Capítulo 19 – Além do arco-íris. (Parte 1)
Todos os orcs estavam com panos decorativos amarrados sobre os ombros e pintados com tintas vermelhas e pretas. Homens, mulheres, jovens e velhos. Havia orcs batendo em tambores, outros tocando instrumentos de corda, e alguns soprando em flautas. Todos, inclusive as crianças, batiam palmas, pisavam no chão e cantavam em uníssono.
Os orcs que carregavam bastões com desenhos de dragões não estavam cantando, mas sim dizendo algo em voz alta. O jeito que falavam no ritmo, com gestos de mãos e corpo, parecia que estavam dando um discurso ou regendo os músicos e cantores.
Eles estavam incrivelmente animados, e, embora parecesse que a qualquer momento tudo poderia desmoronar, havia uma unidade impressionante. Eram selvagens, mas de forma alguma grosseiros. Na verdade, era algo extremamente refinado. Até bonito. O som era arrebatador.
Não, Haruhiro pensou, balançando a cabeça enquanto se escondia atrás da cerca de um cercado gigante de lagartas. Não ouça isso. É incrível, eu sei que vale a pena escutar, mas não posso. Não é hora de me apaixonar por uma música.
Haruhiro espiou por trás da cerca para ver os orcs comemorando na praça central da aldeia. Na verdade, ainda era meio-dia, mas os orcs adultos já estavam bebendo, e as crianças também estavam agitadas. Além disso, ele estava a mais de vinte metros da praça. Mesmo durante o dia, eles não conseguiriam vê-lo a essa distância. Não havia como serem descobertos.
Haruhiro acenou com a mão, sinalizando para Ranta e os outros. Então, deu o sinal para Lala e Nono. Houve um pequeno incidente em que Yume acertou a cabeça de Ranta, que estava distraído olhando para longe, e quando ele tentou reclamar, Mary o golpeou com o cabo de seu cajado. Mas todos se abaixaram e seguiram em frente.
No caso de Kuzaku, sua armadura fazia um barulho bem alto enquanto se movia. Mas o som do festival encobria, o que tornava o arranjo perfeito.
Haruhiro assentiu e seguiu para o próximo ponto. Ele confirmou que estava seguro, então chamou seus companheiros, além de Lala e Nono. Era um trabalho chato e repetitivo, então ele ficou um pouco surpreso que não só seus companheiros, exceto o Ranta (aquele lixo), mas também Lala e Nono seguiram suas instruções sem dizer uma palavra. Mas não havia como saber quando poderiam se virar contra ele.
Lala tinha um relógio de bolso, o que permitia medir o tempo com relativa precisão. Esse festival barulhento havia começado três horas depois do pôr das chamas no cume. Haruhiro e os outros entraram na área da aldeia uma hora depois, e passaram mais uma hora e meia avançando em direção a Waluandin.
Aliás, segundo Lala-sama, o tempo desde o nascer do sol, ou nascer das chamas, até o pôr do sol, ou pôr das chamas, era de aproximadamente dez a quinze horas, e o tempo de pôr das chamas até o nascer das chamas também variava de dez a quinze horas. Havia variação na duração do dia e da noite, mas somando tudo, dava cerca de vinte e cinco horas. Isso significava que um dia em Darunggar era uma hora mais longo que um dia em Grimgar.
De qualquer forma, em mais uma hora e meia, estariam fora da área das aldeias… ou pelo menos era isso que Haruhiro estava pensando quando outro incidente ocorreu.
Merda, pensou Haruhiro. É um dragão.
O dragão estava vindo de Waluandin!
Para ser mais preciso, o dragão era… um modelo…?
Tinha mais de três metros de altura e mais de dez metros de comprimento. Era bem grande. Estava pintado de vermelho e preto, como os corpos dos orcs, e suas cavidades oculares estavam preenchidas com gemas amarelas cintilantes, ou algo semelhante. Seu pescoço, mandíbula, corpo, cauda e quatro membros eram todos móveis, e mais de trinta orcs cobertos com trajes negros o carregavam e o manipulavam com bastões.
Quando o dragão portátil apareceu, os orcs da aldeia ficaram super animados. Provavelmente era mais uma parte do Festival do Dragão de Fogo. Houve mais cantoria e música, e os gritos dos orcs com os bastões de dragão ficaram mais altos. As crianças orcs correram apavoradas, e algumas choravam e gritavam. As mulheres, que provavelmente eram as mães, riam enquanto consolavam seus filhos.
Ranta estava claramente se coçando para participar das festividades, mas obviamente isso estava fora de questão. Haruhiro seguiu em direção a Waluandin. Com a agitação, era impossível serem descobertos. Esse era o objetivo deles, e a razão pela qual haviam esperado o começo do Festival do Dragão de Fogo.
A área da aldeia era barulhenta praticamente em qualquer lugar que fossem, mas o barulho também estava concentrado em certos pontos. Todos os orcs agricultores das aldeias ao redor estavam reunidos em várias praças com suas famílias. Eles cantavam, tocavam instrumentos, aproveitavam o dragão portátil quando ele era trazido e ficavam completamente eufóricos. Todo o resto estava deserto, sem ninguém à vista, seja orc ou pessoa. Mesmo assim, Haruhiro não relaxou. Ele fazia questão de não se apressar, sempre tomando os devidos cuidados antes de avançar. Era tão meticuloso que até ele próprio ficou exasperado consigo mesmo.
Waluandin estava fervilhando com o espírito festivo. No entanto, parecia ser um feriado, pois não havia sinal de waluos no distrito das oficinas ou na mina. As oficinas dos ferreiros tinham armazéns espalhados aqui e ali. Ele encontrou um que não era muito grande nem muito pequeno, usou Picking para destrancar a fechadura e decidiu usá-lo como um local para se esconder temporariamente.
