Quem Matou o Herói? – Volume 2 – Capítulo 4 - Anime Center BR

Quem Matou o Herói? – Volume 2 – Capítulo 4

Capítulo 4

Elderia

— Nosso próximo trabalho está decidido — anunciei para meus companheiros reunidos ao redor da mesa da taberna. — Há um mercador ganancioso que está tendo problemas para escapar de um país ocupado pelo exército do Rei Demônio, a oeste daqui. Precisamos resgatar quatro pessoas. Se ganharmos 100 moedas de ouro por cabeça, será um trabalho lucrativo de 400 moedas de ouro no total.

— Eles estão presos no território do Rei Demônio? Não é muito perigoso? — Nina perguntou, preocupada.

Nas terras sob o controle do Rei Demônio, os monstros aumentam em número e se tornam mais ativos. Para os humanos, sobreviver ali é bem complicado.

— É um país recém-ocupado, então não deve estar tão ruim assim. No entanto, a fuga será difícil. Se formos ajudá-los, provavelmente nos verão como mensageiros divinos.

— Mensageiros divinos precisam de moedas de ouro hoje em dia? — Sophia sorriu sarcasticamente.

— Claro. Se o desejo de salvação for o mesmo, até os deuses priorizariam aqueles com dinheiro — dei de ombros. Se a fé sozinha fizesse os deuses salvarem as pessoas, o mundo seria pacífico.

— Mas com quatro pessoas, vamos precisar de uma carroça para tirá-los de lá. Nós vamos providenciar ou eles vão? — Sophia ajeitou os óculos, conferindo os detalhes. Talvez por sua experiência como farmacêutica, ela é mais cuidadosa com questões de dinheiro do que eu.

— Nós vamos providenciar. Vamos cobrar como despesas necessárias.

— Entendo. Se o cliente vai pagar, vamos preparar uma carroça bonita. Daquelas dignas de um baile no castelo — Sophia fez uma cara maliciosa, como uma bruxa. Ela provavelmente pretende preparar uma carroça cara, já que não vai sair do nosso bolso.

— Não estamos indo para um baile. Precisamos de algo resistente, não chamativo.

— Você não entende, Leonard. As carroças feitas para os nobres são tanto elegantes quanto duráveis. Aqueles caras priorizam a aparência e a segurança.

Sophia, apesar de sua origem nobre, parece não gostar muito de seus antigos colegas.

— É mesmo? No entanto, chamar atenção não é uma boa ideia. Podemos acabar convidando monstros para o baile. Precisamos de algo o mais discreto e resistente possível.

— Tudo bem. Uma carroça discreta, com uma viagem agradável, que transporte as pessoas como se fossem carga.

— Neste caso, a segurança é mais importante que o conforto. Seria mais fácil tratar a família do mercador como carga do que escoltá-los.

Nosso trabalho é evacuar a família do mercador em segurança. Atendimento ao cliente é algo secundário.

— Se decidimos ir, devemos nos apressar. A família do mercador deve estar ansiosa por um resgate — Nina falou com uma voz firme. Ela parecia genuinamente preocupada com o mercador.

— Você tem razão. Esse trabalho não é sobre matar monstros. Trazer de volta cadáveres não nos renderá dinheiro. Quanto antes formos, melhor.

Nina franziu a testa com a minha piada de mau gosto, mas se levantou, incentivando os outros a agirem. Vendo isso, Ephsei esvaziou sua bebida e se levantou a contragosto.

— Partiremos amanhã, então. Preparem-se para uma viagem confortável.

Com minhas palavras, meus três companheiros se dispersaram.

Naquela noite, quando voltei para o meu quarto na estalagem com os suprimentos que havia comprado, ele estava me esperando.

O Profeta. Aquele que escolhe e guia o herói entre as pessoas quando o Rei Demônio aparece.

— Você de novo? Não estou mais na idade de precisar de alguém para dormir comigo. Desculpe, mas tente com outra pessoa.

O Profeta não reagiu à minha provocação e simplesmente proferiu uma frase:

— Não vá para o oeste.

