Vol. 4 Cap. 91 Cumprindo o Dever
Quando Nick fechou a porta atrás de si, ouviu a voz de Pator vindo da sala de estar.
Nick não havia entrado de forma barulhenta, o que significava que Pator não tinha notado que ele agora estava no pequeno apartamento.
— Eu simplesmente não sei, Horua.
A voz de Pator soava tensa e perturbada.
— Eu simplesmente não sei o que fazer.
— Estou preso nessa posição horrível em que preciso escolher entre duas coisas terríveis.
— Continuo relatando essas coisas e causo ainda mais danos ao Mestre Wyntor, ou confesso tudo e perco todas as minhas qualificações?
Nick caminhava lentamente e em silêncio pelo corredor.
— Se eu contar ao Mestre Wyntor o que tem acontecido nos últimos três anos, serei severamente punido, expulso da casa, e todos os meus pertences serão confiscados.
— Ninguém vai querer me contratar mais, porque algo assim é a pior coisa que um servo pode fazer.
— E sem trabalho, serei expulso da Cidade Interna.
— E então, serei jogado nos Dregs.
— Além disso, vou perder todos que conheço!
A essa altura, a voz de Pator começou a tremer novamente.
— Eu não quero perder tudo!
Pator soluçava.
Nesse momento, a porta do quarto se abriu silenciosamente, e Nick, distraído, encarava Pator.
Naquele instante, Pator estava em pé diante de Horua, que estava sentado na cama.
A expressão de Horua era quase idêntica à de Nick.
— Eu queria nunca ter aceitado — disse Pator entre soluços enquanto limpava os olhos com as mangas.
— Mas eu tinha apenas onze anos! Como eu poderia saber que as coisas acabariam assim?!
— Sempre achei que seria apenas um trabalho extra para ganhar alguns créditos.
Pator respirou fundo, de forma trêmula.
— Quem poderia adivin…
CRACK!
Uma mancha de sangue apareceu no rosto de Horua.
O corpo de Pator caiu para a frente, com o rosto batendo na beirada da cama.
A parte de trás de sua cabeça estava completamente esmagada, pedaços de cérebro espalhados pelo quarto.
Nick estava atrás do cadáver de Pator, sua mão direita coberta de sangue e massa encefálica.
Nick olhou para o corpo de Pator.
Então, ele se abaixou lentamente e segurou o pescoço de Pator.
Crk! Crk! Crk!
Quando o pescoço de Pator parou de oferecer resistência, Nick se levantou novamente.
Por alguns segundos, Nick apenas olhou para Pator.
Os olhos de Pator estavam bem abertos.
Sua boca pendia aberta.
Uma poça de sangue se espalhava rapidamente sob ele.
Nick apenas observou por um momento.
Depois, foi até o lado e pegou um rolo de toalhas de papel.
Pator havia comprado várias dessas para lidar com as bagunças de Horua. Sair do quarto toda vez para buscar algo para limpar era desnecessário.
Nick desenrolou o rolo até ter uma grande bola de toalhas de papel em suas mãos.
Então, ele enfiou a bola no crânio aberto de Pator.
Depois de pegar mais algumas, colocou-as na boca e no nariz de Pator, que também sangravam.
Um segundo depois, pegou um dos muitos sacos e o puxou sobre a cabeça de Pator, prendendo-o com algumas alças.
Nick levantou o cadáver e o colocou sobre um dos tapetes do quarto.
Este era um quarto bastante caro, por isso eles tinham algo tão luxuoso quanto tapetes.
Por fim, Nick enrolou o tapete com o corpo dentro e o colocou em um canto do quarto.
Com o corpo resolvido, Nick passou a limpar distraidamente o chão do quarto de Horua.
Foram necessários vários minutos e muitas, muitas toalhas, mas, eventualmente, Nick limpou tudo.
Depois de inspecionar o quarto minuciosamente, Nick ficou parado no meio do cômodo.
Ele olhou para Horua.
Foi então que viu o grande respingo de sangue no rosto de Horua, que já havia escorrido para suas roupas limpas.
Um sorriso gentil surgiu no rosto de Nick.
— Ah, deixe-me cuidar disso para você — disse ele em um tom carinhoso enquanto puxava mais toalhas de papel do rolo.
Depois de limpar cuidadosamente o rosto de Horua, Nick trocou suas próprias roupas.
Quando viu Horua todo limpo e arrumado, ele assentiu, satisfeito.
— Desculpe, mas não posso ficar agora — disse ele enquanto se abaixava para pegar o tapete. — Preciso trabalhar.
Nick colocou o tapete sobre o ombro e saiu lentamente do quarto de Horua.
Depois de fechar cuidadosamente as portas, o sorriso de Nick desapareceu novamente, substituído por uma expressão vazia.
Sem pensar, Nick desceu as escadas.
Quando saiu da escada, a recepcionista de antes o notou e precisou piscar algumas vezes, chocada.
— Nick, você não pode simplesmente levar nosso tapete! — gritou ele enquanto corria na direção de Nick.
— Me cobre por ele — disse Nick com uma voz neutra, sem se virar. — Preciso dele para algo.
A recepcionista ficou chocada e segurou a lateral da cabeça, confusa e frustrada.
— Você não pode simplesmente…
Ela parou de falar ao ver Nick atravessar a rua casualmente, sem dar atenção a recepcionista, e entrar no armazém do outro lado.
Por alguns segundos, a recepcionista apenas observou Nick cruzar a rua e entrar no armazém.
No fim, ele voltou para o hotel para perguntar ao supervisor o que deveria fazer.
Depois de entrar no armazém, Nick fechou a porta atrás de si e caminhou até a Unidade de Contenção do Caixão Gritante.
Ele não havia visto ninguém no armazém até então.
Contudo, ele também não tinha energia mental ou motivação para pensar sobre onde todos poderiam estar.
Ele só queria terminar esse assunto e continuar com sua vida.
Nick abriu a porta de funcionários da Unidade de Contenção do Caixão Gritante e entrou.
Dentro da Unidade, Jenny, Trevor e Wyntor se viraram para olhar para Nick.
Os olhos de Nick recuperaram o foco enquanto ele piscava algumas vezes, surpreso.
— Ah, não sabia que vocês ainda estavam aqui — disse Nick, com um pouco de surpresa. — Achei que já tivessem ido para casa.
Quando os três ouviram o tom casual de Nick, sentiram como se tivessem sido apunhalados no peito.
Vol. 4 Cap. 92 Drinks
Por vários segundos, ninguém disse nada.
Nick apenas levantou uma sobrancelha.
— Cara, a atmosfera aqui tá pesada. Alguém morreu?
A expressão de Jenny ficou ainda mais preocupada.
Trevor respirou fundo.
Wyntor olhava para o chão, com as sobrancelhas franzidas.
— Não, estamos aqui para te apoiar, chefe! — disse Trevor com um sorriso, dando um passo à frente.
— Me apoiar? — Nick repetiu, surpreso. — Com o quê?
Trevor alcançou Nick e pegou o tapete, tirando-o de seu ombro.
— Com isso, é claro! — respondeu ele com um sorriso brilhante e casual.
— Pode deixar aqui. Nós vamos cuidar do resto. Por que você não volta para Horua? Ele provavelmente precisa de você agora.
Nick olhou para Trevor, ainda surpreso.
Parecia estranho.
A maneira como Trevor estava agindo era incomum para Nick.
Trevor estava agindo como se nada estivesse errado, falando com Nick como se fosse apenas mais um dia normal.
Por algum motivo, Nick sentiu um tremor interno e respirou fundo.
— Não se preocupe! — Jenny falou alto, atrás de Trevor. — Vamos cuidar de tudo aqui. Apenas vá aproveitar o seu dia, tá bom?
Nick também olhou para Jenny com uma expressão ligeiramente confusa.
— Você fez um bom trabalho, Nick — disse Wyntor, tentando soar caloroso, mas falhando. — Nós cuidamos do resto. Tire o resto do dia de folga.
Nick olhou para os três, incerto.
Ele não estava acostumado a ser tratado assim.
Normalmente, ele era quem tinha que lidar com as piores situações.
E quando sentia arrependimento e dor, geralmente não havia ninguém com quem falar.
