Capítulo 16
EXTRA
#937 Dias depois
Tradutor: João Mhx
O que mudou desde então? Muita coisa. São tantas coisas que é difícil contar.
O que não mudou? O sol nasce no leste e se põe no oeste. O ciclo dia-noite.
Haruhiro colocou um galho na fogueira.
Ah, claro. A cor das chamas também. E as estrelas. A lua vermelha.
“Sou grato a você, Ranta.”
“O que você está dizendo, do nada? Você está me enojando, cara.” Ranta estava sentado na diagonal em frente a Haruhiro com os joelhos para cima, dobrando e quebrando pequenos galhos para manter as mãos ocupadas.
Haruhiro tentou fazer algum tipo de expressão com o rosto, mas não conseguiu.
“Sabe, quando Ruon nasceu, fiquei feliz. Surpreendentemente, o fato de a Yume ser mãe não me pareceu tão distante assim. Mas você como pai, cara? Ainda é difícil de acreditar”. Ele tinha emoções. Não era como se todas elas tivessem desaparecido. Ele só não conseguia expressá-las bem.
“Ah, cala a boca.” Ranta soltou uma risada nasalada.
“Nós fizemos o ato e ela engravidou, só isso.”
“Eu só estava pensando que, mesmo com as coisas do jeito que estão, ainda posso me sentir feliz.”
“Sim…”
“Precisamos proteger Ruon até ele crescer, né? A Yume deve ficar do lado dele até lá, no mínimo.”
“É, até eu sei disso.”
“Olha, não pense em nos deixar na mão, tá legal?”
“De jeito nenhum eu vou bater as botas e deixar a mulher que amo e meu filho sozinhos, você sabe disso.
”Sim, eu sei.”
“Haruhiro, eu deveria dizer…”
“O quê?”
“Não…” Ranta desviou o olhar, fungando.
“Não é nada.”
As chamas tremeluziram. Animais gritavam na noite, bem ao longe. Eram mesmo vozes de animais? Poderia ser outra coisa. Haruhiro estendeu a mão para uma pele enrolada em um objeto. Se necessário, ele a usaria. Se aquelas vozes ou alguma outra presença se aproximasse deles.
“Vou recuperar tudo.”
“Alguma ideia de como?” Ranta perguntou, duvidoso. Ele estava sempre de olho em Haruhiro, nunca tinha certeza de quando o ladrão poderia sair dos trilhos e ele precisaria ser o único a impedi-lo.
Não era para ser o contrário?
Se Haruhiro pudesse dar um sorriso forçado, ele o teria feito. Mas, no momento, isso era muito difícil para ele. Parecia que ele havia se esquecido de como sorrir.
“Vou encontrar um jeito. Com certeza. Tem que haver uma. As relíquias devem ser a chave.”
Ranta começou a abrir a boca. Mas tudo o que ele fez foi respirar fundo. Ele não disse nada.
Vou encontrar uma maneira.
Haruhiro murmurava repetidamente: “Juro que vou encontrar um jeito.”
