Capítulo 2.3
Dragão Ancestral Tzaobath… Shin procurou em suas memórias o monstro correspondente e ficou surpreso.
Era um dragão prateado, semelhante aos que aparecem nas lendas ocidentais. Com base nas circunstâncias em que se manifestou, muitos jogadores o chamaram de ‘Lua Prateado Tzaobath’.
Seu nível era o máximo do jogo, 1000. Assim como a Cauda Elemental, ele era um monstro famoso, poderoso e popular.
“Sei que é surpreendente, mas é verdade, senhor.”
Raster provavelmente entendeu como Shin se sentiu, pois seu sorriso parecia estar mais seco do que antes.
O Tzaobath aparecia em campos ao ar livre aleatórios quando a lua estava baixa. Sua silhueta, descendo dos céus com a lua brilhante como pano de fundo, era tão bela quanto poderosa.
Alguns jogadores chegaram a percorrer os campos à noite na esperança de tirar uma foto da tela de Tzaobath.
“Bem, neste mundo você pode falar com uma Cauda Elemental, então não é estranho que seja possível falar com Tzaobath também…, mas por que ele viria morar aqui?”
“A mesma razão pela qual os outros dragões continuam tentando assumir o controle. Aparentemente, é muito confortável para eles aqui, tomando sol o tempo todo.”
“Um dos monstros mais poderosos… tirando cochilos ao sol, hein…”
Shin também tinha visto Tzaobath na era do jogo. Semelhante aos dragões ocidentais, tinha braços poderosos, com um corpo semelhante ao de um humano. Ele era coberto por escamas de platina; de suas costas brotavam dois conjuntos de asas, um físico e outro formado por luz azul-clara. Sob o chifre transparente em forma de cristal em sua testa, brilhavam olhos azuis que expressavam claramente a sua inteligência, como se estivessem julgando quem ousasse ficar diante do monstro.
Shin lutou contra isso quando suas estatísticas mal passavam de 800: encantado pela silhueta de Tzaobath descendo à luz da lua, ele experimentou um mundo de dor… ou assim ele se lembrava.
“Ver a Yuzuha dormindo ao seu lado torna tudo mais convincente.”
Quando estava dormindo, Yuzuha quase sempre se transformava em uma pequena raposa. Shibaid sempre dividia o quarto com Shin quando eles passavam a noite em pousadas, então ele provavelmente já a tinha visto.
Shin concordou com seu raciocínio.
“Isso é verdade. No entanto, seria um problema real se ele começasse a se alastrar dentro de Rashugum.”
“Isso seria um pesadelo.”
Filma, que sabia muito bem como Tzaobath era poderoso, franziu a testa diante do comentário de Shin.
“É aí que o sistema de defesa que você montou faz seu trabalho, senhor Shin. No entanto, ele ainda não disparou. Agora posso dizer que estaríamos bem mesmo sem ele, mas fiquei bastante assustado no início. E também porque Vizzy não temia isso de forma alguma…”
Quando Raster viu Tzaobath pela primeira vez, ele ficou muito tenso, pensando que eles poderiam ter que lutar daquela forma. Eles podiam usar as armas para lutar contra as guildas, então ele sabia que poderiam vencer, mas com um monstro de nível 1.000 como oponente, era impossível não ficar nervoso.
No entanto, nunca houve nenhuma luta, e o dragão simplesmente começou a viver em Rashugum, de forma totalmente pacífica. Vizzy, superaquecida de empolgação, atacou cegamente o monstro, mas Raster a impediu, sem saber o que ela estava tentando fazer.
“Dizem que os servos se parecem com seus senhores, e isso é totalmente verdadeiro para a Vizzy. Ir abraçar um monstro de nível 1.000 não é o que uma pessoa normal faria…”
“Aah… sim, isso é exatamente o que Cashmere teria feito…”
Shin se lembrou das birras de Cashmere durante a era do jogo, sobre por que os monstros de classe mais alta não podiam ser domados, e riu ironicamente.
O grupo saiu por um momento e Raster deu um passo à frente.
No fim das contas, o local próximo de onde o grupo de Shin havia aterrissado era o lugar favorito de Tzaobath: se eles ainda estivessem lá, o grupo pegaria Schnee e os outros no caminho e iria para lá.