— Como esperado do grande Profeta. Você tem ouvidos afiados. Posso sugerir uma mudança de carreira para informante?

Eu não sabia onde ele obtinha suas informações, mas essa coisa parecia conhecer nosso destino com antecedência. Era um sujeito assustador.

— Vá para o leste. Lá, você cumprirá seu dever como herói.

Comparado ao oeste, que está sendo invadido pelo exército do Rei Demônio, a situação no leste não é tão ruim. Acho que isso significa que é melhor ir para o leste, onde ainda há esperança, em vez de ir para o oeste, onde a derrota parece iminente. Não é uma má escolha, de fato.

No entanto…

— Leste ou oeste, isso não é problema meu. Eu só me movo por dinheiro. Na verdade, mesmo se me pagassem uma fortuna, não tenho intenção de trabalhar para um país ou para o mundo. Quem trabalha por essas coisas deve estar fora de si.

Coloquei o dedo na minha têmpora.

— O sacrifício pode ser nobre, claro. Mas só para aqueles que não são os que se sacrificam. O herói é o exemplo perfeito disso. Se você os bajular com “Oh, grande herói!”, eles irão lutar contra o Rei Demônio. Isso é o suficiente para trazer lágrimas aos olhos. Eles acham que erguer uma estátua de bronze após a morte do herói é suficiente? Que piada. Se você quer salvar o mundo, lute por ele você mesmo.

Apontei o dedo que estava na minha têmpora para o Profeta.

— Você é igual, Profeta. Antes de fazer os outros desempenharem o papel de herói, lute você mesmo. Não fique apenas dando ordens como se fosse tão importante. Você só pensa em usar os outros, então deve ser da nobreza ou da realeza, certo? Isso me dá arrepios.

O Profeta pareceu vacilar ligeiramente com minhas palavras. Talvez eu tenha acertado na mosca.

Sua figura se tornou fina como um fantasma e se dissolveu na escuridão do quarto.

— Eu não sou um herói. Não existem heróis.

Murmurei em direção ao lugar onde o Profeta havia desaparecido.

 

*

 

Ephsei e eu estávamos cavalgando nossos cavalos.

Sophia e Nina estavam se revezando segurando as rédeas da carruagem. Não conseguimos encontrar nenhum cocheiro peculiar disposto a nos acompanhar no território ocupado pelo Rei Demônio.

Não era longe até a vila onde a família do mercador que deveríamos resgatar estava escondida, mas o mundo não é gentil o suficiente para nos deixar completar uma missão sem incidentes.

Vi algo bloqueando a estrada um pouco à frente. Sinalizei para meus companheiros e desacelerei os cavalos.

— É um gigante.

Ephsei se aproximou com seu cavalo.

Gigantes também são monstros de respeito. Cabeça careca, costas arqueadas, ombros caídos e uma aparência nada confiável, mas incrivelmente grande em altura e largura. Do tamanho de uma casa decente. Eles não são tão fortes quanto o tamanho sugere devido aos seus movimentos lentos, mas é problemático quando são usados para bloquear estradas assim.

— Há goblins aos pés dele também.

Apontei para onde cerca de trinta goblins pulavam ao redor de forma provocativa.

Provavelmente estão se sentindo corajosos por estarem com o gigante. Normalmente, eles são muito mais covardes.

— Sophia, consegue torrar eles um pouco?

Chamei por Sophia, que acabara de descer da carruagem e estava se alongando depois de ficar com o corpo rígido.

— Quer dizer “por favor, queime-os”, certo? Que líder durão você é.

Reclamando, a maga de óculos preparou seu cajado e fechou os olhos suavemente.

Ó, chamas vermelhas flamejantes, espíritos do fogo, respondam ao meu cântico. Chamas ardentes, com a sabedoria vertida pelas artes antigas, respondam ao meu chamado…

O que Sophia estava entoando, enquanto seu cabelo negro com tons de roxo esvoaçava, era a língua antiga necessária para manifestar a magia. É uma linguagem incrivelmente complexa, e claro, eu mal entendo o que ela está dizendo. Mesmo que entendesse, a capacidade de usar magia depende de talento, então não tenho o menor desejo de aprender.