Ranta, Shihoru, Yume, Mary, Kuzaku e Lala ficaram de prontidão. Quando Haruhiro e Nono se separaram para fazer reconhecimento, descobriram que a situação em Waluandin era basicamente a mesma da área da aldeia. Os waluos estavam concentrados nas ruas principais, cantando, se apresentando, dançando e fazendo barulho. Cada waluo vestia tecidos decorativos e tinha pintura corporal, e um a cada vinte ou trinta carregava um daqueles bastões de dragão e estava com trajes festivos completos. Havia comida e bebida espalhadas por toda parte, e os waluos pareciam livres para pegar o que quisessem.
Haruhiro voltou para onde seus companheiros estavam escondidos, camuflando seus passos e andando pelos becos da área residencial. Não havia ninguém, nenhum orc, nem alma viva à vista. Cada casa estava vazia. Dito isso, ainda poderiam haver waluos que estavam em casa por algum motivo. Ele não podia baixar a guarda. Haruhiro se manteve atento enquanto entrava no beco.
Ele engoliu em seco.
Havia um orc claramente muito jovem e magro, agachado ali. O waluo estava segurando a cabeça com as duas mãos. Ele estava pintado, mas tinha tirado o tecido decorativo, que estava enrolado de forma desordenada aos seus pés.
O que eu faço? O que eu faço? O que eu faço? Haruhiro se perguntou isso mais de dez vezes em um segundo. E então encontrou sua resposta. Haruhiro decidiu voltar silenciosamente. Foi nesse exato momento que o waluo olhou em sua direção.
O waluo inspirou fundo, tentando gritar. O corpo de Haruhiro se moveu sozinho, e ele avançou no waluo. Derrubou-o no chão e o estrangulou.
Se ele fizesse isso em pé, o waluo poderia bater a cabeça ou outra parte do corpo na parede ou no chão de maneira perigosa, enquanto se debatia. Se ele o imobilizasse primeiro, estaria mais ou menos seguro. O braço direito de Haruhiro estava firmemente envolto no pescoço do waluo. Ele estava apoiando o braço direito com a mão esquerda, então não seria fácil escapar.
O waluo tentou arranhar o rosto de Haruhiro com as duas mãos, mas ele conseguiu evitar de alguma forma.
Eu consigo fazer isso, Haruhiro disse a si mesmo. Parece que vai funcionar. Certo. Ele desmaiou. O waluo havia desmaiado, com as presas à mostra. A força tinha sumido completamente de seu corpo. Não havia dúvida. Não era fingimento; ele estava realmente inconsciente.
Haruhiro o virou de lado e se levantou. Estava prestes a sair, mas então…
Não, não, não… Haruhiro balançou a cabeça. Isso é suficiente? Quer dizer, claro, ele está inconsciente. Provavelmente vai ficar apagado por um bom tempo. Mas não posso simplesmente deixá-lo assim, certo? Tenho que fazer algo. Imobilizá-lo? Amarrá-lo? Ou… fazer com que ele nunca mais acorde? Eliminá-lo?
— …Droga. — Haruhiro pressionou a palma da mão na testa.
Eu não sei o que fazer. Estou dividido. Estou hesitando. Esse jovem orc estava sozinho. Mesmo no meio do Festival do Dragão de Fogo. Por que ele estava sozinho em um lugar como este? Será que ele não gostava de grupos? Um solitário? Talvez estivesse sendo intimidado? Pode ser. Mas nada disso importa. Ele me viu. Seria perigoso deixá-lo viver. Vou matá-lo. Um golpe rápido. É só fazer isso.
Com isso feito, Haruhiro saiu do beco e apressou-se em voltar para o esconderijo.
Não deixa isso me abalar. Stealth, Stealth. Concentra. Se aconteceu uma vez, pode acontecer de novo. Posso encontrar outro waluo. Tá tudo bem. Eu resolvi isso direitinho. Tá tudo bem. Sem problemas. Que coisa… Essas coisas podem acontecer. Caramba, ele me pegou de surpresa. Preciso tomar mais cuidado. Claro. Vou tomar cuidado, certo? Vou tomar muito cuidado. Obviamente. Isso nem precisa ser dito. Céus…
Haruhiro se virou e olhou para trás. Nono estava lá. Parado como um cadáver. Não, cadáveres não ficam de pé. Diziam muitas vezes que Haruhiro tinha olhos sonolentos, mas os de Nono pareciam os de um homem morto. Estava olhando para Haruhiro, ou não? Não tinha como saber.
Haruhiro fez uma leve reverência e levantou uma mão.
— …E aí.
A cabeça de Nono girou para a direita e depois lentamente para a esquerda. Sua expressão não mudou. Ou melhor, por causa da máscara, Haruhiro não conseguia ler absolutamente nada.
Hum, você é meio assustador…
— Hm… Quer voltar… lá? — Quando Haruhiro hesitante apontou para o esconderijo, Nono assentiu. Ele sabia que o homem não falava, mas Haruhiro não pôde deixar de pensar: Diz alguma coisa! Talvez a máscara parecida com um arnês o impedisse de falar, no entanto.
O caminho de volta com Nono foi estranhamente tenso. Quando foi que Nono tinha ficado atrás dele? Haruhiro tinha se virado porque notou a presença de Nono? Ou foi só porque ele teve uma sensação vaga? Ele não tinha certeza.
