Hai to Gensou no Grimgar – Capítulo 8 (Parte 3) – Vol 6 - Anime Center BR

Hai to Gensou no Grimgar – Capítulo 8 (Parte 3) – Vol 6

Capítulo 8 – Cruzando a Linha. (Parte 3)

Os cultistas estavam sendo derrotados em uma luta unilateral contra Branken, Kayo e Taro, e estavam em completo pânico.

Oh, oh? O que é aquele gigante branco de quatro metros? Ele está se virando para o Akira-san, não está?

Akira-san era um homem grande, mas a diferença de tamanho entre ele e o gigante branco ainda era maior do que a de uma criança e um adulto. Mesmo assim—droga, Akira-san parecia enorme. Por algum motivo, ele parecia maior que o próprio gigante branco.

Bem, isso é imprudente, pensou Haruhiro.

O gigante branco estupidamente tentou atacar Akira-san. Naturalmente, nunca teria chance de acertar. Akira-san se virou e evitou o golpe com tanta facilidade quanto ele poderia ter evitado uma borboleta voando, deixando o punho direito do gigante branco passar por ele. Com um leve movimento, de alguma forma, ele conseguiu se colocar logo atrás do gigante branco.

— E… agora! — Akira-san subiu no gigante branco. Ele não escalou. Com a facilidade de quem sobe uma colina, Akira-san chegou aos ombros do gigante branco bem diante dos olhos deles.

Haruhiro estava assistindo aquilo acontecer, mas não conseguia entender. Pode não ter sido completamente vertical, mas foi um ângulo incrivelmente íngreme. Não era insano que ele conseguisse escalar assim?

— Descanse em paz, tá bom? — Akira-san enterrou sua espada profundamente no  único olho do gigante branco. De uma maneira bem despreocupada, também. Era como se ele quisesse dizer: Ei, ao menos lute um pouco.

Não que o gigante pudesse ouvi-lo se ele dissesse isso. Era tarde demais para isso.

O gigante branco desabou.

Pouco antes das costas do gigante branco tocarem o chão, Akira-san deu um salto no ar e aterrissou graciosamente.

— Bem, isso supera tudo — Tokimune riu, espantado. — Ele está em uma dimensão completamente diferente da nossa, não é?

Realmente é outra dimensão, concordou Haruhiro. Existe tanta diferença assim entre nós?

— E daí?! — Tada ajustou os óculos com o dedo indicador esquerdo, depois correu e desferiu seu martelo de guerra no Tori-san mais próximo. — Eu vou criar uma nova dimensão por conta própria!

A cabeça do Tori-san e o Escudo espelhado com o qual ele tentou se defender foram esmagados, e ele desabou no chão.

— Yahoo! — Kikkawa pulou de alegria. — Não só outra dimensão, mas uma nova, hein?!

Com essas palavras como sinal—não, isso definitivamente não foi o que aconteceu—os soldados voluntários começaram sua retaliação. Mas não era uma simples retaliação. Era um ataque violento, uma contraofensiva massiva.

Afinal, a lendária equipe composta por Akira-san, Branken, Kayo, Taro, Gogh e Miho estava dizimando cultistas e gigantes brancos como se fossem ervas daninhas. Embora fosse menos perceptível com os gigantes brancos, os cultistas pareciam ter emoções e estavam claramente em choque e pânico. Muitos deles já estavam prestes a fugir. Os soldados voluntários, encorajados pela chegada de Akira-san, se uniram e avançaram contra os inimigos.

As lanças dos Pansukes começaram a quebrar uma após a outra. As Lightning Sword Dolphins dos Tori-sans não pareciam tão assustadoras quando todos os atacavam ao mesmo tempo. Suas armas eram arrancadas de suas mãos e seus escudos espelhados eram esmagados. Gigantes brancos, tanto da classe de quatro metros quanto da classe de seis metros, estavam sendo abatidos um após o outro.

Haruhiro e os outros também derrotaram vários cultistas. Especialmente Ranta e Kikkawa, que se empolgaram e começaram a agir de forma descontrolada.

Onde estava a batalha difícil que eles estavam enfrentando até agora? Haruhiro não conseguia deixar de pensar que o problema não era o inimigo em si, mas o fluxo dos acontecimentos. Com uma mudança de vento, tudo podia mudar drasticamente, como havia acabado de acontecer. Sendo assim, era totalmente possível que eles fossem repentinamente empurrados de uma posição de vantagem esmagadora para uma desvantagem da qual não conseguiriam se recuperar.

Isso está… realmente certo? Haruhiro não conseguia simplesmente ir com o fluxo e não sabia o que fazer com aquilo. Bem, acho que está tudo bem. Quando as coisas não estão indo tão mal, talvez eu deva tentar seguir o ritmo.

— Vejo que você ainda está inteiro, Haruhiro-kun — disse uma voz.

Haruhiro ficou chocado ao perceber que Akira-san estava bem ao seu lado. Akira-san guardou sua espada na bainha e cruzou os braços com uma expressão tranquila.

— Ah, é, estamos b-bem, to-todos nós… — Haruhiro respondeu, gaguejando. — Bem, pelo menos a minha party está…

— Estamos testando algumas coisas com a party do Soma para ver se conseguimos fazer algo contra o deus gigante.

— Ah, é? E…?

Akira-san balançou a cabeça. — Desde que ele ocupou aquela posição no meio da colina inicial, quase não se moveu. Aquela coisa é dura.

— Mesmo pra vocês?

— Ainda somos soldados voluntários, assim como vocês. A única diferença é que sobrevivi muito mais tempo do que você. Quando você vive o dobro do tempo, acaba ficando um pouco melhor em algumas coisas.

— É assim que funciona?

— Claro que é. — Akira-san sorriu e acenou com a cabeça.

Esse cara estava emanando uma aura que pressionava todo o ambiente momentos atrás, mas agora parecia apenas um velho simpático. Claro, isso não era verdade.

— Sou apenas um velho — disse Akira-san. — Por causa da minha idade, sinto vontade de me intrometer—Kuzaku-kun, olhe para isso por um momento.

Akira-san chamou Kuzaku, preparou seu escudo e sacou sua espada. Ele avançou, cobrindo metade do corpo com o escudo e, em seguida, desferiu um golpe diagonal em um Pansuke próximo. Até Haruhiro conseguiu entender o que ele estava fazendo. Era a habilidade Punishment do paladino. Mas Akira-san propositalmente interrompeu o movimento da espada pela metade e a puxou de volta. O Pansuke ficou encolhido, como se estivesse paralisado.

— Viu isso? Com a repetição suficiente, você também poderá fazer isso — disse Akira-san.

— Certo… — Kuzaku estava completamente imóvel, observando atentamente.

Eu mesmo poderia ter dito melhor, pensou Haruhiro.

Akira-san usou Punishment no Pansuke mais uma vez, mas dessa vez deixou o golpe acertar. Pelo menos, provavelmente era Punishment, mas parecia completamente diferente.

Não sei, parecia que era tudo um movimento só.

Defender-se com o escudo, avançar e desferir o golpe com a espada. As três ações haviam se fundido completamente em uma só.

A espada de Akira-san cortou limpidamente o Pansuke, do ombro esquerdo até o quadril direito. Parecia que, ao atingir o nível de Branken, Kayo ou Akira-san, os ponchos supostamente impenetráveis já não faziam diferença. Isso era algo que realmente poderiam alcançar apenas com repetição? Era difícil aceitar essa realidade de maneira simplista, mas Akira-san não parecia ser o tipo que inventaria coisas para enganar os mais jovens e menos experientes.

