Vol. 1 Cap. 1 Nick
— Você deveria se matar.
Dentro de um beco sujo, cheio de canos oleosos, fios elétricos e paredes quebradas, um jovem estava sentado no chão, encostado na parede.
Sua cabeça estava abaixada enquanto ele olhava, sem vida, para o chão entre suas pernas.
O sol estava bem no meio do céu, diretamente acima do garoto. Por isso, o beco estava iluminado.
— Eu sei que é meio chocante, mas sinceramente acho que a melhor solução para você nessa situação seria se matar.
O garoto não levantou a cabeça ao ouvir essas palavras.
Nesse momento, um rato sujo e desgrenhado estava sentado em cima de uma pequena caixa de metal enferrujada. O rato coçava levemente o focinho enquanto olhava com os olhos bem abertos para o garoto, tentando fazer contato visual.
— Escuta — disse o rato, pulando da caixa e andando devagar em direção ao garoto. — Todos nós sabemos o que aconteceu. Não é como se eu estivesse sugerindo suicídio sem uma base lógica, sabe?
Conforme o rato se aproximava, os olhos do garoto de repente ganharam vida, e ele olhou para o rato com intensidade.
Os olhos do rato se arregalaram, e ele ficou em pé nas patas traseiras enquanto recuava lentamente. — Calma, Nick. Não vou te machucar — disse com um sorriso nervoso, parando de recuar. — Olha para mim. Eu sou só um rato. Como eu poderia machucar alguém que conseguiu passar no Exame do Extrator Zephyx?
O garoto, Nick, voltou a olhar para o chão.
Quando Nick olhava para o chão sem vida daquele jeito, ele parecia um mendigo frágil, mas quando olhou para o rato, sua postura mudou completamente.
Na verdade, o corpo de Nick estava longe de ser frágil. Embora não fosse muito musculoso, seus músculos eram bem definidos, o que não era surpresa, considerando que ele havia treinado nos últimos quatro anos na esperança de finalmente sair dos Dregs.
— Ei, Nick — o rato disse, sem ousar se aproximar mais. — Eu sei que você ainda se agarra a alguma esperança, mas nós dois sabemos que acreditar nessa luz frágil de esperança é pura ilusão.
O rato começou a circular o corpo de Nick, mas não ousava chegar muito perto. — Nos últimos quatro anos, você trabalhou duro em si mesmo. Você treinou todos os dias e até cometeu alguns atos terríveis só para não pagar o Imposto de Sangue.
— Você não queria fazer essas coisas, mas fez mesmo assim. Por quê? Porque você viu uma saída dos Dregs.
— E você conseguiu! Você garantiu uma vaga no Exame do Extrator Zephyx do Laboratório Ghosty e ainda passou! — o rato disse com bastante entusiasmo.
E então, o rato suspirou. — Mas seu Sincronizador Zephyx já estava sintonizado com um Espectro. Você conseguiu passar no exame, mas o Laboratório Ghosty não pode usar um Extrator Zephyx com um Sincronizador já sincronizado.
— E você sabe que eles não são os únicos — o rato disse, parando ao lado direito de Nick. — Nenhum Fabricante de Zephyx vai te contratar desse jeito. Você sabe tão bem quanto eu que todas as empresas têm Espectros específicos para seus Extratores. Sem as habilidades desses Espectros, você vai morrer rapidamente ou custar mais dinheiro para a empresa do que consegue gerar.
— E agora? — o rato perguntou, olhando para Nick com uma expressão simpática. — Qual é o plano agora?
— Você não tem educação.
— Você não tem contatos.
— Você não tem onde morar.
— Você nem lembra de nada antes dos seus dez anos.
— Você nem pode se juntar às gangues ou aos negócios delas, já que se recusou veementemente a pagar as taxas.
— Não tem saída.
— Você está disposto a continuar vivendo assim? — o rato perguntou com uma voz triste e dolorida.
— Eu não quero te ver passando por tanta dor todo dia.
— Apenas pare.
O rato se movia cuidadosamente e devagar em direção a Nick.
Conforme o rato se aproximava, vários pares de olhos surgiram por trás das grades escuras dos esgotos no beco.
Eles observavam tudo com entusiasmo.
Nick continuava olhando para o chão.
— Você não quer simplesmente descansar? — o rato perguntou, avançando com muito cuidado. — Todo dia, você dorme com um olho aberto, com medo de que algo ou alguém te ataque.
— Você não tem nem um único amigo ou parente.
— Qual é o sentido de lutar?
— Qual é o sentido de viver assim?
— E agora, até sua última esperança se foi.
O rato olhou com um olhar compassivo para Nick.
— Acredite em mim. Eu já conversei com milhões de pessoas e sei reconhecer uma situação sem saída.
— Eu posso fazer com que seja rápido e indolor. Se você quiser, posso até dar atenção especial a algumas pessoas que você não gosta.
— Pelo menos assim, você pode ir nos seus próprios termos em vez de morrer de fome.
— Sua morte teria, de fato, um propósito.
O rato conseguiu se aproximar tanto de Nick que podia até tocar sua perna.
Os ratos por trás das grades dos esgotos começaram a sair lentamente, mas ainda mantinham uma grande distância.
Era importante não provocar uma resposta de luta ou fuga no alvo. A adrenalina pode trazer vida momentânea ao buraco negro no peito de uma pessoa sofrendo.
Isso precisava ser feito de maneira metódica, lenta e cuidadosa.
— Apenas se deite, tá? — disse o rato lentamente. — Vou tocar sua perna de leve agora. Não tenha medo. Eu não vou fazer nada.
O rato lentamente estendeu a garra para tocar a perna de Nick.
BANG!
Um soco poderoso atingiu o rato, transformando-o numa pasta sangrenta.
Um instante depois, todos os outros ratos fugiram de volta para o esgoto.
Silêncio.
O punho se abriu e segurou o rato esmagado.
Então, ele tirou um saco marrom imundo, velho e nojento, e colocou o rato dentro.
Um momento depois, Nick endireitou as costas e respirou fundo.
— Isso é uma droga — disse ele, com uma voz um pouco mais grave que a de um homem comum.
Mas então, um pequeno sorriso apareceu em seus lábios enquanto ele levantava o saco marrom sujo.
— Mas pelo menos o jantar está garantido.
De repente, os olhos de Nick se estreitaram quando ele se levantou de um pulo.
Ele olhou com raiva para uma das saídas do beco.
Nesse momento, um homem musculoso usando um casaco preto e chapéu preto apareceu perto da saída.
Agora, Nick podia ver um sorriso misterioso adornando os lábios do homem enquanto ele olhava para Nick com diversão.
— O que você quer? — Nick perguntou com uma voz dura e ameaçadora.
Nick já tinha visto muita gente, e sabia que alguém agindo assim não estava com boas intenções.
— Eu não compro drogas, curas milagrosas, Espectros, Zephyx, ou seja, lá o que você estiver vendendo — disse Nick.
Um momento depois, os olhos de Nick se arregalaram um pouco, e ele colocou o saco marrom atrás de si. — Também não vou te vender o rato!
O homem pareceu ligeiramente surpreso, mas começou a rir, divertindo-se.
— Seu rato? Você acha que estou atrás do seu rato? — perguntou ele com um sorriso.
Nick olhou o homem com desconfiança. — Não estou comprando nada! E, além disso, é falta de educação entrar na casa dos outros sem ser convidado.
— Casa? — o homem repetiu, confuso, enquanto olhava ao redor do beco.
Após observar por um instante, o homem viu uma pequena cabana feita de pedaços de metal descartado e enferrujado.
O homem respirou fundo e suspirou antes de fazer seu chapéu preto desaparecer, revelando seu rosto bonito.
Havia algumas rugas discretas na testa do homem, e Nick também pôde ver alguns fios de cabelo grisalho misturados ao cabelo preto dele.
O homem deu uma risadinha. — Você me perguntou o que eu queria — repetiu ele.
— Bem, você pode me chamar de estudioso — disse o homem com um sorriso, olhando para Nick. — Eu estudo Espectros. Mais especificamente, os poderes que os Espectros podem conceder aos humanos.
— Já disse que não estou comprando nada! — gritou Nick.
O homem respirou fundo novamente e soltou outro suspiro.
— Sou consultor de vários Fabricantes de Zephyx, e o Laboratório Ghosty é um deles — disse o homem, levantando lentamente o dedo indicador da mão direita.
No momento seguinte, uma esfera de ferramentas ensanguentadas feitas de metal materializou-se acima de seu dedo. As ferramentas giravam rapidamente acima do dedo do homem.
Quando Nick viu isso, sua mandíbula quase caiu no chão, e seus olhos brilharam.
— Você é um Extrator Zephyx?! — perguntou ele, chocado.
O homem riu. — No passado — respondeu ele enquanto as ferramentas desapareciam de novo. — Hoje em dia, sou apenas um pesquisador.
Nick ainda olhava com admiração para o homem.
Um Extrator Zephyx!
Nick engoliu em seco.
— Certo — ele disse devagar. — Então, o que você tem para vender?
O homem deu uma risadinha, achando graça. — Não estou aqui para vender nada.
— Estou aqui porque meu amigo no Laboratório Ghosty me procurou. Eles não sabem que tipo de poder você obteve nem de qual Espectro ele vem. Meu amigo sabe que tenho interesse nessas coisas, e foi por isso que ele me contou sobre você.
Nick ficou nervoso ao ouvir isso.
Parecia coisa de experimentos malignos!
Quando o homem viu a expressão apreensiva de Nick, quase gemeu de frustração.
— Eu não estou aqui para te machucar! — o homem quase gritou, irritado. — Só estou aqui para ver como seus poderes funcionam. Eu até posso te recomendar para alguns Fabricantes de Zephyx, se o seu poder se mostrar útil!