Finalmente chegaram ao esconderijo no armazém. Nada parecia fora do comum. Quando entraram, Ranta, que estava sentado no canto, se levantou de repente e disse: — Ei!
Foi aí que aconteceu.
Nono de repente o agarrou pelo pescoço.
Foi um golpe surpresa, e Haruhiro não teve como se esquivar. Mesmo que tivesse antecipado, não tinha certeza se conseguiria evitar.
Nono pressionou sua boca mascarada perto do ouvido de Haruhiro. Sua voz, é claro, estava abafada. Parecia um gemido. Era realmente difícil entender o que ele dizia, mas, por algum motivo, Haruhiro entendeu claramente o que ele quis dizer.
Quando Haruhiro respondeu: — …Entendi — Nono o soltou.
Nono foi até Lala e imediatamente se colocou de quatro. Ele tinha acabado de voltar, mas já estava se tornando uma cadeira novamente. Lala não lhe dirigiu palavras de agradecimento. Em vez disso, sentou-se impiedosamente nas costas de Nono, como se isso fosse algo perfeitamente normal, e cruzou as pernas. Ela parecia satisfeita.
Haruhiro caminhou até Ranta e os outros, arrastando os pés como um cadáver.
— O-O que foi isso…? — perguntou Shihoru, preocupada.
— …Nada. — Haruhiro balançou a cabeça. — Não foi nada.
— Ele te disse alguma coisa? — Ranta indicou Nono com um olhar. — Pera, esse cara consegue falar? Bom… Acho que deve conseguir.
— Não chama ele de “esse cara” — corrigiu Haruhiro, sem muita energia. — É Nono-san, ok?
— C-Certo — disse Ranta. — Mas, cara, você tá bem? Tá agindo estranho, sabia? Aconteceu alguma coisa?
— Haha… Se até você está preocupado comigo, então eu realmente estou acabado…
— Você é um cara muito rude, sabia? — Ranta retrucou. — Eu posso não parecer, mas sou cheio de amor, tá? Sou o Cavaleiro do Amor, entendeu?
— Você ama o Haruhiro? — perguntou Mary, com uma voz irritada.
— E-E-Ei, claro que não! Não é isso que eu estou dizendo!
— Não é qualquer amor, é amor romântico, né? — Yume deu uma risadinha.
— Eu não amo ele, nem de forma romântica nem de qualquer outra, droga! Isso é óbvio, sua idiota!
Kuzaku soltou uma risada curta.
— Quanto mais desesperado você fica pra negar, mais suspeito parece.
— Eu vou te transformar em carne moída, Kuzacky! Sério, sério mesmo! Não subestime um cavaleiro das trevas!
— Ei — Lala-sama interveio. — Você, o macaco ali. Está sendo irritante. Fique quieto.
Ranta imediatamente ficou em posição de sentido e fez uma continência. Sua boca se moveu, mas nenhum som saiu. Sim, senhora! Pelo jeito, em algum momento, ele havia sido completamente treinado por Lala.
Aterrorizante.
Honestamente, ela era assustadora. Haruhiro estremeceu. Não era só Lala-sama. Nono também. O que ele fez há pouco foi muito assustador, uma verdadeira loucura. Isso que Nono disse a Haruhiro: — Se a Lala-sama se machucar por culpa de vocês, eu mato cada um de vocês.
Foi isso.
Provavelmente não era uma ameaça vazia. Nono estava falando sério. Além disso, o cara não parecia normal. E era extremamente competente. Se Nono decidisse matá-los, ele provavelmente faria isso sem que eles sequer tivessem tempo de piscar.
A questão era: por que Nono escolheu aquele momento específico para dizer isso a Haruhiro? Não é que ideias não viessem à mente, mas ele não queria pensar nisso. Também não era algo que ele pudesse resolver só pensando. Decidiu esquecer o assunto por enquanto. Havia outras coisas que precisavam ser pensadas. Muitas e muitas coisas.
Haruhiro e os outros saíram do armazém. Saíram do distrito das oficinas e passaram pela área residencial além dele. Haruhiro liderava o grupo, verificando se estava tudo seguro antes de chamar os outros, assim como antes. Eles estavam evitando as áreas de festivais, então havia poucas pessoas— ou melhor, poucos waluos—passando por ali, mas ele precisava tomar cuidado com os que vagavam por aí. Mesmo que parecesse que não havia nenhum, nada era absoluto. Mas, dito isso, se fosse muito cauteloso, eles não conseguiriam se mover. Se fossem encontrados, ou se encontrassem um waluo, teriam que lidar com isso na hora. Ele precisava aceitar. Nada era perfeito.
Certo?
Seu estômago doía. Ele estava suando como louco. Sua garganta estava seca. A próxima rua era meio grande. Mas quando ele a tinha checado antes, parecia que poderiam atravessá-la.
Ele espiou rapidamente. Nenhum waluo. Deu o sinal e atravessou a rua primeiro. Seus companheiros, junto com Lala e Nono, seguiram Haruhiro.
Eles ainda estavam na área residencial, mas a inclinação ficou subitamente mais íngreme. Era uma subida consideravelmente difícil. Era difícil ver de baixo para cima, mas a vista de cima era boa. Ele precisava se esconder habilmente enquanto avançava.
Seu estômago realmente doía. Ele sentia como se estivesse envelhecendo um ano a cada segundo que passava. Não conseguia evitar esse sentimento.
Em vez de seguir diretamente para a Montanha do Dragão de Fogo, ele escolheu ruas laterais sempre que possível. Não importava o tipo de estrada, ele verificava minuciosamente antes de entrar. Mesmo assim, isso não era perfeito. Precisava garantir que, não importa o que acontecesse, ele não perdesse a cabeça.