— Tudo se resume ao que você constrói ao longo do tempo. — Akira-san guardou sua espada novamente. — É experiência. Sinta as coisas por si mesmo e construa com base nisso. Se tudo o que você fez foi aprender uma habilidade, ela é apenas uma habilidade e nada mais. O verdadeiro poder está em algum lugar além disso. Agora, quanto a como você vai desenvolver esse instinto, bem, realmente, a repetição no campo é a única maneira.

— Hmm — Gogh resmungou. — Ora, você está soando bem convencido.

A bela maga Miho também estava lá. Mesmo que a situação estivesse a favor deles, ainda era uma batalha caótica, então por que aquelas pessoas estavam tão tranquilas, como se estivessem passeando no jardim de casa?

— Dar palestras não combina com você, Akira-san — disse Gogh. — Você nem é o tipo de seguir teorias. O fato de querer ensinar essas coisas para os mais jovens pode ser uma prova de que você está ficando velho.

— Pois é — Akira-san deu de ombros. — Eu mesmo tenho consciência disso.

— Ele ainda é jovem — Miho riu, com um sorriso divertido.

— Bwuh! — Ranta pode ter imaginado algo estranho.

— M-Magia! — Shihoru se aproximou, segurando o cajado com força. — O-O que tem… a magia? Tem algum truque?

— Eu quero saber — Mimorin assentiu.

— Ei, espera aí — Anna-san olhou em volta, inquieta. — É mesmo seguro ficar tagarelando?! Ainda tem muitos, muitos inimigos por aqui, né?!

— Bem, acho que é hora de trabalhar um pouco — disse Gogh, lançando um olhar para Shihoru e Mimorin. — Eu vou responder à sua pergunta enquanto isso. Vocês só estão na linha de partida da magia quando aprendem adequadamente todos os símbolos elementais que podem pagar para a guilda ensinar. A partir daí, depende de vocês… Miho.

— Certo.

— Vamos lá.

Gogh e Miho começaram a caminhar. Akira-san os seguiu silenciosamente. Se algum inimigo os atacasse, Akira-san os derrubaria imediatamente.

Logo, os três pararam. Eles estavam olhando para o gigante branco da classe de oito metros.

Gogh e Miho começaram a traçar o que pareciam ser símbolos elementais com as pontas de seus cajados.

— De, he, lu, en, ba, zea, ruv, dag, na, mitoh, la, we, swa, va.

— Ne, ve, lu, shia, rass, fe, de, ge, hi, mina, sheh, kweh, du, il.

— Eu nunca vi isso antes — sussurrou Shihoru.

Era verdade. Haruhiro nunca tinha visto símbolos elementais como aqueles antes, e o cântico também era desconhecido. Parecia que a entonação era diferente das invocações que Shihoru ou Mimorin usavam, também.

O gigante branco da classe de oito metros, percebendo Gogh e Miho, olhou para baixo na direção deles. Logo em seguida, houve um som retumbante thuuuuuuuuuuuun que parecia tanto agudo quanto grave, e sua cabeça foi explodida.

— …Com um só golpe — Mary ficou boquiaberta.

— Miau… — Yume piscou repetidamente.

— E, bem, há inúmeros pontos que eu poderia cobrir, mas… — Gogh girou para encará-los, passando a mão pelo cabelo com uma elegância artística. — Mesmo depois de mudar de classe para sacerdote, consegui alcançar isso com bastante estudo. Mas, sozinho, eu não teria conseguido o que acabamos de fazer. Libertamos um elemental e, em seguida, ativamos um poder alternativo. Essas coisas não são ensinadas na guilda. Você tem que estudar por conta própria, fazer descobertas e refinar suas habilidades… Ufa, estou exausto.

De repente, Gogh abaixou a cabeça e colocou uma mão na testa. Parecia que ele poderia desabar a qualquer momento.

— Oh, céus — Miho estreitou os olhos e cobriu a boca com as mãos.

— Estamos ficando velhos — Akira-san ofereceu apoio a Gogh. — Mas, no seu caso, seu corpo sempre foi fraco.

— …Cala a boca — resmungou Gogh. — Me deixa em paz.

— Queriiiidoooo…! — Kayo correu na direção dele, deixando um rastro de névoa de sangue por onde passava. — O que aconteceu?! Você está bem?! Querido?! Eu nunca vou te perdoar se você morrer antes de mim!

— Papai?! O que aconteceu com o senhor, papai?! Não morra! — Taro também correu para perto, com o rosto contorcido de angústia.

— Escutem! Eu não vou morrer tão facilmente! — Gogh gritou para eles, mas seu grito foi abafado pelo estrondo ensurdecedor do gigante branco de oito metros caindo pesadamente no chão.

Quem diria que o gigante branco da classe de oito metros, que tinha sido um problema tão grande, seria derrotado tão facilmente?

Os soldados voluntários soltaram uma salva de palmas.

— Gwah, hah, hah, hah, hah! — Com uma risada aterrorizante, Branken apontou seu machado em direção ao outro problema. — Agora é a sua vez! Prepare-se para morrer!

Haruhiro tentou engolir a saliva, mas sua boca estava seca, então seu pomo de Adão apenas se moveu inutilmente.

A hidra também parecia ter sentido algo, pois ficou parada onde estava, com seus tentáculos se contorcendo. Não, não estavam apenas se contorcendo. Seus tentáculos se espalharam amplamente, como se estivesse tentando fazer seu já enorme corpo parecer ainda maior.

— Muito bem. — Akira-san afastou-se de Gogh e sacou sua espada. — Primeiro, vamos ver do que ela é capaz.

Iron Knuckle. Os Berserkers. Orion. Todos eles estavam entre os voluntários de elite, mas não se moveram, ou não conseguiram se mover. Apenas Akira-san, Kayo e Branken se aproximavam da hidra.

Os cinco tentáculos dispararam contra eles de uma vez. Três em direção a Akira-san, e um em cada um dos outros, Kayo e Branken.

Eles são rápidos. Mesmo com esse tamanho, são tão rápidos assim?

Aos olhos de Haruhiro, parecia que estavam se movendo com uma velocidade comparável a de uma pessoa brandindo uma espada. Ele pensou por um momento que não havia como desviar.

Mas Akira-san deu apenas dois passos rápidos, Kayo avançou e Branken rolou para o lado, cada um evitando os tentáculos à sua maneira.

Akira-san foi para a direita da hidra, enquanto Branken foi para a esquerda. Kayo estava se aproximando diretamente, encurtando a distância.

A hidra balançava seus tentáculos. Parecia ter dois tipos de ataques com eles: balanços e estocadas verticais.

As estocadas pareciam possíveis de esquivar, mas os balanços seriam mais difíceis. Os tentáculos tinham mais de dois metros de diâmetro. Se algo tão grosso e longo viesse contra eles àquela velocidade intensa, não havia realmente para onde correr. Como Akira-san e os outros conseguiam desviar? Haruhiro não conseguia imaginar.

Talvez eles consigam prever. pensou Haruhiro. Devem saber onde os tentáculos não podem alcançá-los. Provavelmente. Mas como descobriram isso? É um mistério. Um grande mistério. Sem observar por muito tempo e estudar, isso não seria impossível?