Luz começou a se concentrar na ponta do cajado de Sophia. Os goblins ainda não haviam percebido o que estava acontecendo. Que bando despreocupado. Não faziam ideia de que estavam prestes a serem bem torrados.

Então, um tornado de chamas carmesim envolveu o gigante e os goblins.

Os goblins foram incinerados antes mesmo de terem chance de gritar. O gigante, sendo mais resistente, não morreu com esse único ataque, mas sofreu queimaduras por todo o corpo.

— Bom, então, vamos acabar com ele, Ephsei?

Ephsei acenou silenciosamente e impulsionou seu cavalo ao mesmo tempo que eu.

O gigante percebeu nossa aproximação e começou a balançar seu porrete. Não era um movimento rápido, mas, se fôssemos atingidos descuidadamente, seria o fim para nós.

Desci do cavalo e me aproximei, infligindo pequenos cortes com minha espada enquanto desviava do porrete.

Ephsei estava observando de longe, mas, assim que confirmou que a atenção do gigante estava completamente em mim, ele saltou com toda a sua força.

Saltar alto é uma das especialidades de Ephsei. No entanto, ele fica vulnerável enquanto está no ar, então eu precisava agir como isca.

A altura do salto de Ephsei facilmente ultrapassou as costas do gigante.

Saltando por trás do gigante, Ephsei perfurou profundamente o pescoço dele com sua lança. Seja um gigante ou um demônio, se for humanoide, os pontos vitais são os mesmos. Acertar ali é fatal.

O gigante parou de se mover completamente. Deve ter morrido instantaneamente.

— Estão feridos?

Nina, preocupada com nossa segurança, correu imediatamente.

— Não. Foi fácil.

Fiz um gesto de positivo. Ao mesmo tempo, Ephsei puxou sua lança do gigante e aterrissou girando com o impulso. Sem ferimentos. É assim que sempre queremos que seja.

Depois de derrotar o gigante, conseguimos chegar à vila de destino sem muitos problemas.

Os moradores haviam evacuado para algum lugar quando o exército do Rei Demônio invadiu, então agora estava praticamente abandonada.

Conseguimos nos encontrar com a família do mercador que estava escondida lá. Tudo estava indo bem.

No entanto, um problema surgiu.

O mercador nos pediu para ajudar uma criança da vila a escapar junto com eles.

— Uma criança não deve ser um problema, certo?

Esse era o argumento dele.

— Você não está tratando o valor da vida com muita leviandade?

Dei de ombros.

— Estamos arriscando nossas vidas para salvar vocês. Imagine isso: você está prestes a cair em um abismo, e estamos tentando puxá-lo de volta. Se puxar com muita força, nós podemos acabar caindo também. É uma situação perigosa. Mas estamos sendo pagos para isso, então de algum jeito vamos conseguir. No entanto, agora você quer adicionar uma criança à mistura. Não acha que pode ser demais para nossos braços aguentarem?

— Mas é uma criança! Ouvi dizer que vocês eram aventureiros habilidosos!

O mercador que nos contratou se aproximou. Ele parecia ser uma pessoa gentil, para um mercador.

Nina também tinha uma expressão esperançosa, querendo ajudar. Ephsei e Sophia sinalizaram com os olhos: “A decisão é sua.”

— Cinquenta moedas de ouro a mais. Estou te dando metade de desconto.

Isso parecia um compromisso razoável.

— Vocês já estão levando 400 moedas de ouro, e agora querem mais?!

Apesar da nossa concessão, o cliente parecia insatisfeito.

— Faça como quiser. Estamos saindo desta vila. Não sabemos quando os demônios chegarão. Se não quiserem vir conosco, tudo bem. A missão falha, não seremos pagos e nossa reputação vai piorar, mas vocês perderão suas vidas. É uma situação em que todos saem perdendo. Ou podemos nos ater ao pedido original e escoltar apenas você e sua família. Ou você pode pagar as moedas de ouro extras, e levaremos a criança também. Qual vai ser?