Ele estava se esforçando demais. Forçando todo o seu corpo.
Não force, ele disse a si mesmo. Fique calmo, fique calmo.
Não, ele não conseguia. Seu coração parecia prestes a se quebrar em mil pedaços. Ele estava se segurando por um triz. Talvez com força de vontade, teimosia, ou algo assim. Esse era o estado em que ele se encontrava, mas provavelmente seus olhos sonolentos davam a impressão de que ele estava apenas fazendo seu trabalho sem muito interesse. Ele não sabia se isso era bom ou ruim. De qualquer forma, ainda não estava no limite.
Eu consigo aguentar de alguma forma.
Desde aquela última vez, ele nem tinha visto um waluo. Talvez eles fossem conseguir atravessar Waluandin desse jeito? Sempre que ele pensava que seria fácil, algo ruim acontecia. Bem, suas previsões mais sombrias também tendiam a se realizar, então talvez fosse tudo igual, não importava como ele pensasse.
— O som dos tambores… Não parece que está meio perto? — comentou Ranta.
Antes mesmo de Ranta falar, Haruhiro já tinha percebido. Se até Ranta havia notado, Lala e Nono deviam estar cientes bem antes dele também. Mesmo assim, não disseram nada.
Mais uma vez, Haruhiro foi lembrado de que não podia confiar neles. Não sabia se eram maus ou não, mas Lala e Nono pensavam apenas em si mesmos. Estavam acompanhando Haruhiro e os outros porque, no momento, tinham decidido que valia a pena usá-los. Se isso mudasse, provavelmente os abandonariam sem hesitação. Usando-os como peões de sacrifício, se necessário. E nem sentiriam culpa por isso.
Dito isso, Haruhiro e seus companheiros estavam trabalhando com eles porque isso também era benéfico para eles. Então, nesse sentido, estavam quites. Mas se ele seria capaz de abandonar Lala e Nono se precisasse, isso era outra questão. Ou melhor, provavelmente teria muita dificuldade em fazer isso. Estaria sendo… ingênuo, talvez? Ele poderia estar.
Haruhiro fez os outros sete esperarem enquanto subia em um prédio próximo. Quando olhou do telhado, conseguiu ver colunas de luzes que supôs serem tochas se movendo por Waluandin. Uma das colunas estava a menos de cem metros de distância. Isso era bem perto, considerando tudo.
O que fazemos?
Haruhiro desceu do telhado. Como ele deveria explicar isso? Sua cabeça não estava funcionando direito.
Enquanto ele ficava parado, Ranta o repreendeu.
— O que tá fazendo parado aí, encarando o nada?! O que tá pegando, cara?! O que tá acontecendo?! Haruhiro! Tô te fazendo uma pergunta, então diz alguma coisa, seu idiota careca!
— …Acho que estamos em problemas.
— Em problemas como?!
— Eles podem estar… nos procurando.
— Procurando a gente…? Espera, o quêeeee?!
— O Ranta tá falando bem alto faz um tempo, afinal de contas — disse Yume.
— Cala a boca, Nanica! Cala a boca! Estamos tendo uma conversa importante aqui!
— Por que eles estariam nos procurando? — perguntou Shihoru.
Era uma pergunta perfeitamente razoável. Do ponto de vista de seus companheiros, devia ser um mistério. No entanto, para Haruhiro, não era mistério nenhum. Ele tinha uma boa ideia. Não queria que fosse verdade, mas tinha que assumir que provavelmente era.
— Primeiro, precisamos correr — Mary disse, como se estivesse tentando convencer a si mesma, depois olhou para os companheiros. — Seja qual for a causa ou o motivo, pode esperar.
— Parece certo. — Kuzaku assentiu. — Devíamos correr antes que nos encontrem.
— Pra onde a gente vai correr?! — gritou Ranta. — Estamos bem no meio de Waluandin, sabia?! Você acha que tem algum lugar pra onde correr aqui?!
— Não precisamos correr. — Lala lambeu seus lábios vermelhos e apontou para a Montanha do Dragão de Fogo. — Para os orcs de Waluandin, a Montanha do Dragão de Fogo deve ser uma terra sagrada. Eles não nos perseguiriam até lá, não é?
Nono lançou um olhar de desprezo para Haruhiro.
…A-Assustador, pensou Haruhiro. Aquele olhar, ele está totalmente irritado. Eles sacaram.
No mínimo, Nono sabia. Sabia quem tinha causado essa situação.
Sim. Isso mesmo. Era culpa de Haruhiro. Provavelmente. Bem, quase com certeza. Haruhiro daria de oito a nove em dez chances de que era ele o culpado.
Ele não matou o orc. Não conseguiu. Não aquele jovem waluo. Ele amarrou os pés e as mãos do orc, colocou uma mordaça e o deixou lá.
Devo contar a eles? Haruhiro se perguntou. Mas estavam com pouco tempo, certo? Talvez não agora? Ainda assim, por que Nono não o condenou por isso? Não importa como Haruhiro olhasse, isso era uma crise. Lala também estava em perigo. Então por que? Porque Nono não queria falar? Ele preferia matá-lo primeiro e depois culpar? Estava esperando a oportunidade? Seja como for, eles precisavam se apressar.
Mary estava certa. Quanto à causa ou ao motivo, isso podia esperar.
— Vamos! Para a Montanha do Dragão de Fogo! — Haruhiro comandou.
Os waluos batiam seus tambores, balançavam suas tochas e gritavam enquanto procuravam por Haruhiro e os outros. Mesmo contando de forma aproximada, havia muitas tochas. Facilmente na casa dos três dígitos. Além disso, não era certo que todos estivessem carregando tochas. Podia ser um para cada poucos, cada dez ou até menos.