— Não, a menos que você seja o tipo de gênio que este mundo raramente vê — disse Gogh, parecendo ter lido o processo de pensamento de Haruhiro. — No fim das contas, a experiência é o que mais importa. Quando estamos enfrentando um inimigo que nunca vimos antes, claro que não sabemos essas coisas também. No entanto, sempre há algumas semelhanças, pontos em comum, com inimigos que enfrentamos antes. O que é semelhante? O que é igual? Você não pode lidar com eles se ficar se agonizando com essas questões. O que eu faço aqui? Qual a melhor chance? Seu corpo precisa se mover sozinho antes que você comece a debater consigo mesmo sobre o que fazer.

— E-Essa coisa… — Ranta resmungou. — Eles já enfrentaram muitos inimigos parecidos com ela? É por isso que conseguem lutar assim, sem se importar?

— Tenho a impressão de que vai ser bem difícil. — Gogh deu de ombros. — Eles terão dificuldades. Sem acesso à magia de luz, estarão menos dispostos a arriscar.

— Você diz isso como se não fosse seu problema. — Miho franziu a testa, mas Haruhiro não pôde deixar de notar que ela também parecia completamente tranquila com a situação.

— Não tem onde atacar. — Taro abaixou seu arco, uma expressão de desagrado distorcendo seu belo rosto. — Odeio inimigos grandes. Queria poder ajudar a mamãe…

Taro parecia mais jovem que Haruhiro e sua equipe, mas devia ter uma experiência considerável. Dado que estava viajando com Akira-san e sua party, isso era natural.

— Posso fazer uma pergunta? — Kuzaku perguntou hesitante.

Gogh olhou para Kuzaku, indicando com a expressão que ele deveria continuar.

— Você disse “a menos que fossem gênios”, mas… — Kuzaku perguntou exatamente o que Haruhiro queria saber. — Não seria um pouco exagerado dizer que Akira-san e os outros não são gênios?

Embora isso fosse verdade para Branken e Kayo também, era incrivelmente difícil acreditar nas coisas que Akira-san estava conseguindo. Ele começou focando em desviar dos tentáculos atacantes, mas agora estava fazendo mais do que isso. Depois de desviar, ele atacava com sua espada. Além disso, não estava se aproximando da hidra lentamente? Provavelmente estava. Não, não era apenas uma suposição, ele definitivamente estava se aproximando.

— Akira não é gênio — Gogh afirmou categoricamente, então soltou uma risada maliciosa.

Ele só pode estar mentindo, Haruhiro pensou, incrédulo. Será que o relacionamento deles está distorcendo sua percepção?

— Você está certo — disse Miho instantaneamente.

Haruhiro começou a pensar que talvez não fosse o caso.

— Quando o conheci, ele era um covarde sem esperança.

— O cara ainda é meio tímido, sabia? — Gogh concordou.

— Pode ser.

— Mesmo na nossa época, havia muitos caras mais fortes que ele.

— Eu diria que Kayo era bem mais corajosa.

— Isso não mudou.

— Minha mãe é a mais corajosa do mundo, e meu pai o mais sábio — declarou Taro com uma expressão tão séria que era assustadora. — E eu sou o mais sortudo.

— Você realmente os ama, não é? — Yume comentou com sinceridade.

— Claro que amo! — Taro gritou, arregalando os olhos. — Meu amor por mamãe e papai não perde para nada! Nunca! Jamais!

— Não acho que seja uma questão de ganhar ou perder — Gogh deu uma risada irônica enquanto afagava a cabeça de Taro. — De qualquer forma, a única coisa que posso te dizer com certeza é que Akira não é um gênio. Mas ele sobreviveu. Isso graças a mim, Kayo, Branken, Taro e aos muitos amigos e camaradas que perdemos pelo caminho. Muitos guerreiros e paladinos talentosos e abençoados com aptidão caíram, enquanto ele continuou. Ele não sobreviveu porque era forte. O que o favoreceu? Se eu tivesse que resumir em uma palavra, seria sorte, acho. Porque ele teve sorte, sobreviveu e conseguiu se tornar forte.

Não foi apenas um ou dois casos—foram mais de duas décadas acumulando sorte. Isso foi o que criou Akira-san.

O quão sortudo ele era? Mesmo uma única ocorrência de azar poderia ter sido o suficiente para matá-lo, assim como aconteceu com Manato ou Moguzo.

Pensando por esse lado, se Manato ou Moguzo não tivessem morrido quando morreram, teriam tido a chance de se tornar como Akira-san. Na verdade, tanto Manato quanto Moguzo tinham mais aptidão do que Haruhiro. O que significava que não havia garantias de sucesso. Se um soldado voluntário tivesse um pouco de azar, já era. Ele morreria.

De qualquer forma, Akira-san era um dos poucos escolhidos.

— …Eu não sou assim — murmurou Haruhiro.

Akira-san, Branken e Kayo estavam praticamente tocando a hidra. Os cinco tentáculos pareciam incapazes de alcançá-los.

Então, de repente, os quatro tentáculos que ela usava para se mover atacaram Akira-san e os outros. Enquanto Haruhiro foi pego de surpresa, Akira-san e os outros pareciam ter antecipado. Esquivando-se e tecendo entre os tentáculos, Branken e Kayo recuaram, mas… Akira-san cravou sua espada na base dos tentáculos.

Com isso como apoio, ele subiu. Era aquele mesmo estilo de escalada, como se estivesse andando por uma colina. Ele correu ao longo do tentáculo.

— Ohh — Gogh estalou os dedos. — Havia uma força que Akira sempre teve. Seu senso de equilíbrio. Isso é uma coisa em que ele sempre foi acima da média.

— Ele também gostava de lugares altos — Miho riu.

— Deve ser um idiota. — Os cantos dos lábios de Gogh se curvaram para cima. — Está quase na hora, né?

— É, você está certo.

Hora de quê?

O tentáculo tentou sacudir Akira-san. Akira-san saltou. Ele se impulsionou de um tentáculo para outro e depois para mais outro. Akira-san desapareceu atrás dos tentáculos.

— E-E-E-E-Ele vai ficar bem?! — Kikkawa gritou.

O corpo inteiro da hidra estremeceu.

— Gyahhhhhhhhhhhh! — Ela soltou um grito tremendo.

Se uma mulher de mais de dez metros de altura soltasse um grito, poderia ser tão alto quanto aquele. O som saiu da parte inferior da hidra junto com uma rajada de ar, agitando os tentáculos e fazendo-os balançar.

Akira-san rolou para fora de uma brecha entre os tentáculos.

Gogh e Miho desenharam sigilos elementais com seus cajados e entoaram seus feitiços.

— Ea, zu, fa, nwe, meu, hoa, rahi, kweh, ba, ju, sai, le, cthu.

— Ni, fau, shin, dza, wao, iki, le, vu, duma, gis, qua, zu.

— Tá quente?! — Haruhiro cobriu o rosto sem querer e se abaixou. O vento quente o atingiu como uma rajada. Ou talvez fosse mais preciso dizer que o varreu violentamente.

A hidra estava no centro disso. A hidra estava queimando—Não, não era isso. Não havia chamas subindo dela. Mas estava quente. Havia um incrível redemoinho de ar quente atormentando os tentáculos da hidra. Esse redemoinho parecia estar indo em direção ao núcleo da hidra. Haruhiro e os outros estavam sendo pegos apenas no rastro. Mesmo assim, estava quente e assustador.

O que estava acontecendo? O que ia acontecer agora? O rastro mudou de direção de repente. Não estava mais soprando em sua direção. Agora estava sugando.

— Uwahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh?! — Ranta gritou.

— Yahooooooooooooooooooooooooooo?! — Kikkawa berrou.