Depois de caminharem um pouco, avistaram Schnee e o bebê Dragão Ilusório.
Os pais do bebê também estavam lá. Suas silhuetas cinzentas tinham claramente formas de dragão, semelhantes às dos dragões orientais.
“Eles parecem exatamente como no jogo depois de crescerem, hein.”
Os dragões-mãe eram de nível 629: entre os Dragões Ilusórios, eles tinham uma força razoavelmente média. Eles haviam notado o grupo de Shin, mas como Raster estava com eles, apenas viraram suas cabeças de osso de dragão em um momento e depois se voltaram novamente para Schnee.
“Nunca vi um bebê dragão se apegar a alguém tão rapidamente. Os dragões também não costumam chegar tão perto.”
Raster estava olhando para Schnee acariciando gentilmente o bebê dragão e Vizzy sorrindo para eles.
O bebê dragão estava no braço esquerdo de Schnee, de barriga para cima. Quando o braço direito de Schnee se aproximou, o bebê estendeu as patas e tentou tocá-lo. Os pais também pareciam querer a atenção de Schnee e esfregavam suas cabeças nela.
Schnee notou e esfregou a cabeça deles: os pais tremeram um pouco, e o corpo deles ficou cor de pêssego.
“Eles ficam dessa cor quando estão felizes.”
Shin olhou ao redor enquanto ouvia Raster. Além dos Dragões Ilusórios, muitos outros tipos de dragões estavam se reunindo em torno de Schnee.
Dragões Anciões, Wyverns, o Dragão Veight de duas cabeças e escamas verdes, o Zeranoira, uma fera que parece um rinoceronte mais brutal, o Aquoillya, ou água em forma de dragão, e outros dragões grandes.
Havia também espécies menores, como os Dragões Fadas, do tamanho do braço de uma pessoa, e os Drunes, com pelos como toupeiras.
“Isso é incrível…”
“Schnee já veio aqui muitas vezes, mas eles tinham medo dela na época. Ela sempre parecia calma na superfície, mas tinha um tipo de tensão por dentro… os dragões são muito sensíveis, então eles sentiam isso e tinham medo de se aproximar dela.”
Seria diferente se ela fosse uma pessoa normal, mas contra alguém tão poderoso quanto Schnee, ela provavelmente se sentiria em perigo.
“Schnee está muito tranquilo agora. Tenho quase certeza de que ela estaria, mesmo que não tivesse perdido a memória.”
“Você acha que sim?”
“Claro que sim. Antes ela estava sempre tensa porque você ainda não tinha voltado, senhor Shin.”
“Ah…realmente. Bem…eu sinto muito.”
Ao descobrir que ele era o motivo, Shin se desculpou honestamente.
“Não há motivo para se desculpar, senhor. Schnee também não caçaria os dragões aqui sem uma razão, portanto.”
Shin respondeu que era óbvio que ela não faria isso e foi em direção a Schnee. Ela havia notado sua chegada: depois de devolver o bebê aos pais, Schnee também caminhou em direção a ele.
“Como está?”
“Encontrei alguns, mas ainda não o suficiente.”
A expressão de Schnee se obscureceu.
“Raster disse que poderíamos perguntar ao Dragão Ancestral que mora aqui, Tzaobath, então estamos indo para lá agora.”
“Se for o caso, eu o acompanharei.”
Schnee acrescentou que ela já estava com os dragões há bastante tempo e que não havia mais motivos para ela não ir. Yuzuha já havia pulado de volta para o ombro de Shin.
“Ok, vou levá-lo até lá então. Vizzy, o resto é com você.”
“Ok, até mais~~ tarde~~.”
Vizzy acenou enquanto segurava o bebê Dragão Ilusório. O bebê não resistiu nem um pouco, deve ter se afeiçoado a ela enquanto o grupo de Shin estava fora.
“Tzaobath, não é? Não será perigoso?”
Schnee expressou suas preocupações.
“Nah, está tudo bem. Eu sei que o nível dele é o que é, e é um pouco assustador, mas tente conversar com ele e você verá que ele é realmente um bom sujeito, não, espere, um bom dragão.”