Seria melhor presumir que havia cerca de dez vezes mais na equipe de busca do que havia de tochas. Eram mais de mil, e possivelmente havia milhares de waluos caçando Haruhiro e os outros.
Haruhiro fez o que pôde para tentar liderar o grupo, mas Nono passou à frente dele. Ele teve que segui-lo. Não poderia dizer: Deixem isso comigo. Se Haruhiro dissesse isso, Nono provavelmente o mataria. Além disso, ele sentia que provavelmente erraria de novo.
Era melhor tirar da cabeça o que aconteceu com o jovem waluo por enquanto. Ele sabia disso, mas não conseguia simplesmente esquecer. Honestamente, Haruhiro não conseguia ter confiança em sua capacidade de tomar decisões no momento. Agora? Só agora? E no futuro? Será que um dia ele seria capaz de dizer: Agora eu estou bom? Ele não conseguia imaginar isso acontecendo.
Nono avançava sem problemas, às vezes seguindo em frente sem hesitar, às vezes virando, e outras vezes descendo por becos. Como ele conseguia continuar assim, sem hesitar? De vez em quando, Lala gritava para ele do fundo, dizendo “Direita”, “Esquerda” ou “Em frente”. Era graças a Lala? Se ele fosse fazer algo errado, Lala o corrigiria. Era porque, mesmo se ele errasse, Lala estava lá para cobrir? Era a confiança entre eles? Porque ele não estava sozinho? Porque eles eram uma dupla? E Haruhiro? Ele confiava em seus companheiros? Não era que ele não confiasse neles, mas era só que—
— Parem! — gritou Lala, e Haruhiro percebeu que um grupo de waluos havia aparecido à frente.
Os waluos tinham mais de dois metros de altura e usavam pinturas corporais, então eram assustadores só de olhar. O coração de Haruhiro disparou, causando uma dor aguda e intensa no peito.
Nono atacou o primeiro waluo. Kuzaku preparou o escudo e avançou. Ranta foi logo atrás.
Nono usou sua faca com a mão direita para cortar o pescoço do primeiro waluo em um piscar de olhos, então saltou para outro. Kuzaku bateu com o escudo em um, provavelmente tentando derrubá-lo, mas o inimigo era maior do que ele e conseguiu se segurar. Ranta atacou o waluo que carregava a tocha, mas, embora tenha conseguido fazê-lo recuar, não havia causado um ferimento grave.
Haruhiro agarrou o cabo de seu estilete, ajustou a pegada e o segurou com força.
Inferno. Inferno. Inferno. Ele estava parado, com as pernas rígidas como gravetos.
O que ele estava fazendo? Nada. Haruhiro não estava fazendo nada.
Ele olhou ao redor. Olhou e pensou. Ele fingia que estava pensando. A verdade era que não estava pensando em nada.
— Por aqui! — gritou Lala.
No momento em que ouviu Lala gritar, ele sentiu um alívio enorme. Ela estava apontando para um beco um pouco para trás, no caminho de onde tinham vindo.
Ele mandou Yume, Shihoru e Mary irem à frente, depois esperou por Ranta, que já havia virado e corrido, e por Kuzaku, que estava recuando lentamente enquanto usava o escudo para bloquear os chutes de um waluo. Nono não era só rápido; ele usava técnicas de artes marciais de diferentes velocidades com sua faca de maneira impressionante, controlando os waluos. Ele não era tão grande e só tinha uma faca curta, mas estava contornando os grandes waluos com facilidade. Como ele conseguia fazer algo assim?
Agora não era a hora de se impressionar.
Ranta entrou no beco. Kuzaku ainda não estava lá. Havia um waluo o incomodando.
Tenho que fazer alguma coisa sobre ele, pensou Haruhiro. Isso mesmo. Tenho que fazer pelo menos isso.
Haruhiro correu ao lado de Kuzaku e do waluo, então fez uma curva repentina e acertou um Backstab nele. Ele tentou atingir o rim pelas costas, mas não conseguiu alcançar o órgão.
O waluo se virou.
Kuzaku o acertou no queixo com um Bash, depois seguiu com um Thrust usando sua lâmina negra. Não precisaram dizer: Vamos lá. Eles seguiram para o beco juntos. Nono os seguiu também.
Para o beco.
Para o beco.
Era um beco estreito, com cerca de um metro de largura, e Lala estava lá, elegantemente apontando para a direita. Por que Lala ainda não havia abandonado Haruhiro e a party? O que Nono estava pensando?
Não. Isso não importava. Não por enquanto. Ele iria calar a boca e fazer o que Lala dissesse. Era sua única escolha. Isso era o melhor a fazer. Afinal, Haruhiro não conseguia lidar com isso sozinho. Ele não tinha um plano para sair dessa. Só podia correr às cegas.
Lala era diferente. Ela não mostrava nenhum sinal de pânico. Nono era igual. Eles estavam calmos. Como sempre.
Tenho que ser assim, pensou Haruhiro. Ele queria ser como eles, mas será que conseguia? Bem, isso era questionável. Provavelmente não. Não havia como. Ele poderia trabalhar a vida inteira e nunca seria como Lala e Nono.
Quando saíram em uma grande estrada de paralelepípedos, tinham uma boa visão de Waluandin em sua totalidade. Estavam em uma altitude bastante alta. Já estavam na extremidade de Waluandin. Os waluos os pressionavam pela outra ponta da estrada.
— Aha! — Lala riu. — Lerdos! Nós vencemos!