— Isso é uma boa oportunidade para você!
Nick ficou surpreso, mas sua expressão rapidamente mudou para uma de ceticismo.
Ajuda?
Uma boa oportunidade?
Nos Dregs?
Nem as crianças acreditam nisso!
— E o que você quer em troca? — perguntou Nick.
— Em troca? — o homem repetiu. — Você tem algo que possa me interessar?
Nick tentou pensar em algo.
— Nada nesse mundo é de graça — disse ele com desconfiança. — Algo anunciado como gratuito logo vai se revelar qualquer coisa menos isso.
A expressão do homem se fechou. — Ah, pelo amor de Deus — ele disse, exasperado.
De repente, o homem apareceu na frente de Nick.
BANG!
O homem deu um tapa na cabeça de Nick, e ele caiu de lado, inconsciente.
— É tão difícil aceitar que alguém só quer te ajudar?!
Silêncio.
O homem respirou fundo e suspirou novamente.
SHING!
As ferramentas ensanguentadas de antes apareceram na frente dele.
— Agora, vamos ver que tipo de poder você tem.
Vol. 1 Cap. 2 A Placa
Um jovem caminhava pelas ruas de uma cidade movimentada, porém suja.
Naquele momento, eram duas da madrugada, mas o sol ainda brilhava.
Ele sempre brilhava.
Não havia um único momento em que o sol não estivesse no céu.
Era assim havia milhares de anos e continuaria assim por milhares de anos mais.
O sol estava diretamente no meio do céu, aparentemente perfeitamente acima do jovem que caminhava.
Surpreendentemente, apesar de o sol estar no centro do céu, sua luz não era muito brilhante nem ofuscante, mas suave, com um tom amarelado-alaranjado.
Para os cidadãos da Cidade Fungo Carmesim, era noite. Embora, quando alguém falava sobre a noite, referia-se ao período entre as 22 e as 6 horas. Isso não tinha nada a ver com a posição ou o estado do sol, já que ele era sempre estático.
A maioria das pessoas dormia à noite. Ninguém sabia ao certo por quê, mas quase todos seguiam essa norma social, já que seus pais, avós e todos os outros faziam o mesmo.
Alguns loucos diziam que as pessoas dormiam à noite porque, de alguma forma, o sol costumava fazer algo chamado ‘se pôr’ no passado.
Naturalmente, isso era uma idiotice.
O quão rápido o sol precisaria se mover para dar a volta na Terra?
Como ele sequer se moveria?
Não fazia sentido.
Enquanto o jovem continuava andando, ele viu vários canos sujos, enferrujados e cobertos de graxa saindo do chão e subindo pelas paredes danificadas e imundas dos edifícios.
O chão da cidade era irregular, com metade feita de rocha áspera e a outra metade de grades enferrujadas que levavam ao subsolo profundo.
O cheiro de gás e óleo cobria as ‘ruas’, mas as pessoas que moravam ali já estavam acostumadas com isso.
CRACK!
De repente, uma das grades sob as pernas do jovem quebrou, e ele começou a cair.
No entanto, o jovem apenas abriu os braços reflexivamente e agarrou as grades ao lado, parando a queda.
Ele respirou fundo e soltou o ar antes de se puxar de volta para cima.
Após se levantar, ele olhou ao redor da rua em busca de algo.
Ele viu algumas pessoas magras sentadas à beira da estrada, conversando entre si. Como era de madrugada, poucas pessoas estavam por ali.
— Ei, vocês sabem onde posso arranjar uma chapa de metal grande? — perguntou o jovem, Nick, ao grupo.
Já fazia dois anos desde que Nick havia encontrado o ‘estudioso’, e agora ele tinha 16 anos.
O estudioso havia contado a Nick sobre seu poder e até lhe ensinou algumas coisas nos dias seguintes.
Agora, Nick tinha cerca de 1,80 m de altura, o que era enorme para alguém que vivia nos Dregs. A comida disponível era horrível, o que dificultava o crescimento das pessoas.
O corpo de Nick também era bastante musculoso, o que lhe dava uma aparência intimidadora.
O grupo franziu a testa coletivamente enquanto o olhava. A figura robusta de Nick os intimidava um pouco. — O que você quer? — uma senhora mais velha entre eles disse com um tom ameaçador.
— Eu acabei de dizer o que quero — disse Nick, coçando o lado da cabeça. — Só quero uma chapa de metal.
— Por quê? — perguntou a senhora com irritação.
Nick apenas apontou com o polegar para o buraco nas grades.
O grupo trocou alguns olhares.
— Você quer consertar o buraco? — a senhora perguntou com ceticismo.
Nick assentiu. — Eu sou forte o suficiente para me segurar e me puxar para fora. Outros não são — ele respondeu.
A expressão da senhora ficou ainda mais cética. — E você se importa com isso?
Nick coçou a nuca. — Bom, eu que quebrei. Deveria consertar também — disse ele, dando de ombros.
O grupo trocou olhares novamente.
Então, a senhora mais velha apontou para uma das casas no final da rua.
A casa estava basicamente em ruínas. Um terço dela já estava faltando, e todo o metal da construção já estava enferrujado.
A cidade tinha uma abundância de metal, e todo o metal que as áreas ricas da cidade não precisavam acabava nos Dregs.
Por isso, quase todas as casas ali eram feitas de metal enferrujado.
— O morador dela disse isso há dois dias — disse a senhora, sua voz neutra.
Nick assentiu. Ele sabia o que significava ‘dizer isso’.
Basicamente, significava que a pessoa havia cometido suicídio por um método específico.
— Valeu — disse Nick enquanto caminhava em direção à casa abandonada.
Após procurar um pouco, Nick encontrou uma chapa de metal de dois metros de largura e comprimento e começou a puxá-la.
Infelizmente, o construtor da casa parecia ter uma fobia de desabamento, e por isso soldou tudo junto.
Nick tentou por um tempo, mas a chapa de metal apenas tremia e fazia barulhos estridentes.
Ele suspirou e olhou ao redor.
Em seguida, entrou na casa, longe de olhares curiosos.
BANG!
Uma amassadura apareceu na chapa de metal.
BANG! BANG! BANG!
Depois de quatro socos, a chapa de metal se soltou da casa e caiu no chão do lado de fora, enquanto Nick saía pelo novo buraco.
Os olhos do grupo se arregalaram de choque.
Eles sabiam que o jovem era forte, pelo porte físico dele, mas isso não era um pouco demais?!
Quanta força seria necessária para amassar uma chapa de metal tão grande?!
Claro, ela não era muito grossa, mas ainda assim era metal!
Nick arrastou a chapa de metal pela rua com bastante dificuldade, o que confundiu ainda mais o grupo.
O cara tinha acabado de amassar a chapa, mas agora estava com dificuldade para carregá-la?!
Isso não fazia sentido!
Alguns segundos depois, Nick colocou a chapa sobre o buraco que ele tinha criado nas grades mais cedo e limpou o suor da testa.
Ele subiu na chapa e deu alguns pulos. O metal rangeu, mas não se moveu.
Se o metal aguentava Nick pulando sobre ele, ninguém teria problemas em andar por ali.
Nick assentiu com satisfação e continuou caminhando pelas ruas.
Ele acenou um pouco para o grupo enquanto saía.
— Ah! Agora sei quem é! — um dos mais jovens do grupo gritou alguns segundos depois.
Os outros olharam para ele. — Você o conhece?
O jovem assentiu. — Ele é aquele cara esquisito do mercado.
— O cara esquisito? — outra pessoa do grupo repetiu, incerta. — Ah, você quer dizer o que fica sentado com uma placa o dia todo?
— Sim, esse mesmo — respondeu o outro com um aceno. — Não o reconheci porque ele parece bem menor quando está sentado.
As outras pessoas levantaram as sobrancelhas em compreensão.
Algumas delas olharam novamente para a casa em ruínas, com uma nova compreensão.
Isso explicava como ele era forte o suficiente para quebrar o metal.
— Isso significa que ele tem um Sincronizador Zephyx sintonizado, certo?
Os outros apenas assentiram. — De acordo com a placa dele, sim.
A senhora mais velha do grupo olhou para a chapa de metal no meio da rua.
— Sabe, se outros seguissem o exemplo dele e consertassem o que quebram, os Dregs não seriam tão ruins — comentou.
Nick continuou caminhando pela rua, e alguns minutos depois, chegou a uma grande praça.
Comparado às ruas, a praça era feita principalmente de pedra, e as paredes não eram tão sujas.
Nick podia ver alguns comerciantes ao redor de seus vagões cheios de mercadorias.
Como era noite, apenas os comerciantes mais pobres e mais ricos vendiam suas mercadorias.
Os mais pobres vendiam à noite porque havia menos concorrência, e os mais ricos faziam o mesmo, já que podiam contratar alguém para manter sua loja aberta o tempo todo.
Os outros 80% das lojas só funcionavam entre 6 e 22 horas.
Nick atravessou a praça até chegar à rua mais larga dos Dregs.
A estrada levava a uma das saídas da Cidade Fungo Carmesim.
No ponto onde a estrada e a praça se encontravam, Nick parou e foi para o lado.
Após se sentar, Nick puxou um pedaço de papelão enrolado e o desenrolou antes de colocá-lo em uma haste de metal que havia trazido.
Por fim, ele ergueu sua nova placa e esperou.
— Extrator Zephyx procurando trabalho!
E então, ele esperou.
Vol. 1 Cap. 3 Protegendo-se
As pessoas começavam a acordar lentamente e saíam de suas casas em ruínas.
Era cedo, mas como sempre, o sol estava alto no céu, iluminando as ruas.
Nick ainda segurava sua placa, observando as pessoas com tédio.
