Capítulo 29 – A Donzela de Ferro (1)
A estrada para o Clã Tang era facilmente uma das mais confortáveis que percorreríamos em nossa jornada.
Provavelmente foi bem mantida devido o fato que era uma estrada que levava a uma cidade.
De certo modo, graças a isso, as escoltas que sempre pareciam tensas estavam um pouco mais calmas.
Ou talvez estavam mais calmos porque estávamos viajando com o povo do Clã Namgung.
A questão é que a estrada para o Clã Tang não nos deu problema nenhum.
— Então, depois da primeira vez que comi um yakgwa, a batata que estava segurando não parecia apetitosa.
— Hm.
— O yakgwa estava muito gostoso… Me sinto mal pelas batatas, mas acho que yakgwa é mais gostoso.
— Hm.
— Por que uma batata é uma batata?
— Hm… Hã?
Embora a estrada não tenha nos dado problema, não significava que não poderíamos encontrar problemas de outro lugar. Por exemplo;
Por que esta maluca da Namgung Biah está sempre vindo aqui?
Minha cabeça doía toda vez que olhava para ela.
Por que… Por que você está sempre aqui!?
Havia uma carruagem azul preparada e aguardando por ela, então por que insistia em viajar conosco?
A Wi Seol-Ah não fez nada para ajudar neste assunto porque continuava falando com a Namgung Biah… mesmo após eu dizer para não fazer isto.
Preciso repreendê-la com seriedade…
Também era estranho como os outros lunáticos Namgung pareciam indiferentes do nada para tudo que estava acontecendo.
Estava meio que esperando o Namgung Cheonjun me seguir ao julgar pela maneira que agiu comigo até neste ponto, mas ao invés disso, ele estava sentado em silêncio na sua carruagem.
— Então ele está bem com as coisas desta forma?
Não conseguia entender o processo de pensamento destes lunáticos.
Algum tempo passou desde que partimos, e o sol agora estava se pondo.
Conseguia entender a Namgung Biah porque ela era uma artista marcial e tudo mais, só que o fato que a Wi Seol-Ah estava falando sem parar o dia todo com ela me impressionou — particularmente porque ainda precisávamos viajar uma parte da rota a pé.
Acho que ela é “diferente” desde o nascimento…
— … Então, seria estranho ela ficar cansada considerando quanto comeu.
Wi Seol-Ah era alguém que comia muito, contudo, mesmo que caminhasse um pouco, isto apenas queimaria a caloria que acabou de consumir.
Acho que ela tinha um corpo abençoado de verdade.
Enquanto isso, comi menos que ela, mas este meu quadril idiota já estava mostrando sinais de gordura.
A vida é tão injusta…
Após observar o céu por um longo tempo, alguém na multidão gritou.
— Consigo ver a bandeira do Clã Tang!
Assim como ele falou, eu conseguia ver a bandeira verde com a palavra “Tang” escrita nela ao longe.
Seus números pareciam ser um pouco menores que o nosso, que atualmente era uma mistura do Clã Gu e Clã Namgung.
Assim que avistei a bandeira, comecei a endireitar minhas roupas.
Ai ai, meu cabelo ficou bagunçado quando tirei um cochilo.
É por isto que é tão complicado encontrar gente dos clãs nobres…
Pelo menos não tive que tratar o Clã Namgung desta maneira por causa do que Namgung Cheonjun e Namgung Biah fizeram, então meio que fiquei grato por isso.
Preparei para sair quando a carruagem desacelerou.
Quando sai, vi Namgung Cheonjun já cumprimentando o pessoal de Tang.
— Há quanto tempo, Cheonjun.
— Espero que esteja bem, Irmão Tang.
— Tem algo incomodando você estes dias? Seu rosto não parece muito bem.
— Deve ser por causa da longa viagem.
— Verdade, vocês vieram de longe. Honestamente, não esperava que você também viesse.
— Minha irmã prometeu vir, e fiquei tenso em enviá-la sozinha.
— Ah, Lady Biah. Hmm, sim, faz sentido. Sempre senti isto, mas vocês irmãos Namgung sempre pareceram ter um bom relacionamento, enquanto isso, nossa Soyeol está ficando mais feroz com o passar dos dias.
Após compartilhar uma risada, a pessoa com quem Namgung Cheonjun estava falando, se virou e olhou para mim.
— Oh, Jovem Mestre Gu! Venha!
Desde quando somos próximos para ele falar comigo todo sorridente?
Me senti um pouco enojado pela aparência que o vi exibir após ver seu eu verdadeiro.
Enquanto me aproximava deles, podia ver claramente o rosto do homem que estava falando com Namgung Cheonjun.