O tempo realmente estava acabando. Com o gigante já abatido, o exército do Rei Demônio logo perceberia. Se os demônios chegassem em grande número, seria o fim.

Infelizmente, os demônios não são tão tolos quanto os humanos. Se a realeza e a nobreza fossem tão diligentes quanto os demônios, a situação da guerra talvez fosse um pouco melhor.

— …Vou pagar as cinquenta moedas de ouro.

O mercador prometeu a recompensa adicional, embora a contragosto.

— Excelente. Você entende o valor da vida. Fechado. Vamos proteger a criança como se ela valesse cinquenta moedas de ouro. Entrem na carroça imediatamente. Vai ficar apertado com mais uma pessoa, mas se vocês abrirem mão de algumas bagagens, deve dar certo. Afinal, o que é isso comparado a uma vida humana?

Eu os apressei a partir de imediato.

Esprememos a família do mercador e a criança adicional na carroça e seguimos caminho.

Em vez de tomarmos a estrada pela qual viemos, seguimos mais para o oeste. Nosso destino era a cidade de Elderia, onde o mercador tinha base. Claro, a estrada pela qual viemos seria mais segura, mas não foi para isso que fomos contratados.

Aventureiros são andarilhos. Não é incomum vagarmos de país em país. Se quisermos voltar a Arkand, basta aceitarmos algum trabalho nessa direção.

Isso se conseguirmos chegar a Elderia em segurança.

Menos de uma hora depois de partirmos, avistamos um grupo bloqueando a estrada.

Era o exército do Rei Demônio. Eles bloqueiam completamente as principais vias nos territórios ocupados para impedir a movimentação livre dos humanos. É algo natural em tempos de guerra. Eles são meticulosos.

Não é de se admirar que os humanos estejam em desvantagem contra o exército do Rei Demônio.

— O que faremos? Vamos desviar? — Ephsei se aproximou montado em seu cavalo.

— Não, o número de inimigos é pequeno. Há apenas um demônio. Se pegarmos uma estrada desconhecida, podemos encontrar muito mais monstros. Vamos romper de frente. Além disso, podemos acabar encontrando alguém razoável.

Os demônios conseguem entender a língua humana. Alguns deles são surpreendentemente racionais, não tão perigosos quanto parecem. De fato, já resolvemos situações por meio de negociações antes, embora raramente.

O exército do Rei Demônio bloqueando a estrada parecia ser uma unidade mista composta por vários monstros liderados por um demônio. Goblins, ogros e outras figuras familiares.

Sinalizei para parar a carroça e chamei por Sophia, que estava sentada no banco do cocheiro.

— Prepare-se.

— Entendido.

Assim que ouvi a resposta de Sophia, avancei com meu cavalo sozinho.

Aproximei-me do exército do Rei Demônio, parando a uma distância suficiente para fugir, se necessário, e levantei a voz.

— Vamos evitar uma luta desnecessária, senhor demônio. Somos aventureiros habilidosos. Se lutarmos, com certeza venceremos. Mas isso seria problemático para ambos. Você provavelmente não tem ordens de “exterminar todos os humanos que passarem”, certo? Feche os olhos por um momento. Não por muito tempo, só o suficiente para dar uma mijada. Assim, ninguém se machuca ou morre. É provavelmente o quinto melhor acordo que você terá na vida. O que me diz?

O demônio de pele roxa, com duas cabeças de altura a mais que eu, me encarou com olhos afiados e lentamente apontou para mim.

Com aquele sinal, todos os monstros sob seu comando avançaram em minha direção de uma vez.

Negociação fracassada. Existem pessoas inflexíveis em todo lugar, eu acho.

Rapidamente virei meu cavalo e voltei para os meus companheiros. Vi Sophia no meio da estrada, entoando um feitiço.

No momento em que passei por Sophia, sua magia se completou.

Raios dispararam do cajado de Sophia, atingindo o grupo de inimigos que me perseguia. Os monstros caíram, transformados em carvão. Embora a negociação tenha falhado, meu papel como isca foi bem-sucedido. Aquele feitiço provavelmente eliminou metade dos inimigos.