Também ajudou a defender Rashugum: o ataque de sopro que o grupo de Shin testemunhou quando chegaram veio de Tzaobath.
Shin e os outros seguiram Raster pelo salão dos dragões até uma grande clareira. Lá eles encontraram Tzaobath, seu grande corpo platinado descansando no chão, com os olhos fechados. Era a primeira vez que Shin via Tzaobath durante o dia, e ele entendeu imediatamente por que o dragão só aparecia à noite.
“Isso é quase cegante.”
Filma e Raster acenaram com a cabeça para o comentário de Shibaid.
“Sim, isso é outra coisa.”
“Sim, eu também concordo.”
Todos os membros compartilhavam a mesma opinião.
“Olhos, machucados.”
“Aguente um pouco.”
O corpo cor de platina de Tzaobath refletia a luz do sol. Era mais do que apenas brilhante ou reluzente, mas Shin não conseguiu encontrar palavras mais adequadas. Também era difícil para ele olhar diretamente para o dragão.
“Senhor Tzaobath! Poderia diminuir um pouco a luz, senhor?”
“Hm? Raster? Um momento.”
Uma voz profundamente retumbante respondeu ao pedido de Raster. Assim como dizia, a luz diminuiu gradualmente.
Quando Shin olhou novamente para Tzaobath, as escamas pararam de refletir a luz do sol. Elas pareciam ter se tornado um tom mais opaco de prata.
“Como isso?”
“Obrigado, senhor! Desculpe-me por chegar tão de repente, mas essas pessoas têm algo a lhe perguntar.”
“Hmm?”
Tzaobath levantou a cabeça e olhou para o grupo de Shin. Sua boca era grande o suficiente para engolir Shin e seu grupo em um só gole.
“Meu nome é Shin. Vim aqui na esperança de pedir sua sabedoria emprestada.”
Ele estava conversando com um dragão que tinha vivido por muitos anos: mesmo que Shin fosse provavelmente mais forte, ele sentiu que precisava ser especialmente respeitoso, então também se curvou para o dragão.
“Ah, esse poder mágico… um Humano Superior. Eu me lembro, eu me lembro de você! Você cresceu muito desde a última vez em que lutamos!”
A voz de Tzaobath era como um trovão, mas ainda assim fácil de entender. O dragão parecia se lembrar de Shin, mesmo que eles tivessem lutado apenas uma vez. Seu tom de voz rouco parecia alegre de alguma forma.
“Este é nosso primeiro encontro depois de tanto tempo, é apropriado que eu também diga meu nome. Eu sou Tzaobath! O dragão errante que já teve o nome de Lua Prateada!”
Tzaobath se levantou e disse seu nome com um rugido de trovão. Sua presença intimidadora, ou aura majestosa, criou uma rajada de vento que fez tremer as árvores ao redor. Shin sentiu que estava se preparando instintivamente para a batalha, mas reprimiu isso com força de vontade.
“É bastante incomum para um Humano Superior visitar o local junto com uma Cauda Elemental. Ó Cauda Elemental, você se lembra de mim?”
“Kuu? Acho que sim… ou será que não?”
“Seja claro!”
“Lembro-me de seu nome e de sua personalidade.”
Yuzuha ainda não estava em sua forma completa, por isso ainda perdia grande parte de suas memórias. Ela também só se lembrava de alguns detalhes sobre Tzaobath.
Tzaobath chorou, desapontado, em resposta.
“Eu queria me alegrar com essa reunião tão esperada, mas não há como evitar isso. A conversa também foi desviada. O que deseja me perguntar, então?”
“Estou procurando um item chamado Néctar Branco Aromático. Sei que ele pode ser extraído da flor da Orquídea Lírio, mas você saberia onde posso encontrá-lo?”
“Orquídea Lírio… ingrediente para a Marca Abençoada, não é? Estou vendo que aquela jovem foi afetada pela Marca Amaldiçoada, não foi?”
Tzaobath percebeu o que havia acontecido com a solicitação de Shin. Ele olhou na direção de Schnee.
“Isso é correto, embora eu não me lembre de nada disso.”
“Hmm, sim, eu sei sobre isso. E também onde está localizada a tribo que cultiva essas flores.”