Será que eles realmente haviam vencido? Ela estava mentindo? Lala tomou a dianteira correndo pela grande estrada subindo a colina.
Ranta gritou: — Isso é muito maneiro!
Os waluos finalmente haviam encurralado Haruhiro e os outros. Aquela grande estrada parecia se estender do distrito do palácio, serpenteando um pouco até a Montanha do Dragão de Fogo. Como ele sabia disso? Porque ele podia ver. As tochas iluminavam claramente o caminho.
Incrível. Havia um número absurdamente grande de waluos.
Se Kikkawa estivesse ali, talvez ele chamasse isso de “avassaladoramente incrível”. Ou talvez não.
Cara, Haruhiro sentia falta de Kikkawa. Supostamente ele estava bem, então será que eles se encontrariam de novo? Não havia muita esperança nisso. Ele não conseguia evitar esse sentimento.
Um fluxo lamacento. Com suas pinturas corporais e as faixas decorativas que usavam como um manto, os waluos, balançando seus bastões de dragão e tochas, pareciam um rio de lama subindo a estrada, tentando engolir Haruhiro e os outros. Honestamente, era difícil dizer quantos metros havia entre Nono, que estava na retaguarda do grupo, e a linha de frente dos waluos, mas era menos de dez metros. Bem, eram alguns metros.
Nono provavelmente poderia despistá-los se levasse a sério. Mas Shihoru e Kuzaku teriam dificuldades, e Mary também não parecia que conseguiria facilmente. Havia uma sensação no ar de que era apenas uma questão de tempo.
Eles não tinham mais opções? Era o fim?
Tudo isso era culpa de Haruhiro. Haruhiro havia acabado com tudo.
Desculpa, pessoal. Eu realmente sinto muito. A culpa é só minha. O que eu posso fazer para que vocês me perdoem? Na verdade, acho que não há nada que eu possa fazer.
Haruhiro correu o mais rápido que conseguiu, chorando e gritando para si mesmo. Ele não olhou para trás. Apenas olhou para frente. Ele estava apenas com medo. Não queria ver nada, nem saber de nada.
Estava acabado de qualquer forma. Por causa de Haruhiro, tudo havia acabado. Todos iam morrer. Seriam brutalmente assassinados.
Era estranho. Não importava quanto tempo passasse, isso não acontecia. Deveria acontecer a qualquer momento, mas Haruhiro ainda estava vivo.
Ele passou entre dois pilares de pedra com um padrão de dragão. Finalmente havia saído da cidade. A estrada de paralelepípedos íngreme continuava, mas não havia mais prédios. A montanha rochosa se espalhava para ambos os lados. Não havia sequer uma única árvore crescendo ali. Aqui e ali, lava jorrava como se viesse de uma veia pulsante, e às vezes saía uma fumaça.
— Eles não tão vindo atrás da gente! — Yume gritou, com a voz cheia de alegria.
Entendi. É isso mesmo. Haruhiro limpou o suor, as lágrimas, o muco e a saliva do rosto enquanto se virava. Os waluos estavam lá. Eles não haviam recuado. Mas tinham parado nos pilares de pedra. Era como se algum tipo de barreira invisível os estivesse impedindo de avançar.
Terra sagrada. A Montanha do Dragão de Fogo provavelmente era uma terra sagrada para os orcs de Waluandin, então talvez eles não os perseguissem até lá. Essa havia sido a leitura de Lala, e ela havia dito isso claramente. No final, estava certa.
Lala havia conquistado uma vitória calculada. Não apenas Nono, mas Ranta, Yume, Shihoru, Mary e Kuzaku talvez todos tivessem agora alguma esperança. Haruhiro era o único que não.
Haruhiro estava sozinho em seu completo desespero.
Ele havia entrado em pânico de tal forma que havia perdido a capacidade de pensar direito. Estava envergonhado. Incrivelmente envergonhado. Queria simplesmente desaparecer. Não queria viver mais com essa vergonha.
A estrada se transformou em degraus de pedra. Era tão íngreme que, se não fosse por uma escadaria, parecia que eles rolariam morro abaixo. Quando passaram por aquela inclinação, ela se nivelou, ficando quase plana, e a estrada chegou a um fim abrupto.
— Oofwhah..! — Ranta soltou uma exclamação estranha. — Lá! Lá estão elas! Aquilo são salamandras, né?! Pera, como elas conseguem ficar de boa naquela lava?!
Dali em diante, havia verdadeiros altos e baixos na encosta da montanha, rios de lava por toda parte e também nascentes de lava borbulhando. As salamandras flutuavam na lava, nadavam nela e saltavam ao redor.
Na verdade, se fosse para descrevê-las exatamente como pareciam, elas eram como aglomerados de lava derretida em forma de lagartos. Quando não se moviam, eram indistinguíveis da lava. Era por isso que, de fato, Haruhiro não fazia ideia de quantas salamandras havia. Era possível que toda aquela lava fosse composta por salamandras. Bem, isso provavelmente não era verdade, mas ele não podia negar a possibilidade.
— Vamos ser um pouco mais cuidadosos daqui pra frente — disse Lala em voz baixa, como se não tivessem sido cuidadosos até agora.
Que tipo de nervos ela tinha? Ou será que ela estava apenas fingindo ser forte? Isso não podia ser. Ela simplesmente tinha nervos de aço.
Nono estava na frente, verificando seus passos enquanto avançava. Lala vinha em segundo lugar, e atrás dela a fila seguia com Ranta, Kuzaku, Mary, Shihoru, Yume e, finalmente, Haruhiro. Eles não haviam discutido isso previamente; simplesmente acabou ficando assim naturalmente. Provavelmente porque Haruhiro não havia dito nada ou tomado qualquer atitude, todos assumiram que ele pretendia ficar na retaguarda.