Quando matou aquela mulher, ele não falou com ninguém por dias, talvez semanas.
Quando entrou em contato com o Pesadelo nos esgotos, também estava sozinho.
Quando jogou Horua para o Sonhador, não falou com ninguém depois disso.
Nick esperava que o mesmo fosse verdade hoje.
Ele jogaria o corpo de Pator diante do Caixão Gritante, sairia, ficaria em seu quarto por algumas horas, lidaria com Horua, ficaria mais algumas horas em seu quarto e, então, dormiria.
E no dia seguinte, voltaria ao trabalho.
Como sempre.
Mas desta vez, os três colegas de Nick mostraram apoio e estavam dispostos a lidar com a parte final do evento.
Além disso, estavam agindo como se nada estivesse errado.
“Estão agindo como se eu não tivesse acabado de matar um garoto”, Nick pensou, sentindo seu interior tremer.
“Mas eu também não estou fazendo a mesma coisa?”
O olhar de Nick baixou para o chão.
— Quer sair para beber mais tarde?
Nick olhou para Trevor.
— O quê? — perguntou ele.
— Sair para beber — respondeu Trevor com um sorriso. — Conheço um lugar ótimo que vende drinks incríveis, e acho que hoje é um bom dia para tomar alguns.
Nick piscou algumas vezes. — Drinks? Tipo água?
— Não, álcool — Trevor respondeu, rindo.
Nick já tinha visto algumas pessoas bebendo álcool nos Dregs, mas era algo raro, já que era caro.
Ele só tinha ouvido algumas coisas sobre isso e sentia que não era um bom uso de dinheiro.
— Eu realmente não…
— Ah, qual é — disse Trevor, dando um leve tapa no ombro de Nick. — Não desista antes de tentar! Se não gostar, é só parar de beber. Além disso, se for um problema tão grande, veja como um gesto de educação comigo.
— Então, o que me diz? Tá interessado? — perguntou ele com um sorriso.
Nick olhou para Trevor com um misto de distração e confusão por alguns instantes.
Então, apenas assentiu, sem pensar muito.
— Excelente! — Trevor disse, rindo e dando outro tapa no ombro de Nick. — Passo aí às três, tá?
— Claro — Nick respondeu por instinto.
— Perfeito! Agora, sai daqui! Vai relaxar! — Trevor gritou, empurrando Nick em direção à porta.
Nick não resistiu, e antes que percebesse, estava fora da Unidade de Contenção do Caixão Gritante.
A porta atrás dele se fechou, e ele estava sozinho.
Por vários segundos, Nick apenas olhou para frente, sem focar em nada.
Finalmente, começou a caminhar lentamente em direção ao seu quarto no hotel.
Enquanto isso, dentro da Unidade de Contenção, Trevor soltou um grande suspiro que estava segurando e limpou o suor acumulado na testa.
Ao se virar, viu Jenny e Wyntor olhando para ele.
— O quê? — Trevor perguntou. — Não podia simplesmente deixar o cara assim. Ele provavelmente passou por algo bem difícil hoje.
Um sorriso apareceu no rosto de Jenny. — Obrigada — disse ela, em um tom baixo.
Naquele momento, Jenny se sentiu inútil.
Nick havia lidado com Pator, e Trevor havia dado suporte emocional a Nick.
E ela?
O que tinha feito?
Nada.
Apenas ficou de lado, assistindo.
Agora, Jenny desejava poder fazer algo.
Seus olhos se voltaram para o tapete.
Para ela, a presença do tapete era mais assustadora do que a do Caixão Gritante.
Ela sabia exatamente o que havia ali.
Talvez ela pudesse…
Mas então, Wyntor deu um passo à frente, sem dizer nada, e desenrolou o tapete ele mesmo.
O corpo de Pator foi revelado.
Era como se um frio atravessasse o ambiente.
O cadáver parecia Pator, mas Trevor e Jenny não conseguiam acreditar que era realmente ele.
Um corpo morto parecia tão diferente de um ser humano vivo.
— Sou um homem de palavra — disse Wyntor, sem saber se estava falando consigo mesmo ou com seus funcionários.
Silêncio.
— O que você…
— Vamos embora — Trevor disse em um tom baixo, mas urgente, para Jenny.
Jenny estava confusa, mas seguiu Trevor.
Os dois saíram da Unidade de Contenção.
— O que está acontecendo? — Jenny perguntou a Trevor.
Trevor franziu a testa. — Você não lembra o que ele disse ao irmão antes de sair?
A conversa entre Wyntor e Ardum passou pela cabeça de Jenny.
Então, seus olhos se arregalaram em compreensão.
Enquanto isso, dentro da Unidade de Contenção, Wyntor puxou uma faca longa e afiada.
Vol. 5 Cap. 93 O Dia
As próximas horas passaram rapidamente para Nick.
Como ele havia acabado de limpar Horua, não precisava verificar como ele estava por enquanto.
Então, Nick voltou para o seu quarto.
No entanto, após alguns minutos, ele ficou agitado e saiu novamente.
Nas horas seguintes, Nick caminhou pelo mercado da Cidade Externa, comprando algumas coisas que chamaram sua atenção.
Ele conheceu várias pessoas e conversou animadamente com elas.
Normalmente, Nick não iniciava conversas com desconhecidos, mas hoje era diferente.
Ele estava com vontade de conversar com estranhos e puxar assunto em todo lugar.
É claro que algumas pessoas acharam estranho, mas, ao notar a falta de interesse delas, Nick simplesmente encerrava a conversa rapidamente.
Nick comeu ótimos pratos, comprou coisas interessantes e teve muitas conversas envolventes.
Quando o horário de sua saída para beber com Trevor se aproximou, ele voltou para o hotel.
Era hora de verificar Horua novamente.
Ao entrar no quarto, Nick ficou surpreso ao olhar para o chão.
Por um segundo, parecia que o corpo de Pator estava ali.
Mas, no instante seguinte, não havia nada.
Nick balançou a cabeça rapidamente para se recompor e olhou para Horua.
Ao vê-lo, suspirou.
— Certo — disse ele, impotente. — Faz seis horas que não verifico como você está. Isso é muito tempo.
Horua já ‘havia ido ao banheiro’, e alguns de seus músculos estavam ligeiramente trêmulos, um sinal de cãibras e esforço muscular.
Nos 30 minutos seguintes, Nick limpou Horua e deu banho nele.
Quando ouviu o estômago de Horua roncar, Nick apenas suspirou.
Logo depois, foi até o armazém e cancelou sua saída com Trevor.
Ele não podia sair assim.
Não podia simplesmente deixar Horua daquela forma.
Horua precisava dele.
Trevor sugeriu que Nick contratasse alguém, mas Nick disse que seria muito problemático e que não confiava a saúde de Horua a um estranho.
O bem-estar de Horua era responsabilidade de Nick, e ele nunca mais fugiria disso.
No fim, Trevor cedeu.
Insistir demais poderia criar uma tensão entre os dois.
Nick voltou para Horua com uma sopa e o alimentou.
Depois disso, massageou os músculos tensos dele por mais um tempo.
Nas próximas duas horas, Nick ajudou Horua com várias coisas.
E então, apenas esperou.
Horua estava limpo, alimentado e relaxado.
Mas logo haveria algo a fazer novamente.
Nas horas seguintes, Nick ficou cuidando de Horua, garantindo que ele tivesse roupas limpas, comida e descanso.
Eventualmente, chegou a hora de Horua dormir, e Nick o colocou na cama.
Depois disso, foi para o seu quarto e tentou dormir.
Foi difícil.
Por mais de duas horas, Nick ficou encarando o teto, sem conseguir pegar no sono.
Levantou-se e foi verificar Horua novamente.
Depois disso, passou mais duas horas encarando o teto.
Por fim, desistiu e saiu para caminhar.
Havia poucas pessoas nas ruas, e Nick sentiu-se relaxado.
Era interessante observar a Cidade Externa à noite.
Quando deu cinco da manhã, Nick acordou Horua e lhe deu café da manhã.
No meio do café, alguém bateu à porta, e Nick foi atender.
Era uma garota da idade dele, que o olhou com um sorriso radiante.
