Capítulo 18 – Antes do festival.
— …Oh. Duzentos, hein — disse Haruhiro.
Enquanto se infiltrava em Waluandin, percebeu que aquela era a 200ª noite desde que haviam chegado a Darunggar. Não que isso importasse muito. Obviamente. Se era a 200ª, a 300ª ou até mesmo a 666ª noite, isso não fazia diferença para os habitantes desse mundo.
Mesmo assim, havia algo estranho em Waluandin naquela noite. Ou melhor, estranho até nas aldeias ao redor.
Os orcs das aldeia tinham o costume de dormir cedo e, então, acordar cedo. Mais cedo que os orcs de Waluandin, ou waluos, para simplificar. Normalmente, Haruhiro passava sorrateiro pelas aldeias enquanto eles dormiam, entrando em Waluandin pelo distrito das oficinas, depois que os orcs dessa área já haviam saído. Havia muitos lugares para se esconder no distrito das oficinas, então, mesmo se alguns waluos estivessem por lá, ele conseguia passar sem problemas.
No entanto, naquela noite, os orcs das aldeias estavam acordados até mais tarde. Havia luzes saindo de dentro de suas casas, que lembravam iglus, e ele conseguia ouvir o som de orcs conversando. Até avistou alguns orcs do lado de fora, fazendo algo. Isso não parecia ser uma ameaça à sua habilidade Stealth, mas, obviamente, o incomodava.
No distrito das oficinas de Waluandin, o expediente havia chegado ao fim, como de costume, e a tranquilidade predominava. Contudo, a partir desse ponto, tudo era diferente.
Depois do distrito das oficinas, havia um distrito residencial misto. Normalmente, não havia muitos waluos andando pelas ruas à noite. Era assim até então, mas dessa vez havia waluos por todos os lados, barulhentos. Cada casa estava iluminada.
Alguns waluos estavam dentro de suas casas, ocupados, enquanto outros estavam do lado de fora, conversando. Provavelmente não era só a área residencial. Waluandin inteira parecia estar cheia de atividade. Não era bem uma festividade, mas parecia que estavam preparando algo, quase como se fosse um festival.
Havia um número razoável de waluos andando por aí, o que tornava perigoso. No entanto, com base em suas experiências passadas, Haruhiro sabia que eles não estavam nem um pouco atentos a possíveis intrusos. Havia um lugar parecido com um coliseu no distrito do entretenimento, onde frequentemente apostavam em lutas. Haruhiro já havia presenciado combates chamativos, e os waluos adoravam exibições de habilidade marcial, mas essa cidade não tinha nada que pudesse ser chamado de defesa.
Provavelmente, nunca tinham considerado a possibilidade de um ataque externo. Jamais imaginariam que humanos, como a party de Haruhiro, estariam dentro de sua cidade. Desde que Haruhiro fosse cuidadoso e não chamasse atenção, dificilmente seria descoberto.
Por ser medroso, Haruhiro manteve a calma enquanto observava a área residencial. Na 200ª noite em Darunggar, Waluandin estava definitivamente diferente. O que estava acontecendo? Ele queria saber mais detalhes. Estariam se preparando para um festival? Por que ele tinha essa sensação? Ele passou de beco em beco, às vezes se movendo pelos telhados enquanto os observava, e aos poucos foi compreendendo a situação.
Devido à lava incandescente que fluía nas proximidades, a escuridão da noite nunca chegava a Waluandin. Mesmo assim, naquela cidade, que estava mais iluminada do que o normal, os waluos pareciam estar construindo alguma coisa. Na verdade, muitas coisas.
Por exemplo, as janelas de suas casas geralmente não tinham venezianas, então era possível ver dentro delas quando as luzes estavam acesas, e ele podia ver várias mulheres waluo trabalhando com tear. Por que trabalhar nos tear tão tarde da noite? Elas poderiam fazer isso durante o dia. Uma coisa era certa: Haruhiro nunca havia visto essas mulheres waluo tecendo até tão tarde antes.
Também havia um bom número de homens waluo decorando a frente de suas casas com varas. Eles conversavam com os vizinhos e comiam enquanto faziam isso, mas provavelmente não estavam apenas se divertindo. Ele nunca tinha visto os waluos fazerem isso antes.