Na verdade, Haruhiro não estava pensando em nada, mas não tinha do que reclamar. Se fosse para dizer algo, ele estava até grato. Ficar atrás era ótimo; ele não precisava sentir os olhares de ninguém sobre ele. Ele não podia assumir um papel de liderança naquele estado.
— O motivo de estarmos de olho nesse lugar — Lala começou a explicar sem que ninguém pedisse — foi por causa da presença de orcs. Porque eles estão em Grimgar também. Quando uma raça existe em dois mundos diferentes, como regra geral, você pode presumir que esses mundos estão conectados. Com base em nossa experiência, se essa raça criou raízes em um lugar específico, geralmente há um caminho entre eles lá. Embora, em muitos casos, haja um motivo pelo qual não conseguem ir e vir facilmente.
— Tem um dragão de fogo aqui… — Shihoru segurou o chapéu enquanto pulava com medo sobre um fino riacho de lava.
Logo depois, uma salamandra saltou, quase tocando a perna de Shihoru.
— …Ohhh!
— Cê acha que realmente tem um dragão de fogo? — Yume pulou facilmente e, claro, a salamandra saltou de novo. Yume atravessou tanto o riacho quanto a salamandra com facilidade. — Tá muito quieto por aqui, afinal.
Haruhiro correu e pulou o mais forte que pôde, tentando não olhar para o riacho ou para a salamandra. Ele tinha que dizer algo. Era estranho ficar tão quieto assim. Mas o que ele diria? Não era como se ele não tivesse coisas que deveria dizer. Mas se ele dissesse, o que aconteceria? Ele não sabia. Não queria imaginar.
— Você acha que aquele é o cume ali? — Kuzaku apontou diagonalmente para a esquerda, à frente deles.
Definitivamente havia uma forma montanhosa escura naquela direção. Qual era a distância até lá? Uns poucos cem metros à frente? Talvez mais?
— Pera aí… — Ranta parou de repente. — Haruhiro. Você disse algo antes, não disse, cara? Lá em Waluandin. E, cara… você tava chorando. Eu só imaginei isso?
Haruhiro apenas balançou a cabeça. Ele não respondeu. Quando tentou continuar, Ranta empurrou os outros companheiros para chegar até Haruhiro.
— Você disse alguma coisa, algo sobre como tudo era culpa sua. O que você quis dizer com isso? Você tá agindo estranho também, sabia? Quer dizer, eu sei que você já é estranho a maior parte do tempo. Tem esses olhos sonolentos e tal. Mas, mesmo assim, você não tá agindo normal. Cara, o que deu em você?
— …Depois — Haruhiro sussurrou.
— Hã?
— Eu vou te contar depois. Prometo. Por enquanto… não importa.
— Importa sim. — Ranta agarrou Haruhiro pela gola. — De jeito nenhum isso não importa! Não me venha com essa! Escuta, cara, eu odeio mais que tudo quando as coisas ficam vagas desse jeito!
— É por isso que eu disse que vou te contar depois! Pensa na situação!
— Que situação? Você não vai escapar dessa! Quando eu decido fazer algo, eu faço! Eu vou te perseguir e arrancar a verdade de você, custe o que custar!
— Ranta! Para! — Yume tentou se colocar entre Haruhiro e Ranta.
Isso empurrou Haruhiro para trás. — Ah…! — Ele perdeu o equilíbrio, e na direção em que pisou, pequena ou não, havia uma poça de lava. Seu pé não caiu direto nela, mas o calcanhar direito roçou levemente a lava, que chiou e queimou. — Urgh…!
— H-Haru-kun?! — Yume gritou.
— …Não, eu tô… bem…? — Haruhiro se agachou e esfregou o calcanhar. Ele havia retirado o pé imediatamente, então não achava que fosse algo sério. Pelo menos, era o que ele esperava. Ele passou os dedos pelo contorno da bota. Como estava? O calcanhar parecia meio derretido? Era só a bota? E por dentro? Estava dolorido e talvez quente…?
— Eu… eu não vou me desculpar, tá! — Ranta disse arrogantemente. — I-I-Isso… isso foi culpa da Yume, e sua também! Não foi minha culpa, nem um pouco!
— Você é insignificante… — Shihoru murmurou.
— Hã?! O que foi que você disse, sua bombardeira de peitos caídos?!
— P-Peitos… c-caídos…?!
— Haru! Deixa eu ver! — Mary passou por Shihoru, Yume e Ranta para se agachar ao lado de Haruhiro.
Lala deu de ombros, olhando para eles com total espanto. Nono aproximou o rosto de Lala e sussurrou algo em seu ouvido. Talvez estivesse pressionando-a a tomar uma decisão. Algo como, Não está na hora de abandoná-los?
Nada bom. A party precisava que eles reconsiderassem, ou estariam encrencados.
— Ei, espera — Haruhiro afastou Mary enquanto ela tentava curá-lo e se levantou. A dor percorreu seu calcanhar direito, e ele soltou um grito agudo de dor.
— Hã? — Kuzaku disse algo incrivelmente estranho. — O cume se moveu?
— Montanhas não se movem — Lala disse com um estranho ronronar de alegria na voz. — Em outras palavras, aquilo não é uma montanha, certo?
— S-Se não for… — Ranta se virou e olhou para o cume, ou melhor, para a coisa que eles pensavam ser o cume. — Q-Que… que coisa é aquela…?
