Hai to Gensou no Grimgar – Capítulo 10 (Parte 1) – Vol 09 - Anime Center BR

Hai to Gensou no Grimgar – Capítulo 10 (Parte 1) – Vol 09

Capítulo 10

Um dia, com sentimentos honestos. (Parte 1)

Mary pensava: Tenho algumas reservas quanto ao que Haru fez, mas não acho que ele teve escolha naquela situação. Ou melhor, ele provavelmente não tinha escolha… então…

Provavelmente não havia como evitar. Além disso, Mary não conseguia ver com seus próprios olhos exatamente o que os dois estavam fazendo. Haruhiro e Shuro Setora caminhavam lado a lado à sua frente; logo atrás deles vinha o golem Enba, e Mary seguia na retaguarda.

Enba não era tão alto. Tinha cerca de 1,70m, mais ou menos. No entanto, seus braços eram estranhamente longos. Seu tronco era musculoso, com ombros incrivelmente largos, e, para ser sincero, ele estava no caminho. Isso dificultava bastante sua visão do que estava à frente.

Haruhiro não tinha tido outra escolha senão aceitar as condições que Setora lhe impusera. Se Mary estivesse em seu lugar, teria tomado a mesma decisão, por mais angustiante que fosse. Ela entendia. Conseguia aceitar isso.

Porém, esse definitivamente não era o momento… Esse sentimento insistia em aflorar dentro dela. Eles não estavam fazendo nada muito significativo, mas era irritante e profundamente incômodo. Setora tinha ordenado que ele agisse como seu amante, ou algo assim, mas o que era isso, afinal? Será que ela queria dizer… bem…?

Isso não é da minha conta, disse a si mesma com firmeza.

O fato era que Mary não sabia. Ela nunca tinha namorado um garoto. Nem uma garota, aliás. Pelo menos, não desde que chegou a Grimgar. Ela não se lembrava de sua vida antes disso, então não podia ter certeza, mas sentia que nunca tinha estado em um relacionamento sério desse tipo.

Analisando sua personalidade, mesmo que decidisse que gostava de alguém, provavelmente pensaria bastante antes de decidir que queria passar o resto da vida com essa pessoa.

Provavelmente seria cautelosa. Apenas sentir: Ah, ele é meio legal, não a faria perder a cabeça. Ela não faria alarde. Tentaria manter a compostura.

Levando tudo isso em conta, ela devia ser tímida quando se tratava de amor. Isso provavelmente ainda não tinha mudado.

— Haru. — Setora chamou seu nome em um tom que não era exatamente meloso.

— Uh, sim, senhora? — Haruhiro respondeu. Ele parecia tão distante.

— Você me chamou de “senhora”?

— Oh, desculpa… É… O que foi?

— Eu só quis tentar chamar seu nome. Isso é errado?

— Não está errado… acho.

— Entendi.

— É…

— É bom — disse Setora.

— Huh? O quê?

— Ter alguém próximo com quem posso falar casualmente pelo nome.

— Ahh. Hm… acho que é. — Haruhiro deu uma risada vazia.

Enba parecia estar deliberadamente agindo como uma barreira entre Mary e os dois, para que ela não atrapalhasse. Parecia que eles estavam apenas conversando ocasionalmente enquanto caminhavam, então ela se perguntava exatamente o que estava impedindo.

Ou será que Mary não conseguia ver, e eles estavam na verdade de rosto colado, de mãos dadas, com os braços entrelaçados? Ou talvez estivessem envolvidos em algum tipo de contato físico ainda mais íntimo?

Seja como for, por causa de Enba, Mary não podia vê-los de sua posição na retaguarda. Ainda assim, embora não pudesse afirmar com certeza, aquilo não parecia muito provável. Ela conseguia ter uma noção disso pelas conversas deles.

Então, o que exatamente os dois estão fazendo?

Eles deveriam ser amantes? Desse jeito…?

Parecia que era assim que Setora imaginava que amantes agiam quando estavam juntos. Haruhiro estava seguindo o jogo. Provavelmente com dúvidas. Pensando: Isso é meio que não o que eu esperava. Afinal, quando se falava em “amantes”, esperava-se algo mais como…

Mais como… o quê exatamente?

Algo mais pegajoso, mais carinhoso?

O que constituía ser carinhoso, exatamente?