Haruhiro não fazia ideia do que aquelas varas deveriam ser, mas devia haver um motivo para elas. Eles precisavam fazê-las naquele momento, e era por isso que estavam trabalhando nisso.
As crianças waluo estavam reunidas, mexendo em algo que parecia uma gaiola. Os waluos mais velhos davam instruções aos meninos, e eles ajudavam com o trabalho.
Estava claro que os waluos estavam se preparando para algo. Todos estavam confeccionando fantasias e decorações, e então as usavam, faziam algo ou outra coisa. Tinha que ser um evento por toda a cidade. Um ritual? Um festival? Uma atração? Seja lá o que fosse, Waluandin estava envolta em uma atmosfera que se distanciava das rotinas diárias normais.
O centro de Waluandin era dominado por um edifício particularmente grande, que lembrava um dragão agachado. Não estava claro se os waluos tinham um rei ou não, mas Haruhiro tinha passado a chamá-lo de palácio, para facilitar.
O palácio era cercado por ruas largas e vários rios finos de lava, com uma estrada principal que se estendia em direção à Montanha do Dragão de Fogo. Além disso, havia muitos edifícios impressionantes ao redor do palácio, e sempre havia muitos waluos entrando e saindo, tanto durante o dia quanto à noite. Além disso, havia waluos armados patrulhando essa área mesmo tarde da noite. Sendo assim, era uma área difícil de se aproximar, mas naquela noite Haruhiro decidiu criar coragem para tentar se infiltrar.
Era um risco calculado, claro. Como de costume, os waluos da área do palácio estavam ocupados preparando alguma coisa. Esse era um distrito onde os waluos costumavam sair para passeios noturnos, mas estava diferente agora. A maioria estava absorvida em seu trabalho, então, se Haruhiro utilizasse bem Stealth, não seria descoberto tão facilmente.
Mas… ele não podia deixar de pensar.
Eles realmente levavam vidas cultas ali em Waluandin. Comparado a esse lugar, a Vila do Poço parecia o fim do mundo, e Herbesit era anárquica e excessivamente bárbara. Aqui havia ordem. Os waluos, na maior parte, não se roubavam uns aos outros. Trabalhavam juntos em várias coisas enquanto ganhavam seu sustento e viviam suas vidas. Eles não apenas comiam, trabalhavam e dormiam. Também tinham lazer. Era uma sociedade altamente estratificada, mas proporcionava a metade… não, a maioria dos waluos uma vida mais segura e, possivelmente, mais próspera do que a que Haruhiro e sua party levavam.
— Um altar…? — murmurou para si mesmo.
No telhado de um prédio que dava para a praça em frente ao palácio, Haruhiro fez um esforço para liberar a tensão excessiva de seu corpo. Era a primeira vez que ele chegava tão longe. No entanto, ele já tinha visto a praça de longe antes. Aquela coisa não estava lá antes.
Era um palco que devia ter cerca de dois metros quadrados e três metros de altura. Havia outra plataforma no topo, e sobre essa plataforma… havia uma jaula. Provavelmente era uma jaula. Decorada e dourada, realmente chamativa. Normalmente, jaulas eram usadas para segurar criminosos ou prisioneiros, mas não parecia ser esse o caso.
A mulher waluo corpulenta dentro da jaula não parecia uma prisioneira. O pano enrolado em sua cabeça e seios, e a saia que usava nos quadris, eram a moda padrão das mulheres waluo, mas todas as suas roupas eram claramente de alta qualidade. Elas estavam bordadas com padrões vibrantes e brilhavam. Parecia que havia pedras preciosas entrelaçadas nelas. Isso fazia com que sua pele verde parecesse brilhante, como se estivesse reluzente. E ela estava usando maquiagem?
Pelo comportamento da mulher waluo, que provavelmente era de alta classe, não parecia que ela era uma prisioneira. Ela estava calma, até mesmo digna.
Além disso, embora estivesse na jaula, ela não estava sozinha. Muitos waluos subiam ao palco, um após o outro, para cumprimentá-la. Conversavam através das barras da jaula e, às vezes, seguravam sua mão, então talvez fossem conhecidos dela. Mas a mulher estava claramente mais bem vestida do que qualquer um deles.