Ela balançava de um lado para o outro—não, não só isso. Esse som. Estava vibrando. Ou melhor, o chão estava tremendo. A coisa estava se aproximando.
— Corram! — Haruhiro gritou instintivamente.
— P-P-Pra onde?! — Ranta gritou de volta.
— Eu não sei pra onde…
Pra onde? Para onde eles correriam? De volta? Pelo caminho que vieram? Até onde? Será que poderiam descer a montanha? Mas eles não poderiam fugir para Waluandin. Isso era óbvio. O que deveriam fazer? Como ele saberia? Haruhiro naturalmente tentou se agarrar a Lala e Nono.
Eles já não estavam mais lá.
Tinham estado ali até um momento atrás. Não. Ele podia ver suas costas. Eles estavam avançando. Ele os havia perdido de vista por um momento quando a sombra de uma rocha à frente bloqueou sua visão. Dito isso, eles já estavam a mais de quinze metros de distância.
— C-Corram atrás deles! Sigam aqueles dois! Rápido!
— Maldição! Aquela vadia! — Ranta gritou.
— Shihoru, vai na frente! — Yume gritou. — Yume vai logo atrás de você!
— S-Sim! Entendido!
— Mary-san, vai também!
— Certo! Haru, você consegue correr?!
— E-Eu consigo, sim! Agora vai! Kuzaku, você também!
— Tá!
Os tremores se tornaram maiores e mais violentos. Haruhiro correu desesperadamente atrás de Kuzaku. Quando seu calcanhar direito tocava o chão, a dor subia até o topo da cabeça. Tudo o que ele podia fazer era tentar evitar que o calcanhar tocasse o chão, correndo sobre a ponta dos pés. Não era nada fácil.
Levando em consideração o peso do equipamento e dos pertences, Haruhiro era, ou o mais rápido, ou o segundo mais rápido corredor da party. Kuzaku era o mais lento. Apesar disso, aquilo era desesperador. Não só ele não estava alcançando Kuzaku, como estava ficando para trás.
De vez em quando, Kuzaku olhava para trás, diminuía o ritmo e esperava por Haruhiro. Ele estava tão feliz que quase chorou, mas aquilo não era uma solução. Mesmo que ele fechasse um pouco a distância, logo ela se abria novamente, e às vezes até piorava.
De repente, ele perdeu Kuzaku de vista. Será que ele finalmente desistiu dele? Não, isso não podia ser. Ele passou por uma estreita fenda entre duas rochas e saiu em um lugar mais aberto.
Não era só Kuzaku. Todos estavam ali. Até mesmo Lala e Nono estavam ao longe.
Kuzaku olhou para trás, observando Haruhiro, e depois para algo mais adiante.
— …! — Kuzaku soltou um grito mudo, sinistro, para dizer o mínimo.
Pode ter sido um pouco de exagero, mas Haruhiro sentiu como se estivesse sendo avisado sobre o fim do mundo.
Ele não conseguia decidir. Deveria ver com seus próprios olhos, ou seria melhor não ver? Antes que pudesse tomar uma decisão, seus olhos foram atraídos para aquilo. Ele não desejava não ter visto, e também não estava feliz por ter visto. Ele simplesmente ficou perplexo.
Ele gostava de pensar que já havia encontrado sua cota de criaturas. Como o deus gigante no Reino do Crepúsculo. Bem, provavelmente havia margem para debate sobre se aquilo era ou não uma criatura viva, mas era enorme.
Essa coisa não era tão maior do que eles como o deus gigante tinha sido. Mas havia algo no formato de seus olhos que fez Haruhiro sentir uma emoção especial e profunda. Eles não eram bonitos ou belos. Era algo diferente disso. Se fosse resumir em uma palavra…
Aterrorizantes. Isso provavelmente era o que eles eram, mas certamente não era tudo.
Todo o seu corpo era coberto por escamas avermelhadas, ou talvez escamas negras com um brilho vermelho. Nesse ponto, era semelhante a um réptil. Na verdade, poderia ser justo chamá-lo de um lagarto gigante, mas era realmente diferente. Parecia andar sobre quatro patas, mas suas patas dianteiras também pareciam capazes de agarrar coisas. Elas tinham mãos que pareciam surpreendentemente hábeis. Seu pescoço era bem longo, e sua cabeça era relativamente pequena. Pequena, talvez, mas provavelmente ainda grande o suficiente para engolir uma pessoa inteira. Era uma questão de tamanho relativo.
Não era gordo. Não parecia lento, e, para seu grande tamanho, parecia se mover rápido. Se corresse com toda a força de suas poderosas pernas traseiras, provavelmente seria realmente muito veloz. Ele levantou a longa cauda, esticando-a.
Isso é um dragão.
Provavelmente, mesmo que não soubessem que dragões existiam, qualquer pessoa seria capaz de dizer, à primeira vista, que essa criatura ocupava uma posição especial. Se, então, alguém dissesse que aquilo era um dragão, a pessoa aceitaria imediatamente. Mesmo sem saber o que eram dragões, ela sem dúvida pensaria: Ah, entendi, então é isso que é um dragão. Dragões precisavam estar gravados nos instintos de todos.
Não era de se admirar que os orcs de Waluandin o adorassem. Também era fácil entender por que queriam oferecê-lo em sacrifício.
Haruhiro tremia, é claro. Esse medo não era algo que ele normalmente experimentava. No entanto, ao mesmo tempo, havia algo que ele não conseguia deixar de sentir.
Dragões são incríveis.
Honestamente, era impressionante. Criaturas como essa realmente existiam. De certa forma, era perfeito. Pode não estar claro de que maneira, mas era impressionante.
Continua na segunda parte…