— Bem, vamos lá?

Virei meu cavalo novamente e desembainhei minha espada. Ephsei também estava preparando sua lança. Agora era a hora dos guerreiros brilharem.

Eu derrubava os monstros que ainda estavam em choque com a magia anterior, avançando a cavalo. Ephsei também estava causando estragos com sua lança. O ímpeto é crucial em situações como essa. Mesmo sendo apenas nós dois, com impulso suficiente, podemos lutar em vantagem contra inimigos numericamente superiores.

O número de monstros diminuiu rapidamente, mas o demônio ao fundo soltou um rugido. Não era em língua humana, mas mais como um grito de fera. Com isso, os monstros que lutavam com medo de repente fugiram em massa. Deve ter sido algum tipo de ordem de retirada.

Para evitar que se reagrupassem, o que seria problemático, cortamos implacavelmente as costas dos monstros que fugiam. Queríamos reduzir seu número ao máximo agora, mas é bem difícil desferir golpes fatais em inimigos que fogem de costas. No final, mais da metade dos inimigos restantes conseguiu escapar.

Em seu lugar, o demônio avançou. Seu corpo enorme estava coberto por uma armadura que provavelmente foi feita sob medida, e ele segurava uma espada longa em cada mão. Seja por priorizar mobilidade ou por dificuldades na fabricação, as juntas da armadura estavam expostas, revelando pele.

Duas espadas, hein? É difícil para humanos empunhar uma espada longa com uma mão, mas com a força de um demônio, isso provavelmente não é problema. Ele é maior que o demônio em Arkand. Provavelmente um inimigo formidável, mas podemos derrotá-lo se Ephsei e eu trabalharmos juntos.

No entanto, o demônio também está ciente disso. Muitos de seus subordinados monstros ainda permaneciam. Ele provavelmente tentará nos flanquear e atacar nossos pontos cegos. Ou talvez tentem atacar a carroça.

Sophia e Nina não são adequadas para combate corpo a corpo, então a defesa da carroça é fraca. Ou eu ou Ephsei precisamos cobri-la. Em outras palavras, um de nós terá que enfrentar o demônio sozinho. Esse monstro roxo enorme e musculoso.

Olhei de lado e encontrei os olhos de Ephsei.

— Isso é trabalho de líder, né?

Droga, ele está tentando jogar isso em mim.

— Não, acabei de perceber que não tenho jeito para ser líder. Estou pensando há um tempo que você seria mais adequado como líder do grupo, Ephsei.

— Infelizmente, meu falecido pai me disse “nunca se torne um líder”. Vou deixar o resto com você.

Ephsei, cujo pai ainda deveria estar vivo, recuou para manter os monstros sob controle sem esperar minha resposta.

Bem, não tem jeito. É meu papel lidar com o demônio.

Ao ver que seus oponentes reduziram de dois para um, o demônio sorriu confiante. Ele provavelmente acha que não vai perder para um único humano.

Preparei minha espada longa. A lâmina emitia um brilho azul pálido, indicando seu poder mágico.

É uma obra-prima valiosa o suficiente para comprar uma mansão. Depois de me aposentar como aventureiro, pretendo vendê-la e viver uma vida tranquila. Isso se eu conseguir derrotar o demônio à minha frente.

— Finalmente se mostrando, senhor demônio? Parece que você não está muito bem. Talvez devesse voltar para casa e descansar até essa sua cara roxa melhorar?

Foi uma provocação barata, mas pareceu funcionar.

Os olhos do demônio ficaram vermelhos de raiva enquanto ele balançava sua espada longa direita diagonalmente com toda sua força. Eu me esquivei com um leve passo para trás, mas ele imediatamente seguiu com um corte horizontal de sua espada esquerda. Bloqueei com minha espada, desviando o golpe para o chão com toda minha força. Meus braços ficaram um pouco dormentes pelo impacto, condizente com sua aparência.