Ranta, Kikkawa, calem a boca.

Eu sei como vocês se sentem, mas ainda assim.

— Kyaaaah?! — Shihoru gritou.

— Funyaaaaaaaaaaaaa?! — Yume choramingou.

— Yahhhhhhh?! — Mary gritou.

Shihoru, Yume e Mary estavam se abraçando.

— Que diabos?! — Kuzaku se jogou no chão.

What the heeeeeeeeeell?! — Anna-san gritou.

Mimorin segurou a apavorada Anna-san, e por alguma razão, ela também tinha uma pegada firme em Haruhiro.

— Não, eu vou ficar bem, okay? — ele disse.

— Só por precaução!

Eu realmente vou ficar bem, e na verdade, é mais difícil para mim quando você me segura assim. Pensando bem, Tokimune e Tada estão bem? Além disso, onde está Inui?

— Oh!

O vento mudou de direção novamente. Desta vez, não os empurrou nem puxou. Estava soprando de cima para baixo. A massa de ar quente estava pressionando e esmagando-os.

Haruhiro e sua party só estavam sendo atingidos com força suficiente para forçá-los a ficar de quatro, mas a hidra no centro da tempestade estava muito pior.

Sério?

A hidra estava sendo esmagada.

Os nove tentáculos estavam prensados contra o chão, revelando a parte central—seu corpo principal, talvez? Ou o tronco? Seja o que for, aquela parte que parecia uma enorme planta carnuda branca havia sido exposta, e o topo dela estava rangendo e afundando cada vez mais a cada segundo.

Que tipo de magia era essa? Magia Arve? Não pode ser magia Kanon, certo? Também não parecia ser magia Falz ou Darsh. Então, o que era? Lembro que o Gogh disse algo sobre liberar elementais e depois ativar um poder alternativo. Seria essa a verdadeira natureza dessa magia de redemoinho super quente e esmagadora?

Eventualmente, o vento quente diminuiu.

A enorme coisa branca que parecia uma planta carnuda parecia ter encolhido para metade do seu tamanho original. Não era possível confirmar dali, mas o meio dela provavelmente estava bastante afundado.

A hidra não se movia mais.

— Ela… morreu? — Ranta caiu de costas, meio fora de si.

— Estou exausto… — Gogh cambaleou.

— Papai! Aqui! — Taro colocou o arco e a aljava debaixo do braço, então se agachou na frente de Gogh e lhe ofereceu as costas.

— Agora, ouça… Eu sou seu pai, entendeu? — Mesmo soltando o que parecia ser uma reclamação, Gogh descansou nas costas de Taro. Ele devia estar passando por maus bocados.

— Hee hee. — Miho, sorrindo, parecia não estar tendo nenhuma dificuldade. Será que ela era durona, além de ser incrivelmente bonita? Ou o Gogh é que era fraco demais?

— Acabou…? — Shihoru se agarrava a Yume, tremendo.

— Talvez? — Yume esfregou as costas de Shihoru de forma reconfortante.

— Eu espero que sim. — Mary se juntou a Yume para acalmar Shihoru.

— Ufa… — Kuzaku olhou para cima timidamente.

— Já está seguro? — Mimorin perguntou.

Anna-san, que estava mexendo no peito exageradamente farto de Mimorin por algum motivo, inclinou a cabeça de lado, questionando-se.

Será que é aceitável quando garotas fazem isso umas com as outras? Haruhiro se perguntou. Não que ele estivesse com ciúmes nem nada. — Q-Quem sabe…

Mas será que realmente estava?

Haruhiro não tinha certeza, mas talvez tivesse gostado se Mimorin o soltasse. Ele estava prestes a falar isso, sentindo os seios de Mimorin pressionados contra ele, quando, não muito longe, Tada começou a gritar.

— Não, isso não é divertido! Eu me recuso a deixar que acabe assim tão fácil! Eu nem fiz nada ainda! Não morra, volte à vida já!

Gyahhhhhhhhhhhhhhhhhh.

— Kyaaaaaaaaaa! — Mimorin soltou um grito nada característico e apertou Haruhiro e Anna-san com força. Ou melhor, estava o estrangulando. Ele não conseguia respirar.

Socorro, Haruhiro pediu silenciosamente. Mas, bem, ele não podia culpá-la por estar surpresa. Ele mesmo tinha ficado surpreso.

A hidra, que ele achava estar morta, soltou de repente outro rugido do fundo daquela grande parte branca que parecia uma planta carnuda. E, além disso, o som era mais alto e violento do que da primeira vez. Então, os tentáculos começaram a balançar loucamente.

Akira-san, Branken e Kayo estavam se afastando. Não era surpresa, porque a situação parecia bem perigosa. Os outros soldados voluntários também estavam em pânico, assim como Haruhiro e sua party.

— Hahahahahahahahaha! — Tada parecia empolgado. — Bom! É assim que eu queria! Me entretenha mais!

— Agora começa a segunda rodada, hein! — Tokimune parecia estar se divertindo.

Eles são idiotas…?

— Kwa, do, roh, wo, su, eck, lue, rah, va, le. — Enquanto isso, Miho começou a lançar um feitiço.

Se tivesse que descrever com uma cor, seria roxa. Essa coisa roxa, que não era nem uma chama nem um raio, explodiu na gigantesca parte branca da hidra, a parte que parecia uma planta carnuda, com um som rasgante. Ela foi cortada e dilacerada, espalhando uma substância parecida com muco por toda parte, e a hidra começou a convulsionar, mas você poderia dizer que foi só isso. Mesmo assim, Miho parecia confiante. Ela não apenas não recuou, como avançou.

— Ah, lua, de, muo, su, vi, gwa, pa, le, tu, kia.

Dessa vez, era um verde escuro. A luz verde-escura piscava repetidamente e atingia a enorme parte branca. Ela perfurava. Riscava. Os tentáculos se contorciam. A hidra se contorcia, espalhando muco por todos os lados, e então…

— Ta, tu, rua, fa, yek, nie, she, la, stoa, ryu, kweh, wana.

Hã? Mais? Você vai lançar mais?

Um ponto rosa se formou acima da enorme parte branca da hidra que parecia uma planta carnuda. Então ele caiu.

Shishishishishishishishishishishishishishishishishishishishishishishishi…

Espera, que tipo de som era aquele? O que era isso? Não estava claro, mas aparentemente vinha do ponto rosa que havia feito contato com a parte branca da hidra. O que era esse ponto rosa, afinal? Ele estava ficando maior.

O ponto não era mais um ponto. Agora era uma esfera. Estava crescendo mais e mais.

Os tentáculos se agitavam loucamente. Suas pontas batiam no chão. Como se estivesse dizendo, Espera, espera, espera, e tentando pedir um tempo.

Naturalmente, os soldados voluntários não iam esperar. Dar uma pausa era impensável.

A esfera rosa estava apagando a parte branca da hidra, como se estivesse derretendo-a. Por fim, a esfera rosa entrou na parte branca da hidra.

Os nove tentáculos ficaram moles. A parte branca da hidra também parecia ter amolecido.

Miho parou e soltou um suspiro. Então, ela deu uma risadinha. — Era teimosa e atrevida, então eu a puni um pouco.

Haruhiro ficou chocado e se agarrou a Mimorin sem querer. Ela é uma total sádica?

— Qual foi! — Tada gritou na cara de Miho. — Quando finalmente estava ficando interessante, você teve que estragar tudo!

— Oh, meu caro. Desculpe.