Mary não tinha tanto conhecimento sobre isso, então não sabia. Mas, fosse o que fosse, eles não eram assim. Não pareciam amantes de jeito nenhum. Ou talvez ela ficasse surpresa ao descobrir que a maioria dos casais por aí eram como eles? Talvez fossem assim na frente dos outros? Mesmo que Mary estivesse em um relacionamento desse tipo, ela se conteria em lugares públicos, onde as pessoas pudessem ver.

Do que se conteria? Bem… De flertar? Embora houvesse a questão de ela querer flertar ou não em primeiro lugar. Talvez, na verdade, ela não quisesse? Ou será que ela se sentia assim apenas porque não havia ninguém com quem pudesse flertar, e sua mentalidade mudaria caso houvesse?

Mas Mary tinha certeza de que nunca conseguiria.

Ela não queria, nem precisava.

Não era como se Mary não tivesse percebido os sentimentos de Kuzaku por ela. Contudo, também duvidara disso, achando que estava sendo exageradamente autoconsciente. Além disso, Kuzaku havia se juntado à party depois de todos, e parecia inseguro. Seu desejo de ser gentil com um colega e de ser útil para ele, como alguém que estava lá há mais tempo, era muito mais forte.

Quando ele se declarou, ela pensou: Eu sabia. Esperava estar errada, mas Kuzaku vinha olhando para ela daquele jeito.

Ela já estava preparada, então deu uma resposta direta.

Não posso, ela disse imediatamente.

Mary não conseguia se imaginar namorando alguém. Eles eram colegas na mesma party até aquele momento, e queria que continuassem assim. Era isso o que desejava. Se possível, queria que Kuzaku pensasse assim também.

Não era que ela o desgostasse. Se perguntassem se ela gostava ou não dele, bem, ela gostava. Ele era alto, e provavelmente seu rosto não era ruim também. Ele se dava bem com as pessoas, embora Mary percebesse uma certa fraqueza nele. Não era egoísta nem insistente como Ranta, então era justo dizer que ele era um cara bem decente.

Ela não o desgostava. Talvez não fosse totalmente impossível amá-lo.

Mas não o faria.

Porque ele era Kuzaku.

Não, esse não era o motivo.

Ela não se apaixonaria por ninguém.

Não haveria romance para ela.

Era impossível sentir amor por outra pessoa.

Mary tinha algo muito mais importante que isso. Tinha seus companheiros, e precisava proteger a vida de todos. Não podia se deixar distrair com outras coisas. Não tinha tempo para perder com bobagens como romance e amor. Essa era quem ela era.

Mesmo em relação aos membros da party, ela não tinha intenção de impor sua visão a eles. Se algum deles se apaixonasse por outro, achava que tudo bem.

Não que isso pareça muito provável na nossa party.

Mesmo quando estava com as outras garotas, Shihoru e Yume, elas quase nunca falavam sobre o assunto. Não, na verdade, nunca falavam. Sempre conversavam sobre coisas fofas ou comidas gostosas. Por causa disso, Mary sentia-se incrivelmente confortável, e isso fazia com que gostasse ainda mais de Shihoru e Yume.

Não havia uma regra contra romances na party, mas ela achava que talvez devessem criar uma. Se houvesse, Mary poderia se sentir ainda mais tranquila. Queria interagir com seus companheiros como seres humanos iguais a ela. Mesmo que pudesse ser amiga deles, nunca poderia ser namorada ou esposa de alguém. Nem queria considerar a possibilidade de acabar em um relacionamento assim.

— A propósito, Haru — disse Setora, com o mesmo tom nada familiar.

— Uh, sim—Fala.

— Quantos filhos você quer?

— Bwuh…! — Haruhiro engasgou, e Mary também tossiu estranhamente.

— Hm? O que foi, Haru? — perguntou Setora.

— …Não. É que… meio que veio do nada… Erm, n-nós somos amantes, certo?

— Sim. Você e eu somos amantes.

— …Só até você se cansar disso e dizer o contrário, né?

— Você pode se surpreender ao saber que nunca me canso disso.

— Huh…? — Haruhiro parecia surpreso, mas Mary havia notado as condições de Setora desde o começo.