— O senhor é Nick? — perguntou ela.
— Sou Nick — respondeu ele, confuso.
— Meu nome é Marie, e sou a nova assistente do Mestre Wyntor! Estou ansiosa para trabalhar com você! — disse Marie, com uma voz animada e uma reverência educada.
— Ah — disse Nick, surpreso. — Certo. Faz sentido.
— Posso entrar? — perguntou ela.
— Claro — respondeu Nick, dando passagem.
Marie olhou ao redor e entrou no quarto de Horua. — Este é Horua, certo?
Nick assentiu.
— Você pode me ensinar a cuidar dele?
— Ah, claro — respondeu Nick.
Durante a próxima hora, Nick instruiu Marie sobre o que fazer, e ela ouviu atentamente.
Depois de montar um cronograma, ela o leu para Nick e perguntou se estava tudo bem.
Nick confirmou com a cabeça.
Marie verificou Horua a cada duas horas e fez tudo perfeitamente.
— Obrigada, senhor — disse Marie com um doce sorriso. — Eu cuidarei das coisas a partir de agora.
— Claro — disse Nick, sorrindo. Com o tempo, ele foi se familiarizando com Marie e passou a gostar dela.
Nick deixou o quarto de Horua e entrou na Sonho Sombrio.
Nick percebeu que Wyntor já estava lá, pois o grande cadeado do escritório havia sido aberto.
Os horários de trabalho de Wyntor eram quase idênticos aos de Nick.
Se não tivesse reuniões, Wyntor estava disponível das seis da manhã às quatro da tarde.
Ele escolheu esses horários para se encontrar com todos os funcionários ao menos uma vez por dia.
Encontrava-se com Nick e Trevor pela manhã e com Nick e Jenny à tarde.
Nick não tinha nada para falar com Wyntor no momento, então foi até o Caixão Gritante.
“Ah, certo!” pensou Nick enquanto caminhava. “Esqueci de alimentar o Caixão Gritante ontem!”
Mas, ao entrar na Unidade de Contenção, viu o caixão apenas parado lá.
“Alguém já o alimentou?”
Foi quando a imagem do corpo de Pator passou pela mente de Nick.
“Certo…”
“Não sei por quanto tempo isso vai manter o caixão ocupado.”
“O corpo dele não era muito grande…”
Ainda assim, Nick deixou a Unidade de Contenção e foi até o Sonhador.
“Huh, parece que Trevor não tirou o dia de folga”, pensou ao ver Trevor dormindo em frente ao Sonhador.
Depois de uma breve conversa, Trevor foi embora, e Nick sentou-se.
O sono não demorou a chegar.
O Sonhador garantiu isso.
Vol. 5 Cap. 94 Favor
Eventualmente, Jenny acordou Nick.
— Ei, como você está se sentindo? — perguntou ela.
Nick demorou um segundo para processar as palavras de Jenny.
— Não sei — respondeu ele, com a fala arrastada.
A expressão de Jenny ficou mais preocupada.
— Está tudo bem? — perguntou ela.
— Sim, claro — disse Nick enquanto se levantava lentamente.
De repente, sentiu como se sua cabeça estivesse sendo esmagada.
Havia uma pressão constante e um zunido em sua cabeça, e, ao se levantar, sentiu como se fosse cair.
Nick sentia como se seus olhos fossem mantidos abertos à força, mas não havia nada ali.
Seu coração disparou, e ele percebeu que estava coberto de suor.
— Você não parece bem — disse Jenny, preocupada.
— Estou bem — respondeu Nick, com um tom anormalmente alto.
Jenny ficou surpresa com o tom ríspido de Nick.
— Desculpa, desculpa — disse ele rapidamente, com um sorriso embaraçado. — Isso saiu mais agressivo do que eu queria.
— É só… esquece — disse ele, caminhando em direção à saída.
— Você pode me contar — disse Jenny, olhando enquanto Nick passava por ela.
— Está tudo bem — disse Nick, acenando de forma displicente.
— Não, não está — insistiu Jenny, com urgência na voz. — Se houver algo que eu possa fazer, diga!
Nick parou e se virou para olhar para ela com uma sobrancelha levantada.
Naquele momento, Jenny parecia ansiosa e quase desesperada.
Ela parecia realmente se importar com o que estava acontecendo.
Os músculos do rosto de Nick se contraíram.
— Certo, se você realmente quer saber… — disse Nick.
Jenny prestou atenção.
— Acho que você é um pouco insistente demais com sua preocupação comigo — disse Nick, num tom neutro. — Deixe que meus problemas sejam meus problemas. Somos colegas. Só isso.
Nick olhou diretamente nos olhos de Jenny.
Ela ficou nervosa ao ouvir o tom frio de Nick.
Isso não era o que Jenny queria ouvir.
Ela queria ajudar Nick com seus problemas.
Trevor havia conseguido ajudá-lo, e Wyntor também estava fazendo isso.
E ela?
Ela não tinha feito nada!
Tudo o que Jenny queria era ouvir as preocupações de Nick e ajudá-lo a lidar com elas emocionalmente.
Era assim que funcionava entre ela e sua parceira.
Sempre que uma delas tinha problemas, a outra ouvia e ajudava a enfrentar as dificuldades.
Às vezes, uma delas chorava, e depois disso as coisas ficavam melhores.
No entanto, Nick havia rejeitado a ajuda de Jenny de forma clara.
— Você parece muito ansiosa para ajudar os outros — disse Nick. — Às vezes, a maior ajuda é não ajudar.
Jenny ainda parecia insegura.
— Tudo bem, desculpa — ela disse, eventualmente.
Nick assentiu e saiu da sala.
Na mente de Nick, Jenny parecia alguém excessivamente disposta a ajudar, mesmo quando o suporte não era necessário.
Ao sair da Unidade de Contenção, Nick pensou em todas as coisas que precisaria fazer para ajudar Horua naquele dia.
Havia muito trabalho, e Horua precisava dele para tudo.
— Nick, preciso de você por um instante.
Nick olhou para o lado e viu Wyntor parado na entrada de seu escritório.
— Claro — respondeu Nick, entrando no escritório de Wyntor.
Wyntor se sentou, e Nick fechou a porta.
No momento seguinte, Wyntor pegou uma maleta.
Ela era feita de metal prateado e não era muito grande, mas Nick notou o esforço no braço de Wyntor ao levantá-la.
— Abra — disse Wyntor, empurrando a maleta em direção a Nick.
Nick ergueu uma sobrancelha enquanto observava a maleta e a abriu lentamente.
Quando estava totalmente aberta, um brilho prateado refletiu no rosto de Nick, e seus olhos se arregalaram de surpresa.
Dentro da maleta havia quatro braçadeiras prateadas: duas para os pulsos e duas para as pernas de Nick.
As braçadeiras para os pulsos também possuíam lâminas longas e arredondadas.
Exceto pela cor, elas eram quase idênticas às que Nick havia mostrado para Wyntor no dia anterior.
— São para mim? — perguntou Nick.
Wyntor assentiu em silêncio.
Nick lentamente estendeu as mãos e levantou uma das braçadeiras.
“Pesada!” pensou imediatamente.
Uma das braçadeiras para o pulso pesava mais de 20 quilos!
Era absolutamente insano!
Sim, Nick era muito forte, mas carregar casualmente 20 quilos em um dos pulsos ainda era bastante desgastante.
— Eu as encomendei para estarem adequadas quando você atingir o Pináculo do primeiro nível — explicou Wyntor. — Não faz sentido dar armas para o final do primeiro nível só para elas se tornarem obsoletas em uma ou duas semanas.
— Com algum treinamento, você deve conseguir usá-las sem esforço e também manuseá-las relativamente bem.
— No entanto, elas só mostram seu verdadeiro poder quando sua habilidade está ativa — continuou Wyntor.
No instante seguinte, Wyntor se virou, desviando o olhar de Nick.
Quase imediatamente, a braçadeira nas mãos de Nick ficou muito leve.
Naturalmente, o peso da braçadeira não havia mudado. Era apenas a habilidade de Nick se ativando.
Nick movimentou a braçadeira um pouco e gostou muito da sensação do peso.
Era ótimo!