— Desculpe não é suficiente! Agora escute aqui—Murgh?!

…Uau. Haruhiro sabia que não podia se surpreender com qualquer coisa, mas isso era realmente espantoso.

Os tentáculos da hidra de repente ficaram cheios de força. Os nove tentáculos se empurraram para fora do chão, e a hidra saltou para o céu.

Ela saltou.

Hã, ela pode saltar?!

— Ah, droga! Afastem-se! — Akira-san gritou.

Era a primeira vez que ele ouvia uma urgência na voz de Akira-san.

Akira-san, Branken, Kayo, Miho e Taro, que estava carregando Gogh—nenhum deles hesitou quando chegou a hora de correr. Foi quase estonteante a forma incrível com que eles fugiram.

A hidra saltou. Voou no ar, balançando seus tentáculos.

Tokimune e Tada também recuaram.

— Mimorin, solte! — Haruhiro se soltou do aperto restritivo de Mimorin. — P-P-P-P-Precisamos sair daqui rápido!

— Precisamos, sim! — Anna-san gritou.

— Sim! — Mimorin começou a andar, carregando apenas Anna-san.

O restante de seus companheiros também fugiu. Era como uma competição para ver quem poderia correr primeiro. Eles precisavam se afastar da hidra.

Haruhiro continuou movendo as pernas enquanto expressava todos os sentimentos que não conseguia converter em palavras dentro da sua cabeça. Ranta, Mary, Kuzaku, Yume, Shihoru. Todos estão bem. Kikkawa, Tokimune e Tada, também. Inui ainda está desaparecido, mas quem se importa com ele? E quanto Iron Knuckle, os Berserkers e Orion? Parece que se dispersaram, talvez?

Por sua vez, Haruhiro ainda estava seguindo Akira-san e os outros. Isso estava certo? Não estava? Ele não tinha ideia. Não conseguia decidir.

De repente, a hidra parou de pular.

Ela está vindo.

Ela cravou todos os seus nove tentáculos no chão com força, avançando em uma investida desenfreada.

— Wawawawawawawawaaaaa?! — Haruhiro surtou e começou a balbuciar incompreensivelmente em pânico.

Ferrou? Deu merda, né? Hein? Eu estraguei tudo? Fiz a coisa errada? Quero dizer, parece que a hidra está vindo para cá. Ela está mirando na party de Akira-san? Se estiver, deveríamos nos separar deles?

— De, he, lu, en, ba, zea, ruv, ah, tu, la! — Gogh, que estava sendo carregado por Taro, virou-se e começou a entoar encantamentos enquanto desenhava o que pareciam ser sigilos elementais com seu cajado.

Boooooooom!

Houve uma explosão diretamente sob a hidra, lançando uma enorme quantidade de grama e terra no ar.

A hidra perdeu o equilíbrio. Isso foi porque seu ponto de apoio foi destruído com magia. Eles precisavam ganhar o máximo de distância possível dela agora. Mas de que adiantaria essa distância? O que iria acontecer? Ela não iria eventualmente alcançá-los? O que fariam se isso acontecesse?

Por enquanto, tudo o que podemos fazer é correr o mais rápido que pudermos, pensou Haruhiro. Se a hidra realmente está atrás da party de Akira-san, isso não é bom. Não sei como explicar, mas, sabe, existem maneiras melhores de lidar com isso. Tipo, se eu estou pensando na nossa segurança, poderia dizer que só há uma opção.

Se Haruhiro fosse totalmente honesto, ele achava que o melhor seria não seguir a party de Akira-san. Do jeito que as coisas estavam agora, eles estavam na linha reta entre a hidra e a party de Akira-san, e não queriam estar lá. Talvez fosse melhor mudarem de rota e agirem de forma independente.

Eu me sentiria culpado por fazer isso, no entanto. Além disso, não é absolutamente certo que Akira-san e os outros sejam o alvo da criatura. E se não forem? Se ela se virar e nos seguir quando nos afastarmos de Akira-san e os outros, seria um desastre total. Akira-san e sua party não poderiam ajudar, e, bem, seria o nosso fim.

Dito isso, eu tenho quase certeza de que a hidra está atrás de Akira-san e sua party.

Devemos arriscar?

Não parece uma má aposta, mas eu não consigo me comprometer totalmente com isso. Eu deveria decidir mais cedo ou mais tarde. Sou tão indeciso. Odeio isso.

No final, Akira-san e sua party não vão resolver as coisas de alguma forma? É isso que estou pensando? Não posso dizer que essa ideia não passou pela minha cabeça. Isso é basicamente deixar os meus problemas para outra pessoa, não é? Acho que há algo de errado nisso. Isso está certo? Não posso dizer que está, né?

Mesmo em sua indecisão, ele continuava correndo diligentemente quando algo passou na direção contrária.

— Hã? — Haruhiro percebeu. A outra… direção?

Sim. Não havia dúvida. Algo correu em sua direção e então passou direto por Haruhiro.

Haruhiro se virou para olhar.

Aquela coisa estava coberta por uma armadura preta.

Ela era justa, parecia leve e era toda preta, mas o que era aquela luz alaranjada que saía aqui e ali? Como isso funcionava? Havia uma espada curta e curva, ou melhor, uma katana, em um dos quadris da figura, e uma katana bem longa em suas costas. A pessoa alcançou a katana com uma mão enquanto continuava correndo. Indo direto em direção à hidra.

— Soma… — Haruhiro acidentalmente disse o nome dele, sem o honorífico.

Ele ficou ali parado, em transe.

Era Soma.

A hidra estava avançando em direção a eles, e Soma corria na direção oposta, então era certo que os dois se encontrariam.

Será que… ele vai ficar bem?

Seria mentira dizer que não estava preocupado, mas por algum motivo, Haruhiro não conseguia imaginar Soma sendo morto.

A hidra levantou seu enorme corpo com os tentáculos e então se lançou contra Soma.

Soma não parou, nem sequer diminuiu o ritmo.

Ele sacou a katana.

Haruhiro conseguiu ver tudo até esse ponto. Mas o que ele fez depois?

Os olhos de Haruhiro estavam bem abertos, e ele observava atentamente, mas ainda assim, não conseguia entender.

Só sabia que dois dos tentáculos da hidra foram cortados e voaram pelo ar.

A hidra aterrissou com um baque ensurdecedor—mas e quanto a Soma?

Haruhiro foi finalmente tomado pela incerteza. Será que Soma foi esmagado?

Os tentáculos da hidra se contorciam e se enrolavam enquanto a criatura tentava virar-se. Isso significava que Soma estava ali? Será que ele deslizou por debaixo da hidra? Ou algo assim?

Enquanto Haruhiro ainda estava em suspense, sem saber ao certo o que havia acontecido, a hidra saltou para a esquerda.

Ali.

Aquele é Soma.

Ele estava balançando sua katana. Aquela katana é longa. Por que ela parece tão mais longa do que quando estava presa às suas costas?

Seja como for, os golpes de Soma estavam fazendo a hidra hesitar. Ele estava enfrentando aquela criatura gigantesca em um combate corpo a corpo, e era ele quem a estava empurrando para trás.

É estranho. Isso simplesmente não parece certo. O que está acontecendo?

— Agora, veja, quando você usa a palavra “gênio”… — A próxima coisa que ele notou foi Gogh ao seu lado, ainda sendo carregado nas costas de Taro. — Esse é o tipo de cara de quem você está  falando. Ele só está ativo por um quinto do tempo que nós estamos. E mesmo assim, ele consegue fazer isso. Talento é uma coisa cruel e aterrorizante.