As Orquídeas Lírio cresceram perto dos assentamentos de uma tribo chamada Tsumugi. Assim como a Marca Amaldiçoada e a Marca Abençoada eram opostas, as tribos Tsumugi e Kishimi estavam sempre em conflito, e a primeira cooperava com os jogadores.
Tzaobath disse que sabia onde eles estavam localizados, acrescentando que era um lugar com o qual Shin tinha uma conexão.
“O que você quer dizer?”
“Não há dúvida de que você é um Humano Superior, portanto, vou lhe dizer. A protetora da tribo Tsumugi é uma Fada Superior, que está sob seu comando. Seu nome é… Sety, não é?”
“….eh?”
Shin, juntamente com Filma e Shibaid, não conseguiram esconder sua surpresa com o nome repentino.
Eles nunca teriam esperado que o nome do último personagem de apoio, atualmente em paradeiro desconhecido, surgisse agora.
“Ela está protegendo a tribo Tsumugi?”
“Eles nascem originalmente de espíritos. Para as Fadas Superioras, contratantes espirituais, proteger uma tribo como essa não é nem um pouco bizarro, não é mesmo?”
Shin acenou com a cabeça para as palavras de Tzaobath. As tribos Tsumugi e Kishimi eram originárias de espíritos que governavam as emoções humanas. As Fadas, assim como os Elfos, eram uma raça que fazia amizade com os espíritos. A explicação de Tzaobath foi, portanto, convincente.
“Onde eles estariam, então?”
“Um pouco ao sul do centro do continente, perto do país que vocês chamam de Kilmont. Em um espaço onde não deveria haver nada, senti uma presença semelhante à sua. Eu desci, por curiosidade, e lá estavam eles escondidos.”
Eles provavelmente estavam se escondendo do mundo exterior com a capacidade da Fada de criar Vilas das Fadas. De acordo com Tzaobath, esse provavelmente era um local especial. Se não fosse assim, não havia como uma Fada Superior sozinha manter um espaço separado, o que normalmente exigia pelo menos 100.
“Ela se gabou muito de você. Era uma garota muito alegre.”
“…será que você sabia que eu viria aqui se voltasse, e esperou de propósito?”
Essa hipótese surgiu na cabeça de Shin quando ele olhou para Tzaobath falando alegremente sobre o personagem de apoio de Shin. Talvez porque os olhos de Tzaobath, que deveriam ser os olhos violentos de um monstro, brilhavam em uma luz suave.
“Não, este é simplesmente um lugar confortável para se estar. No entanto, dei um grande susto nos zeladores daqui. De qualquer forma, vocês vão para lá agora, suponho?”
“Sim, esse é o plano.”
“Suba em minhas costas, então. Eu o levarei até lá.”
“Eh?”
Não apenas Shin, mas todos os membros do grupo ficaram muito surpresos ao ouvir a proposta de Tzaobath.
Usar um dos monstros mais poderosos do mundo como meio de transporte nunca lhes passou pela cabeça.
“Er, poderíamos pegar emprestado alguns outros dragões da Vizzy para ir até lá…”
“Você sozinho não seria capaz de encontrar a Vila das Fadas. Bem, talvez Shin pudesse, por ser o mestre, mas você não quer perder tempo, certo? Além disso, posso voar muito mais rápido do que qualquer outro dragão.”
Shin sentiu que deveria haver algo por trás da ajuda inesperada de Tzaobath. Os outros membros provavelmente também se sentiram assim: foi tudo muito conveniente.
“Por que você faria tanto por nós?”
“Você suspeita de minhas intenções?”
“Não quero duvidar de suas palavras. No entanto, falando honestamente, eu me pergunto por que você nos ajudaria a tal ponto.”
“Hmm, então eu responderei. Não há nada a esconder.”
Tzaobath assentiu facilmente à pergunta de Shin, tão facilmente que o grupo ficou surpreso novamente.
“O que você sabe sobre a tribo Kishimi?”
“Apenas que eles veneram uma divindade maligna. Eles oferecem as memórias roubadas ao seu deus, se bem me lembro.”
Shin mencionou o que sabia sobre o evento. Ele também acrescentou que Hameln havia usado a Marca Amaldiçoada dessa vez, que ele havia roubado da tribo Kishimi.