O homem parecia ter por volta dos 30 anos, e tinha um rosto bem inocente, apesar do fato que tinha o sangue de Tang.
Ele era o Jovem Lorde do Clã Tang, Tang Jooyeok.
Não sabia qual seu título atual era, mas na minha vida passada, ele foi chamado de Lorde do Veneno quando o Culto Demoníaco apareceu.
Tang Jooyeok olhou para mim e se aproximou com passos calmos para me cumprimentar.
— Então você é o Jovem Mestre do Clã Gu. Ouvi que as pessoas do Clã Gu também estavam vindo ao nosso clã. Obrigado por vir até aqui. Sou Tang Jooyeok.
Consegui compreender um pouco da sua personalidade porque ele estava sendo muito cortês comigo, mesmo que eu fosse muito mais novo.
Mostrei o devido respeito de volta.
— Sou Gu—
Estava prestes a me introduzir, mas rapidamente lembrei que falei aos Namgung que eu era Gu Jeolyub.
Por que fiz isso?
Esta criança Gu Jeolyub nunca ajuda, nunca gostei dele, desde a primeira vez que o conheci.
— Vim aqui no lugar do Lorde do Clã Gu. Ele me disse para falar que pede desculpas por não conseguir participar do evento.
Tentei inventar uma desculpa.
Felizmente, Tang Jooyeok não parecia se importar e continuou sorrindo.
— É compreensível ao considerar que o Lorde Gu está ocupado com seu trabalho. É apenas um pequeno festival para o Clã Tang, então somos gratos por vir.
Quando a besteira dos cumprimentos estava prestes a terminar, Namgung Biah nos alcançou.
Ela curvou levemente a cabeça para Tang Jooyeok e o cumprimentou.
— Há quanto tempo, Biah.
— Olá!
— Biah fica mais linda com o passar do tempo, não consegui dizer que era você.
— … Obrigada.
— Ah, verdade, nossa Soyeol causou problemas a você, certo? Sinto muito por isso. A criança ainda não amadureceu e te causou problemas.
— Não, está tudo bem… foi uma promessa.
— Obrigado por entender. A Soyeol parecia estar aguardando por um tempo. Cheonjun e o Jovem Mestre Gu também, vocês devem chegar antes de anoitecer; guiaremos vocês.
Finalmente… fui capaz de terminar esta longa viagem e cheguei ao Clã Tang de Sichuan.
Teria sido uma viagem mais legal se a Namgung Biah, que estava sempre próxima, e aquele Namgung Cheonjun, que continuava querendo me matar com o olhar, não se comportassem desta maneira por aparentemente motivo nenhum…
Ai ai… só quero um bolinho de carne.
Que experiência de merda esta viagem acabou sendo.
*****
O Clã Tang de Sichuan.
Um clã nobre que espalhou seu nome por Sichuan, conhecido por possuir o maior conhecimento no campo de veneno e forja.
“Arte da Espada” para o Clã Namgung.
“Espírito” para o Clã Peng.
E “Olho Aguçado” para o Clã Moyong.
Comparado aos outros clãs mencionados, o Clã Tang provavelmente estava um passo atrás, mas tinham algo ótimo que os outros três clãs não tinham.
A Exibição Militar do Clã Tang também foi criada por esse motivo.
Sua arte marcial era famosa pelo uso do veneno, mas suas habilidades na forja também eram incomparáveis aos outros.
As armas fabricadas pelo maior clã de ferreiros eram amplamente tratadas como obras-primas e obras de arte.
O Clã Tang foi responsável por fabricar a maioria das armas que a Aliança Murim utilizava e eram particularmente respeitados porque tinham forjado a arma do Venerável da Espada.
Vários clãs se alinhariam alegremente por uma chance de receber armas feitas pelo Clã Tang.
É só que não entregam levianamente estas armas.
Não sabia se era por causa de seu nome nobre ou não, mas não davam facilmente suas armas a forasteiros.
Mesmo que recebessem oferta de dinheiro. Porém, não é como se tivessem falta de dinheiro mesmo.
De qualquer forma, a Exibição Militar do Clã Tang basicamente existia para se gabar aos outros sobre suas armas, que alcançaram quase a perfeição.
Meu palpite do porquê estava realizando esta exibição era algo tipo assim:
“Somos ótimos em fabricar armas. Se você nos tratar com gentileza, então podemos oferecer estas armas.”
Bem, algo nesse estilo.
Ouvi algo sobre o Clã Tang dando uma das armas na Exibição Militar do Clã Tang.
Contudo, não era algo que me importava. É claro, se eu conseguisse, poderia vender por um alto preço.