Mais de 50% delas estavam desnutridas, e o restante podia ser descrito como magro. Somente os comerciantes mais ricos tinham um pouco de gordura visível nas barrigas.
Embora o sol brilhasse o dia inteiro, quase todos tinham a pele pálida, e alguns até ostentavam olheiras escuras ao caminhar lentamente pelas ruas.
Nick percebia, ao observar as pessoas, que a maioria delas estava inquieta e ansiosa.
Ele sabia que este era o dia mais perigoso do mês, o dia em que as pessoas ficavam desesperadas.
Hoje era o pior dia do mês.
O dia que todos temiam.
Mesmo assim, Nick continuava segurando sua placa e esperando.
Albert, o mentor de Nick, havia lhe dito que ele logo encontraria trabalho como Extrator Zephyx nos Dregs. Ele só precisava ser visível.
Albert era o poderoso Extrator Zephyx que Nick havia conhecido dois anos antes. Após Nick ter acordado do tapa de Albert, os dois se conheceram melhor.
Devido às circunstâncias em que Nick adquiriu seu misterioso poder, Albert decidiu mentorear o jovem por alguns meses, já que via muito potencial nele.
Albert partiu há cerca de um ano e disse a Nick que ele só precisava continuar visível para encontrar trabalho. Aparentemente, logo alguém apareceria interessado em contratar Extratores Zephyx.
Por isso, Nick estava sentado no mercado com sua placa.
Mesmo que todos temessem o dia de hoje, para Nick, era apenas mais um dia comum.
Muitas pessoas passaram por Nick, e ele também percebeu que quase todos lançavam olhares avaliadores para ele.
No entanto, ninguém realmente fez nada contra ele.
Muitas pessoas estavam assustadas e olhavam ao redor nervosamente, mas outras pareciam calmas e relaxadas.
Todos os que estavam calmos usavam pequenos broches no peito, com a imagem de duas lanças cruzadas.
Esses broches representavam a Gangue do Seguro, uma das gangues mais poderosas que controlava os Dregs a partir do submundo.
As pessoas usando esses broches não eram membros da gangue, mas cidadãos comuns que haviam pago à Gangue do Seguro para resolver todos os problemas do dia.
BANG!
De repente, um homem loiro levou um soco, e um grupo de três homens o atacou.
O homem se encolheu, como um camarão, e segurou algo com força.
Os três agressores continuaram espancando o homem indefeso, mas tomavam cuidado para não quebrar nenhum osso.
— Entregue seus créditos! — gritou um deles.
O homem loiro no chão não respondeu e continuou segurando seus créditos.
Os três rangeram os dentes.
Matar alguém era proibido, e também não podiam derramar sangue.
Entretanto, a cidade não se importaria se quebrassem alguns ossos.
Mas, apesar de como parecia, os três homens não eram psicopatas que queriam ver o cara morrer.
Se roubassem seus créditos e quebrassem seus ossos, estariam essencialmente condenando o loiro à morte a longo prazo.
Um dos homens agarrou o cabelo do loiro e puxou com toda a força, mas o homem no chão não soltou sua riqueza.
Mesmo quando parte de seu cabelo foi arrancada, ele não soltou.
Dois dos agressores olharam para o último amigo com expressões frustradas e irritadas.
O último respirou fundo e segurou a cabeça da vítima.
BANG!
Ele bateu a cabeça do homem contra o chão, e ele perdeu a consciência.
Surpreendentemente, não havia sangue, e o loiro ainda estava vivo.
Isso tinha sido extremamente arriscado.
Se algo desse errado, o agressor seria morto pela cidade por matar outra pessoa ou desperdiçar sangue valioso.
Um dos outros homens se abaixou e arrancou um pequeno maço de notas das mãos do loiro.
Após contar as notas, ele olhou para os dois amigos e assentiu.
Então, entregou todas as notas a um de seus amigos, que começou a chorar.
O homem chorando abraçou seus dois amigos e fez várias reverências de gratidão.
Seus dois amigos apenas garantiram que estava tudo bem.
O homem chorando rapidamente correu para o outro lado do mercado, indo para os braços de uma mulher ao lado.
A mulher também estava chorando muito.
Um momento depois, o homem se soltou e se ajoelhou, chamando adiante.
Duas meninas pequenas, não mais velhas que oito anos, saíram de trás da mulher e abraçaram o homem.
— Eu consegui o suficiente para vocês — disse o homem com a voz trêmula.
Apenas algumas pessoas observavam o que acontecia. A maioria estava acostumada com esse tipo de cena e não se importava.
Todos no mercado simplesmente andavam ao redor do homem inconsciente deitado no meio da rua, tratando-o como mais um pedaço de entulho.
Nick havia assistido a tudo, mas não se envolveu.
Qual seria o ponto?
Não havia dinheiro suficiente para todos, e era dever de cada um se proteger.
Com o passar do tempo, mais ataques ocorreram, mas Nick apenas esperou.
E então, chegou a hora.
Tudo se acalmou por volta das 14 horas, e as pessoas ficaram muito quietas.
Agora, o mercado estava completamente cheio de gente.
Ninguém estava comprando ou vendendo nada naquele momento.
Todos esperavam a mesma coisa.
Dois minutos depois, o som de um gigantesco enxame de insetos veio de uma das ruas que levavam ao mercado, e o som aumentava com o tempo.
Eventualmente, cinco pessoas apareceram em uma das ruas, acompanhadas por enxames de mosquitos enormes.
As cinco pessoas usavam uniformes vermelhos com o símbolo da Cidade Fungo Carmesim, mostrando que trabalhavam para a cidade. Cada uma carregava alguns sacos grandes e usava máscaras de gás pretas, mantendo suas identidades anônimas.
Enquanto os cinco agentes da cidade caminhavam pelas ruas, vários mosquitos se separavam e entravam nas casas que passavam.
Eles estavam procurando pessoas que tentavam se esconder.
Depois de um tempo, os mosquitos saíam das casas e voltavam para os cinco agentes, enquanto outros mosquitos entravam em outras casas.
De repente, um enxame inteiro de mosquitos invadiu uma das casas.
— AAAAAHHHH!
Um grito aterrorizante saiu da casa, mas rapidamente ficou mais baixo até desaparecer.
O enxame de mosquitos saiu da casa alguns segundos depois, e alguns deles voaram para o céu e se retiraram.
Mas apenas alguns segundos depois, novos mosquitos substituíram os que haviam partido.
Após cerca de cinco minutos, os cinco agentes chegaram à entrada do mercado.
Os cinco não disseram nada por um tempo.
Vol. 1 Cap. 4 Zephyx
Pouco depois, três pessoas saíram da multidão.
Os três eram homens altos, com corpos musculosos, e todos usavam o mesmo uniforme.
Parecia um uniforme militar, pintado de preto com mangas cinzas.
Esse era o uniforme da Gangue do Seguro.
— Bem-vindos — o líder da Gangue do Seguro disse com um sorriso educado.
Um dos cinco agentes da cidade apenas estendeu a mão, como se estivesse pedindo algo.
— Claro — respondeu o líder.
Um momento depois, ele pegou uma maleta, abriu-a e a entregou ao agente.
Dentro da maleta, havia pilhas e mais pilhas de créditos em papel.
O agente da cidade contou o dinheiro, o que levou alguns minutos.
— 474 — ele falou com uma voz distorcida.
Quando o líder da Gangue do Seguro ouviu isso, ficou nervoso, e seu sorriso pareceu mais forçado.
— Com licença, mas deveria ser 482 — ele disse. — Poderia contar de novo, por favor?
— 474 — o agente da cidade repetiu.
Silêncio.
O líder da Gangue do Seguro olhou para a pessoa à sua direita e fez um gesto com a cabeça.
O homem rapidamente tirou algumas notas extras e as entregou.
O agente contou-as e assentiu.
— 482.
O líder da Gangue do Seguro também assentiu.
Pouco depois, os três homens se afastaram.
— Um por um, venham à frente. Melhor não tentarem nos enganar — o líder da Gangue do Seguro gritou.
Logo, todas as pessoas com os broches pretos avançaram e passaram pelos três homens da Gangue do Seguro.
Eles inspecionaram cada um e coletaram os broches pretos de todos que passaram.
Ao final, 479 pessoas haviam passado.
Então, os três homens da Gangue do Seguro os seguiram, totalizando 482.
Em seguida, quatro dos cinco agentes da cidade se dirigiram ao mercado menos lotado e ordenaram que todos viessem à frente, um por um. O último ficou mais atrás, garantindo que ninguém tentasse escapar.
Aos poucos, todos no mercado se aproximaram, entregando pilhas de créditos.
Nick se levantou e passou pela multidão.
Um momento depois, ele estava em frente a um dos agentes com máscara de gás.
Nick entregou uma pilha de notas e passou por eles, assim como qualquer outra pessoa no mercado.
Após alguns minutos, restavam apenas cerca de 800 pessoas no mercado.
Quando ninguém mais se aproximou por alguns segundos, o quinto agente da cidade avançou.
— Última chamada — ele gritou com uma voz distorcida. — Quem não vier agora será considerado como incapaz de pagar.
Ninguém se moveu.
— Certo — o homem gritou. — Como sempre, não façam movimentos bruscos e não mostrem nenhuma agressão. Os mosquitos são todos servos do Espectro Mosquito de Sangue e não vão beber mais do que o que vocês devem.
A multidão ficou assustada e nervosa.
Logo em seguida, o zumbido dos mosquitos se intensificou, e eles voaram para frente.
Os mosquitos se espalharam pela multidão e começaram a sugar o sangue das pessoas.
Conforme o tempo passava, mosquitos que já estavam cheios voavam para longe, enquanto novos chegavam.
