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PRIMEIRO CONTATO
Era pouco depois das 16h30 do dia 1º de abril.
Horikita Suzune, uma estudante, estava esperando em frente à entrada da escola.
Ela não tinha nenhum assunto em particular para tratar na escola, mas havia ido até lá com um único propósito: queria ver a família de Ayanokōji. Essa curiosidade a levou até aquele lugar.
— Certamente ainda não terminou… não é?
Ela abriu o cronograma em seu telefone apenas para verificar novamente. A entrevista de Ayanokōji estava programada para começar às 16h30. Por isso, supôs que ele ainda estaria na sala de orientação, continuando a conversa.
Como entrar no prédio escolar exigia estar de uniforme, ela se vestiu adequadamente, mas não tinha planos de entrar sem mais nem menos. Sua intenção era simular um encontro casual e ter o menor contato possível. Se Ayanokōji considerasse isso inconveniente, planejava ir embora imediatamente.
Pouco depois, enquanto Horikita esperava sozinha, um estudante inesperado se aproximou dela.
Embora permanecesse quieta, esperando que ele apenas passasse, o estudante, Ryūen, parou perto dela.
— Precisa de algo de mim?
— Hein? De forma alguma.
— …Então, por que está aqui? Você nem mesmo está usando o uniforme escolar.
— Para onde vou é assunto meu. E você? O que está fazendo aqui? As entrevistas já deveriam ter terminado.
A informação sobre os horários de entrevistas de outras turmas geralmente não era pública, o que significava que Ryūen devia ter obtido de alguém da própria sala.
— Só tinha algo que me deixou curioso.
Ao ouvir sua resposta, Ryūen fechou os olhos e riu levemente.
— Bem, que coincidência. Também estou aqui por curiosidade.
Enquanto dizia isso, encostou-se na parede ao lado dela, indicando que aquele era seu destino.
Ter assuntos naquele momento e lugar… foi o suficiente para que Horikita percebesse que estavam lá pelo mesmo motivo.
— Entendo. Então parece que não tenho o direito de impedi-lo.
Horikita também permaneceu em seu lugar, cruzando os braços.
— Não é difícil ter interesse. Você não quer ver o rosto e os métodos dos pais que criaram aquele monstro? Seja um ambiente comum ou algo completamente diferente.
— É verdade. Eu também não consegui resistir à curiosidade. Para ser sincera, não consigo imaginar nada a respeito.
— Talvez ele mostre um lado que não revela para nós quando está com os pais.
— Não tenho certeza. Sinto que ele é o mesmo em qualquer lugar e com qualquer pessoa.
Depois de um tempo parados em silêncio, lado a lado, ouviram passos distintos dos chinelos internos, eram chinelos de visitante. Instintivamente, tanto Horikita quanto Ryūen ficaram alertas.
Logo depois, duas figuras apareceram: um homem de terno que eles não haviam visto antes, falando ao telefone.
— Ah, parece que vai demorar um pouco mais. Apenas espere onde está.
Partes da conversa chegaram até eles. Ao notar os olhares, o homem encerrou a chamada.
Horikita deu um passo à frente para falar, mas a expressão severa do homem a intimidou, fazendo-a hesitar. Sua aura autoritária não deixava espaço para objeções.
Embora não houvesse confirmação de que aquele homem era da família de Ayanokōji, Horikita e Ryūen souberam instintivamente que, sem dúvida, era o pai dele.
No entanto, não era como Horikita imaginava. Ela pensava que os pais de Ayanokōji seriam pessoas frias e distantes, mas essa imagem foi instantaneamente destruída.
Um pai severo. Essa era a impressão que qualquer um teria.
— Uh… desculpe-me, — Horikita reuniu coragem para falar com cautela.
— Quem é você?
— Sou colega de classe de Kiyotaka Ayanokōji. Meu nome é Horikita. Na verdade, estava esperando por ele aqui…
Ela começou a explicar, pensando que encontraria Ayanokōji e sua família juntos.
— Entendi. Kiyotaka ainda está lá em cima falando com sua tutora.
— Entendi. O senhor é… o pai de Ayanokōji-san?
Sem poder ignorar a pergunta, ele assentiu. Sua atitude fria e intimidadora desestabilizou Horikita, mas a resposta firme a tranquilizou um pouco.
— Você também é colega de classe de Kiyotaka? — O pai de Ayanokōji dirigiu-se a Ryūen, que o observava em silêncio.
— Não. Não sou nem colega de classe nem amigo dele. Pode dizer que sou seu inimigo.
— Ei? Ryūen-kun!
Horikita entrou em pânico, confusa com a forma como Ryūen se declarou “inimigo” na frente do pai de Ayanokōji. No entanto, contrariamente às expectativas dela, o pai de Ayanokōji parecia impressionado.
— Um inimigo, hein…?
— Ele já me deu muitos problemas nesses dois anos. Aquele cara não é brincadeira.
— Ryūen-kun!
Embora Horikita repreendesse repetidamente Ryūen por suas palavras imprudentes…
— Está tudo bem. Isso apenas significa que meu filho mostra aspectos de si mesmo diante de você que não mostra para os outros.
Surpreendentemente, o pai de Ayanokōji aceitou as palavras de Ryūen com uma atitude tranquila e complacente, o que deixou Horikita atônita.
— Há algo que gostaria de perguntar. Que tipo de criação leva alguém como ele?
Mesmo enquanto Horikita lançava um olhar fulminante para Ryūen por sua pergunta rude, o pai de Ayanokōji virou-se diretamente para enfrentá-lo.
— Nada especial. Ele simplesmente foi criado com uma vida disciplinada.
Embora afirmasse que não havia feito nada especial, acrescentou algo mais:
— Se há algo incomum, é que não colocamos restrições na quantidade ou no custo de aulas particulares, tutorias ou atividades extracurriculares em que ele participava. E o fato de ele ter levado isso a sério resultou no que você vê hoje.
Uma criação privilegiada — essas foram as palavras do pai de Ayanokōji.
— Tenho outro compromisso, então vou indo. Por favor, continuem se dando bem com meu filho.
Com isso, o pai de Ayanokōji deixou o local sem se prolongar mais.
Embora tivesse uma presença autoritária, tanto Horikita quanto Ryūen sentiram uma sensação de anticlimax. Ainda assim, uma leve dúvida persistia na mente de Horikita.
— Será que Kiyotaka realmente foi criado no tipo de ambiente que seu pai descreveu…?
Ryūen parecia compartilhar o ceticismo dela.
— Exatamente. Se foi assim, seria uma anomalia genética tremenda. Mas, a menos que os pais digam a verdade, não temos como saber.
Enquanto Ryūen se afastava, virou-se brevemente:
— Bem, isso não muda nada. Vou derrubar tanto você quanto Ayanokōji. Prepare-se para isso.
Horikita ouviu em silêncio a declaração de guerra de Ryūen e o observou enquanto ele se afastava.
Este foi o primeiro encontro de Horikita Suzune com Atsuomi Ayanokōji. Nenhum dos dois poderia saber que estavam destinados a se encontrar novamente no futuro.