Wyntor se virou novamente, e o peso voltou a ser pesado.
— Por enquanto, você terá que lidar com o peso — disse Wyntor. — Mas isso deve ajudá-lo a se acostumar com elas.
Nick assentiu. — Quão resistentes elas são?
— Seu corpo se tornará cinzas antes que precise se preocupar com elas — respondeu Wyntor, de forma neutra. — Seus pulsos se quebrarão antes que apareça sequer um arranhão nelas.
Nick respirou fundo.
— Quão caras elas foram?
Wyntor suspirou.
— Um favor — disse ele.
— Um favor? — perguntou Nick.
Wyntor assentiu. — Não as comprei com dinheiro, mas com um favor.
Nick engoliu em seco.
Isso provavelmente significava que eram caras demais para a atual situação da Sonho Sombrio.
Nick sentiu-se culpado e envergonhado ao imaginar quanto Wyntor devia ter sacrificado por suas armas.
Ele apenas desejava poder retribuir Wyntor.
Ironia do destino, era exatamente o que Wyntor pensava ao adquirir as armas, mas de forma inversa.
Ele esperava que elas pudessem servir como uma pequena retribuição pelo que Nick havia feito por ele.
— Mas eu não vendi esse favor barato! — disse Wyntor, com um sorriso.
Em seguida, Wyntor se levantou e pegou algo muito pesado debaixo da mesa.
BANG!
Toda a mesa tremeu quando Wyntor colocou outra maleta pesada sobre ela.
Esta era muito maior e obviamente muito mais pesada.
— Eu disse que também queria que você treinasse com uma arma de minha escolha.
— Aqui está — disse ele, empurrando a maleta para frente.
Vol. 5 Cap. 95 Fardo
Nick olhou para a maleta pesada, surpreso.
Ela parecia REALMENTE pesada!
Wyntor praticamente teve que usar toda a sua força só para colocá-la sobre a mesa!
A maleta tinha cerca de 150 centímetros de comprimento e quase meio metro de largura.
Nick não tinha ideia de que tipo de arma estava ali.
Uma grande espada?
Um porrete?
Um rifle?
Nick lentamente estendeu a mão e abriu a maleta.
No instante seguinte, seus olhos se arregalaram de choque.
Cinco lanças muito longas e finas!
— São lanças de arremesso — disse Wyntor.
— Lanças de arremesso? — perguntou Nick.
Wyntor assentiu. — Pelo que vi, sua habilidade não aumenta o Zephyx em seu corpo. Ela apenas amplifica sua força física.
— Existem revólveres que utilizam o Zephyx de um Extrator como fonte de energia, o que significa que quanto mais forte o Extrator, mais poderoso o disparo da arma.
— Contudo, uma arma assim não aproveitaria sua habilidade. Essas armas utilizam Zephyx. Você utiliza força muscular.
— Já que você está decidido a usar seus braços e pernas como armas, achei que uma opção de ataque à distância seria uma boa adição.
— Essas lanças de arremesso exigem muita força para serem lançadas, mas o poder delas é incrível.
— A força de um projétil é composta de massa e aceleração. As armas de fogo utilizam pouca massa e muita aceleração, enquanto suas lanças de arremesso utilizam muita massa e pouca aceleração.
— Bem, pouca para os padrões de uma arma de fogo. Quando você arremessar uma lança, ela ainda será bastante rápida.
Nick pegou uma das lanças e a ergueu.
Ela provavelmente pesava cerca de 30 quilos!
Era extremamente pesada para uma lança de arremesso.
No entanto, considerando que Nick logo se tornaria um Novato no Pináculo e usaria sua habilidade, o peso fazia sentido.
Como um Novato no Pináculo, Nick seria cerca de cinco vezes mais forte que um adulto médio, e, com sua habilidade, isso aumentaria para 25 vezes.
Quando escalado para a força de um adulto comum, cada lança de arremesso equivaleria a pouco mais de um quilo.
Arremessar uma lança de um quilo parecia razoável para um adulto.
Nick definitivamente conseguiria lançar uma lança de 30 quilos com bastante velocidade.
Como seria isso?
Provavelmente semelhante ao disparo de um arpão!
Se um humano fosse atingido por isso…
Diversas possibilidades passaram pela mente de Nick enquanto ele olhava para as cinco lanças.
— Não sou muito bom em mirar — disse Nick.
— Bem, você terá que aprender — respondeu Wyntor. — Todo mundo precisa treinar com suas armas, e você não é diferente.
— Naturalmente, já encontrei um instrutor para você. Ele está pronto para começar, só aguardando o sinal.
— Quando você quer que seu treinamento seja feito todos os dias? — perguntou Wyntor.
A mente de Nick ficou em branco por um instante, e a imagem de Horua surgiu em sua cabeça.
— Isso pode esperar um pouco? — perguntou Nick.
Wyntor franziu o cenho e olhou para ele. — Por quê?
— Preciso cuidar de Horua — respondeu Nick.
— Eu posso simplesmente contratar um segundo assistente — disse Wyntor.
Nick ficou desconfortável.
— Não sei… — disse ele.
A expressão de Wyntor se tornou séria.
— Por quanto tempo isso vai continuar? — perguntou Wyntor com uma voz firme.
— Como assim? — perguntou Nick.
— Por quanto tempo você vai continuar se recusando a aceitar ajuda? — disse Wyntor.
— Sim, a condição atual do garoto é sua responsabilidade, mas nada do que você fizer agora pode mudar isso. Não importa o que faça, você não pode mudar o passado.
Nick parecia ter acabado de levar uma facada no peito.
— Pare de tentar consertar o passado com ações no presente. Não vai funcionar.
— O que importa para você é a segurança e a saúde do garoto, certo? Você quer que ele esteja limpo e saudável, certo?
Nick assentiu.
— E você, de alguma forma, é melhor nisso do que um assistente da minha família? — perguntou Wyntor.
Nick ficou mais nervoso. — Não é a mesma coisa.
Wyntor bufou. — O garoto nem percebe o que acontece ao redor. Não importa quem cuide dele, desde que seja feito corretamente.
— Você é meu Chefe Extrator Zephyx, Nick. Preciso que esteja totalmente focado nos negócios. Pelo que estou pagando e pelo potencial futuro da Sonho Sombrio, eu poderia contratar um Veterano.
— Nick, preciso que você esteja comprometido com a Sonho Sombrio. Você não é apenas um funcionário qualquer que cumpre o expediente e depois esquece o trabalho.
— Você é um oficial da empresa! Seu salário e valor estão intrinsecamente ligados ao sucesso do negócio! — explicou Wyntor.
— Só quero cuidar dele! — gritou Nick de repente.
Silêncio.
Wyntor olhou para ele.
— Nick, não é como se você nunca fosse vê-lo de novo — disse Wyntor calmamente. — Você pode visitá-lo a qualquer momento. Se quiser sentar ao lado dele enquanto ele é alimentado, vá em frente.
— Eu só não posso usar alguém cuja mente está ocupada cuidando de uma pessoa com deficiência.
Nick rangeu os dentes e cerrou os punhos.
Ele sentiu como se estivesse perdendo algo importante.
— Preciso de um tempo para pensar — disse Nick com a voz tensa.
Wyntor franziu o cenho, mas não respondeu imediatamente.
— Certo — disse ele. — Decisões importantes precisam de tempo para amadurecer.
— Vamos conversar novamente amanhã de manhã. Venha ao meu escritório antes de trabalhar com o Sonhador.
Nick assentiu antes de se virar.
— Acho que você esqueceu algo — disse Wyntor.
Nick olhou para Wyntor e viu que ele apontava para as duas maletas sobre a mesa.
— Ah, certo — disse Nick, distraído.
Ele guardou as armas nas maletas e as carregou para fora do escritório de Wyntor.
Depois que a porta se fechou, Wyntor suspirou.
“Bem, poderia ter sido melhor, mas consegui transmitir meu ponto de vista”, pensou Wyntor.
Enquanto isso, Nick carregava as duas maletas para fora da Sonho Sombrio e entrou no hotel do outro lado da rua.
Ao entrar em seu quarto, Nick colocou as maletas de lado, saiu novamente e entrou no quarto de Horua.