Usando a espada longa do demônio, agora presa no chão, como apoio, mirei em seu pescoço com um movimento rápido.

O demônio tentou bloquear com sua espada longa na mão direita, mas mirar no pescoço foi uma finta. Meu verdadeiro alvo era seu braço esquerdo. Girei o corpo e cortei a articulação exposta do braço, que não estava coberta por armadura. Sangue vermelho, igual ao de um humano, jorrou do braço esquerdo do demônio.

— GUOOO!

Enquanto o demônio gritava e recuava, balancei minha espada mais duas, três vezes em rápida sucessão. A armadura me impedia de causar tanto dano quanto gostaria, mas consegui feri-lo consideravelmente. Seu braço esquerdo estava pendendo, provavelmente inutilizável agora.

Mas não ia terminar tão facilmente. O demônio abriu a boca com uma expressão raivosa, e algo cintilante podia ser visto lá dentro.

Saltei para o lado instintivamente. Naquele instante, chamas azuis jorrou, consumindo o local onde eu estivera há pouco.

Era uma baforada. O efeito era desconhecido, mas com certeza não poderia ser bom para a saúde. Eu não tinha vontade de testar isso.

O demônio então balançou sua espada longa restante como se fosse um porrete. Se eu tentasse bloquear com a minha espada, com certeza meu braço se quebraria. Evitei aquele ataque também, mantendo-me fora de alcance, mas logo a baforada veio em minha direção novamente.

Ah, isso estava me mantendo bastante ocupado.

Se eu me afastava, vinha a baforada; se eu me aproximava, vinha a espada longa. Um oponente realmente problemático. Se todos tivéssemos enfrentado ele juntos, talvez conseguíssemos lidar com isso de alguma forma, mas enfrentá-lo sozinho era uma tarefa difícil. Foi uma decisão acertada inutilizar seu braço esquerdo com o primeiro golpe.

Olhando para trás, vi que, enquanto eu lutava, os monstros restantes tinham ido em direção à carroça. Ephsei também parecia estar tendo dificuldades para lutar enquanto protegia a carroça. Sophia e Nina mantinham os monstros à distância com magia, mas a carroça estava quase cercada. O mercador lá dentro deviam estar completamente pálido de medo a essa altura. Seria ruim se eu não fosse ajudá-los.

Eu precisava derrotar esse demônio roxo à minha frente rapidamente.

Enquanto pensava nisso, houve uma pausa momentânea nos movimentos do demônio. Era o prelúdio para seu ataque de baforada. Depois de ele inspirar o suficiente, eu desviei para o lado. Ótimo. Eu estava começando a entender seu padrão.

Naquele momento, o movimento de sua mão direita também se tornava vulnerável. É aí que devo atacar.

Eu me aproximei, a espada longa veio com tudo, me esquivei para trás, e então vinha a baforada. Esse era basicamente o padrão. O que significa que…

Avancei contra o demônio. A espada longa, empunhada com pura violência, sem nenhuma técnica, veio na minha direção. Evitei por um triz. E então, quando ele estava prestes a usar seu ataque de baforada, dei um passo à frente. Se eu errasse o timing, seria um prato fácil para aquelas chamas azuis.

O demônio, prestes a abrir a boca, mostrou uma expressão de surpresa. Se ele tivesse ignorado meu movimento e simplesmente soltado suas chamas, poderia ter levado a uma derrota mútua, mas aquele segundo decisivo determinou o desfecho.

Cortei a garganta do demônio com a ponta da minha espada. Sangue vermelho e chamas azuis começaram a escorrer dali.

Com sua cabeça queimando por suas próprias chamas azuis, o grito mudo do demônio era visível na forma de sua boca.

Ainda não acabou. A vitalidade dessas criaturas é incomparável à dos humanos.

Como esperado, a espada longa foi balançada horizontalmente. Era um ataque desesperado, mas se me atingisse, seria morte instantânea. Eles realmente não facilitam a vitória.

Enquanto pulava para evitar aquele ataque bruto e desajeitado, me aproximei do demônio novamente.

— Foi uma breve convivência.