“Até eu me cansar disso e lhe dizer o contrário.” Não era impossível interpretar isso como: Vou me cansar disso eventualmente, então faça o seu melhor até lá. Será que Haruhiro estava assumindo isso de forma otimista? Ele tinha uma opinião estranhamente baixa sobre si mesmo, então talvez estivesse subestimando a situação de várias formas. Devia achar que Setora estava fazendo isso por capricho ou por engano, e que logo se cansaria dele e ficaria irritada. Isso tinha que ser o que Haruhiro esperava.

Mas nunca se sabe, não é? Pensou Mary.

Parecia que Setora tinha se interessado por Haruhiro desde o início. Talvez ela nunca se cansasse e decidisse mantê-lo como seu amante.

Haruhiro negaria isso, dizendo que jamais aconteceria, mas era algo completamente possível. Mesmo que ele não fosse o tipo de pessoa popular entre as garotas, já havia um precedente com Mimori, dos Tokkis. Existiam mulheres que se interessavam por Haruhiro. Na verdade, não surpreenderia Mary se houvesse muitas delas.

Haruhiro parecia sempre sonolento, mas isso significava que ele não era barulhento, e, embora não tivesse uma presença imponente, era relaxante tê-lo por perto. Ele era atencioso com os companheiros, tinha senso de responsabilidade e era paciente. Além disso, sabia dizer o que precisava ser dito. Parecia tímido, mas podia ser surpreendentemente corajoso.

Não possuía habilidades que o fizessem se destacar nem características que o colocassem à frente dos outros. Mesmo assim, cumpria bem seu papel como líder e nunca tentou abandonar essa responsabilidade. Quantas crises Haruhiro já havia ajudado a party a superar até aquele momento?

Mesmo que Haruhiro fosse traído, ele nunca trairia os outros. Era um líder de quem Mary se orgulhava, em quem podia confiar e a quem respeitava como pessoa. Ela nunca tinha dito isso diretamente para ele. Na verdade, deveria ter dito. Mesmo que o elogiasse, Haruhiro não deixaria isso subir à cabeça.

— Ha– — Mary estava prestes a chamá-lo, mas rapidamente tossiu para disfarçar.

…Por que agora? Mesmo que eu vá dizer isso, agora não é o momento. Obviamente. Qual é a pressa?

— Hm? — Setora havia parado? Enba, que estava à frente, também parou, e Mary quase esbarrou nele.

— Você disse algo, mulher?

— …Não exatamente. — Mary abaixou a cabeça e mordeu levemente o lábio. Parecia que ela estava falando com as costas de Enba. Setora praticamente a ignorava. Então, por que, apesar disso, havia respondido em um momento como aquele? — Eu não disse nada.

— Entendo — respondeu Setora friamente. — Pareceu-me que alguma pessoa mal-educada estava me ignorando, como amante dele, e se referindo a Haru como Haru.

— Eu chamo o Haru do jeito que quiser! — retrucou Mary.

— Isso não será permitido. Agora somos amantes, e darei à luz o filho do Haru. Naturalmente, não permitirei que nenhuma outra mulher coloque as mãos nele.

— Filho?! — gritou Haruhiro.

Mary disse: — Colocar as mãos nele, você diz? — Então foi tomada por uma leve tontura.

— E-E-E-E você vai ter um filho?! — Haruhiro gaguejou, atônito. — Tão de repente?!

— Naturalmente. Há algo mais que um homem e uma mulher apaixonados fariam?

— Eu… — Haruhiro parecia perdido. — Não sei sobre isso…

— T-Tudo tem uma ordem! — Mary passou rapidamente por Enba, movendo-se para frente. — V-Vocês têm que fazer as coisas na ordem certa, entende? N-Não é só sair e fazer um b-b-b-bebê de repente…!

— Uma ordem? — Setora franziu a testa. — Você quer dizer algo como se reunir à noite, se agarrar, explorar o corpo um do outro? Não parece um assunto apropriado para discutirmos aqui.

— É-é… — Haruhiro gaguejou.

— Como assim “é”, Haru?!

— C-certo?! Desculpa…

— Não peça desculpas a essa mulher, Haru! — Setora gritou. — Você é meu amante. Não permitirei que peça desculpas a ninguém além de mim!

— S-sim, senhora!