Quando viu Horua perfeitamente limpo e saudável, sentiu um aperto no peito.
Marie havia cuidado muito bem de Horua enquanto Nick estava trabalhando.
Nick apenas olhou silenciosamente para Horua por um tempo.
Vol. 5 Cap. 96 Me Desculpe
Não havia nada para Nick fazer no quarto de Horua.
Marie tinha cuidado de tudo.
Então, Nick apenas se sentou ao lado de Horua e começou a falar.
— Quando você vai acordar? — perguntou Nick, sem olhar para Horua.
Naturalmente, Horua não respondeu.
— Você está assim há mais de três meses e não mostra nenhum sinal de melhora.
Nenhuma resposta.
— Você vai fazer doze anos em breve.
— Três meses se passaram, assim, do nada.
Nick suspirou.
— Mas o que eu devo fazer?
— Eu não queria que terminasse assim.
— Eu queria te dar um futuro.
— Mas, claro, fui um completo idiota e te forcei a fazer algo para o qual você não estava pronto.
— Não acredito que pedi para uma criança trabalhar com o Sonhador.
— Se fosse outra pessoa que tivesse feito algo assim, eu acharia cruel e estúpido.
Nick suspirou novamente.
— E, ainda assim, fui eu.
— Eu fui quem fez isso.
Nick virou-se para olhar Horua.
— E agora, você está assim.
— Por minha culpa.
Nick respirou fundo, de forma instável.
— Eu honestamente não sei o que fazer.
— O que eu posso fazer para corrigir isso?
— Eu cuidei de você por três meses, e continuarei cuidando até que sua condição melhore.
— Mas não há mais nada que eu possa fazer?
— Há algo que eu possa fazer além disso?
— Qualquer coisa?
— Deveria te trazer algo?
— Deveria comprar algo para você?
Nick ficou em silêncio por um tempo.
— Eu não sei o que fazer, Horua — disse ele.
Silêncio.
Nick apenas ficou sentado ao lado de Horua por vários minutos, perdido em pensamentos.
Horua continuava olhando fixamente para frente com olhos sem vida.
— Parece que o arrependimento e a culpa estão me consumindo por dentro, Horua — disse Nick com uma voz trêmula.
— Sempre que há um momento de silêncio, o zumbido no meu peito fica cada vez mais alto até me sobrecarregar.
— Eu só quero consertar isso.
— Eu só quero te ajudar.
— Eu sei que errei, Horua, mas vou fazer tudo ao meu alcance para te ajudar! — disse Nick com convicção, virando-se para Horua.
— Vou consertar isso!
— Não importa o que custe!
— Não importa o que seja necessário!
Ainda assim, Horua não olhou para Nick.
Ele apenas continuava olhando fixamente para frente.
Segundos e minutos se passaram.
Não havia nada para Nick fazer, já que Horua não precisava de nada naquele momento.
Nick também não tinha nada para fazer relacionado ao trabalho.
E, como se não bastasse, a falta de sono tornava mais difícil para Nick pensar claramente.
O tempo parecia passar rapidamente em um momento e, no outro, de forma lenta e arrastada.
Era como se o tempo viesse em ondas, distorcendo a percepção de Nick.
Nick não sabia quanto tempo ficou sentado ao lado de Horua, mas não foi o suficiente para que ele precisasse de algo novamente.
— Me desculpe.
— Me desculpe, Horua — sussurrou Nick.
Lágrimas se formaram nos olhos de Nick enquanto sua respiração se acelerava.
— Me desculpe.
— Eu errei, Horua.
— Me desculpe.
— Eu não queria que nada disso acontecesse.
— Eu só queria te ajudar.
— Me desculpe.
Agora, as lágrimas de Nick deslizavam pelo seu rosto.
Ele não se atrevia a olhar para o atual Horua.
Nick apenas olhou para o chão.
— Me desculpe.
— Por favor, acorde.
— Me desculpe.
Chorando.
Por muito tempo, Nick chorou, repetindo que estava arrependido sem parar.
Ele continuava olhando para o chão.
Lentamente, Nick colocou o rosto entre as mãos, e seus soluços ficaram mais intensos.
Depois de um tempo, Nick nem tinha mais certeza sobre o que estava chorando.
Havia tantas razões para chorar.
As pessoas que ele matou.
Pator.
Horua.
As coisas que ele fez no passado.
Com sua mente exausta, todas essas coisas se misturavam em uma massa de culpa e sofrimento.
Tudo estava uma merda.
Nick tinha feito coisas horríveis.
Ele era responsável pela condição atual de Horua.
Ele matou outra criança ontem.
Ele matou mais de dez pessoas na última semana.
Nick era prático devido à sua vida nos Dregs, mas ele não era um monstro sem coração.
Ele não queria fazer todas essas coisas horríveis.
E, ainda assim, por uma razão ou outra, essas coisas continuaram acontecendo.
Tudo era horrível.
Ontem foi horrível.
Hoje era horrível.
Amanhã seria horrível.
Por que ele fazia tudo isso?
Dinheiro?
Fama?
Qual era o sentido de tudo isso quando ele sentia que estava sendo consumido por dentro em momentos em que deveria se sentir calmo e contente?!
Eventualmente, Nick foi tirado de seus pensamentos pela necessidade de limpar Horua novamente.
Diferente de como se sentia quando entrou no quarto, agora Nick não tinha vontade de ajudar Horua.
Parecia que a tarefa era incrivelmente difícil, desafiadora e longa.
Mesmo assim, Horua era sua responsabilidade, e Nick o limpou e trocou suas roupas.
Quando terminou, Nick apenas olhou para Horua, distraído.
Depois de tanto chorar, como ele se sentia?
Um merda.
As pessoas diziam que chorar ajudava a lidar com as emoções, mas Nick não sentia nada disso agora.
Ele apenas se sentia vazio e horrível.
Todas as coisas que precisava fazer pareciam tarefas assustadoras que exigiriam um esforço monumental.
Depois de olhar para Horua em silêncio por um tempo, Nick saiu para comprar comida para os dois.
Quando terminou de alimentar Horua, Nick o colocou para dormir, mesmo que ainda fosse cedo demais para a hora de dormir.
“Não faz mal se ele dormir algumas horas mais cedo hoje”, pensou Nick.
Depois de colocar Horua para dormir, Nick foi para o próprio quarto e caiu na cama.
Ele nem sequer trocou de roupa ou bebeu algo.
Ele simplesmente não se importava mais.
Nada importava mais.
Ele só queria que sua consciência desaparecesse na abençoada obliviação do sono.
Nick não se moveu em sua cama.
E, apenas alguns minutos depois, ele adormeceu.
Finalmente, Nick não precisava mais enfrentar o mundo.
Vol. 5 Cap. 97 Esforço
Nick acordou.
…
Ele apenas ficou olhando para o teto.
…
Ele não pensava.
Depois de vários minutos, seus olhos se moveram para o lado, para o relógio no quarto.
Cinco da manhã.
Considerando que ele tinha ido para a cama por volta das seis da tarde, dormiu por algo em torno de onze horas.
Nick não tinha certeza se já havia dormido tanto tempo antes.
“Eu não quero trabalhar”, pensou Nick.
“Eu só quero ficar deitado aqui.”
“Eu só quero…”
“…”
“Eu não sei.”
“Eu não sei o que eu quero.”
Os acontecimentos dos últimos dias passaram pela mente de Nick.
Assim que ele se lembrou do que aconteceu, sua mandíbula se contraiu, e ele sentiu um buraco negro se abrir em seu peito.
Nick se virou na cama, tentando afastar sua mente das lembranças de ontem.
De repente, ele se levantou rapidamente da cama, com os olhos arregalados.
— Horua! — gritou ele.
Nick se levantou e rapidamente trocou de roupa.
Depois de se limpar apressadamente, correu para fora do quarto e entrou no quarto de Horua.
Ao ver Horua, Nick sentiu um tremor interno novamente.
Os músculos de Horua estavam tensos, e todo o quarto cheirava a urina e fezes.
Moscas já tinham entrado no quarto e zumbiam ao redor das calças sujas de Horua.
A culpa imediatamente tomou conta de Nick.