As pessoas choravam, hiperventilavam, rangiam os dentes e rezavam.
Outras já estavam acostumadas com isso.
Após cerca de dois minutos, todos os mosquitos voaram de volta para os cinco agentes com máscaras de gás.
A multidão ficou visivelmente mais pálida e magra.
Por fim, os mosquitos entraram nas casas ao redor do mercado para garantir que ninguém estivesse se escondendo.
Finalmente, os cinco agentes se viraram e saíram do mercado, caminhando por outra rua.
Estava acabado.
Isso acontecia todo mês, no último dia.
Uma vez por mês, todo cidadão da Cidade Fungo Carmesim precisava pagar 100 créditos à cidade como imposto.
Só era possível pagar o imposto por completo ou não pagar. Pagamentos parciais não eram permitidos.
Se a pessoa pagasse o imposto, nada acontecia, mas se não conseguisse pagar, teria que pagar com seu sangue.
Um grupo de pessoas, acompanhado por enxames de mosquitos enormes, caminhava pelos Dregs uma vez por mês, e se um cidadão não conseguisse pagar, o enxame de mosquitos caía sobre ele.
O enxame coletava até dois litros de sangue de adultos.
Crianças abaixo de 14 anos só precisavam pagar 50 créditos ou um litro de sangue.
Crianças abaixo de seis anos não precisavam pagar impostos.
Naturalmente, perder dois litros de sangue não era fatal, e os mosquitos eram excelentes em não causar ferimentos nas pessoas enquanto sugavam o sangue.
No entanto, a recuperação de algo assim levava de seis a oito semanas.
Então, se um cidadão não conseguisse pagar o imposto no mês seguinte, as coisas ficavam perigosas.
Conseguir 100 créditos em um mês era praticamente impossível para pessoas comuns que viviam nos Dregs, mas conseguir 100 créditos em dois meses era viável.
Por causa disso, cerca de 50% das pessoas pagavam com sangue em um mês, com créditos no seguinte e depois com sangue de novo.
Claro, muitas pessoas tentaram lutar para evitar pagar os impostos, mas sempre terminava da mesma forma.
Com a pessoa transformada em um cadáver sem sangue.
Na verdade, os mosquitos não acompanhavam os coletores de impostos; eram os coletores de impostos que acompanhavam os mosquitos.
Os coletores vinham apenas por dois motivos:
Eles cuidavam do dinheiro.
E evitavam que as pessoas entrassem em pânico na frente dos mosquitos.
Se os mosquitos quisessem, poderiam matar todas as pessoas nos Dregs em menos de 10 minutos.
Vale lembrar que havia mais de 2.000 pessoas vivendo nos Dregs.
Não era que os mosquitos fossem extremamente poderosos, mas havia literalmente milhões deles, e cada mosquito era maior que uma Vespa-mandarina.
Naturalmente, nem todos os mosquitos acompanhavam os coletores de impostos. Apenas cerca de 100 seguiam cada coletor, mas se as coisas ficassem sérias, milhões apareceriam.
Além disso, os mosquitos eram servos de um Espectro muito poderoso, o Mosquito de Sangue.
O rato com o qual Nick conversou dois anos atrás também era um servo de um Espectro muito poderoso, chamado Parasita.
Alguns Espectros podiam controlar animais ou criar seus próprios animais e controlá-los. Seus servos compartilhavam a percepção do Espectro, e o Espectro podia falar e agir por meio deles.
Embora quase todos os Espectros fossem inimigos da humanidade, havia alguns que cooperavam e ajudavam a humanidade.
O Mosquito de Sangue era um deles.
O Parasita não.
O Mosquito de Sangue ganhava poder consumindo sangue humano. Naturalmente, ele poderia enviar alguns mosquitos isolados para coletar sangue de pessoas enquanto dormiam, mas se exagerasse, os poderosos Fabricantes de Zephyx acabariam notando e o matariam.
Então, o Mosquito de Sangue decidiu ajudar a humanidade, e a Cidade Fungo Carmesim era o lugar perfeito para isso.
A Cidade Fungo Carmesim foi nomeada em homenagem ao Espectro mais poderoso que estava confinado dentro do mais prestigioso Fabricante de Zephyx: o Fungo Carmesim.
Ao contrário da maioria dos Espectros poderosos, o Fungo Carmesim não era inteligente.
Como o nome sugere, o Fungo Carmesim era simplesmente um fungo gigantesco vivendo dentro de uma unidade de contenção.
Assim como o Mosquito de Sangue, o Fungo Carmesim ganhava poder ao absorver sangue humano.
Mas, em troca, o Fungo Carmesim criava eletricidade e, mais importante ainda, Zephyx.
Zephyx podia ser usado para praticamente tudo.
Ele podia ser transformado em eletricidade, calor, movimento, e assim por diante, sendo extremamente eficiente nisso.
Além disso, o Zephyx também podia ser utilizado para aumentar os poderes dos Extratores Zephyx e para criar armas poderosas que poderiam lidar com Espectros.
O Fungo Carmesim era o motivo pelo qual o Mosquito de Sangue havia escolhido esta cidade.
O Mosquito de Sangue ajudava o Fabricante de Zephyx na coleta de sangue, ficando com parte dele em troca.
O sangue restante era pulverizado sobre o Fungo Carmesim, que então produzia Zephyx.
Os Extratores Zephyx coletavam o Zephyx e podiam ficar com uma pequena parte como pagamento.
O Fabricante de Zephyx utilizava o Zephyx colhido para aumentar o poder de sua empresa ou vendê-lo para outras cidades.
No entanto, se o Fabricante de Zephyx quisesse crescer mais e ganhar ainda mais dinheiro, precisaria de Espectros ainda mais fortes.
E para capturar esses Espectros mais poderosos, precisariam de Extratores Zephyx mais fortes.
Era isso que Nick queria se tornar.
Ser um Extrator Zephyx significava poder se tornar poderoso e ter uma vida melhor.
Nick queria sair dos Dregs e, finalmente, viver uma vida decente.
Vol. 1 Cap. 5 O Jovem
Depois que os cobradores de impostos foram embora, as coisas voltaram ao normal no mercado.
A ansiedade da maioria das pessoas foi substituída por alívio ou aceitação.
Infelizmente, mesmo com tantas pessoas perdendo dois litros de sangue naquele dia, elas não podiam simplesmente voltar para casa e descansar.
Elas precisavam trabalhar e ganhar dinheiro, ou teriam que pagar com seu sangue novamente no mês seguinte.
Nick voltou ao seu lugar habitual e continuou segurando sua placa.
Ele confiava em Albert e tinha certeza de que Albert não teria dito para ele se fazer visível sem um bom motivo.
Infelizmente, ninguém de relevância falou com Nick, e ele acabou tendo que ir para casa depois de um tempo, já que estava ficando com fome.
Agora, Nick não morava mais em um cubículo de metal, mas em uma casa de verdade… que também era feita de metal enferrujado.
Um dos moradores mais ricos havia morrido recentemente, e a casa dele ficou disponível.
Bem, ‘disponível’ pode não ser a palavra certa.
O homem morreu, e o filho dele era agora o dono da casa.
O problema é que o filho tinha apenas onze anos.
Naturalmente, as gangues queriam tomar a casa do garoto, mas Nick entrou no meio e o protegeu.
Nick protegeria o garoto e sua herança, mas, em troca, ele podia usar o dinheiro deles para comer e pagar seus impostos.
Claro, o garoto não tinha muita escolha e aceitou.
Após algumas brigas, as gangues decidiram que não valia a pena o trabalho.
Se Nick fosse apenas um cara comum, eles teriam mandado uns dez caras para espancá-lo, mas Nick tinha um Sincronizador Zephyx ativo.
Ninguém tinha se ferido gravemente ou morrido ainda, mas se as coisas escalassem, isso poderia mudar rapidamente.
Eles sabiam que poderiam derrubar Nick, mas não estavam dispostos a pagar o preço. A casa não valia tanto assim, já que era apenas um pouco acima da média. Além disso, o garoto tinha direito sobre ela, e as gangues não podiam ser tão autoritárias.
Criminosos inteligentes e organizados sabiam que liderar um rebanho de ovelhas dispostas e felizes era mais fácil do que liderar um rebanho de ovelhas aterrorizadas.
Por isso, o líder da Gangue do Seguro estava disposto a pagar a diferença dos impostos do próprio bolso.
Algumas das pessoas dele claramente desviaram parte dos fundos dos impostos recolhidos, e eles fariam uma investigação interna.
Se o líder simplesmente entregasse as oito pessoas com o dinheiro faltante, sua gangue não seria mais confiável, e no mês seguinte, eles poderiam ter apenas 70% de seus clientes anteriores.
A Gangue do Seguro cobrava 10% dos impostos como taxa de proteção e processamento, o que significava que os adultos pagavam dez créditos para proteger seus 100 créditos.
Com cerca de 480 clientes, isso dava 4.800 créditos. Mesmo quando o líder pagava 800 créditos do próprio bolso, eles ainda lucravam 4.000 créditos.
Se ele tivesse se recusado a pagar os 800 créditos, teria economizado isso hoje, mas poderia perder 1.500 créditos em lucros perdidos todos os meses a partir daí.
Embora fossem criminosos e isso fosse nos Dregs, ainda era importante que as pessoas ficassem satisfeitas com os serviços prestados.
E travar uma guerra contra alguém que protegia uma criança vulnerável seria uma má ideia.
Não valia a pena.
Claro, tudo tem suas vantagens e desvantagens.
Enquanto Nick ganhou uma casa decente e não tinha mais problemas financeiros, ele destruiu permanentemente qualquer oportunidade de trabalhar para alguma gangue.
Por duas semanas, Nick continuou indo ao mercado e esperando com sua placa erguida.