Com toda a minha força, decapitei sua cabeça.

 

*

 

Embora a carroça tivesse uma estrutura resistente, a parte superior era coberta apenas por uma lona, o que tornava fácil espiar o entorno. Mesmo assim, a família do mercador, que estava na parte traseira, manteve os olhos fechados.

O mercador segurava sua filha pequena, enquanto sua esposa abraçava o filho ainda mais novo, ambos rígidos de medo. Os rugidos constantes dos monstros contavam claramente o quão grave era a situação.

Apenas um garoto, de cerca de dez anos, observava inquieto e sem expressão os monstros visíveis na parte de trás da carroça.

Na frente, uma maga e uma sacerdotisa lutavam para manter os inimigos à distância, mas o número de monstros não parava de aumentar.

Se essas pessoas desistirem e fugirem, tudo estará acabado.

O garoto sentiu terror ao perceber que sua vida estava nas mãos dos outros.

Eventualmente, seus olhos encontraram os de um goblin. Pele como se fosse feita de barro, com quase nenhum cabelo. Seus olhos amarelos estavam injetados de sangue, com uma expressão claramente maliciosa e astuta.

Na mão, segurava uma espada curta enferrujada. O goblin, percebendo a presença do garoto, chamou seus companheiros e apontou em sua direção. Como quem diz: “Estamos indo agora.”

De fato, cerca de cinco goblins se agruparam e, tomando cuidado para não se tornarem alvos da magia das mulheres, se aproximaram lentamente, com sorrisos malignos no rosto.

O garoto prendeu a respiração e olhou ao redor, mas não havia para onde escapar. Ele apenas reconfirmou a visão do casal tentando proteger seus filhos, o que o entristeceu ainda mais.

Os goblins estavam chegando. Espiando pela frente da carroça, ele podia ver a maga e o lanceiro lutando desesperadamente contra outros monstros, tornando impossível pedir ajuda ou fugir.

Finalmente, os goblins colocaram as mãos na carroça. Seus rostos estavam distorcidos com prazer sádico. A carroça rangeu, e até o mercador e sua esposa finalmente abriram os olhos, tremendo de medo.

Os olhos do garoto se encontraram com os do mercador. Ele sentiu algo parecido com reprovação naquele olhar. Como se dissesse: “Você deveria ser o sacrifício.”

Ele percebeu que um goblin havia levantado sua espada. Parecia que a morte era inevitável. Mas no momento seguinte, uma espada atravessou a barriga do goblin, e o pequeno ser malicioso lentamente caiu.

— Ei, foi emoção suficiente para valer cinquenta moedas de ouro?

O espadachim que apareceu por trás do goblin estava sorrindo apenas com a boca. Seu corpo inteiro estava coberto de sangue e ele respirava pesadamente. Ficava claro que ele não estava tão calmo quanto sua expressão sugeria.

— Você está ferido…

Talvez tivesse sido respingos de sangue, mas era óbvio que o espadachim também estava machucado. Já que ele não estava visível até agora, ele deve ter forçado o caminho até ali.

— É, temos que dar uma chance para a nossa sacerdotisa brilhar também. Não me parece certo pagar ela por não fazer nada. Então, ferimentos como esses se curam rápido. Sem problemas.

O garoto só conseguiu balançar a cabeça repetidamente.

 

*

 

Depois de encontrarmos o exército do Rei Demônio, chegamos à cidade de Elderia sem mais problemas significativos. Outra missão completada com sucesso.

Talvez porque deixamos os monstros invadirem a carroça, o comerciante parecia muito insatisfeito, mas a criança adicional estava grata. Bem, neste mundo, o dinheiro é mais importante do que gratidão. Até a criança foi salva apenas porque valia cinquenta moedas de ouro.

Apesar de o país vizinho estar sendo invadido pelo exército do Rei Demônio, a cidade de Elderia estava movimentada. Ou, quem sabe, estivesse florescendo justamente por causa da invasão.

A guerra gera dinheiro, seja contra humanos ou monstros. É uma cena que já vi muitas vezes, e isso me deixa um pouco desconfortável.