Incrível, pensou Haruhiro. Os rumores sobre ele não eram apenas conversa fiada. Soma já havia salvado suas vidas antes, também. Ele não era chamado de o mais forte à toa.

Haruhiro sabia disso. Ou achava que sabia. Mas deve ser que ele não entendia verdadeiramente o que isso significava.

Aquela katana devia ser especial de alguma forma. Sua armadura parecia esconder algum poder secreto que transcendia o conhecimento humano. Mesmo assim, Soma era um ser humano de carne e osso. Ele tinha que ser.

Ele era realmente humano, igual a todos eles? Era difícil de acreditar.

Soma estava empurrando a hidra para trás com uma única katana. Como ele estava cortando aqueles tentáculos de mais de dois metros de espessura? Haruhiro não tinha ideia. Era claramente impossível. Mas Soma estava fazendo isso.

É provável que Haruhiro não estivesse alucinado; o que presenciava era, de fato, a realidade. Uma realidade que ultrapassava sua compreensão e sua capacidade de imaginação. Na verdade, não havia como ele conceber algo desse tipo.

Se ele dissesse: Um dia, eu vou empunhar uma katana e derrubar um monstro do tamanho de um prédio de dois andares, as pessoas com certeza ririam dele. Haruhiro faria o mesmo, é claro. Se alguém ao seu redor dissesse algo assim, ele pensaria: Que idiota.

Será que pessoas como Soma, que tornavam esses sonhos ridículos realidade, eram os verdadeiros gênios?

Gogh estava certo—era cruel. Não havia como fechar essa lacuna, muito menos superá-la. Era como a diferença entre a lua e uma bola. Claro, ambas eram redondas, mas tentar comparar as duas era inútil. Simplesmente eram diferentes demais.

Mesmo as coisas que vinham à mente quando ele pensava sobre isso eram tão ordinárias que Haruhiro só queria desaparecer. Ele sempre soube que era comum, então não ficava frustrado com isso, mas ainda assim o fazia se sentir vazio. Se ele tivesse pensado que tinha potencial para ser alguém e estivesse mirando o topo, o choque provavelmente o deixaria incapaz de se recuperar.

Ele estava feliz por ele e todos os outros reconhecerem sua mediocridade. Graças a isso, ele só precisava lidar com esse sentimento de impotência.

— Soma! — gritou uma criatura de beleza e elegância sobre-humanas enquanto passava correndo por Haruhiro.

Era natural que ela parecesse inumana. Ela não era humana.

Ela é uma elfa. Bem, Taro também é um garoto extraordinariamente bonito. Talvez a raça élfica só tenha gente bonita? De qualquer forma, a beleza dela se destacava. Aquela pele clara dela deveria ser contra as regras. E ela tinha cabelo prateado também. O jeito que os olhos dela brilhavam, pareciam exatamente como joias. Quanto ao seu corpo, ou melhor, sua figura e musculatura, elas não eram nem humanas. Tipo, a cabeça dela é tãoooo pequena. O jeito que ela corre também é diferente. Os passos dela são muito mais leves do que os de um humano. É menos como se ela estivesse impulsionando-se do chão, e mais como se estivesse deslizando sobre ele.

— Você está correndo sozinho de novo! — Lilia sacou uma espada fina que combinava bem com ela e investiu direto contra a hidra.

Ela era uma dançarina de espada. Era realmente como se ela estivesse dançando. Lilia rodopiava ao redor dos tentáculos, fazendo sua espada dançar. Em vez de cortar os tentáculos com a espada, parecia que ela os cortava com o movimento da espada e de seu corpo. Mesmo que ela não conseguisse cortá-los completamente como Soma, Lilia definitivamente estava ferindo os tentáculos que atacava. Naturalmente, eles não conseguiam tocá-la. Ela nunca deixava nada chegar perto dela.

Enquanto Haruhiro prendia a respiração, observando intensamente as magníficas e sublimes técnicas de espada da elfa, ele ouviu alguém soltar um suspiro que parecia um bocejo. Quando olhou para o lado, o homem grande com dreads passou por Haruhiro com passos relaxados, mas incrivelmente largos.

Kemuri era um paladino, assim como Akira-san, Tokimune ou Kuzaku. Naturalmente, isso significava que ele tinha um escudo nas costas, mas a espada muito longa que ele carregava diagonalmente sobre as costas chamou a atenção de Haruhiro primeiro.

Kemuri se aproximou da hidra lentamente, puxando a espada com as duas mãos.

Não importa o quão bom ele seja, isso não é um pouco descuidado demais?

Um dos tentáculos mirou em Kemuri. De cima e de lado, desceu diagonalmente em direção a ele.

— Lá vai! — Kemuri não se esquivou. Ele encontrou o tentáculo com sua espada. — Ho!

Quando colidiu com a espada, o tentáculo foi rasgado ao meio. Como aquilo funcionava? Ele havia acabado de vencer uma disputa de força bruta contra um tentáculo de mais de dois metros de espessura.

— Se ele faz essas coisas, fico surpreso que suas costas não doam. — Akira-san estava acariciando o queixo, já em modo espectador.

Esse é o problema aqui?

— Você tem dores nas costas, afinal. — Miho esfregou as costas de Akira-san.

— Hmph! Eu também poderia fazer isso… — Branken estava com o machado no ombro, parecendo que estava fazendo uma pausa também.

— Eu passo, Obrigada. — Kayo caminhou até Gogh, pegou seu marido e o carregou nos braços como se ele fosse uma princesa. — Você fez um bom trabalho. Deve estar cansado de usar tanta magia, não é, querido?

— …Nem estou tão cansado assim, então pare de me carregar desse jeito.

— Nessa idade, o que você tem para se envergonhar? — Kayo perguntou.

— É exatamente por causa da minha idade que isso é tão embaraçoso. Me põe no chão!

— Eu não quero.

— Droga!

Enquanto observava aquele casal tão próximo que fazia qualquer um que visse se sentir envergonhado por eles, o filho élfico deles usava um sorriso verdadeiramente satisfeito.

— Oh, minha nossa. É a Shima-chan — disse Miho. Olhando na mesma direção que ela, Haruhiro viu a sensual oneesan caminhando graciosamente em sua direção.

— Olá  — disse Shima com um aceno de cabeça. — Como está a situação aqui?

— Está mais difícil do que pensávamos. — Akira-san inclinou um pouco a cabeça para o lado. — Parece que não conseguiremos apenas atingir o ponto fraco e terminar rapidamente. Vamos ter que desgastá-la. Onde está o Pingo-kun?

— Ele está seguindo de perto o deus gigante. Zenmai também. Ele está com Pingo desde que voltou, quando não conseguiu mais liderar a hidra.

— Você acha que Lala e Nono fugiram? — Akira-san perguntou.

— Eu me pergunto — Shima disse. — Não dá para prever esses dois.

— Acho que teremos que cuidar da hidra primeiro.

— Se algo acontecer, eu te curo — disse Shima. — Não que eu ache que vá acontecer.

— Não, eu vou contar com você. Quero dizer, já estou ficando velho, afinal. Eu poderia escorregar a qualquer momento.

— Só pode estar brincando.

— Estou falando sério. — Akira-san deu um longo suspiro. — Branken, Kayo, hora de voltar ao trabalho.

— Muito bem. — Branken acariciou a barba, com um fogo queimando em seus olhos.

— Querido, me espere, tá? — Kayo colocou Gogh no chão, então girou os braços em círculos para aquecer.