Em um dia que não parecia diferente de nenhum outro, alguém se aproximou de Nick no mercado.
Era um jovem alto, com cabelo castanho-claro. Seu cabelo estava bagunçado, mas limpo. Sua camisa e calças marrons estavam rasgadas, mas também limpas.
Como alguém que viveu nos Dregs a vida toda, Nick podia perceber imediatamente que o cara na frente dele estava tentando parecer pobre, mas claramente não era.
Provavelmente, o cara nunca tinha visto uma pessoa pobre de verdade, caso contrário, seu disfarce não seria tão superficial.
O homem se aproximou de Nick com um sorriso amigável, mas Nick podia ver que, no fundo, o sujeito estava muito nervoso.
— Ei, você é um Extrator Zephyx? — o homem perguntou, olhando para a placa de Nick.
— Passei no exame de entrada para o Laboratório Ghosty, mas nunca trabalhei como um porquê meu Sincronizador Zephyx já está sintonizado — respondeu Nick, olhando o sujeito com desconfiança.
Um brilho apareceu nos olhos do homem ao ouvir isso. — Seu Sincronizador Zephyx já está sintonizado?
Nick assentiu.
Silêncio.
O homem parecia incerto sobre como continuar a conversa, e Nick praticamente conseguia ler os pensamentos dele, dado o quão expressivo seu rosto era.
Nick estava bastante certo de que o cara estava tentando encontrar uma maneira de fazer com que Nick contasse mais sobre si sem parecer um vigarista.
— Você conhece o Albert? — Nick perguntou.
Os olhos do homem se arregalaram por um instante antes de ele sorrir desconfortavelmente. — Existem muitos Alberts por aí — disse ele, de forma desajeitada.
“Besteira”, pensou Nick. “Ninguém aqui se chama Albert, exceto aquele cara.”
— Cabelos pretos e grisalhos, e ele invoca algumas ferramentas que flutuam. Talvez você possa completar o último detalhe para garantir que estamos falando da mesma pessoa — disse Nick, com uma expressão desconfiada.
O homem piscou algumas vezes. — Ele gosta de ferramentas — acrescentou depois de um tempo.
Quando Nick ouviu isso, sorriu abertamente. — Finalmente — disse ele, levantando-se, fazendo o homem dar um passo para trás. — Albert me disse que alguém viria com um trabalho em breve. Acho que você é essa pessoa?
O homem também ficou animado. Aparentemente, ele também esperava encontrar alguém.
Mas então sua expressão mudou, e ele ficou desconfiado.
— Eu o conheço, mas não acho que tenho capital para te contratar. Também moro nos Dregs — ele disse, com cautela.
Naquele momento, as pessoas ao redor lançaram olhares incrédulos para ele, parando de andar.
O homem percebeu e sentiu que havia dito algo errado.
— Cara — Nick disse, fazendo o homem se virar para ele — você acabou de dizer ‘capital’. Além disso, seu disfarce é horrível. Ninguém vai acreditar em você. Se acreditassem, já teriam te roubado tudo, do jeito que você parece incerto e assustado.
O sorriso do homem se tornou mais desconfortável. — Eu não tenho certeza…
— Vem comigo — Nick disse, agarrando o braço do sujeito e puxando-o.
O homem olhou com choque para o lugar onde Nick o segurava, e por um instante, seus olhos se tornaram completamente brancos.
Mas ele rapidamente se acalmou, e seus olhos voltaram ao normal instantaneamente.
Ele nunca tinha visto ninguém simplesmente agarrar um estranho e puxá-lo assim.
— Ei, eu posso andar sozinho — o homem disse, enquanto puxava seu braço de volta.
— Então vem — Nick disse, gesticulando com a cabeça para que o seguisse.
O homem tirou um lenço do bolso, limpou o lugar onde Nick o havia tocado e o seguiu.
Depois de alguns minutos, eles chegaram à frente da casa temporária de Nick.
O homem ficou um pouco incerto novamente, mas respirou fundo e entrou.
Vol. 1 Cap. 6 Wyntor Melfion
Quando o homem entrou na casa, ele ficou ainda mais desconfortável.
Havia sujeira por toda parte, e vários buracos nas paredes. Se não tomasse cuidado, poderia até se cortar nas bordas afiadas do metal enferrujado.
— Ei, venha aqui! — Nick gritou de um dos cômodos.
O homem se aproximou e viu Nick sentado no chão, no meio de um cômodo maior.
Não havia mesas ou cadeiras.
Ele olhou para o espaço à frente de Nick com um olhar questionador. — Devo me sentar?
— Ah, claro — Nick respondeu, revirando os olhos.
O homem respirou fundo e se sentou.
— Tem algo para beber? — ele perguntou.
— O barril de água está lá atrás — Nick gesticulou com a cabeça.
— Ah, ok — o homem disse. — Você tem um copo ou uma caneca?
Nick piscou lentamente.
— Um o quê? — ele perguntou.
— Você sabe, uma caneca — repetiu, gesticulando com as mãos. — Um recipiente pequeno para líquidos.
Nick piscou de novo, devagar.
— Por quê? Só beba — disse com uma expressão e voz impassíveis.
O homem olhou para Nick com uma expressão desconfortável.
— Deixa pra lá. Não estou com sede — respondeu.
Silêncio.
— Sou Wyntor — o homem disse, estendendo a mão para um aperto.
Nick olhou para a mão.
— O que você quer? — perguntou, encarando a mão estendida.
— Um aperto de mão e uma apresentação? — Wyntor disse, meio sem jeito, ainda com o braço estendido.
Nick franziu a testa e estendeu a mão.
Então, Nick agarrou os dedos de Wyntor e olhou-o nos olhos. — Eu sou Nick.
Wyntor sorriu desconfortavelmente e moveu a mão para cima e para baixo, enquanto Nick observava o movimento.
— Pode soltar, por favor? — Wyntor pediu.
Nick franziu a testa, confuso sobre por que Wyntor queria segurar as mãos e, de repente, não queria mais, mas ainda assim soltou os dedos de Wyntor.
— Desculpa, Nick. Ainda estou me acostumando com a forma como as pessoas agem aqui embaixo — Wyntor disse com uma expressão apologética.
“Claro, ele não é daqui”, pensou Nick.
O fato de Wyntor ter dito ‘aqui embaixo’ significava que ele vinha da cidade interna.
A Cidade Fungo Carmesim era composta por duas partes: a cidade interna e a cidade externa.
Se alguém olhasse para a Cidade Fungo Carmesim de cima, veria uma imensa cidade, que cercava uma estrutura gigantesca no centro.
A estrutura era uma pirâmide curva no formato de uma hipérbole, feita de metal refletivo, com quase dois quilômetros de altura e cinco quilômetros de largura.
Ao redor dessa imensa estrutura, havia muitos prédios altos e caros, mas quanto mais distante do centro, menores e mais feias se tornavam as construções.
Cerca de três quilômetros da borda da estrutura ficavam os Dregs, a parte mais externa da cidade.
Nos Dregs viviam as pessoas mais pobres, que mal conseguiam sobreviver. Entre os Dregs e a cidade interna estava a verdadeira cidade externa.
O Laboratório Ghosty ficava na cidade interna, mas o local do exame era na cidade externa.
Nick tinha ouvido lendas sobre a cidade interna, mas nunca esteve lá. Ele só tinha conhecido duas pessoas que vieram de lá.
Albert e Wyntor.
— Você é da cidade interna, né? — Nick perguntou.
— Sim, mas dos níveis baixos — Wyntor respondeu. — É minha primeira vez nos Dregs.
— Dá para perceber — Nick comentou, enquanto Wyntor apenas sorria desconfortavelmente.
— Então, por que você está aqui? — Nick perguntou.
— Antes de te contar, preciso que assine algo — Wyntor disse, pegando algumas folhas de papel de um pequeno saco pendurado em seu cinto.
Nick olhou para a primeira folha e franziu a testa.
— Aco… Aco-or-do… de… não… di-vuul-ga… ção? Acordo de não divulgação? O que é isso? — Nick perguntou.
Wyntor olhou chocado para Nick. — Você não sabe ler?
Nick franziu a testa. — Sei ler! Albert me ensinou! Só estou sem prática!
— Ok, ok! — Wyntor respondeu rapidamente. — Isso é um acordo de confidencialidade. Significa que você não pode falar sobre nada do que vou te contar com mais ninguém, ou a cidade vai atrás de você. Basicamente, se contar meus segredos, você será considerado um criminoso.
— Certo — Nick disse distraído, enquanto tentava ler a primeira frase do documento, mas estava achando extremamente difícil.
Ler e entender um documento legal já era complicado para adultos ricos, e a compreensão de leitura de Nick estava no nível de um estudante do ensino fundamental.
Depois de alguns minutos, Wyntor se ofereceu para ler o documento para ele, mas Nick disse que não confiava nele e que preferia ler sozinho.
Duas horas e muitas perguntas sobre o significado das palavras depois, Nick finalmente terminou de ler tudo.
Após mais algumas instruções de Wyntor, Nick assinou a folha de forma desajeitada.
Ele estava tão confuso com tudo isso. Sabia o que tinha assinado, mas ainda assim parecia algo estranho e alienígena.
— Certo — Wyntor disse, soltando um suspiro de alívio. — Tudo o que falarmos a partir de agora está sujeito ao acordo de confidencialidade, o que significa que você não pode contar o conteúdo a uma terceira pessoa sem meu consentimento. Entendeu?
Nick assentiu.
— Meu nome completo é Wyntor Melfion, e sou o terceiro herdeiro da família Melfion — Wyntor disse.
Nick piscou algumas vezes.
Silêncio.
— Tá — Nick comentou.
Wyntor respirou fundo. Nunca tinha recebido uma reação tão indiferente à revelação de seu nome de família.