Não, isso não é algo para responder com “Sim, senhora”! Engolindo as palavras que quase escaparam, Mary pressionou com força o peito. Mesmo agora, os nyaas de Setora estavam espalhados pela área, procurando por seus companheiros. Haruhiro não podia contrariar Setora. Praticamente falando, ele não tinha escolha a não ser fazer o que ela mandava. Se Setora ordenasse algo, Haruhiro teria que obedecer. Então, basicamente…

Eles vão se encontrar à noite?

Se agarrar?

Explorar o corpo um do outro?

E depois… fazer algo para terem um bebê?

— Heh… — Mary riu. Por que tinha rido? Ela mesma não sabia. Era um mistério.

Foi porque tudo aconteceu mais de repente do que ela esperava? Tipo, vocês já vão chegar nesse ponto? Nossa, estão indo com tudo, era algo que ela certamente sentia. Então é isso? Sério? Uau.

Mas você está bem com isso, Haru? Ela queria perguntar, mas não podia. Era algo que ela não podia perguntar.

Não era uma questão de estar bem ou não. Ele não tinha escolha. Se fosse para fazer, ele teria que fazer. Ele teria que fazer. É, aquilo.

Mas e daí? Não quebrava nenhuma regra contra romances dentro da party, afinal. Não que existisse uma regra assim. Então, não tinha nada a ver com ela, certo? Não era problema dela?

Certo. Por que ela estava tão incomodada? Não havia um problema real aqui, certo? Era algo que não só humanos, mas todos os seres que se reproduziam faziam. Mesmo que Haruhiro fizesse isso com Setora, como isso poderia ser um problema? Pelo menos, não era da conta de Mary. Se Haruhiro não quisesse, ela sentia pena dele, claro. Mas era pelos companheiros. Haruhiro era o líder, então ele teria que aguentar. Este era Haruhiro, afinal, ele conseguiria lidar com isso e faria um ótimo trabalho, com certeza.

Talvez ele nem estivesse tão contra isso. Se ela olhasse para Setora de forma imparcial, ela era uma mulher bonita. E, além disso, ela se parecia com…

Aquela garota.

Choco.

Talvez ele não estivesse completamente contra a ideia?

Então era isso. Talvez fosse por isso que Mary riu.

Haruhiro estava mantendo as aparências, dizendo algo como: Ah, que azar o meu, estou em um grande problema agora, mas, no fundo, ele achava que era um benefício, e talvez estivesse até contente com a situação. Se ela se lembrava bem, aquele idiota do Ranta tinha dito algo sobre isso antes. Homens ficam “acumulados”, aparentemente. Para Mary, isso era algo sobre o sexo oposto, então ela não entendia direito, mas basicamente significava que eles queriam fazer esse tipo de coisa, certo? Haruhiro também era um homem. Se tivesse uma boa parceira para isso, é claro que ele ia querer.

Tudo bem, então, ela pensou. De certa forma. Se fizessem isso longe do alcance dos olhos dela, ela não se importava.

Aquele som irritante, Pigyahh, Pigyahhh, já estava ali há um tempo, mas ela mais ou menos tinha organizado seus pensamentos.

Mary suspirou.

— …Então, que som é esse, afinal?

— Esse é o grito de um wyvern — respondeu Setora, olhando para o céu e semicerrando os olhos, como se a luz estivesse muito forte. — O Vale dos Mil tem uma relação inseparável com a névoa. No entanto, há alguns dias no ano, no máximo dez, em que a névoa desaparece completamente, como agora. Nesses dias, eles vêm das Montanhas Kuaron, a leste. As criaturas daqui não estão adaptadas aos wyverns, afinal. Para eles, este deve ser um campo de caça cheio de presas fáceis.

— Hã? Espera, pera aí — Haruhiro perguntou, em pânico. — Esses wyverns, o que são? Que tipo de…?

Pigyahhhhhhhhhhhhhhh! O grito do wyvern ecoou pela área novamente.

Era diferente de antes. Mary se encolheu involuntariamente com o som alto. Será que significava que estava perto?

— Um tipo de dragão — explicou Setora, com um tom despreocupado. — Eles têm asas e conseguem voar como pássaros. Pode-se dizer que são dragões voadores. Existem em várias cores e tamanhos, mas os wyverns azuis são conhecidos por serem os maiores e os mais ferozes. São completamente carnívoros. Não importa se são humanos ou orcs, eles comem qualquer coisa.