— Eu também vou ajudar! — Taro preparou seu arco.

Eles estão realmente fazendo isso… Bem, acho que era de se esperar, né? Quer dizer, parece que Soma, Lilia e Kemuri conseguiriam derrotar aquela coisa sozinhos, pensou Haruhiro. Não havia nada que ele e os outros pudessem fazer, então talvez fosse melhor ficar apenas assistindo o final da luta de camarote. Ou melhor, eles não tinham outra escolha a não ser fazer isso.

Tada falou: — Vamos roubar o brilho deles, Tokimune.

— Vamos nessa, Tada!

Tada e Tokimune estavam prontos para agir, e Iron Knuckle, os Berserkers e Orion também pareciam ver esse como o momento para virar o jogo, mas Haruhiro não tinha a menor intenção de se meter.

Apesar disso, Ranta disse: — O-O-O-O-Okay, eu também! — com a voz trêmula. Ele era um caso perdido.

— Tá bom, vai lá então — respondeu Haruhiro.

— Espera, você não vai me impedir?! Droga, seus olhos de peixe morto! — gritou Ranta.

— Meus olhos não têm nada a ver com isso…

— Claro que têm, seu idiota! Esse seu olhar me dá arrepios! — gritou Ranta.

— Akira-san e os outros estão indo sem você, sabia? — disse Haruhiro.

— Uou, é verdade! Perdi a chance! Cara, já era. Que pena, né? Não posso ir mais. Tudo culpa sua, Parupiro.

— Minha culpa, né…

Enquanto pensava, Por que você não vai logo e se joga contra a hidra, Haruhiro olhou ao redor. Não havia como ele lutar contra a hidra, mas ainda poderia haver cultistas ou gigantes brancos vindo. Se necessário, eles poderiam lidar com alguns desses.

É isso mesmo. Tenho que me concentrar. Nós, pessoas normais, precisamos fazer coisas normais. Isso é o suficiente, ou melhor, é tudo o que podemos fazer. Mesmo sendo medianos, não vamos deixar nossas habilidades enferrujarem, sabe? Quero dizer, se deixássemos, seríamos ainda piores que medianos.

— …Espera? Aquilo é…? Hã…? Espera aí… Yume?

— Miau? — perguntou Yume.

— Ei, ali… — Haruhiro apontou para o sul. — Quer dizer, pode ser coisa da minha cabeça, mas…

— Hã? Puxa vida. Tem algo ali — concordou Yume. — Não tenho certeza, mas talvez seja uma hidra?

— É, eu também pensei isso. Parece… — Haruhiro entrou em pânico e olhou novamente. — I-Isso parece uma hidra, né?! Parece uma h-h-hidra, certo?! Não é?!

— Outra?! — Mary estremeceu.

— Não pode ser… — Shihoru estava tremendo.

— Hã? Isso não é ruim? — Talvez por causa do cansaço, a postura de Kuzaku estava pior do que o normal.

— Você tá brincando… — Ainda sob o braço de Mimorin, Anna-san protegeu os olhos com uma mão e olhou para a distância. — Mas que droga?! No way!

— Ah, não, não, não, não, não! — Ranta apontou a ponta de sua Lightning Sword Dolphin para Haruhiro. — Isso é tudo culpa sua, cara! Eu te culpo!

— O que foi isso? — Mimorin disse em um tom monótono e deu uma pancada na cabeça de Ranta com seu cajado.

— Urgh… — Ranta se agachou de dor.

— Cara! — Kikkawa tentou fazer uma piada por algum motivo. — Tipo, isso não é o fim do mundo? Até eu tenho que admitir derrota depois de ver isso!

— Hm… — Gogh parecia estar pensando nisso.

— Bem, essa é uma situação complicada — Miho falou em um tom que não parecia sério o suficiente, considerando a gravidade da situação.

Será que é porque ela é bonita demais? Haruhiro se perguntou. Ou isso não tem nada a ver?

— Tinha outras, hein — Shima disse com a testa franzida de um jeito que, numa palavra, parecia sedutor.

Espera aí, por que essas pessoas estão agindo tão tranquilas? É experiência? Esse tipo de crise não significa nada para eles? Talvez pensem que vão conseguir sair dessa de qualquer jeito?

— A-A-Akira-san! — Haruhiro correu até ele.

Akira-san estava prestes a atacar a hidra. Mesmo assim, ele notou Haruhiro e se virou para ele.

— O que foi, Haruhiro-kun?

— I-Isso é ruim! Tem uma hidra! — Haruhiro olhou mais uma vez para o sul, depois para o leste e oeste.

Ele quase ficou sem palavras.

Não, eu não posso me perder agora. Não nesse momento.

Não era só o sul. Foi uma boa ideia ter olhado para o leste e oeste também. Foi bom? Ele não sabia dizer. Mas os fatos eram os fatos.

— T-T-T-T-Tem mais vindo! Eu vejo uma, duas… três ou quatro?! Algo assim!

— O que você disse? — Até Akira-san ficou surpreso com a notícia, mas aparentemente não a ponto de ficar chocado. Ele deu uma rápida olhada ao redor, depois levantou a espada bem alto. — Miho, Gogh, mantenham-me informado da situação. A todos os soldados voluntários confiantes em suas habilidades! Sigam-me e Soma! Não fiquem para trás! A vitória pertencerá a quem a conquistar!

Com o lendário homem os incentivando, os soldados voluntários rugiram em uníssono.

Haruhiro ficou perplexo. Huh? É sério isso…? Dessa vez, ele realmente ficou sem palavras e permaneceu ali em choque.

Não, bem… Se Akira-san diz isso… é a resposta certa—Eu acho. Provavelmente.

A hidra original já havia sido empurrada ao limite por Soma e os outros, restando apenas três tentáculos completamente intactos. Ela usava esses tentáculos para saltar e correr. Assim que os tentáculos restantes fossem cortados, nem isso ela conseguiria mais fazer.

Aquela hidra seria derrotada em breve. Mesmo que surgissem novas hidras, isso não mudaria a situação. Eles poderiam derrubá-las uma de cada vez. Akira-san devia estar confiante sobre isso. Se ele tinha Soma e os outros ao seu lado, eles poderiam vencê-las. Ele devia ter tomado sua decisão levando tudo isso em consideração.

Haruhiro usou a parte de trás da mão para limpar a área em volta da boca e olhou ao redor.

Hidras.

Havia uma ao sul, uma a leste e uma a sudoeste. Isso fazia três que ele conseguia ver. Mas não podia dizer com certeza que não viriam mais. Além disso, como ele já esperava, não eram só as hidras. Ele avistou gigantes brancos também. E cultistas. Com certeza, parte deles viria para atacar os soldados voluntários.

Será que eles estão planejando usá-los? O pensamento passou pela cabeça de Haruhiro de repente.

Entre Soma, Akira-san e suas party, eles poderiam derrotar as hidras. Não precisavam da força dos outros soldados voluntários. Apesar disso, Akira-san havia incentivado todos a ficarem. Se os inimigos menores se envolvessem na luta, isso complicaria as coisas. Será que eles estavam planejando usar os outros para lidar com esses pequenos?

Não, não, Akira-san não era esse tipo de pessoa. Pelo menos, era a sensação que Haruhiro tinha. Akira-san era um grande homem e uma boa pessoa. Ele não usaria os outros como peões descartáveis. Ele era tão compreensivo e atencioso com os outros, completamente perfeito—

Será mesmo?