Horua era sua responsabilidade, e, mais uma vez, ele tinha falhado.
Nick começou a limpar Horua em silêncio antes de lhe dar o café da manhã.
— Bom dia, senhor!
Nick se virou e viu Marie entrando no quarto de Horua.
— Oi — respondeu Nick.
Marie franziu levemente o nariz ao sentir o odor horrível no quarto, mas o sorriso em seu rosto não desapareceu.
— Eu assumo as coisas hoje — disse Marie com uma voz calorosa.
Nick se virou e rangeu os dentes.
Ele sabia que o quarto ainda estava impregnado pelo mau cheiro e sabia que Marie tinha notado.
“Ela provavelmente pensa que eu negligenciei Horua e que sou uma pessoa horrível”, pensou Nick.
“E ela estaria certa.”
— Claro — disse Nick em voz baixa antes de se levantar. — Vou deixar as coisas com você.
— Está tudo bem, senhor? — perguntou Marie enquanto Nick caminhava em direção à porta.
Em vez de diminuir o ritmo, Nick acelerou um pouco.
— Não, está tudo bem. Obrigado por perguntar.
E a porta se fechou atrás dele.
Dentro do quarto de Horua, Marie olhou para a porta com uma expressão preocupada.
Ao sair do quarto, Nick respirou fundo e diminuiu o ritmo.
“Certo, eu preciso trabalhar”, pensou Nick lentamente.
Nick parou de caminhar e ficou parado no meio do corredor, sem fazer nada.
Ele apenas olhava para o chão com uma expressão ausente.
Ele realmente, realmente não queria trabalhar.
Nick nunca teve problemas em ir trabalhar antes.
Na verdade, ele sempre aguardava por isso.
Ele estava ganhando dinheiro, ficando mais forte, conhecendo seus colegas e avançando na vida.
Mas agora, tudo parecia um incômodo.
Parecia uma perda de tempo.
Qual era o sentido?
Mas então, Nick se lembrou de algo e respirou fundo.
“Se eu não for, ninguém vai acordar Trevor.”
Eventualmente, Nick saiu do hotel.
Quando o recepcionista o cumprimentou, Nick apenas acenou com a mão, sem nem olhar para ele.
Ao entrar no armazém, Nick caminhou em direção à Unidade de Contenção do Sonhador.
— Deveríamos ter conversado esta manhã.
Nick parou e se virou para o lado.
Wyntor estava olhando para ele da porta aberta de seu escritório.
Foi então que Nick se lembrou que deveria falar com Wyntor sobre contratar um segundo assistente para Horua e sobre suas armas.
Essa memória trouxe outra: a existência de suas armas.
Ele provavelmente deveria estar usando-as no trabalho.
Mais uma vez, Nick se sentiu como um fracasso, já que tinha decepcionado mais uma pessoa.
Quando Nick pensou em Horua, lembrou-se especificamente de sua aparência naquela manhã.
Ele estava em uma condição horrível.
Um momento depois, Nick se lembrou de tudo o que tinha que fazer por Horua todos os dias.
Era muito trabalho.
Mas era sua responsabilidade.
Horua estava assim por causa dele.
Delegar sua responsabilidade para outra pessoa parecia fugir dela.
Mas era tanto trabalho.
Nick não conseguia nem ter uma boa noite de sono sem arriscar a saúde de Horua.
Mas era sua responsabilidade.
Mas era muito trabalho.
Mas a culpa era dele.
Mas ele também estava falhando em cuidar de Horua.
Mas…
Mas…
Quando Wyntor viu Nick parado na frente da Unidade de Contenção do Sonhador, sem prestar atenção a nada, ele levantou uma sobrancelha.
Algo estava acontecendo com Nick.
Nick geralmente não era tão quieto e distraído.
— Nick? — chamou Wyntor, levantando-se da cadeira e saindo de seu escritório.
Nick lentamente se virou para olhar para Wyntor.
Ele ainda não tinha uma resposta para o problema.
Quando Wyntor viu que Nick ainda não respondia, franziu o cenho.
— Vá para casa hoje.
— Hã? — disse Nick, enquanto seus olhos voltavam a focar.
— Você obviamente está sobrecarregado com a situação atual — disse Wyntor com uma voz neutra. — Eu acordo Trevor. Vá para casa hoje e relaxe.
— Marie vai cuidar de Horua hoje, e também vou contratar alguém para cuidar dele à noite.
— Você precisa de um dia para relaxar e se acalmar — afirmou Wyntor.
De repente, Nick se sentiu perdido novamente.
Um dia de relaxamento?
O que ele deveria fazer com isso?
“Agora, nem posso trabalhar com o Sonhador.”
“Não posso cuidar de Horua.”
“Não consigo lembrar o que tenho que fazer.”
“Não consigo trabalhar com o Sonhador.”
“Outras pessoas têm que fazer meu trabalho.”
“Outras pessoas têm que cuidar de Horua.”
“Eu sou um fracasso.”
Nick sentiu como se o buraco negro em seu peito estivesse crescendo.
“Eu tenho uma habilidade inútil, não sei liderar meus colegas e causo problemas para todos.”
“Eu sou um fracasso.”
— Certo — disse Nick de forma apática, enquanto se virava para sair do armazém.
Wyntor observou Nick sair com as sobrancelhas franzidas.
No instante seguinte, começou a coçar o queixo enquanto estreitava os olhos.
Vol. 5 Cap. 98 Uma Longa Manhã
Nick caminhou distraidamente para fora da Sonho Sombrio e seguiu até o hotel.
Sem falar com ninguém, entrou em seu quarto e se jogou na cama.
Ficou ali, encarando o teto.
Por vários minutos.
Nick sentia que estava pensando em algo, mas não tinha ideia do que era.
Ele apenas continuava olhando.
E pensando.
Cerca de dez minutos depois, virou-se de lado e olhou para a parede.
Ainda não sabia no que estava pensando.
“Eu não queria trabalhar, e agora não preciso trabalhar.”
Silêncio.
“Eu não sei.”
“Nem sei se estou feliz por não precisar trabalhar ou não.”
“Agora, estou apenas deitado aqui, sem fazer nada.”
Eventualmente, Nick fechou os olhos.
“Eu não me importo mais.”
“Vou simplesmente dormir.”
O tempo passou.
Trinta minutos depois, Nick abriu os olhos novamente.
Não havia adormecido.
Ele já tinha dormido por cerca de onze horas, e seu corpo não precisava nem queria mais dormir.
Nick sentia que estava desperdiçando tempo ao permanecer na cama daquele jeito.
Mas suas pernas pareciam tão pesadas e difíceis de mover.
Além disso, qual era o ponto de sair dali?
Depois de comer algo ou conversar com alguém, tudo voltaria ao mesmo estado de antes.
Todas essas coisas eram apenas distrações momentâneas entre períodos de dor.
Fazer qualquer uma dessas coisas não mudaria nada.
Por que levantar e fazer algo?
Então, Nick continuou deitado na cama, sem saber no que estava pensando.
O tempo passou.
Nada acontecia.
Nada mudava.
Nick notou algum lixo no chão.
Aquilo o incomodava.
Mas parecia uma tarefa monumental limpá-lo.
“Eu nem consigo limpar o meu próprio quarto”, pensou Nick.
“Isso me incomoda, mas em vez de limpar, só fico deitado aqui.”
Silêncio.
“Eu sou um fracasso.”
“Um fardo.”
“Um assassino.”
Silêncio.
Nick curvou as costas e puxou os joelhos contra o peito enquanto estava deitado de lado.
Sentia como se seu peito estivesse tenso.
“Eu sou patético.”
O tempo continuava passando.
O humor de Nick não melhorava.
Eventualmente, precisou ir ao banheiro e bebeu um pouco de água.
Depois de se levantar, não quis deitar novamente.
Em vez disso, apenas sentou na cama.
Minutos se passaram enquanto Nick encarava o chão.
Continuou pensando em Horua, lembrando-se de que não precisava se preocupar com ele naquele dia.
Não havia nada para fazer.
Nada que ele quisesse fazer.
Com o passar do tempo, as emoções de Nick ficavam mais intensas, e ele queria expressá-las.