Mary olhou para o céu, sem querer. Estava esplendidamente claro. Pensando bem, fazia bastante tempo desde que ela vira um céu tão azul e bonito.

Não, agora não é hora para sentimentalismos.

— Isso… é perigoso, não é…? — perguntou ela.

— Naturalmente, não é seguro. — Setora soltou um riso abafado. — A vila deve estar em completo caos agora, tenho certeza. Em dias claros, em vez de aproveitarem o precioso sol, eles ficam ocupados se preparando contra os wyverns. Houve uma época em que a vila foi atacada por um bando de dezenas de wyverns. Depois disso, enviaram uma expedição para as Montanhas Kuaron para queimar o ninho deles, e desde então não houve outro desastre tão grande. Contudo, essas criaturas fazem seus ninhos em grandes altitudes, em encostas íngremes, então não é possível exterminá-las completamente. Quando a névoa desaparece, eles voam para cá. Alimentam-se até ficarem satisfeitos e, quando a névoa volta, retornam para casa. Quem vive aqui é forçado a aceitar isso como parte da vida.

— A gente poderia… — começou Haruhiro, mas cobriu a boca com as mãos. — …tentar fugir, mas não ia funcionar. Então, o que fazemos? Se eles vierem, vêm, e não podemos fazer nada?

— Certamente não. — Setora deu uma cutucada na testa de Haruhiro com o dedo indicador. — Aqui.

— Ai! — Haruhiro segurou a testa. — Não, nem doeu, mas…

Parecia que eles estavam se divertindo. Brincando. Quase algo de casal, talvez? Se fosse em outro momento, Mary até apoiaria, mas considerando a situação, não era o caso.

— Então? — Mary exigiu. — Você tem algum plano? Tem, não é?

— Esse tom autoritário é irritante, mulher. Se chegar a esse ponto, acho que escolherei abandoná-la.

— Setora, hum… A Mary é uma companheira importante para mim — disse Haruhiro, hesitante.

— Não sei se ela é sua companheira ou o quê, mas uma mulher é uma mulher. Ela pode carregar seu filho. Isso torna a presença dela desagradável para mim. Entendo. Poderia ser ciúmes, talvez?

— Eu…! — Mary não conseguiu evitar elevar a voz. — Sou companheira do Haru, nada mais, nada menos! Nunca vou engravidar do Haru, e você sentir ciúmes só me dá dor de cabeça, então, por favor, pare com isso!

Depois de soltar tudo isso, Mary voltou a si e lançou um olhar a Haruhiro para ver sua reação. Haruhiro olhava para baixo, com um sorriso tenso no canto da boca.

— Se vai falar tanto assim, bem… — Setora deu de ombros. — Apesar do que você diz, eu achava que vocês dois eram próximos ou tinham uma relação parecida com isso. Parece que me enganei. Ou, talvez, Haru, você esteja nutrindo um afeto não correspondido por ela?

— …Não. — Haru esfregou a barriga. — Não é isso, okay? Eu vejo a Mary como uma companheira também… Ela é uma companheira preciosa, e companheiros são importantes, de verdade, então… uma companheira é uma companheira, digamos assim.

— Hmm. Não sei se entendi, mas tomei medidas para lidar com wyverns. Meus nyaas estão vigiando. Além disso, isso não é inteiramente ruim. Os wyverns podem nos ajudar também.

Um dos nyaas saltou de um arbusto próximo. Era um nyaa listrado de amarelo. O nyaa ronronou e fez gestos para se comunicar com Setora. Quando Setora assentiu, depois balançou a cabeça, o nyaa soltou um único “nyaa” e desapareceu novamente.

É frustrante admitir, mas eles são fofos, pensou Mary.

— Parece que os encontraram — Setora cobriu rapidamente o rosto com o pano que trazia enrolado no pescoço. — Ou melhor, um wyvern os encontrou para nós. Se ainda não foram devorados, tenho certeza de que você poderá vê-los.

Então era isso.

Os wyverns haviam voado até ali em busca de presas. Quando o céu estava limpo, as pessoas da vila oculta, e provavelmente os membros da Forgan também, ficavam atentos aos wyverns. Mas aqueles que não sabiam sobre eles ficavam desprevenidos, tornando-se alvos fáceis.