Haruhiro olhou mais de perto para a jaula dourada. As decorações nos quatro cantos eram… dragões? Havia decorações de dragão espalhadas pelo altar também. Isso também era verdade nas roupas daquela mulher waluo. O padrão bordado em sua saia era um dragão, não era? Além disso, sobre o pano enrolado em sua cabeça, ela usava algo parecido com uma coroa. Aquilo também parecia um dragão.
Os enfeites que os homens waluos na área residencial estavam colocando nos postes não eram iguais? Dragões. Eram dragões. Agora que ele pensava nisso, o palácio também se assemelhava a um dragão. Por que ele não tinha notado antes? Waluandin estava repleta de designs baseados em dragões. Havia dragões por toda parte.
Haruhiro voltou os olhos para a Montanha do Dragão de Fogo, que parecia pronta para entrar em erupção a qualquer momento.
Como o nome sugeria, havia ao menos um dragão lá. O dragão de fogo.
Os waluos haviam construído sua cidade e viviam ao pé daquela montanha. O dragão de fogo comia salamandras, e o Sr. Unjo disse que ele havia comido seus companheiros também. Será que os orcs simplesmente não tinham um gosto bom para ele? Era difícil imaginar isso. O dragão de fogo tinha que ser uma criatura perigosa. Haruhiro não sabia por que, mas, por alguma razão, os waluos viviam bem ao lado dessa criatura. Seria exagero dizer que estavam prosperando também?
Os waluos talvez adorassem o temível dragão de fogo. Ele poderia ser como um deus para eles. Ou melhor, talvez fosse um deus.
Agora, eles estavam enchendo a cidade de dragões, se preparando para algo. Poderia ser algum tipo de festival com um ritual envolvido. Então, o que seria aquela mulher na jaula?
— Não, ela não pode ser um sacrifício… pode? — Haruhiro murmurou para si mesmo.
Os waluos continuavam a visitar a mulher na jaula. Parecia que talvez estivessem se despedindo dela. Não havia uma atmosfera trágica, então talvez fosse uma honra tornar-se um sacrifício. Não, bem, não estava decidido que ela era um sacrifício ainda, e não havia uma prova definitiva de que adoravam o dragão de fogo, também. Será que a imaginação de Haruhiro estava indo longe demais…?
Ele não podia evitar pensar que havia muito espaço para diferentes possibilidades, mas, se especulasse demais enquanto fazia reconhecimento, acabaria cometendo um erro descuidado. Ele teria que sair quando a noite acabasse de qualquer maneira. Esse era um bom momento para se retirar, então ele o fez.
Para o retorno, ele saiu pelo distrito das oficinas, como havia decidido anteriormente. No caminho de volta, repetia em sua mente: Entrar é fácil, mas voltar é assustador. Era fácil se apressar na volta e, como resultado, baixar a guarda. Era melhor permanecer cauteloso.
Quando cruzou para o distrito das oficinas, os pelos da nuca de Haruhiro se arrepiaram. Ele rapidamente se escondeu em uma oficina próxima. Ele havia sentido algo, embora não pudesse ter certeza do que era. Deveria se esconder ali e ver o que estava acontecendo?
Não… ele decidiu seguir em frente.
Haruhiro manteve-se com a postura baixa, andando enquanto mantinha Stealth. Ele não conseguia ouvir seus próprios passos, o farfalhar das roupas ou mesmo sua respiração. Era como se Haruhiro não estivesse ali. Havia alguém, além dele, se movendo? Ele não via ninguém. Será que imaginou?
Não necessariamente.
Ele estava conseguindo manter o foco. Não havia problema na forma como estava andando.
Sentia algo.
Tem alguém… algo, lá fora? Estão me observando?
Bem, quem se importa, ele decidiu.
Se estavam apenas observando, que observassem. Se viessem atrás dele, que viessem. Se se aproximassem mais, ele tinha certeza de que saberia. Ele seria capaz de reagir. Havia treinado bastante durante suas investigações solitárias nessas expedições. Não era apenas para impressionar.
Não fique convencido, ele imediatamente se advertiu. Não se deixe levar. Não pense que está indo bem. Pense que tem que se esforçar mais. Sempre dê o seu melhor.
Haruhiro já estava convencido. Havia algo lá fora, e estava observando Haruhiro. Seguindo-o à distância. Ele só podia chamar isso de uma presença neste momento, mas ele sentia. Ela estava lá o tempo todo.