— Meu pai faz parte do conselho da Kugelblitz — Wyntor acrescentou.
Nick piscou lentamente.
— Certo? — ele disse.
Wyntor bagunçou o próprio cabelo, frustrado.
— Ele ajuda a administrar a cidade! — Wyntor gritou. — A Kugelblitz é a Fabricante de Zephyx que possui o Fungo Carmesim, e meu pai é dono de 20% da Kugelblitz!
— Ah — Nick disse, surpreso. — Isso é legal, eu acho?
Wyntor massageou a ponte do nariz, irritado, e suspirou.
— Isso nem é o importante — disse ele. — O importante é que meu pai não quer que seus herdeiros cresçam sendo inúteis e sem valor. Ele trabalhou duro para chegar onde está, e quer que façamos o mesmo.
— Por isso, ele instruiu todos os seus filhos a construírem uma Empresa de Zephyx e ganhar o suficiente para comprar 0,05% da Kugelblitz. Caso contrário, não teremos acesso aos recursos da família — Wyntor explicou.
— 0,05%? — Nick perguntou. — Isso dá quanto? Tipo, mil créditos?
Wyntor riu. — Mais como 50 milhões.
Os olhos de Nick se arregalaram de choque.
50 milhões de créditos?!
Espera, e o pai de Wyntor tinha 20% dessa empresa?!
Quanto dinheiro era isso?!
Wyntor sorriu ao ver que Nick finalmente ficou surpreso com sua origem.
— Enfim — ele disse — Em comparação com meus irmãos, eu me recuso a ser explorado pelos Fabricantes de Zephyx na cidade interna e vim para cá, onde basicamente não há concorrência.
— Preciso de um Extrator Zephyx para começar meu negócio, e como não tenho um Espectro, não posso simplesmente contratar pessoas normais. Preciso de alguém que já tenha um Sincronizador Zephyx sintonizado.
— Albert me disse que eu encontraria alguém com essas características no mercado central dos Dregs, e é por isso que estamos aqui agora.
Nesse momento, a ansiedade e incerteza no comportamento de Wyntor desapareceram por completo, substituídas por uma postura confiante, direta e carismática de um empresário.
— Quero te contratar como meu Chefe Extrator Zephyx.
— E a primeira coisa que precisamos fazer é capturar um Espectro!
Vol. 1 Cap. 7 Espectros
— Tô dentro! — Nick respondeu imediatamente.
Wyntor ficou um pouco surpreso.
— Foi rápido — disse ele, piscando algumas vezes. — Você não quer saber mais sobre o trabalho? Salário? Funções?
— É pior do que minha situação atual? — Nick perguntou.
Wyntor olhou ao redor da casa quebrada e suja. Mesmo sendo uma das maiores casas dos Dregs, ainda estava em péssimo estado.
— As chances de morte são bem altas — comentou Wyntor. — Afinal, você terá que lidar com Espectros.
Nick assentiu. — Então, é só dar porrada em alguns Espectros. Nada de mais.
Wyntor franziu as sobrancelhas, cético. — Você sabe o que é um Espectro, né?
— Animais ou humanos poderosos com algumas habilidades, certo? — Nick perguntou casualmente. — Se eu puder socá-los, eles morrem, certo?
Wyntor respirou fundo e suspirou.
— Isso é verdade para alguns, mas não para a maioria — respondeu ele. — Você sabe o que é Zephyx?
— Coisa que a gente consegue dos Espectros — Nick respondeu com um aceno confiante.
— Sim, mas o que é? — Wyntor perguntou com outro suspiro.
Silêncio.
— Energia? — Nick respondeu, incerto.
Wyntor soltou uma risada curta. — Essa é uma resposta evasiva. Você pode dizer que tudo é energia, e não estaria errado.
— Já ouviu falar de Prephyx?
— Prefixo? Aquelas coisas que colocamos antes das palavras? — Nick perguntou.
— Não, Prephyx, escrito P-R-E-P-H-Y-X, não P-R-E-F-I-X. É como Zephyx, mas com ‘pre-’ em vez de ‘ze-’.
Nick balançou a cabeça negativamente.
— Certo — Wyntor disse com um pouco de irritação. — Vou te dar uma explicação rápida de como o mundo realmente funciona.
Nick assentiu, atento.
— Prephyx é uma força invisível de energia que existe por todo o mundo. Só pode ser detectado por equipamentos muito avançados ou por Extratores muito poderosos. Prephyx tem uma quantidade incrível de energia armazenada dentro dele.
— Infelizmente, não conseguimos acessar o Prephyx na atmosfera. Simplesmente não temos meios de aproveitar a energia contida nele.
— Quando o Prephyx na atmosfera atinge uma certa densidade, ele pode criar um Espectro. Um Espectro é algo que transforma Prephyx em Zephyx, que é uma forma utilizável de Prephyx.
— Um Espectro não é necessariamente vivo, nem necessariamente inteligente. Além disso, Espectros são únicos, o que significa que só existe um de cada tipo no mundo. Nunca há dois Espectros idênticos. Em geral, Espectros aparecem em uma de três formas diferentes, mas pode haver exceções.
— Primeiro, um Espectro de Força. Um Espectro de Força pode ser um ser inteligente ou não, que consiste em formas de energia. Por exemplo, o Espectro que chamamos de ‘A Névoa’ é uma nuvem sem forma que imita uma névoa.
— Não é inteligente e apenas segue seu instinto básico. De vez em quando, vagueia por algumas partes da cidade e engole alguém. Essa pessoa então vaga sem rumo na névoa até morrer de fome.
— Você não sente A Névoa. Não pode socar A Névoa. Não pode correr dela. Se te pegar, você morre, a menos que seja um Extrator Zephyx forte, com equipamentos e habilidades baseados em Zephyx.
— A Névoa ainda está por aí? — Nick perguntou.
Wyntor riu amargamente. — Esqueceu o que eu disse antes? Quando o Prephyx atinge uma certa densidade, um Espectro pode aparecer.
— Algo como A Névoa é extremamente difícil de conter. Além disso, ela só consome cerca de um humano por mês. A Névoa é um Espectro de nível dois, o que a torna mais forte do que os Espectros mais comuns, mas só consome uma pessoa por mês.
— Se a matássemos, sua energia se dispersaria de volta para a atmosfera, e logo encontraríamos vários Espectros de nível um no mundo. E as chances são de que eles custariam mais vidas humanas do que A Névoa.
— Espera! — Nick exclamou. — Mas não podemos apenas armazenar todo o Zephyx de A Névoa após matá-la?
Surpreendentemente, Wyntor assentiu. — Podemos.
— Mas não muda nada.
— Como assim? — Nick perguntou, surpreso.
Wyntor assentiu novamente. — Naturalmente, quando matamos um Espectro, armazenamos toda a energia dele, mas não muda nada. Se ignorarmos toda a energia e a deixarmos se dispersar, alguns Espectros de nível um aparecerão. Se armazenarmos toda a energia e não a deixarmos se dispersar, alguns Espectros de nível um ainda aparecerão.
— Não importa o que façamos, matar um Espectro sempre resultará na criação de mais Espectros mais fracos.
Nick olhou para o chão com uma expressão preocupada.
Isso era… problemático.
Isso significava que não havia como se livrar completamente dos Espectros.
Wyntor notou a expressão desanimada de Nick. — Não é tão desesperador quanto parece.
Nick olhou para Wyntor.
— O plano final da humanidade para sobreviver é conter todos os Espectros do mundo sem os matar. Se conseguirmos fazer isso, todos os Espectros se tornariam irrelevantes, já que não seriam mais um perigo — explicou Wyntor.
Nick franziu a testa de novo. — Isso parece difícil. Deve haver muitos Espectros.
— Ah, a quantidade não é o problema — Wyntor disse casualmente. — Você não tem ideia de quão poderosos os Extratores podem se tornar. O problema não é o número, mas o poder dos Espectros.
— Lembre-se de que tudo o que estamos falando está sujeito ao A-ND1. Se contar a alguém, sua vida estará praticamente perdida.
Nick assentiu.
Wyntor assentiu de volta. — Espectros são classificados em diferentes níveis de poder. Todo novo Espectro começa no nível um. Isso os torna mais fortes que qualquer humano comum, mas pessoas com um Sincronizador Zephyx sintonizado podem lutar contra eles.
— Tanto Espectros quanto Extratores podem se tornar mais poderosos. Os Extratores mais fortes que existem são de nível oito, e temos um número de dígitos únicos deles.
— No entanto, há um número de dois dígitos de Espectros de nível oito no mundo.
Nick olhou com choque para Wyntor.
Então, Nick se lembrou de algo que já tinha testemunhado várias vezes.
— E a Enfermeira Alice? — ele perguntou.
Todo mundo conhecia a Enfermeira Alice.
Todos nos Dregs já tinham visto a Enfermeira Alice.
E todos sabiam que a Enfermeira Alice era um Espectro.
Wyntor suspirou. — A Enfermeira Alice é um dos cinco Espectros de nível nove.
Nick respirou fundo.
— Existem exatamente cinco Espectros de nível nove no mundo, e mesmo que toda a humanidade se unisse, não conseguiríamos parar nem um único deles.
— A Enfermeira Alice é provavelmente o Espectro mais mortal do mundo. Ela mata centenas e às vezes até milhares de pessoas todos os dias.
— Mas seu poder é tão grande que ninguém pode fazer nada contra ela.
— Ela faz o que quiser, e nós só podemos assistir.
— E existem mais quatro como ela.
Nota:
[1] Acordo de não divulgação.
Vol. 1 Cap. 8 Matar o Sol
Nick se lembrou da última vez que viu a Enfermeira Alice.
Foi pouco mais de dois meses atrás.