Infelizmente, não podia liberar sua raiva, ou todo o quarto seria destruído.
E, ao lembrar de como se sentiu após chorar no dia anterior, também não ousava chorar.
Se tivesse mantido todas as emoções dentro de si, não estaria se sentindo tão mal agora.
Chorar havia sido um erro, e ele não cometeria o mesmo erro novamente.
Assim, Nick ficou preso com suas emoções.
E elas continuavam a apodrecer dentro dele, sem saída.
Eventualmente, começou a ouvir crianças brincando do lado de fora do hotel.
Comparado aos Dregs, a Cidade Externa tinha mais crianças, e elas também eram mais felizes.
Era normal que as crianças começassem a brincar entre oito e nove da manhã.
Isso significava que já tinham se passado duas ou três horas.
Nick havia desperdiçado toda a manhã apenas encarando a parede e o teto.
E nada havia melhorado.
Ele se sentia tão horrível quanto pela manhã.
Enquanto o som das crianças brincando ficava mais alto, os sentimentos de Nick começaram a mudar.
Ele ficou com raiva.
Ali estava ele, sentindo uma dor e uma culpa terríveis, enquanto lá fora, as crianças brincavam felizes e os adultos seguiam suas vidas tranquilamente.
A luz brilhante de fora parecia queimar a escuridão proverbial no quarto.
Nick cerrou os punhos de raiva.
Era tão injusto!
Ele se sentia horrível, enquanto os outros estavam tão bem!
Ele odiava aquilo!
Só queria que todos se calassem!
Só queria que todos sentissem a mesma dor que ele!
E, no entanto, Nick sabia que nunca faria algo assim de verdade, o que o fazia se sentir ainda pior.
Não estava sendo uma pessoa boa naquele momento, mas também não era decisivo o suficiente para ser uma má pessoa.
Era apenas um meio-termo terrível.
Estar naquele quarto era um inferno!
Estar lá fora era um inferno!
Estar acordado era um inferno!
Não importava o que fizesse ou onde fosse, nada fazia diferença!
Tudo era igual, de qualquer forma!
Nick se encolheu na cama, agarrando violentamente a cabeça.
Por que tudo era horrível?
Por que seu trabalho era horrível?
Por que a cidade era horrível?
Por que a vida era horrível?
Por que ele era horrível?
Nick não conseguia encontrar nada de bom em sua vida.
Embora houvesse uma coisa.
Dormir.
Nick só queria dormir.
Durante o sono, não sentia essas coisas.
Mas precisava esperar pelo menos mais doze horas até poder dormir novamente.
Eventualmente, sentiu os olhos ficarem molhados novamente, mas assim que percebeu, reprimiu a vontade de chorar.
Ele sabia o que havia acontecido da última vez e não faria isso de novo.
Nick empurrou tudo o que sentia para os cantos mais remotos de sua mente.
Depois de alguns minutos, Nick lentamente sentou-se.
Com um olhar distraído, voltou a encarar a parede.
O som das crianças brincando do lado de fora era tão alto.
Parecia que todo o seu mundo estava tremendo.
O coração de Nick e sua respiração aceleraram.
“As coisas não podem continuar assim.”
Agora, Nick sabia no que estava pensando.
O suor começou a escorrer por seu corpo.
Seus olhos fixaram-se na parede.
Seus lábios tremiam.
O som das crianças brincando era tão alto, mas distante.
Seu quarto parecia tão cinza e desprovido de sentido.
Nick rangeu os dentes e cerrou os punhos.
— Eu… — disse Nick lentamente.
Sentia como se seu coração estivesse batendo nos ouvidos.
— Eu…
— Eu quero…
Vol. 5 Cap. 99 Algo para Fazer
— Eu quero…
— Eu quero…
O corpo de Nick começou a tremer enquanto sua mandíbula se contraiu.
Sua respiração estava acelerada, e ele fazia o possível para dizer a Sentença.
— Eu…
— Eu…
Nick cerrou os dentes.
E então, o corpo de Nick perdeu toda a força, e ele caiu de costas na cama.
— Eu não consigo fazer isso!
Naquele momento, Nick começou a chorar alto.
“Eu simplesmente não consigo fazer isso!”
“Quão patético eu sou por não conseguir nem me matar?!”
“Quão patético eu sou por sequer querer me matar?!”
“Sempre achei que as pessoas que diziam a Sentença eram fracas, mesmo que eu não quisesse admitir.”
“Eu sabia que era mais forte que elas.”
“E ainda assim, eu só quero que isso acabe!”
“Não sobrou nada!”
“O que eu deveria fazer com esse lixo que chamo de vida?!”
“Qual é o sentido?!”
Por vários minutos, Nick apenas chorou.
E quando terminou, sentiu-se vazio novamente.
Chorar não tinha ajudado em nada.
Ele só havia se sentido horrível por alguns minutos e, depois, tudo voltou ao seu estado miserável habitual.
“Eu não sei o que fazer.”
Nick continuou olhando para o teto enquanto fechava os olhos.
Surpreendentemente, ele conseguiu adormecer dessa vez.
O momento anterior tinha sido muito estressante e exaustivo.
Quando Nick acordou, olhou novamente para o relógio.
“Seis da tarde.”
Silêncio.
“Eu não sei o que fazer.”
Ainda assim, após alguns minutos, Nick levantou-se da cama e saiu do quarto.
Ele realmente não queria sair do quarto, mas fez isso mesmo assim e começou a andar sem rumo.
Ainda havia muitas pessoas na rua, mas as multidões estavam começando a diminuir.
Como sempre, o sol brilhava diretamente sobre Nick.
Estava tão quente quanto sempre.
Enquanto caminhava, Nick não olhava para nada em particular.
Ele também não tinha nenhum objetivo em mente.
Ele apenas andava.
“Eu não sei”, pensava repetidamente enquanto caminhava aleatoriamente pela Cidade Externa.
Algumas pessoas o cumprimentaram, mas Nick apenas acenou brevemente antes de seguir adiante.
Nick viu algumas coisas interessantes à venda, mas não se interessou.
Ele viu algumas comidas deliciosas, mas elas não lhe pareceram atraentes, mesmo não tendo comido nada há quase 24 horas.
Ele apenas continuou andando.
— Senhor, por favor, espere um momento!
Nick parou quando dois guardas apareceram à sua frente.
— Hã? — murmurou Nick, confuso.
— Por favor, mostre-nos sua identificação da Cidade Interna — pediu um dos guardas educadamente.
— Identificação da Cidade Interna? Eu não tenho isso — respondeu.
Os guardas franziram o cenho. — Então não podemos deixá-lo prosseguir.
— Hã? — murmurou Nick novamente, olhando ao redor.
Nesse momento, Nick estava diante de um portão gigantesco iluminado por pequenos fragmentos de Arco de Luz.
Era um dos portões para a Cidade Interna.
Nick não fazia ideia de como tinha chegado ali.
“Acho que andei até aqui.”
— Certo — disse Nick distraidamente, virando-se para ir embora.
Os guardas apenas o observaram com um pouco de confusão.
Eventualmente, Nick voltou para seu quarto, e uma noite horrível se seguiu.
Dormir foi extremamente difícil, mas ele também não queria fazer nada.
Não havia nada que interessasse Nick, mas ele também não conseguia dormir direito.
Ainda assim, o tempo continuou passando, e, por fim, Nick conseguiu adormecer novamente.
Infelizmente, o sono não foi longo, pois ele já havia dormido muito naquele dia.
Nick acordou às três da manhã e saiu do quarto.
Ele precisaria trabalhar em três horas de qualquer forma, então foi diretamente para a Sonho Sombrio.
Naturalmente, apenas Trevor estava lá àquela hora, mas ele estava ocupado trabalhando com o Sonhador.
“Eu preciso de algo para fazer”, pensou Nick enquanto olhava ao redor.
“Não consigo me matar, e também não consigo lidar com esses problemas.”
“A vida ainda é uma merda, mas parece que estou preso a vivê-la.”
“A próxima melhor coisa é ignorar a falta de sentido de tudo e simplesmente fazer algo.”
“Quanto mais o tempo passa, mais perto estou da morte.”
Naquele momento, Nick viu a Unidade de Contenção do Caixão Gritante.