E não apenas isso, havia mais de uma. Normalmente, uma atrás dele, às vezes à direita, outras à esquerda, havia uma presença. A que estava logo atrás dele era constante, observando Haruhiro de uma distância fixa. A outra presença se aproximava, depois se afastava. Às vezes sumia, mas sempre voltava.
Não é como se ele não estivesse incomodado com isso. Ele também estava com medo. Contudo, ainda não o atacaram. Não adiantaria ceder ao medo nessa fase. Ele sabia disso, então estava se mantendo sob controle.
Saltou sobre o rio de lava do distrito de armazéns, deixando Waluandin para trás. Parou por um momento, depois se virou.
As presenças haviam desaparecido. Elas se foram? Não, ele não podia ter certeza ainda. Haruhiro havia parado, então elas também pararam. Por isso, tornou-se mais difícil para Haruhiro detectá-las. Talvez fosse apenas isso. Era cedo demais para se sentir aliviado.
As aldeias finalmente haviam adormecido a essa altura, então ele correu por elas, arriscando-se.
Quem eram seus perseguidores? Waluos? Isso era bem provável. Humanos tinham ladrões como Haruhiro, então não seria tão estranho que houvesse orcs especializados em furtividade também. Será que um par de waluos ladinos detectaram um intruso, Haruhiro, em Waluandin, e decidiram segui-lo para descobrir sua identidade e intenções? Bem, provavelmente era algo assim.
Isso era constrangedor. Ele já havia ficado preocupado antes, quando mataram os caçadores waluo, mas, felizmente, aquilo nunca foi rastreado até eles. No entanto, se os waluos tomassem consciência da existência de Haruhiro, poderiam se tornar mais cautelosos. Se colocassem uma segurança adequada, ele não conseguiria mais entrar e sair de Waluandin como vinha fazendo até agora.
Era melhor assumir que, se quisessem, os waluos poderiam se preparar para lidar com inimigos externos. Isso também era verdade para os orcs de Grimgar, mas os orcs de Waluandin eram aproximadamente tão inteligentes quanto os humanos. Embora fossem diferentes, e houvesse muitas coisas que um lado não conseguia aceitar sobre o outro, não se podia dizer que um dos lados era superior ou inferior. Em Grimgar, os humanos foram derrotados pela Aliança dos Reis, que incluía orcs, e foram forçados a recuar para o sul das Montanhas Tenryu por um tempo. Para os humanos, os orcs eram um inimigo à altura.
Haruhiro fez o máximo para não entrar nos campos das aldeias. Era difícil chamar aquele terreno de bom, o que certamente reduziria sua velocidade. Isso tornaria difícil reagir rapidamente. Ele seguiu rápido pelas trilhas estreitas criadas entre os campos.
No caminho, ele sentiu as presenças novamente. Como esperado. Parecia que não tinham intenção de deixar Haruhiro ir.
Ele ainda não havia pensado em todos os detalhes, mas tinha um plano geral em mente. Primeiro, ele sondaria as presenças enquanto saía das aldeias o mais rápido possível. Se o atacassem, ele teria que fugir imediatamente. Ele conseguiria escapar? Havia muitos elementos desconhecidos, honestamente, e ele só teria certeza ao tentar, mas se chegasse a isso, teria que fugir.
Isso é assustador.
Ele viu sombras em movimento duas vezes. Parou de sentir as presenças assim que entrou no caminho sinuoso entre as fendas da falésia, mas era melhor não presumir que elas haviam desistido. Manter a calma nessa situação era incrivelmente difícil. Sim, isso não ia acontecer.
Ainda assim, de alguma forma, ele estava conseguindo evitar o pânico. Isso já era algo bom, certo? Ele queria se elogiar por isso. Bem, não, não realmente. Ele ainda não estava seguro. Deveria esperar antes de cantar vitória.
Ele saiu das fendas e entrou nas planícies. Estava quase de volta ao ponto de encontro no Rio das Fontes Termais.
A noite ainda não havia terminado. Seus companheiros provavelmente estavam dormindo, com alguém de guarda. Se fosse de dia, estariam caçando gujis ou talvez indo para Alluja. Ambas as situações dificultariam o reagrupamento, então talvez fosse melhor ver isso como sorte dentro do azar.