Ele costumava ser um covarde. Isso foi o que Miho havia dito. Embora ele não parecesse nada com isso agora.

Akira-san parecia tão gentil. Era forte, confiável, e se algo acontecesse, parecia que ele protegeria todos, como um pai—mas seria mesmo?

Akira-san não era do tipo genial. Houve outros mais talentosos que ele, mas todos morreram. Akira-san sobreviveu e se fortaleceu. Isso foi o que Gogh tinha dito.

Como Akira-san sobreviveu? Não teve, por vezes, que tomar decisões duras, até frias? Não foi por isso que ele ficou mais forte e sobreviveu?

Haruhiro se virou e, tentando parecer o mais casual possível, perguntou a Gogh: — Quantas perdas você acha que teremos?

— Oh, você é desse tipo, hein. — Gogh levantou uma sobrancelha. — Isso é um pouco inesperado.

— O que você quer dizer?

— Eu achei que você fosse mais emocional. Não te conheço tão bem, então era só uma impressão. Se você consegue calcular as perdas com calma, pode estar mais apto a ser um comandante do que eu pensava.

— …Você ainda não respondeu minha pergunta.

— É questão de sorte. — Gogh girou o dedo indicador em círculos. — Se a nossa sorte for ruim, até nós podemos morrer. É assim que funciona. Não tem como dizer quantos vão morrer. Claro, eu não planejo morrer aqui. Se você quer sobreviver, sugiro que fique ao nosso lado.

— Isso não está certo — disse Haruhiro.

— Huh?

— Não está certo. — Haruhiro suspirou.

Sinto como se o sangue estivesse subindo à cabeça. Não fique emocional.

. Não fique emocional. Não estou bravo. Só que, não é isso, pensou.

— Se você diz que sobreviveu por sorte, só pode falar isso em retrospectiva — ele disse. — Na verdade, há muitos fatores envolvidos, não acha? Você chamaria ser usado como um peão descartável por outra pessoa de sorte? Eu não vejo dessa forma. Eu tenho casos em que penso: “Eu só sobrevivi graças àquele cara”, ou “Eu teria morrido se as coisas tivessem acontecido de outra forma”. Isso não é sorte. É graças a alguém, ou algo.

— E daí? — Gogh sorria levemente. — O que você quer dizer com isso?

— Eu não sei se consigo expressar isso muito bem, mas…

— Vai direto ao ponto. Odeio rodeios.

— S-Só… Eu estava pensando, não seria possível tentar minimizar o número de pessoas que morrem? Sim, tenho certeza de que os fortes podem sobreviver. Pode significar que os que sobrevivem são fortes. Mas, mesmo que sejam fracos, ou azarados, as pessoas ainda estão vivas, não estão?

— Por que deveríamos nos dar ao trabalho de cuidar dos fracos e azarados? — perguntou Gogh.

— Eu não acho que vocês têm que cuidar deles…

— Exatamente. Não somos filantropos, e não estamos administrando uma instituição de caridade aqui.

— A-Ainda assim, se houver algo que você possa fazer, por favor, faça.

— Para quê? — Gogh perguntou.

— Quero dizer, se eles morrerem, acabou tudo!

Haruhiro mordeu o lábio e balançou a cabeça. Se ele fosse mais inteligente, talvez pudesse ter elaborado um argumento convincente e persuadido Gogh. Ou será que o pensamento de Haruhiro estava errado desde o início?

— Quando você morre, não sobra nada — ele explicou. — Pelo menos para aquela pessoa, todas as possibilidades são fechadas. Então, é tão estranho que eu queira que o menor número possível de pessoas morra? Se não houver outro jeito, tudo bem, mas se houver algo que você possa fazer, acho que deve fazê-lo. Desconsiderar pessoas que você não conhece como se fossem apenas uma ferramenta é simplesmente a opção mais fácil.

— Está dizendo que devemos deliberadamente escolher o caminho mais difícil? — Gogh exigiu.

— Acho que seria melhor assim.

— Você é tão ingênuo. — Shima riu. — Mas não me importo com isso.

— Mas, Haruhiro-kun. — Miho olhou diretamente nos olhos de Haruhiro. — O que você pode fazer? Você não quer sacrifícios. Isso é bom, mas o que pode fazer a respeito?

— Não, isso…

Era um olhar estranhamente intenso. Haruhiro quase olhou para baixo, mas conseguiu não fazer isso de alguma forma. Com os olhos semicerrados, ele mal conseguiu sustentar o olhar de Miho. Foi o melhor que pôde fazer.

— Não… não há nada que eu possa fazer. Na verdade, se houvesse, eu já estaria fazendo. É por isso que estou pedindo ao Gogh-san.

— Oh… — Os olhos de Miho se arregalaram um pouco.

— Você é um absurdo — Gogh franziu a testa e deu de ombros. — Não acho que essa sua honestidade seja uma virtude. Nem um pouco. Mas é algo que, em algum momento, perdemos. É bom voltar às nossas raízes de vez em quando.

— Os instintos de Soma podem ter estado certos, sabe. — Com essas palavras misteriosas, Shima se inclinou perto de Haruhiro. Algo cheirava incrivelmente bem.

Espera, ela não está perto demais?

— Estamos procurando uma maneira de voltar ao nosso mundo original. — Sua voz era quase um sussurro.

Haruhiro tapou os ouvidos e recuou instintivamente. — …Hã? Original? O que você quer dizer, uma maneira de voltar…?

— Esqueça isso por enquanto. — Shima levou o dedo indicador aos lábios entreabertos. — Falaremos sobre isso outra hora. Primeiro, temos que sair daqui, certo?

— Isso foi ideia sua — Gogh disse, pressionando um dedo na testa de Haruhiro. — Mesmo que você não possa fazer nada, se tentar apenas fugir, eu não vou tolerar. Você vai ficar conosco até o fim. Pelo menos nos deve isso.

— Oka—

Ele estava prestes a concordar imediatamente, mas então voltou à realidade. Esse não era só um problema de Haruhiro. Isso afetava seus companheiros também. Haruhiro era o líder da party.

Quando ele se virou, Ranta riu e deu-lhe um olhar amargo. — Se você não tivesse dito, eu ia dizer, careca.

— Não tem como isso ser verdade. — Yume inflou uma das bochechas.

— Já decidi que vou seguir você — disse Kuzaku, parecendo um cachorro grande e leal neste ponto.

— Eu também — Mary sorriu e assentiu.

— …Acho que está tudo bem. — Shihoru também lhe deu um sorriso desajeitado.

— Uhh, e quanto a todos nós?! — Kikkawa olhou para Mimorin e Anna-san, depois olhou em volta inquieto. — O quê?! Onde está o Inuicchi?!

— Esse idiota sumiu faz tempo, né?! — Anna-san gritou.

— Sério?! Nem percebi — disse Kikkawa. — Bem, tanto faz! Ele provavelmente está vivo! Quanto a nós, acho que depende do Tokimune, né?

— Infelizmente — Mimorin assentiu.

— Ah, que saco. Que dor de cabeça — Gogh olhou rapidamente para Haruhiro e os outros. Sua expressão mostrava que ele estava de saco cheio, mas seus olhos tinham um brilho que não estava ali antes. — Por enquanto, vocês vão escoltar Miho, Shima e eu. Fiquem perto e façam o que eu mandar. Vou ensinar o que significa trilhar um caminho espinhoso. A partir de agora, vamos recuar, minimizando as baixas. Vamos dar um jeito de passar pelo deus gigante e escapar do Reino do Crepúsculo.

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