“Entendo, então eles já foram exterminados.”
Em seguida, o Tzaobath fechou os olhos por um breve período. Mais do que aliviado, ele parecia estar desanimado.
“Uma vez tive um amigo. Um humano. Esse humano não me temia nem me respeitava excessivamente, simplesmente estava ao meu lado. Eu tinha um amigo assim.”
Tzaobath olhou para os céus e continuou falando.
“A tribo Kishimi… esses malucos usaram sua Marca Amaldiçoada em meu amigo, entre todas as pessoas. Meu amigo, sem memória, não se lembrava de nada a meu respeito. Meu amigo começou a me ver como qualquer outro monstro. Mesmo que eu soubesse que uma Marca Abençoada devolveria as memórias perdidas do meu amigo e conhecesse os materiais necessários, eu não tinha as habilidades necessárias para criá-la.”
O tom de Tzaobath tinha um toque de tristeza.
“Procurei alguém com a capacidade de criar uma Marca Abençoada, mas não consegui encontrar ninguém antes de meu amigo falecer, sem pronunciar meu nome sequer uma vez até o fim. Nunca me senti tão impotente.”
Tzaobath provavelmente se lembrou do que sentiu na época: a raiva que vazava de seu interior estava fazendo o chão tremer.
“Depois disso, por 10 anos, procurei e esmaguei os membros da tribo Kishimi. Mas não foi possível aniquilá-los completamente, ao que parece. Emprestar-lhe minha força é uma espécie de pedido de desculpas por não conseguir destruir todos eles.”
“…No entanto, acho que não há nada pelo qual você deva se sentir responsável.”
Qualquer um poderia entender que Tzaobath não era culpado. O dragão, no entanto, simplesmente olhou para Shin.
“…Entendido. Por favor, nos dê sua ajuda.”
Shin não conseguiu vencer seu olhar. Eles não sabiam a localização exata e também poderiam se reunir com Sety. Em primeiro lugar, não havia motivo para recusar.
“Vamos partir imediatamente, então. Ou há algo que você precise fazer aqui primeiro?”
“Não, já fizemos o que tínhamos que fazer.”
Shin poderia dar a Raster os itens prometidos mais tarde: eles poderiam sair a qualquer momento.
“Então, vamos embora. Suba em minhas costas.”
Tzaobath se deitou novamente e o grupo de Shin subiu em seu corpo, que era grande o suficiente para acomodá-los com bastante espaço de sobra. A falta de rédeas ou de uma sela era um pouco preocupante, mas eles tinham que se contentar de alguma forma com suas habilidades e o poder de Tzaobath.
“Eu não seria útil mesmo se fosse, então vou ficar aqui, pessoal.”
Se a Marca Abençoada não funcionasse, eles teriam que procurar a divindade maligna e derrotá-la. As estatísticas de Raster eram, em sua maioria, inferiores às de Tiera, então ele ficaria em Rashugum.
“Entendi. Este lugar está em suas mãos, como antes.”
“Entendi, senhor! Tome cuidado lá fora!”
Raster acenou enquanto Tzaobahn voava alto no céu. Talvez por causa de alguma habilidade específica que possuía, o dragão só precisava bater as asas algumas vezes para que seu grande corpo se elevasse no ar. Uma vez no ar, apenas uma batida de asa aumentava muito a velocidade de voo.
Se o grupo olhasse para baixo, poderia ver as montanhas que haviam visto até momentos atrás, percebendo que já haviam subido a uma altitude considerável.
“Não poder tocar o chão com os pés faz com que você se sinta bastante desconfortável.”
Graças a uma habilidade de vento, todos puderam ouvir claramente as palavras de Schnee. Ela estava sentada bem atrás de Shin, então ele podia ouvir mesmo que ela sussurrasse algo para si mesma. Ele não tinha certeza se ela estava falando com ele ou consigo mesma, mas como a voz dela era diferente da habitual, ele decidiu responder.
“É a primeira vez que você voa, não é? Não é estranho se sentir desconfortável depois de voar tão alto de repente.”
