Capítulo 8
Não é estranho. (Parte 2)
— Kih! — Onsa soltou um grito curto e potente, agitando o braço. Parecia querer dizer para se esconderem.
— Certo, mas onde…? — Yume murmurou.
Onsa gritou — Hah! — e apontou para a esquerda, mais à frente. A área estava cheia de árvores com cipós e folhas pendendo dos galhos finos. Parecia um bom lugar para se esconderem. Onsa e Yume se posicionaram à direita e à esquerda de Garo, entrando na vegetação densa.
Pigyaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhh!
O som ecoou novamente. Era horrível e desconfortável, deixando Yume inquieta. Definitivamente vinha de cima. Isso significava que a criatura que produzia aquele som estava no céu?
Garo deitou-se, com Onsa à direita e Yume à esquerda. Ele arfava, seu corpo subindo e descendo a cada respiração. Yume ficou colada ao lado de Garo, ouvindo atentamente, e arregalou os olhos.
Pigyaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhh!
Aquele som. Pela terceira vez. Era como um grito, mas claramente não humano. Provavelmente vinha de uma criatura maior.
Uma voz. Sim. Aquilo tinha que ser o grito de algum animal. Se vinha do céu, seria uma ave?
Onsa provavelmente sabia o que era. Com certeza, devia ser algo perigoso.
Yume ergueu os olhos para o céu. O azul do céu aparecia entre os galhos em alguns pontos.
Agora há pouco, ela tinha vislumbrado uma sombra… talvez?
Onsa tinha a mão na nuca de Garo, mais segurando-o no lugar do que acariciando.
Pigyaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhh!
Desta vez, o som foi ensurdecedor.
Outros barulhos começaram a surgir.
Fraaawp, fraaawp, fraaawp.
Soava como algo grande e fino sendo balançado com força. Asas? Seriam batidas de asas?
Yume prendeu a respiração instintivamente.
Estava vindo.
Estava descendo.
Algo enorme.
Não estava exatamente perto, mas parecia estar na área onde Yume e os outros estavam antes. No entanto, havia uma sensação de que estava se aproximando.
Yume cobriu a boca com as mãos. Por que fez isso? Não fazia sentido. Ela simplesmente não conseguiu evitar.
Uma criatura alada descia, chutando folhas e galhos em seu caminho.
Ela pousou. Um impacto, depois outro e um terceiro.
Quase não dava para enxergá-la. O máximo que Yume sabia era que havia algo grande lá.
Provavelmente era azul. Movia-se com um ritmo lento. O corpo da criatura batia nas árvores e galhos, fazendo bastante barulho. Também era possível ouvir algo que parecia passos.
Estava andando?
De alguma forma, ela teve a sensação de que não se tratava de um pássaro.
Ela queria fechar os olhos. Isso não seria bom. Estava lutando para respirar.
Era porque havia parado. Não precisava prender a respiração o tempo todo. Se não respirasse, acabaria morrendo. Tinha que respirar. Sem escolha. Silenciosamente. Inspirar e expirar o mais discretamente possível.
Inspirar.
Expirar.
Medir a distância pelo som e pela presença.
A criatura alada estava se aproximando? Ou se afastando?
Infelizmente, estava se aproximando. O som das folhas e passos deixava isso claro.
O mestre dela havia dito: Escute, Yume. Houve três vezes em que achei que iria morrer. Uma delas foi quando fiquei encurralado, à beira da morte. Nas outras duas, enfrentei inimigos incríveis. Criaturas que transcendiam a sabedoria humana. Existem seres que te fazem perceber o quão pequeno você é. É melhor não encontrá-los, mas, se acontecer, o que você acha que deve fazer?
Não foque demais neles, o mestre de Yume a alertara. O tamanho e o poder deles são esmagadores. Se você se concentrar neles, será tomada pelo medo. Não conseguirá pensar direito. No pior dos casos, pode nem conseguir se mover. Então, olhe para si mesma.
Ser caçador é um estilo de vida, o mestre sempre dizia. Viver em harmonia com este mundo. É o caminho para isso. Aqueles que vivem com o mundo aprendem que são apenas uma pequena parte dele. Até mesmo o Deus Branco, Elhit, é. Viva como parte do mundo. É isso que significa ser um caçador.
Mas entenda, disse o Mestre com um olhar gentil. Se fizer isso, significa ser devorado por aqueles que tentarão te devorar. Isso também é uma verdade. É assim que os seres vivos seguem o ciclo de vida e morte, afinal. Eles oferecem suas vidas diante de um ser de poder esmagador e são consumidos. Tornam-se sua carne e sangue. É a lei da natureza. Mas, se fizer isso, você vai morrer.
Quando quiser viver, quando quiser sobreviver a qualquer custo, desligue-se do mundo. Yume, torne-se uma só pessoa. Pergunte a si mesma: “O que eu quero fazer? O que eu devo fazer?” Se fizer isso, com certeza encontrará uma resposta. Se não encontrar, significa que estava faltando algo essencial. E aí, não há nada que possa ser feito.
O Mestre fez uma pausa, e seu olhar tornou-se ainda mais suave.
Mas, Yume, isso é algo que quero te dizer, não como caçador, mas como alguém que viveu mais tempo que você: eu acredito em você. Então, acredite em si mesma também. No final, você é a única pessoa em quem pode confiar. A pessoa que vai estar lá para te ajudar, e para salvar aqueles que você mais ama, é você mesma.
O que Yume realmente queria fazer? E o que deveria fazer?
Isso não é assustador, ela pensou.
Ela não sabia por quê, apenas tinha a sensação de que não havia motivo para ter medo. Não precisava se assustar.
Garo estava tremendo. Todo o seu corpo sacudia violentamente. Onsa tentava acalmar Garo, mas não parecia estar funcionando. Onsa também estava visivelmente tenso. Talvez Garo estivesse captando sua inquietação.
Yume se encostou em Garo. Em vez de apertá-lo demais ou tentar acariciá-lo, achou que isso seria melhor. Sem usar a voz, apenas moveu os lábios, formando as palavras: Está tudo bem, está tudo bem.
O coração de Garo estava disparado.
Está tudo bem, está tudo bem. Vai ficar tudo bem.
Não é que ela tivesse certeza disso. Mas, no fim, a criatura alada nunca veio até onde Yume, Onsa e Garo estavam.
Aquele som…
Seria o bater de asas?
Ela estava indo embora.
Yume quase disse algo, mas se conteve. Por uma fresta entre as árvores, viu a criatura alada subindo.
Era um pássaro? Não, não exatamente. Tinha uma cauda semelhante à de uma cobra. Era azul. Suas asas e corpo também eram azuis.
— Wyvern… — sussurrou Onsa.
Wyvern? ela pensou.
Esse era o nome da criatura? Um wyvern.
Yume enterrou o rosto na pelagem de Garo e respirou fundo.
— Existem coisas assim por aí, né? Se ela nos encontrar, será que todo mundo vai ser devorado? — murmurou.