“Certo, devo verificar se está tudo bem ali.”
Nick caminhou até a Unidade de Contenção e verificou o armazenamento de Zephyx.
“Apenas sete gramas”, pensou Nick. “Acho que alguém esvaziou ontem.”
Depois de trocar o armazenamento, Nick entrou na Unidade de Contenção do Caixão Gritante.
Quando Nick viu o Caixão Gritante se movendo próximo às paredes, ele não demonstrou nenhuma reação.
Seus olhos permaneceram tão neutros e sem vida quanto antes.
— Acho que Pator não foi muita coisa para você comer — comentou Nick sem nenhuma animação.
A voz de Nick soou mais áspera do que ele esperava, mas ele não se importou o suficiente para corrigir.
O que ele deveria fazer, afinal? Pedir desculpas ao Caixão Gritante?
— Acho que você precisa de comida — disse Nick.
Quando Nick pensou sobre o que precisaria fazer para alimentá-lo, ficou um pouco hesitante por um momento.
Ele precisaria sair e matar alguém.
E, ainda assim, quanto mais Nick pensava nisso, menos ele se importava.
Nick tinha passado por dois dias horríveis, e, honestamente, não poderia se importar menos com algum estuprador aleatório dos Dregs.
“Eu preciso de algo para fazer de qualquer forma.”
Quando Nick falou anteriormente, o Caixão Gritante o percebeu e começou a se aproximar dele.
Quando o Caixão Gritante chegou até Nick, tentou envolvê-lo com suas faixas brancas.
Nick espremeu os lábios em desgosto.
BANG!
E chutou-o com muita força.
BOOOM!
O caixão atingiu a parede da Unidade de Contenção e caiu no chão, com rachaduras e lascas visíveis.
Imediatamente, ele recolheu suas faixas e parou de se mover.
Agora, parecia apenas um caixão qualquer novamente.
Naturalmente, Nick não sentiu pena do caixão.
Além de ser um Espectro, ele nem sequer tinha uma consciência propriamente dita.
Depois de alguns segundos observando, Nick saiu da Unidade de Contenção para buscar comida para o Caixão Gritante.
Vol. 5 Cap. 100 Distração
Nick voltou menos de uma hora depois e atirou o corpo em direção ao Caixão Gritante.
Desta vez, ele havia matado um homem que estava perseguindo a casa de uma jovem garota.
Nick não se preocupou em investigar exatamente o que o homem estava fazendo. Apenas o viu rondando a casa e espiando a menina por uma fenda na parede enquanto se tocava.
Isso foi suficiente para Nick, e ele o matou.
Dessa vez, matar teve um impacto diferente para Nick.
Ele realmente sentiu algo, mas não era um sentimento forte.
Seu peito apertou um pouco durante o ato, mas o nojo e a apatia que sentia por aquele homem superaram a empatia que teve por um breve instante.
Depois de alimentar o Caixão Gritante, Nick saiu da Unidade de Contenção e verificou a do Sonhador.
Com base no armazenamento de Zephyx, provavelmente Wyntor havia esvaziado o tanque no dia anterior.
Mesmo assim, Nick esvaziou o restante e colocou tudo no escritório de Wyntor.
O escritório de Wyntor estava trancado quando ele não estava lá, mas Nick tinha uma chave reserva e tinha permissão para entrar.
Depois de guardar tudo, Nick olhou para o relógio.
4:27h.
“Ainda tenho cerca de uma hora antes de Wyntor chegar”, pensou Nick.
O buraco negro no peito dele parecia crescer, deixando-o nervoso.
“Preciso de algo para fazer”, pensou enquanto se afastava do escritório de Wyntor.
Foi então que ele se lembrou de suas armas.
“Certo, devo buscá-las.”
Nick voltou para o hotel e entrou em seu quarto.
Ele encontrou as duas malas ao lado da cama e abriu a que continha as braçadeiras.
Nick franziu o cenho ao vê-las.
“Isso vai ser irritante”, pensou, pegando as braçadeiras da mala.
Devagar, ele colocou as braçadeiras nos antebraços e nas canelas.
Por enquanto, elas eram relativamente fáceis de carregar, mas ele sabia que o peso aumentaria assim que outras pessoas percebessem sua presença.
Depois de colocá-las, Nick abriu a segunda mala e retirou três de suas cinco lanças de arremesso.
“Hm, tem um cinto ou algo assim aqui também”, notou Nick, vendo um conjunto de tiras pretas na mala.
Sob as lanças havia uma massa de cintos pretos. Um deles claramente deveria ser usado ao redor da cintura de alguém, mas havia também mais alguns que se estendiam a partir desse.
Depois de alguns experimentos, ele descobriu como vestir os suporte.
Três cintos principais prendiam-se ao redor da cintura, abdômen e peito, conectados por tiras menores.
Todos esses cintos estavam conectados por várias tiras menores.
No total, havia três cintos grandes, e todos tinham uma aba pendurada.
Nick pegou uma das lanças e a inseriu em uma das abas.
Ela deslizou facilmente e também atravessou a segunda aba.
Quando tocou a aba do cinto mais abaixo, foi parada.
Ao mesmo tempo, as outras abas também começaram a segurá-la.
Era importante lembrar que lanças de arremesso não se pareciam com lanças normais.
Lanças normais tinham uma ponta grande e longa na extremidade de um cabo flexível e comprido, que geralmente terminava com outra lâmina pequena ou algo achatado.
As lanças de arremesso, por outro lado, não possuíam pontas grandes e chamativas.
Em vez disso, o cabo se curvava e estreitava até restar apenas uma ponta fina.
O outro lado da lança de arremesso era simplesmente plano.
Só para testar, Nick colocou todas as cinco lanças no suporte.
No final, todas as cinco lanças de Nick estavam presas em suas costas.
Elas se estendiam ligeiramente, de um pouco abaixo de sua cintura até um pouco acima de sua cabeça.
Depois de colocá-las todas no suporte, Nick sentiu um pouco de peso em suas costas.
Ele moveu o braço direito por cima do ombro direito e pegou a lança mais à direita.
Quando puxou, a lança deslizou confortavelmente e sem esforço do suporte.
Nick segurou a lança por um momento, movendo-a um pouco em suas mãos.
O peso parecia agradável.
“Isso deve me dar algo para fazer”, ele pensou.
Nick pegou outra lança e também a retirou.
Depois de colocar essas duas lanças de volta na maleta, Nick saiu de seu quarto.
Agora, ele usava seus suportes e carregava três de suas cinco lanças de arremesso.
No total, Nick estava carregando cerca de 170 kg de peso extra.
Era tolerável enquanto ninguém o notasse, mas assim que Nick entrou no saguão do hotel e viu um dos recepcionistas olhar para ele, teve que respirar fundo.
De repente, caminhar se tornou muito difícil.
Ficar de pé ainda era viável, mas Nick sentia bastante tensão em suas costas.
‘Superestimei minha força,’ pensou Nick enquanto lentamente se virava para subir as escadas novamente.
O recepcionista apenas olhou para Nick se afastando com uma expressão de confusão.
Quando chegou ao quarto, Nick guardou mais duas lanças de arremesso, ficando apenas com uma.
Isso reduziu o peso extra para ‘apenas’ 110 kg.
Ainda era muito pesado, mas Nick pelo menos conseguia caminhar.
Sem sua habilidade ativa, o peso extra no corpo de Nick era equivalente ao de um adulto médio carregando cerca de 30 kg.
Definitivamente pesado, mas ainda era possível andar.
“Preciso me acostumar com isso de qualquer maneira”, pensou Nick enquanto caminhava lentamente para fora do hotel.
Sem perceber, Nick não havia pensado em seus problemas por mais de dez minutos.
Parece que se distrair funcionava.
Bem, até Nick chegar novamente ao depósito e perceber que ainda teria que esperar quase uma hora.
Nick ficou inquieto enquanto o silêncio voltava.
“Melhor começar logo”, pensou Nick, irritado com aquele constante vazio negro em seu peito.
Então, Nick ergueu os braços, assumiu uma postura de luta improvisada e começou a socar e chutar o ar.
Ele queria se familiarizar com suas novas armas.