Não havia selas ou rédeas, ao contrário dos Dragões Anciões de Vizzy, então Shin entendeu a tensão de voar dessa forma. Afinal, eles eram tão altos quanto os aviões no mundo real. A velocidade também era muito maior do que a de um Dragão Ancião. Se não estivessem protegidos por suas habilidades, provavelmente teriam que se agarrar desesperadamente ao corpo do dragão para não cair.
“Minhas desculpas.”
“Fale se for muito difícil. O Tzaobath provavelmente ajustará a altura se pedirmos.”
Shin se virou e respondeu.
Ele espiou na direção da cabeça de Tzaobath e percebeu que ele provavelmente os tinha ouvido, pois a cabeça do dragão balançou verticalmente, como se expressasse assentimento.
“Então, eu poderia, por favor… segurar suas roupas?”
Schnee se inclinou para frente e perguntou. Devido à diferença de altura e à sua postura, ela estava olhando para Shin. Seu olhar suplicante, que escondia o espírito orgulhoso que ela tinha antes de perder a memória, fez o coração de Shin pular uma batida.
“Oh, ah, sim, claro, segure em mim com força, quero dizer, segure firme.”
Shin respondeu de forma exagerada, para evitar que suas emoções se manifestassem. Ele olhou para frente, pensando que poderia estar corando.
Na verdade, devido à habilidade [Montar], não havia risco imediato de alguém cair. No caso remoto de isso acontecer, Tzaobath certamente os recuperaria rapidamente, mas isso era uma coisa completamente diferente.
“Permita-me, então…”
Depois de suas palavras, Shin sentiu Schnee se mover. Após cerca de 10 segundos, porém, ele não a sentiu agarrar suas roupas, então se virou. Nesse momento, as mãos de Schnee abraçaram o estômago de Shin, mantendo todo o corpo dela contra o dele.
“Eh!? Sh, Schnee?”
Shin não pôde deixar de expressar sua surpresa com o abraço repentino de Schnee. Ela estava tão perto que Shin sentiu algo muito macio em suas costas. Forçando sua atenção a não se concentrar naquelas presenças maciças, Shin perguntou a ela o que havia acontecido.
“Estou incomodando você?”
“Não, de forma alguma, só fiquei surpreso…”
Antes de perder a memória, Schnee… sem considerar que havia outras pessoas presentes… provavelmente o teria abraçado assim. O atual Schnee, por mais leal que fosse, não deveria se sentir romanticamente atraída por Shin. Portanto, não era natural que ela o abraçasse com tanta força e descansasse a cabeça em seu ombro.
“Eu não… entendo a mim mesma. Mas se eu não fizer isso, me sinto muito desconfortável…”
A voz que chegou aos ouvidos de Shin não parecia estar brincando. Shin tocou os braços de Schnee, que envolviam sua cintura, e percebeu que eles estavam tremendo.
“Schnee, você está sendo muito ousado, não está… ei, você está muito pálido!”
Filma começou a zombar de Schnee, mas seu tom mudou completamente no meio do caminho.
Shin não conseguia ver bem Schnee, pois ela estava diretamente atrás dele, mas a situação parecia pior do que o esperado.
“Vamos pousar por um momento. Tzaoba—”
“Estou bem. Por favor, continue.”
“Não se force, se você se sentir mal, apenas diga.”
“Estou realmente bem. Vou me acalmar se ficar assim.”
Shin sentiu os braços de Schnee apertarem sua cintura com mais força, então ele não podia simplesmente acreditar nela e deixar as coisas como estavam: ele decidiu entrar em contato com Filma via Telepatia.
“(Não consigo ver Schnee daqui, só consigo sentir que seus braços estão tremendo. Como você a vê?)”
“(Não sei dizer se ela está tremendo, mas parece muito doente. Ela sempre foi pálida, mas agora está com uma aparência pouco saudável.)”
Seu status não mostrava nenhuma anormalidade, então Shin decidiu acreditar nela e seguir em frente.
Ele segurou as mãos dela ao redor da cintura, e o tremor dela parou.
“Chegaremos em breve.”
Após menos de 30 minutos de voo, veio o anúncio de Tzaobath. Schnee, como ela havia dito, se acalmou depois de abraçar as costas de Shin. Shin olhou para o continente enquanto desciam.