As pessoas estavam reunidas na praça para pagar o Imposto de Sangue, e um homem havia acabado de roubar todos os créditos de uma jovem frágil.
Era bastante óbvio que ela já havia pago com seu sangue pelo menos nas duas últimas vezes.
Após perder seus créditos, ela apenas olhou para o chão com uma expressão vazia.
E então, ela pronunciou A Sentença.
— Eu queria estar morta.
Naquele momento, a praça ficou em silêncio.
Todos sabiam o que significava dizer A Sentença.
Um minuto depois, uma garota com um sorriso brilhante e gentil entrou na praça. Ela parecia estar nos seus últimos anos de adolescência e vestia um uniforme de enfermeira rosa, limpo e impecável.
Ninguém ousou ficar em seu caminho, e mesmo com a praça lotada, as pessoas abriram espaço para a enfermeira sorridente passar.
A enfermeira caminhou até a mulher, que ainda estava ajoelhada no meio da praça.
A mulher olhou para cima quando a enfermeira parou à sua frente.
A enfermeira sorriu gentilmente para ela. — Sou a Enfermeira Alice, e estou aqui porque você me chamou — disse com um tom amável e empático. — Acalme-se. Vai acabar logo, e você não sentirá dor ou desconforto.
A mulher voltou a olhar para o chão.
Um momento depois, a Enfermeira Alice se ajoelhou ao lado dela e lentamente moveu sua mão direita sobre os olhos da mulher, como alguém que fecha os olhos de um cadáver.
Quando seus olhos foram fechados, a mulher já estava morta.
A Enfermeira Alice deitou o corpo suavemente no chão e se levantou, ainda com um sorriso gentil.
Logo depois, ela desapareceu da praça.
Se qualquer pessoa no mundo dissesse algo como ‘Eu queria estar morto’, ‘Eu quero morrer’, ‘Apenas me mate’, ‘Não quero mais viver’, ou qualquer coisa semelhante, a Enfermeira Alice apareceria e realizaria esse desejo.
Não importava se a pessoa realmente queria ou não. Após pronunciar A Sentença, a Enfermeira Alice os mataria.
Mesmo que fosse dito como uma piada, não fazia diferença.
Se qualquer pessoa, por qualquer razão, dissesse algo semelhante à Sentença, a Enfermeira Alice chegaria e encerraria sua vida.
Você já disse algo assim na sua vida?
Talvez quando um ente querido morreu.
Talvez quando sua cabeça estava dentro do vaso sanitário após beber demais.
Talvez quando algo muito embaraçoso aconteceu.
A ocasião não importava.
Se alguém dissesse isso, a Enfermeira Alice apareceria.
— E ela é apenas uma dos cinco Espectros de nível nove? — Nick perguntou.
Wyntor assentiu. — Três dos Espectros de nível nove são inconfundíveis. Posso garantir que quase todo mundo já viu pelo menos três deles em algum momento. Você conhece os outros dois?
Nick rapidamente assentiu. — Eu conheço um deles. É aquele que habita nas trevas.
— Correto — Wyntor disse. — O Pesadelo é um dos cinco Espectros de nível nove, e ele está presente em todos os lugares escuros do mundo. Quanto mais escuro o lugar, mais forte é sua influência.
Nick se lembrou de uma das muitas vezes que havia encontrado O Pesadelo.
Certa vez, enquanto procurava comida, ele entrou nos esgotos. Felizmente, o teto dos esgotos era feito principalmente de grades, o que permitia que a luz onipresente do sol iluminasse parcialmente o local.
No entanto, havia alguns corredores escuros nos esgotos, e sempre que Nick passava por eles, ouvia sussurros.
Vozes humanas surgiam na escuridão, dizendo a Nick que todos estavam tentando matá-lo e que ninguém se importava se ele vivia ou morria.
Os sussurros tentavam preencher a mente de Nick com paranoia, depressão, dúvida, ódio, raiva e todos os tipos de emoções negativas.
Eles queriam distorcer Nick, transformá-lo em outra pessoa.
Felizmente, os corredores escuros não eram tão longos nem tão escuros, o que permitiu a ele passar rapidamente por eles e encontrar um rato para comer.
A existência do Pesadelo também era o motivo pelo qual muitas das ‘casas’ recém-construídas nos Dregs tinham buracos no teto e nas paredes.
Estar na escuridão era extremamente perigoso, e por isso todos evitavam ao máximo os lugares escuros.
O Pesadelo e a Enfermeira Alice eram tão poderosos que não importava onde alguém estivesse.
Sua influência se estendia por todo o mundo.
— Você conhece o terceiro? — Wyntor perguntou.
Nick pensou por um tempo, mas eventualmente balançou a cabeça.
— Surpreendentemente — Wyntor disse — o terceiro é o mais evidente de todos.
Então, Wyntor apontou para cima.
Nick olhou para cima e viu que Wyntor estava apontando para um buraco no teto, através do qual podia ver o Sol.
— É O Sol — Wyntor disse.
Os olhos de Nick se arregalaram.
O Sol?
Espera, o Sol é um Espectro?!
— Surpreendente, né? — Wyntor comentou.
Nick apenas assentiu.
— Conseguimos, de alguma forma, calcular e entender os poderes dos outros quatro Espectros de nível nove, mas quando se trata do Sol, ainda estamos essencialmente cegos.
— Ele está em todos os lugares o tempo todo. Qualquer um que voe acima de uma certa altura simplesmente deixa de existir. Todo mundo vê o Sol exatamente acima de si o tempo todo. Não importa em que lado do planeta você esteja. O Sol está sempre no mesmo lugar para cada pessoa individualmente.
— E o mais chocante de tudo, sua luz é real. O mundo inteiro é iluminado por sua luz. Ele tem o poder de iluminar o planeta inteiro ao mesmo tempo, sem precisar de descanso.
— A quantidade de energia necessária para isso é incompreensível.
— Toda a humanidade concorda que O Sol é o Espectro mais poderoso que existe no mundo, e ele é o maior obstáculo entre a humanidade e a liberdade.
— Se a humanidade quer alcançar a liberdade algum dia, há apenas uma coisa que precisamos fazer.
— Matar o Sol.
Vol. 1 Cap. 9 Nulo
Nick olhava para Wyntor, atordoado.
Matar o Sol?
Como?!
Como um humano poderia destruir algo tão poderoso quanto o Sol?!
E o que aconteceria depois que ele fosse destruído?
— Claro — Wyntor acrescentou — tudo isso está muito distante no futuro, e talvez nem testemunhemos isso em nossas vidas.
Nick voltou a olhar para o buraco no teto.
Nos últimos minutos, o mundo se tornara muito maior para ele.
Até agora, Nick só queria conseguir um bom trabalho para viver uma vida melhor, mas agora ouvira falar de coisas grandiosas.
A humanidade era várias vezes mais fraca do que os Espectros.
Nick apenas suspirou.
Ele já havia visto coisas horríveis nos Dregs, e queria mudar o mundo.
Curiosamente, o problema de Nick não era com as gangues ou os ladrões, mas com o sistema.
As pessoas simplesmente faziam o que podiam para sobreviver.
Se houvesse o suficiente para todos, talvez as pessoas não se matassem tanto.
Claro, a ganância sempre existiria, mas não seria tão esmagadora.
Infelizmente, Nick sabia que ele era apenas um homem.
Ele não podia mudar nada.
Então, a próxima melhor opção era viver uma boa vida sem comprometer sua bússola moral.
Se tivesse o poder de mudar as coisas, ele o faria, mas não tinha, e provavelmente nunca teria.
Após alguns segundos de silêncio, Nick suspirou. — E os outros dois Espectros?
— O quarto é A Boca — Wyntor explicou. — A Boca não é algo que a maioria das pessoas encontrará, já que ela interage exclusivamente com Extratores Zephyx.
— De tempos em tempos, ela captura um grupo de Extratores e os força a lutar entre si até restar apenas um sobrevivente, que então é liberado.
Nick suspirou. — E não há nada que possamos fazer?
Wyntor apenas balançou a cabeça.
— E o último? — Nick perguntou.
Wyntor parecia um pouco incomodado e franziu a testa. — O último é difícil de descrever, pois é bastante especial.
— Ninguém sabe como ele se parece, onde está ou como é. Mas os efeitos de sua existência são indiscutíveis.
Wyntor olhou para o Sol através do buraco no teto. — De certa forma, ele é o oposto do Sol.
— A atenção de todos está sempre voltada para o Sol, quase como se ele tivesse medo de não ser visto por todo o mundo. O quinto Espectro de nível nove é o oposto.
— É como se ele não ousasse se mostrar.
— Ninguém pode saber como ele se parece, cheira, soa, tem gosto ou se sente. Já houve casos em que alguns Extratores poderosos analisaram todas as pistas dispersas sobre sua existência.
Wyntor olhou para o chão com uma expressão preocupada. — Um dia, esse grupo morreu, e todas as descobertas foram destruídas junto com eles.
Então, Wyntor olhou para Nick. — Mas, curiosamente, nada mais foi destruído. Somente as coisas relevantes a ele foram eliminadas.
— Devido à natureza de sua existência, chamamos esse Espectro de Nulo.
— Nulo… — Nick repetiu com uma voz atônita.
Wyntor levantou uma sobrancelha. — Por que está tão surpreso? Espectros têm habilidades estranhas.
Nick olhou para o chão.
Depois de um tempo, ele olhou para suas mãos com uma expressão incerta.
— Acho que entendi agora — disse ele. — É por isso que Albert estava tão interessado em mim.
Wyntor olhou para Nick com grande interesse. — Conte mais.
Nick olhou para Wyntor.
— Acho que já vi Nulo antes.