Será?
Minha barriga dói, pensou Haruhiro. Nada de novo aí. Talvez eu desenvolva uma úlcera? Se eu tiver, acho que poderíamos tratar com magia de luz. Será que funciona em doenças internas? Não sei. Vou ter que perguntar à Mary quando tiver a chance.
Ele estava pensando em coisas que não importavam. Isso era prova de que sua concentração estava se desfazendo.
Haruhiro se forçou a voltar à tarefa em mãos. Ele conseguia ver o local onde os outros estavam esperando.
Quem estava de guarda? Parecia ser Shihoru. Todos os outros estavam deitados. Shihoru era a única sentada.
Isso não é bom.
Haruhiro começou a suar frio e sentiu uma sensação desagradável subindo em seu peito. Será que tinha cometido um erro?
Ele praticamente havia levado seus perseguidores até seus companheiros. Talvez esse fosse o objetivo deles o tempo todo. Eles descobriram um indivíduo suspeito, Haruhiro, mas tinham certeza de que ele não estava sozinho, e que outros tinham que estar em algum lugar. Então, para pegá-los todos de uma vez, ou para matá-los, eles seguiram Haruhiro. Foi por isso que deliberadamente escolheram não atacá-lo.
Estavam deixando Haruhiro nadar, por assim dizer. Agora, o inimigo poderia deixá-lo de lado e emboscar todos os seus companheiros, exceto Shihoru, enquanto dormiam.
O que ele deveria fazer nesse caso? O que ele faria? Não havia tempo para indecisão. Haruhiro correu em direção aos outros.
— Shihoru! Acorda todo mundo! Fujam!
— Huh… Haruhiro-kun?! Ah! — Apavorada, Shihoru bateu na cabeça de Ranta com seu cajado. — A-Acorda…!
— Ngahh?! — Ranta saltou. — O-O-O que tá fazendo?!
— …Huh? — Yume esfregou os olhos enquanto se sentava.
— Gah?! — Kuzaku gritou enquanto se levantava rapidamente.
— Estou… — Mary tentou correr assim que acordou, mas tropeçou. — …Wah!
Ahhh, Haruhiro pensou freneticamente.
Isso fez meu coração disparar. Não, agora não é hora de me encantar com ela. Honestamente, tenho preocupações maiores.
Haruhiro olhou em todas as direções, correndo enquanto gritava: — Provavelmente temos inimigos! Corram! Não se separem!
— Vamo! — Yume puxou Mary para se levantar e colocou a mochila dela nos ombros.
— Obrigada — disse Mary, pegando suas próprias coisas. Shihoru já estava saindo de lá.
Kuzaku assumiu a liderança, enquanto Ranta sacava RIPer.
— Inimigos?! Onde? Eu vou pegá-los… — Ranta começou.
Antes que Haruhiro pudesse gritar qualquer coisa—
— Espera aí! — ele ouviu uma voz familiar dizer.
— Não… — Haruhiro parou tão de repente que quase caiu, então se virou em direção à voz.
A voz vinha de trás dele, à direita. A mulher que saiu da escuridão vestia um manto escuro e um chapéu de aba larga. Por algum motivo, ela imediatamente tirou o manto e o chapéu, revelando-se como—não importa onde ou como você a olhasse—uma dominatrix.
Por que ela precisava acentuar suas partes femininas, expondo habilmente tudo, exceto as partes que realmente não deveria mostrar? Quando ela empinou o peito, era difícil desviar o olhar.
— …Lala-san? — Haruhiro disse lentamente.
— Quanto tempo, não é? — Lala disse com um sorriso sedutor, lambendo os lábios. — Estou surpresa de ver você vivo.
— Aqueles que me seguiram de Waluandin… eram você e Nono-san?
— Bem, sim — disse Lala. — Embora eu não esperasse que você notasse. Nono!
O homem apareceu na direção das fendas estreitas. Ele tinha cabelos brancos e usava uma máscara preta cobrindo a metade inferior de seu rosto.
Nono se aproximou de Lala e se ajoelhou de quatro. Lala se sentou nas costas de Nono e cruzou as pernas.
— Então? O que você estava fazendo na cidade dos orcs, bem antes do Festival do Dragão de Fogo?