Ele podia ver cidades que já havia visitado anteriormente: o Reino de Bayreuth, a capital da Aliança dos Bestiais Falnido, a cidade fortificada de Balmel e outras. A leste de Falnido, havia o Império do Dragão de Kilmont, onde Shibaid costumava viver.
“Hmm? O que é aquela árvore incrivelmente grande…?”
Shin avistou uma árvore muito grande localizada no centro do continente, cercada por árvores de altura normal.
“Mas não era para ter nada lá.”
Shin se lembrou de que, no mapa que Schnee havia lhe mostrado anteriormente, nada estava marcado naquela área. Talvez fosse um local que não fosse normalmente visível.
Shin fez uma anotação mental para ir verificar quando tivessem tempo e olhou para o local onde Tzaobath iria aterrissar.
“Hmm? Já senti isso em algum lugar antes…”
À primeira vista, não havia nada para ser visto, mas mesmo assim Shin pôde sentir algo que dava um sentimento nostálgico vindo daquele local aparentemente deserto, o que o fez inclinar a cabeça para um lado, tentando identificar a origem daquela sensação.
Ele não sabia dizer onde, mas sua intuição lhe dizia que ele já havia sentido isso antes.
À medida que desciam, o local escondido por uma miragem foi gradualmente aparecendo. Tzaobath estava indo direto para lá, então esse tinha que ser o destino deles.
“Shin, você reconhece isso?”
“Não… essa é a entrada? Há uma presença que não consigo identificar.”
“Hmm, algo pode ter mudado aqui depois que a Vila das Fadas foi criada. Mas me disseram que você entenderia.”
Tzaobath fez essa pergunta a Shin e depois segurou seu queixo, pensando profundamente. Parece que até os dragões fazem esse gesto quando estão pensando.
Foi Sety quem disse que Shin certamente entenderia, aparentemente.
Em pouco tempo, eles chegaram a alguns metros do chão. Finalmente, o Tzaobath bateu graciosamente as asas e fez uma aterrissagem muito suave. Shin e o grupo desceram de suas costas logo em seguida.
“A Vila das Fadas que conheço fica ali.”
Tzaobath apontou para o local onde a paisagem estava distorcida que eles tinham visto de cima. Era grande o suficiente para que Tzaobath passasse por ela, se agachasse, mas não parecia ter nenhuma profundidade.
“Isso é bem diferente de como eu me lembro das entradas dos vilarejos de fadas…”
Shin lembrou-se de que eram anéis de luz que apareciam somente quando o item que concedia permissão para entrar era usado.
O outro lado era outro mundo: isso provavelmente não havia mudado, no entanto. No entanto, a diferença com suas memórias da era do jogo ainda dava a Shin uma sensação estranha.
“A propósito, não temos o item de permissão de entrada, ainda podemos passar?”
“Desde que você esteja comigo. Disseram-me que Shin e seus ‘personagens de apoio’ não serão detidos.”
Provavelmente não havia motivo para impedir a passagem de Shin, o mestre de Sety, e seus companheiros.
“Parece diferente do habitual, mas vamos examiná-lo imediatamente.”
Shin ficou um pouco preocupado, mas decidiu reunir coragem e ir em frente. Assim que ele entrou no espaço distorcido, o cenário mudou instantaneamente.
“Isso é…”
O cenário recém-aparecido deixou Shin sem palavras.
Luz solar quente, uma brisa calma. Uma pequena colina salpicada de árvores. Ele olhou para a direita e viu o prédio do ponto de teletransporte, como se lembrava. Era tudo igual a uma vista que ele já havia visto antes.
Shin não conseguia acreditar e olhou para uma área usada como um campo de flores. Lá, ele notou uma única lápide, em meio a flores multicoloridas. Assim que viu a lápide, Shin correu até ela.
“Kuu!?”
“Meu senhor?”
“Eh? Shin?”
Yuzuha agarrou-se ao ombro dele, tentando não cair; Schnee e Tiera, que haviam entrado depois dele, ficaram surpresas. No entanto, Shin não percebeu nada disso.
Ele correu para perto da lápide e olhou para o nome gravado nela. Não havia erro, era ‘Marino’.
Era de fato a área privada que Shin havia adquirido como recompensa durante um evento, que ele havia usado para enterrar o avatar de Marino.