Por um instante, Wyntor ficou surpreso, mas logo tornou-se cético. — Se tivesse visto, estaria morto.
Nick balançou a cabeça lentamente. — Acho que já o vi antes, mas não sei como ele se parece, cheira, tem gosto, soa ou se sente.
Wyntor piscou várias vezes. — O quê? — perguntou confuso.
— Eu tenho amnésia — Nick disse. — Não me lembro de nada antes dos meus dez anos. Minha memória mais antiga é de acordar em uma casa qualquer nos Dregs. Vivi lá por alguns dias, mas algumas pessoas apareceram e me jogaram nas ruas.
Wyntor olhou intensamente para Nick. — E o que te faz acreditar que você viu Nulo?
— Meu Sincronizador Zephyx sintonizado — Nick disse. — Ele está sintonizado desde que me lembro.
— Falando nisso — Wyntor disse. — Preciso saber qual é a sua habilidade. Pode me mostrar?
Nick riu sem jeito. — Esse é o problema.
— É impossível.
— Não posso te mostrar minha habilidade.
A expressão de Wyntor ficou cética. — Então, como posso acreditar que você tem uma?
— Eu tenho uma, mas não posso mostrar para você — Nick disse.
— Explique — Wyntor disse.
— Só posso usar minha habilidade quando ninguém pode me ver — Nick explicou. — Quando ninguém pode me ver, consigo me mover cerca de cinco vezes mais rápido, e meu corpo fica várias vezes mais forte.
Wyntor coçou o queixo, pensativo. — Esse é um aumento de poder bem considerável. Pode provar sua habilidade de alguma forma?
Nick se lembrou de quando havia consertado o buraco no chão ao quebrar parte de uma casa e assentiu.
— Me segue — disse Nick, saindo da casa.
Wyntor seguiu Nick, e os dois pararam ao lado das ruínas de uma casa.
Depois de um tempo procurando, Nick encontrou uma placa de ferro presa a duas vigas estáveis.
Nenhum humano normal conseguiria tirar a placa de ferro das vigas sem ferramentas.
— Espere desse lado — Nick disse enquanto caminhava para o outro lado.
Wyntor aguardou, curioso.
BOOOM!
Os olhos de Wyntor se arregalaram de choque ao ver uma grande amassadura aparecer na placa de ferro!
BOOOM!
Outro grande amassado surgiu após um som explosivo!
— Isso basta? — Nick perguntou, saindo de trás da placa.
Wyntor ainda tinha dificuldades em acreditar.
E se Nick tivesse preparado algum tipo de mecanismo que ele pudesse esconder rapidamente após usá-lo?
Wyntor queria continuar a testar Nick, mas depois de vários minutos de diferentes tipos de testes, ele teve que aceitar que o que Nick dizia era verdade.
Quando voltaram para a casa, Wyntor refletiu sobre a habilidade de Nick e, ao se sentarem novamente, ele tinha apenas uma pergunta.
— Como você pode usar essa habilidade contra um oponente? Assim que você entrar em uma luta, você efetivamente perde todo o seu poder.
Nick sorriu, desconfortável.
— Não faço ideia.
Vol. 1 Cap. 10 Tudo Preparado
Dentro da casa, Nick e Wyntor continuaram conversando.
Eles discutiram as responsabilidades de Nick e os planos de desenvolvimento da nova Empresa de Extração de Zephyx. Wyntor também explicou as duas últimas categorias de Espectros, já que tinham se desviado do assunto anteriormente.
O primeiro tipo de Espectro era o Espectro de Força, representando algo intangível. Um exemplo usado foi A Névoa.
O segundo tipo de Espectro era o Espectro Físico. Como o nome sugere, esses Espectros possuem um corpo físico, que pode ser um animal, humano, planta, objeto, e assim por diante.
O Fungo Carmesim, por exemplo, era um Espectro Físico. Ele podia ser tocado e ferido por uma força física, enquanto algo como A Névoa não podia ser ferida dessa forma, apesar de ser inferior ao Fungo Carmesim em poder.
Por fim, existiam os Espectros de Possessão. Esses Espectros não têm corpo próprio, mas controlam uma entidade viva ou inanimada.
Um exemplo notável era Os Óculos, um Espectro de Possessão encontrado pelo Laboratório Ghosty.
Os Óculos era um Espectro de nível dois que parecia apenas um simples par de óculos. Quem os usava, com o tempo, via sua realidade se distorcer de maneiras sutis, o que eventualmente levava à loucura.
Mas era só isso.
Desde que se soubesse o que estava acontecendo, Os Óculos não representavam um grande problema. E, além de tudo, enquanto alguém os usasse, eles produziam Zephyx continuamente.
Eles não colocavam ninguém em perigo.
Não tentavam escapar.
Era fácil obter Zephyx deles.
Era perfeito para os fabricantes de Zephyx.
Naturalmente, Wyntor e Nick queriam encontrar um Espectro de Possessão para o negócio, mas isso dependia de sorte e recursos.
Eles não teriam como fazer nada contra um Espectro de Força, já que ainda não tinham nenhum Equipamento de Zephyx. Sem equipamentos feitos de Zephyx, era impossível interagir com Espectros de Força.
Ainda pior, Espectros de Força eram notoriamente difíceis de conter, pois a maioria deles podia simplesmente atravessar paredes.
Conter um Espectro de Força exigia uma unidade de contenção altamente avançada, feita de diversos materiais de Zephyx.
No fim, eles ficaram com a opção de ir atrás de um Espectro Físico, mas isso vinha com seus próprios desafios.
Primeiro, mesmo um Espectro de nível um era algo que todo Fabricante de Zephyx queria. Até os grandes.
Espectros eram muito raros, e todos os grandes Fabricantes de Zephyx tinham gente dedicada a encontrar pistas sobre possíveis Espectros.
Então, Nick também teria que conter esses Espectros, e por último, ele só podia tentar capturar um Espectro de nível um.
Um Espectro de nível dois era poderoso demais para um novo Extrator Zephyx como Nick.
O rato que havia tentado convencer Nick a se matar uma vez disse que ele já tinha encontrado dois Espectros.
Mas Nick não tinha conseguido ver os Espectros.
Para Nick, era como se ele nunca tivesse visto nenhum Espectro, o que significava que os Espectros estavam ou invisíveis, ou misturados à multidão.
Surpreendentemente, Nick não duvidava das palavras do rato. Afinal, ele sabia quem era o rato.
Na verdade, todo mundo sabia sobre os ratos.
Os ratos eram servos de um Espectro muito poderoso chamado O Parasita.
O Parasita estava em algum lugar na vastidão selvagem, e ninguém jamais o tinha visto.
Para conseguir corpos humanos, O Parasita tomava controle de um enorme enxame de ratos e os enviava para a cidade. Através de seus servos, ele podia interagir e sentir toda a cidade.
E quando alguém estava suicida ou deprimido, um dos ratos saía e tentava convencer essa pessoa a se matar.
Embora O Parasita fosse muito poderoso, seus ratos não eram tão fortes, e atacar alguém à força com um enxame de ratos se mostrou muito ineficiente. Por isso, O Parasita tentava convencer as pessoas a se matarem sem proferir A Sentença.
Apesar de tudo, a Enfermeira Alice não era muito fã de ver os corpos de seus clientes profanados, e foi por isso que O Parasita não ousava consumir o corpo de alguém que tivesse proferido a Sentença.
Ainda assim, O Parasita era muito poderoso e provavelmente poderia encontrar todos os tipos de Espectros na cidade.
Infelizmente, era impossível trabalhar com O Parasita. Caso contrário, ele já estaria colaborando com algum dos grandes Fabricantes de Zephyx.
Eventualmente, Wyntor e Nick acertaram todos os detalhes, e a relação de trabalho deles foi firmada.
Wyntor era o dono, CEO, balconista, recrutador e administrador da empresa. Essencialmente, ele cuidava de tudo que não estava relacionado a interagir com Espectros.
Nick era o Chefe Extrator Zephyx, coletor de informações e oficial de segurança.
Em resumo, Wyntor era o cérebro, e Nick era os músculos.
Wyntor também mostrou a Nick o local que ele havia comprado para a empresa deles.
Na borda oeste dos Dregs, um pouco antes da cidade propriamente dita, Wyntor havia comprado um grande armazém.
Comparado a todos os edifícios nos Dregs, o armazém não era feito de metal enferrujado. Em vez disso, tinha uma aparência simples.
Por dentro, o armazém estava completamente vazio, exceto por uma coisa.
No centro do armazém havia um cuboide de aço, com 5x5x3 metros.
Essa era uma das unidades de contenção mais baratas disponíveis, mas já havia custado uma quantia absurda.
Segundo Wyntor, essa Unidade de Contenção custou mais de 200.000 créditos.
Era feita de um aço extremamente resistente, e as paredes tinham mais de 30 centímetros de espessura.
Nick até queria tentar escapar dela, mas as paredes eram tão duras que até ele estava impotente.
Esse tipo de Unidade de Contenção barata podia conter com segurança um Espectro Físico e de Possessão de nível um, mas não funcionaria contra Espectros de Força.
Ainda mais, Espectros Físicos de nível dois teriam poder suficiente para lentamente desgastar a unidade de contenção até que ela se quebrasse.
Quando Nick ouviu isso, ele percebeu o quão poderoso um Espectro de nível dois realmente era.
Um Espectro de nível dois poderia romper essa sala de metal insanamente sólida?!
Eventualmente, tudo estava preparado.
Eles tinham uma Unidade de Contenção.
Tinham um administrador.
Tinham um Extrator Zephyx.
Agora, só faltava a última peça.
Um Espectro.
Quando Nick voltou às ruas, ele apenas coçou a nuca de forma constrangida.
— Não tenho a menor ideia de onde posso encontrar um.