— Festi…val? — Yume inclinou a cabeça para o lado, confusa.
— E-Espere aí! — Ranta estava quase colocando sua espada de volta na bainha, mas a preparou novamente. — Haruhiro, são esses os inimigos de que você estava falando, né?! Só porque são humanos e os conhecemos, não significa que estão do nosso lado! Eles já nos abandonaram uma vez!
— Abandonamos vocês? — Lala bufou. — Fizemos isso?
— S-S-Sim! Vocês nos deixaram para trás e saíram sozinhos, não deixei isso passar!
— Essa não era nossa intenção, mas, mesmo que fosse, por que trazer isso à tona agora? Você é tão enjoado. Nem consigo reunir motivação para treinar você e expandir isso.
— E-Expandir isso… — Shihoru gaguejou.
(NT: Lala chama Ranta de ‘tight-ass’, que pode significar que ele é muito sério e sem graça ou até ‘apertado’.)
Hum, Shihoru, Haruhiro pensou. Por que ela, de todas as pessoas, foi quem reagiu a isso?
— Cala a boca! — Ranta reclamou. — Olha, tivemos momentos bem difíceis desde então! Passamos por muita coisa! Não sabíamos o que fazer, foi muito difícil!
— Foi o mesmo para nós — disse Lala.
— M-Mas! Eu entendo o que você está dizendo, mas ainda assim!
— …Ranta-kun — Kuzaku sussurrou para ele. — Com educação. Você está falando com ela com educação.
— Tá imaginando coisa, seu idiota! Cabeça de vento! Você é grande demais pro seu próprio bem, droga!
Mary olhou para Haruhiro. E agora? Sua expressão perguntava.
Haruhiro esfregou a parte inferior das costas, colocando discretamente um dedo no cabo de seu estilete.
— Eu realmente não acho que vocês nos abandonaram. Não, não só eu… nenhum de nós acha isso. Exceto o idiota. Talvez seja algum tipo de sinal que nos encontramos de novo assim. Eu gostaria de trocar informações.
Claro, se por algum motivo Lala e Nono tentassem machucar Haruhiro e a party, ou tivessem a intenção de usá-los, ele não pararia por aí.
— Sentimos o mesmo, claro — Lala estreitou os olhos, tocando seus lábios de forma provocante. — Você é uma figura estranha. Haruhiro, era isso? Você tem um rosto bonito.
— Dizem que tenho olhos sonolentos, no entanto — Haruhiro teve que se esforçar para não mudar sua expressão. Ela enxerga muito bem através de mim. — Então, o que é esse tal Festival do Dragão de Fogo?
— Você viu eles se preparando para isso, não viu? — perguntou Lala. — Ainda não sabemos com que frequência acontece, mas é relativamente comum. É um grande ritual onde oferecem um sacrifício ao dragão de fogo. A cidade inteira comemora. Ah, e o nome Festival do Dragão de Fogo é só como nós chamamos. Que pena, não acha? Parece que não vamos conseguir fazer amizade com os orcs.
— Sacrifícios e rituais, é…? — Ranta guardou sua espada e se ajoelhou. Parecia que ele estava se preparando, caso precisasse se prostrar. O que tinha de errado com esse cara?
— …Então, uh… basicamente, eles estão, sabe — Haruhiro disse. — Oferecendo o sacrifício ao dragão de fogo? Sério?
— …Foi o que ela disse — murmurou Shihoru, com a voz carregada de repulsa.
Pode crer, pensou Haruhiro.
Então, era isso mesmo? O Festival do Dragão de Fogo. O sacrifício. As ruas lotadas de foliões.
Talvez, só talvez, isso pudesse ser… o quê exatamente?
Poderia ser a chance deles… talvez? A chance de quê?
Isso era óbvio. Se aproveitassem essa oportunidade, talvez fosse possível. O pensamento passou por sua cabeça. Agora ele já havia pensado nisso.
Talvez todos pudessem atravessar Waluandin e chegar até a Montanha do Dragão de Fogo. Eles poderiam procurar pela caverna e, quem sabe, voltar por ela.
— Parece que você tem algumas informações úteis — Lala sorriu sedutoramente e fez um gesto com o dedo para Haruhiro se aproximar. — Conte tudo para a Lala-sama. Quem sabe você não ganha uma recompensa adorável por isso?