Setora começou a correr, e Haruhiro, Enba e Mary a seguiram. Ocasionalmente, ouviam os miados dos nyaas. Pareciam estar guiando Setora.

Por onde estavam correndo, e para onde estavam indo? Mary não fazia ideia. Subiam e desciam colinas, e para ela já era um desafio apenas acompanhar.

De vez em quando, Haruhiro olhava para trás, na direção de Mary. Ele devia estar preocupado com ela, como uma de suas preciosas companheiras. Mas, ainda assim, por que ela havia dito aquilo? Que nunca ficaria grávida de Haru? O fato é que Mary realmente pensava assim, mas foi uma forma muito direta de dizer.

Foi inapropriado. Setora a havia provocado. Era culpa de Setora. Tudo culpa dela.

Pigyahhhhhhhhh, um grito estridente ecoou.

Algo estava no céu. Tinha asas, mas não era um pássaro. Provavelmente era um wyvern. Estava descendo em um mergulho.

Setora parecia estar indo naquela direção. Era onde estava a presa do wyvern. Poderiam ser Shihoru e os outros.

O wyvern, que haviam perdido de vista por um momento, voltou a subir no ar. Fez uma curva e parecia se preparar para outro ataque.

Havia alguém à frente. Estava correndo em direção a eles.

— Shihoru! — Haruhiro e Mary gritaram ao mesmo tempo.

Ela não estava usando seu chapéu e vestia um casaco cinza desconhecido, mas não havia como confundi-la.

Ela segurava seu cajado.

Era Shihoru.

Ela estava bem.

Mary correu com todas as forças. Sentiu os cantos dos olhos esquentarem.

Graças a Deus, pensou. Shihoru. Você está viva.

Mas quem era aquele com ela? Tinha cabelo curto, um corte militar, e vestia uma roupa de sacerdote. Um homem desconhecido. Onde estavam Yume e Kuzaku?

Haruhiro gritou: — Tsuga-san! — e acelerou, ultrapassando Setora.

— Haruhiro-kun!

— Venha, Shihoru! — Haruhiro segurou Shihoru em seus braços e logo a colocou atrás dele.

O que foi isso? Mary pensou. Foi muito legal.

— Haru! Não abrace outras mulheres! — gritou Setora.

— Cala boca! — Haruhiro retrucou imediatamente. — Mary, cuide da Shihoru! — Ele deu as instruções e seguiu adiante.

Tsuga. O sacerdote dos Rocks. Tsuga estava a uma boa distância atrás de Shihoru. Haruhiro provavelmente planejava ajudá-lo.

O wyvern iniciou outra descida rápida. Seu alvo parecia ser Tsuga. Mas Tsuga parecia exausto, pingando de suor enquanto corria em direção a eles. Ele não podia se dar ao luxo de olhar para o céu. Porém, mesmo que Haruhiro fosse até lá, seria capaz de salvá-lo?

Shihoru também estava ofegante e caiu nos braços de Mary.

— Mary, ainda bem… — disse ela, com dificuldade. — Eu…

— Eu queria tanto te ver! — Mary, tomada pela emoção, abraçou Shihoru, sem pensar, e a arrastou para os arbustos próximos.

Haru…

O wyvern estava se aproximando por cima de Tsuga.

Haruhiro abaixou o corpo, agarrou Tsuga e o empurrou para frente e para a esquerda, na diagonal.

Foi por pouco.

As garras do wyvern passaram bem acima deles.

Mas Setora e Enba estavam no caminho do wyvern.

— Enba! — Setora deu a ordem, e Enba, o golem, avançou.

O wyvern estendeu a pata direita, agarrou Enba e o pressionou contra o chão.

Aquilo não era ruim? Ele seria morto?

Quando Enba rugiu: — GOOOOOOOOOOOOOOOOOOON! — com uma voz alta e assustadora, aconteceu.

Deve ter sido um choque. O wyvern soltou um grito estridente, largou Enba e começou a bater as asas. Estava subindo. Não podia ser… estava tentando fugir?

— Wyverns odeiam golems! — Setora correu até Enba. — Eles foram feitos para causar esse efeito! Porém, isso só os impede de comer os golems, não de atacá-los! Estamos fugindo!

— Tsuga-san! — Haruhiro ajudou Tsuga a se levantar. — Consegue correr?!