Não sabia quais intenções o Clã Tang tinha por exibir suas armas, mas isso não foi o que vim fazer em primeiro lugar.
Tenho que estar preparado para encontrar o cofre secreto.
Não podia esquecer o verdadeiro motivo pelo qual vim aqui: Natureza Dourada e seu cofre secreto.
Três dias após a Exibição Militar de Tang — eu só tinha três dias. E a única informação que tinha do cofre secreto era uma localização vaga.
E até essa informação era algo que não tinha total certeza.
Se eu não encontrasse o cofre secreto nos três dias que tinha, precisaria ir à Seita dos Mendigos e espalhar a informação sobre o cofre secreto do Clã Natureza Dourada.
— … Que complicado.
— O que está pensando tanto, Jovem Mestre?
— Não é nada.
Wi Seol-Ah falou para mim quando me viu lutando com meus pensamentos.
Com a liderança de Tang Jooyeok, finalmente cheguei no Clã Tang de Sichuan.
Também vim aqui na minha vida anterior, mas ver o clã novamente após ter uma vaga memória disto foi surpreendente.
O Clã Tang parecia ser maior que o Mercado Celestial que estive para a Cerimônia dos Nove Dragões.
No final das contas, eles são um clã nobre.
As raízes das Facções Ortodoxas eram diferentes, até no tamanho.
Após chegar e desempacotar meus pertences, planejei dar uma olhada no lugar.
Eles não me falaram para não caminhar, então senti que pelo menos poderia fazer isso.
Disse que ia passear, e com a Wi Seol-Ah me acompanhando rapidamente, fomos caminhar juntos.
Após seguir a rua por um tempo, uma floresta repleta com árvores apareceu. Qual tamanho um clã deve ser para ter uma floresta dentro?
Crick, crick.
Com cada passo, ouvia os sons dos grilos.
Caminhei após o som dos grilos preencher a floresta, e quando notei alguns vaga-lumes pelo caminho, percebi que o verão estava próximo.
Após caminhar por um tempo, encontrei um lago artificial. Não era um lago grande, parecia ter sido projetado rigorosamente — as decorações delicadas eram algo que precisava aplaudir.
A visão dos vaga-lumes pairando no lago, bem como as flores de lótus flutuando na sua superfície, criava uma visão inegavelmente linda.
— Uau…!
Como até alguém como eu poderia apreciar sua beleza, Wi Seol-Ah sem dúvidas ficou hipnotizada pelo lago diante dela. Um grande sorriso adornava seu rosto enquanto observava com olhos brilhantes.
Me perguntei se deveria dar um tapinha na cabeça dela naquele momento.
No final, não fiz isso.
— Jovem Mestre, é tão lindo!
— Concordo.
Wi Seol-Ah começou a seguir os vaga-lumes, dançando com eles. Para essa visão, esfreguei os olhos com as costas da mão.
Algumas vezes, eu procuraria por sinais da Wi Seol-Ah que conhecia na minha vida anterior.
Como agora.
A Wi Seol-Ah de agora não tinha seus cabelos de luar, nem tinha olhos frios e afiados.
Ao invés disso, ela tinha cabelos negros que lembravam o céu à noite, e um rosto que sempre brilhava de alegria.
Ela era completamente diferente da garota da minha vida anterior.
Então, por que sempre procuro por aquela Wi Seol-Ah na atual Wi Seol-Ah?
Sorri para o pensamento que tive.
— Por que estou pensamento sobre isto? É apenas um pensamento passageiro.
— O quê?
— Não é nada; vamos voltar, é quase hora de dormir.
Passamos bastante tempo admirando o cenário.
Assim que me virei, já pensando na boa noite de sono que finalmente conseguiria ter após chegar no clã…
— Quem é você?
Uma voz aguçada perfurou meus ouvidos.
Me virei na direção da voz e vi a Namgung Biah olhando para mim com uma expressão atordoada junto de mais alguém parada ao seu lado.
A recém-chegada misteriosa era a dona da voz. E logo falou para mim mais uma vez.
— Este é um lugar que forasteiros não tem permissão. Quem é você?
Quando o luar recaiu nela, consegui ver seu rosto.
Então, lembrei exatamente quem era esta mulher.
Os olhos verdes eram perceptíveis à noite, mesmo já sendo sinais óbvios.
A Rainha do Veneno, Tang Soyeol.
Ela foi a primeira pessoa na história a ser imune a todo tipo de veneno.
Ela era a “Donzela de Ferro” que enfrentou sozinha milhares de demônios que apareceriam em Sichuan num futuro próximo.
E…
Na minha vida passada, foi uma das pessoas que matei com as próprias mãos.