Por ora, comemos a refeição mais deliciosa da cidade, bebemos um pouco de álcool e dormimos nas camas mais luxuosas da hospedaria. Após várias noites dormindo ao ar livre, esse contraste traz uma modesta sensação de felicidade.

Depois de alguns dias descansando para nos recuperarmos da fadiga, fomos procurar o próximo pedido no quadro de avisos da taberna dos aventureiros. Algo que pagasse bem, seguisse na direção que pretendíamos e estivesse alinhado com nosso propósito.

Pedidos tão convenientes são difíceis de encontrar. Enquanto examinava cuidadosamente o quadro de ponta a ponta, encontrei aquele pedido em um canto.

Era o que você chamaria de uma orientação divina. Embora as condições não correspondessem completamente, era sem dúvida um trabalho feito para nós.

Arranquei aquele papel do quadro e me dirigi ao taberneiro.

Naquela noite, o profeta apareceu novamente.

— Por que escolheu um pedido que não paga bem?

O próximo pedido que eu havia decidido era para subjugar monstros que haviam aparecido em Gastan, uma terra mais a oeste daqui.

Aparentemente, as carroças de transporte de Gastan estavam sendo atacadas por monstros. Devido ao impacto da guerra, estavam transportando grãos escassos, então soldados foram designados como escolta, mas foram completamente dizimados.

Apesar do alto nível de perigo, a recompensa oferecida era baixa e, sinceramente, não correspondia ao esforço necessário.

Como resultado, nenhum outro aventureiro havia aceitado aquele pedido.

— Vai compensar. Essas coisas são negociáveis. O pessoal de Gastan deve estar em apuros e provavelmente vão concordar em aumentar a recompensa.

— Devem haver pedidos mais bem pagos e lucrativos.

— Estou surpreso. O profeta também escolhe pedidos para nós? Quer se tornar nosso corretor exclusivo de missões?

Impassível diante do meu sarcasmo, o profeta declarou: — Não vá para o oeste.

— Para onde vamos é problema nosso.

— O que está escondendo?

— Escondendo? Essa é boa, vindo de você, Profeta.

Apontei para o rosto do profeta.

— Como alguém que não revela nem sua identidade nem qualquer outra coisa, tentando manipular as pessoas das sombras, pode dizer tal coisa?

— Isso é…

A forma do profeta oscilou. Provavelmente era apenas uma imagem ilusória projetada por algum tipo de magia, mas será que também afetava o aspecto mental?

— Vou te dizer, não confio em você nem um pouco. Não há nada que prove que você é um profeta de verdade. Agora que entendeu, desapareça da minha vista rapidamente. Se quer um herói, tente outra pessoa. Deve haver muitos candidatos promissores, certo? O Santo da Espada Leon, a Santa Maria, o Grande Sábio Solon. Esses são gênios que todos conhecem. Por que não escolhe eles? Sua escolha é claramente estranha.

Desembainhei minha espada e apontei para o profeta.

— Responda-me. Quem é você?

O outro lado era uma ilusão, mas minha espada carregava algum poder mágico. Se eu cortasse, havia a possibilidade de causar algum efeito.

Real ou falso, de qualquer forma, eu não podia deixá-lo continuar me seguindo. Se eu ameaçasse o suficiente, ele provavelmente desapareceria como de costume e nunca mais apareceria na minha frente.

— Eu não sou ninguém.

Contrariando as expectativas, o profeta não desapareceu. No entanto, sua voz perdeu a habitual autoridade e parecia transmitir alguma ansiedade.

— Ninguém? Você não é um profeta?

— Sou um profeta. Mas eu…

O rosto e a voz do profeta eram indistinguíveis, seja de homem ou mulher. Não dava para saber se era jovem ou velho. Contudo, agora, sua atmosfera sozinha transmitia algum tipo de hesitação.

Com a espada ainda apontada, o profeta ficou em silêncio e, após um tempo, desapareceu.

Ele apareceria de novo. Essa era a única certeza que eu tinha.

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