— Vou correr! Porque provavelmente vou morrer se não fizer isso!

— Shihoru! — Mary segurou a mão de Shihoru. — Estou aqui, então agora vai ficar tudo bem!

— Sim, estou contando com você!

— Setora, todos vão te seguir, então dê as direções! — comandou Haruhiro.

Setora disse: — Para um homem, você é bem atrevido! — Mesmo assim, ela saiu correndo ao lado de Enba. — Bem, eu não me importo com isso! Agora eu quero ainda mais a sua semente! Então é isso que chamam de amor?!

— S-Semente…?! — Os olhos de Shihoru se arregalaram.

— Passamos por muita coisa! — gritou Mary. De alguma forma, ela já tinha superado aquilo. Fazia sentido para ela, por assim dizer.

Haru foi incrível agora há pouco. Não sei se eu diria que quero a semente dele, mas consigo entender alguém se apaixonar por ele.

Setora era um pouco extrema, mas estava interessada em Haruhiro à sua maneira, e atualmente estava apaixonada por ele. Isso não era nada estranho.

Para mim… Ele é um companheiro importante, então não sinto isso por ele, de jeito nenhum.

Setora e Enba lideravam o caminho. Haruhiro pediu que Tsuga fosse à frente dele, enquanto Mary ficava de olho em Shihoru e frequentemente olhava para o céu para acompanhar a posição do wyvern.

Em momentos como aquele, Haruhiro podia ser tão focado que chegava a dar medo. Mesmo assim, seus olhos ficavam ainda mais sonolentos do que o normal. Seus nervos estavam tão afiados quanto podiam estar, e ele deveria estar esgotado, mas parecia quase indiferente. Não podia ter muito mais energia sobrando, mas ainda assim parecia capaz de continuar, o que fazia Mary sentir que ele daria um jeito.

Ei, Haru, você percebe? Ela pensou silenciosamente. Você já nos salvou tantas vezes assim. Se olharmos para o nosso nível de poder individualmente ou como grupo, talvez não sejamos soldados voluntários de primeira ou nem de segunda categoria. Então, por que você acha que sobrevivemos até hoje?

Mais do que qualquer pessoa, mais do que qualquer coisa, foi graças a você, Haru. Você sabe disso?

Provavelmente não. Aposto que você pensa que é graças a todos. Graças aos companheiros que gentilmente seguem um líder inseguro e o apoiam.

Eu não consigo deixar de achar você estranho. Acho que é porque você é esse tipo de pessoa. O tipo que todos seguem, tentam apoiar e querem seguir juntos. Haru…

Eu não preciso estar ao seu lado. Estou bem em caminhar atrás de você, mas quero que haja um lugar para mim ali. Enquanto eu viver, vou fazer meu trabalho. Vou cumprir meu dever.

Setora parecia estar guiando o grupo por um caminho decente. Talvez fosse justo dizer que era um caminho altamente apropriado.

O wyvern continuava circulando acima deles, como antes. Estava seguindo-os, sem querer deixá-los escapar. Ele havia mergulhado várias vezes, mas não tinha conseguido pegar ninguém. O terreno era estreito de ambos os lados, ou às vezes de apenas um lado, e frequentemente denso com árvores. Havia muitos obstáculos para o wyvern, e Setora estava escolhendo lugares com pontos onde o grupo pudesse se abrigar durante o trajeto. Além disso, os nyaas provavelmente também desempenhavam algum papel nisso.

Havia uma variedade de nyaas. Não, não apenas nyaas. Shuro Setora.

Se ela, a necromante e domadora de nyaas, não estivesse com eles, não teriam chegado a lugar nenhum. Mary provavelmente precisava reconhecer esse fato. Precisava ser grata a Setora. Talvez por ela ser da vila oculta, havia algumas áreas onde lhe faltava senso comum. Mas ela não era uma má pessoa. Além disso, a única razão de Mary estar ali era graças a Setora.

Se Haruhiro achasse que seria uma boa ideia, Mary o apoiaria, fosse para ele ter um filho com Setora ou para qualquer outra coisa que ele quisesse fazer. Talvez, por ter sido tão repentino, houvesse algumas partes difíceis de aceitar. Isso se resolveria com o tempo, tinha certeza. Logo, seria capaz de pensar que era assim que as coisas eram.

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