não riscos desse tamanho, de jeito nenhum. Mas o que podemos fazer é garantir nossa segurança, enquanto procuramos uma saída com calma.

— Hã? — Ranta cruzou os braços e inclinou a cabeça. — O que isso significa, basicamente?

— …Mmm? — Kuzaku perguntou. — Você é burro?

— Kuzacky! Você está tirando sarro do seu super veterano! Vou jogar merda em você, seu idiota!

— Que nojo! Puxa vida! — Yume fez uma careta. — Basicamente, isso quer dizer isso. Quer dizer isso, né? Então… é isso, né? Né…?

— Você também não entendeu! — Ranta gritou.

— Vamos fazer o possível para não nos colocarmos em perigo, e vamos ficar atentos — Shihoru disse enfaticamente. — Continuaremos avançando com nossa investigação, e se algum dia, alcançarmos nosso objetivo…

— …podemos voltar — Mary completou. Ela mordeu o lábio. — Para Grimgar.

— É isso que significa, né? — Ranta disse, estufando o peito de forma arrogante. — Eu sei disso, idiotas.

Com a mochila novamente nas costas, o Sr. Unjo se virou para ir embora. — Façam o que quiserem.

Mesmo se pudesse voltar, o Sr. Unjo não voltaria. Talvez não fosse por uma razão simples, como Eu tenho Rubicia, mas ele ainda escolheria ficar em Darunggar. Era essa a sensação que dava.

Bem, cada um com seus motivos.

Haruhiro inclinou a cabeça profundamente. — Muito obrigado por tudo, Unjo-san. De verdade!

O Sr. Unjo parou. Ele não se virou. — …Não morram, meus jovens.

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